Energia “limpa”?

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobras

Energia “limpa”?

Carvão, petróleo e gás terão demandas ainda maiores

A Shell do Brasil organizou na última quarta-feira (22) evento para mostrar que a atual matriz energética global vai passar por mudanças significativas até 2070. Hoje, petróleo, gás natural e carvão concentram, juntos, 81% da geração energia no mundo (32%, 22% e 27%, respectivamente).

De acordo com matéria do site Petronotícias (clique aqui para ler), em 52 anos, esse número cairá para 22% (10%, 6% e 6%, na mesma sequência), enquanto a energia solar sairá de 1% para 32% de representatividade na matriz. 

A Shell aponta que o carvão teve o seu pico de demanda em 2014, enquanto o ápice do petróleo será em 2025 e o do gás natural, em 2030. Depois, o destaque da transição energética seria a ascensão das energias solar, eólica, nuclear e de biomassa, que passam a representar em 2070, respectivamente, 32%, 13%, 11% e 14% – hoje, esses números são de 1%, 1%, 5% e 9%.

No entanto, o geólogo Luciano Seixas Chagas cobra mais esclarecimentos sobre os números apresentados. “Falta explicar como se dará as produção incremental de 31%, 12%, 6%, e 5% para as energias solar, eólica, nuclear e biomassa, respectivamente”, indaga, ponderando também sobre o tempo necessário para a implantação.

Chagas avalia também que, para as matrizes solar e eólica, serão necessárias áreas grandes e ensolaradas, geradoras de imensos passivos ecológicos e ambientais. E tais regiões não se encontram no Primeiro Mundo, mas sim nas proximidades da linha do Equador ou entre montanhas co ventos unidirecionais encanados e em costas bipartidas, específicas de cada região geográfica.

“As fazendas marítimas, para serem menos custosas, têm que estar próximas aos litorais e irão poluir muito esses ambientes, tanto visualmente como ecologicamente. Além disso, e muito além disso, a capilaridade de distribuição implantada da rede elétrica mundial, a que distribui energia limpa, será extremamente ineficiente e diminuta para transportar tais montantes de energias potenciais expectadas, exigindo assim a implantação de fábricas, a instalação de muitos e novos postes, e cerâmicas isolantes, a produção de aerogeradores e dos fios para transmissão de quaisquer tipos de energias “limpas”a serem geradas”, etc.”

Tudo isso, segundo o geólogo, ainda sem contar com os outros sérios problemas sócio-ambientais e sócio-econômicos hoje existentes. “Ainda restam quase 3 bilhões dos habitantes pobres da terra, na África, América do Sul e principalmente a populosa Ásia, que nem sequer usam a energia elétrica. Há relações fortes entre riqueza e abundância de energia, e vice-versa. A minoração da fome e de vida digna exige necessariamente o acesso a energia, para leitura, acesso a água, agricultura, etc., pois, apesar das tecnologias limpas estarem dominadas, a insensibilidade dos governos e dos poderosos donos do dinheiro abundante ainda não permitiram que grande parte da população do homo dito sapiens, saísse do estado famélico ou quase, ora existente. Isso significa que a energia dita quase unanimemente como “limpa” não será suficiente para suprir nem 30% das ofertas atuais somadas as potenciais”, calcula.

“Assim, o carvão, o petróleo (óleo e gás com ou sem fraturamentos – frackings), os ditos hoje mais poluentes, nesta ordem, respectivamente, terão demanda ainda mui maior que a atual, junto com todos os combustíveis ditos “limpos”, que também serão quase tão poluidores como o petróleo, face a necessidade de construção das imensas fazendas energéticas poluidoras , das fábricas e outras instalações de distribuição, das buscas minerais de matérias primas através da implantação extrativa de novas minas poluidoras, para suprir a indústria de distribuição e principalmente de armazenamento de energia (baterias), etc., e que, todas, apesar de muito mais tecnológicas que as atuais, serão ainda degradadora do meio ambiente como todas as outras atividades humanas. Esta é razão pela qual quem detém energia petrolífera e de carvão, as exportáveis, não podem vender os seus ativos por preço de banana, como fazem os atuais dirigentes do nefasto desgoverno Temer, e das propostas legislativas doadoras do malsinado deputado Aleluia, incluindo aí atual direção da Petrobras e o discurso da ANP enaltecendo as vendas de ativos exploratórios e exploratórios com apenas arrecadadores de dinheiro.”

Por essas razões, Chagas avalia que os investimentos internos e externos em energias não exportáveis e limpas, e os usos do sol, vento e até mesmo a nuclear devem ser incentivados e implementados, pois trariam ótimas conseqüências econômicas para o Brasil, auto-suficiente em todas ou potencialmente, principalmente na energia elétrica de potencial ainda não esgotado tanto de barragens como de corredeiras e que hoje está concentrada na mão de empresas estrangeiras e da banca, a verdadeira proprietária”.

Assim, considera o geólogo, nos sobrará o petróleo, exportável, para os países consumidores, mas como produtos transformados no nossos parques de refino e industrial. “Esta é uma proposta mais profícua para o uso do petróleo da cessão onerosa e do imenso excedente, pouco defendida por alguns brasileiros”.

No entanto, ele avalia que faltam ao Brasil dirigentes comprometidos com o país. “Com o modelo proposto pela Shell criaremos ou alimentaremos os bancos ou a banca, proprietária maior de empresas de todas as jaezes, desde as petrolíferas (inclusive a Shell), automobilística, de alimentos etc., que atuam conjugados ao setor petróleo nos seus upstream, midstream e dwnstream. Fomentaríamos com o modelo Shell os bancos e empresas ao invés de Nações”.

Para o geólogo, este assunto deve ser interesse de Estado, acima portanto de questões político-ideológicas. “Existe modelo mais desigual do que este? A discussão, ao meu ver, trata da sobrevivência da humanidade e do livre escolher o destino da nossa Nação”, conclui.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

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  1. Texto sem nexo

    A expansão das fontes eólica e solar no Brasil tem reduzido a dependência da fonte hidráulica (prejudicada pela seca) e evitado o acionamento de térmicas (mais poluentes).

    Como o SIN (Sistema Interligado Nacional) já é bastante ramificado, estas fontes sempre tem por perto uma Subestação existente, reduzindo a necessidade de longas Linhas de Transmissão.

    O modelo brasileiro é um modelo de sucesso e vem sendo aperfeiçoado. Recentemente, a ANEEL obrigou o gerador a fazer a sua conexão com o SIN, evitando que uma empresa estatal seja responsável por esta conexão e gere atraso.

    Thomás Vasconcelos
    Engenheiro de Manutenção de Subestações

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