Entrada de eólica gera novas necessidades ao Sistema Elétrico Nacional

Unicamp faz parceria com Princeton para desenvolver modelo computacional capaz de acompanhar a complexidade do parque energético 
 
 
Jornal GGN – A participação de fontes intermitentes no sistema elétrico brasileiro aumenta a cada ano. Esse cenário traz novos desafios ao parque nacional de geração elétrica. Em 2014, a energia eólica cresceu 127% no Brasil, que já se configura como a quarta nação que mais recorre à eólica para atender seu consumo elétrico, atrás apenas de China, Alemanha e Estados Unidos. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2023, 11% do consumo elétrico brasileiro será atendido pela força dos ventos, hoje essa fonte compõe 3,8% da demanda.
 
O professor titular do Programa Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp, Paulo Barbosa, explica que a geração, em grande escala, das fontes intermitentes, como solar e eólica, geram novas necessidades ao planejador do sistema elétrico, em especial, quanto aos modelos computacionais que lidam com a interligação das usinas e redes de transmissão.
 
Hoje, a Unicamp e o Operador Nacional do Sistema (ONS) trabalham em cooperação para trazer ao Brasil as bases de um sistema desenvolvido há dois anos na Universidade de Princeton (Estados Unidos) para acompanhar o mercado formado por Nova Jersey, Pensilvânia e Maryland. A capacidade instalada do parque energético nesses três estados juntos é de 160 GW, enquanto o Brasil inteiro tem uma capacidade instalada de 130 GW. Esse nicho do mercado norte-americano também utiliza fontes intermitentes – eólica e solar – há mais tempo do que o Brasil.
 
Segundo Barbosa, o sistema desenvolvido em Princeton avalia todas as usinas interligadas que atendem a demanda, propiciando uma análise mais aprofundada e global do impacto das fontes intermitentes. “Com esse banco de dados, os norte-americanos registram as características de produção e parada de produção em intervalos curtos, de cinco minutos. Isso é importante porque, às vezes, tem uma hora cheia de produção de energia, mas quando abrimos a escala em minutos, tem alguns buracos enormes de ausência de vento, por exemplo”.
 
Com esses dados o operador do sistema poderá planejar melhor a forma de suprir a demanda de energia em fases de queda de produção eólica ou solar. “Já temos bastante conhecimento das técnicas de previsão de carga de energia, mas a produção eólica é mais errática, assim como a produção solar. Por exemplo, em um dia nublado a produção solar cai muito. Todas essas interferências precisam ser consideradas no novo horizonte”, completa o professor.
 
O pesquisador destaca que, para assegurar o sistema, é preciso estabelecer reservas de prontidão, também chamadas de backups, para eventuais ausências curtas ou prolongadas de produção nas usinas de fontes intermitentes. Dentro dessa nova estrutura o custo da produção elétrica passa a ser mais caro “Compreendemos, por exemplo, que a cada 1 mil megawatts instalados de fontes intermitentes é preciso acrescentar entre 300 a 400 megawatts instalados de usinas de reservas, que podem ser desde térmicas até hidrelétricas com reservatórios”.
 
O professor Barbosa observa que o Brasil tem vantagens estruturais em relação aos Estados Unidos, relacionada a sua configuração climática. “Aqui os períodos do ano de chuvas mais intensas são também períodos de baixa produção de ventos. Em compensação, no segundo semestre do ano, quando chove pouco, venta mais, e o fornecimento de energia passa a ser equilibrado pelas usinas eólicas. Isso possibilita uma economia de reservas das hidrelétricas na época de seca”, conclui.
 
Barbosa participará, nesta terça-feira (10), do 56º Fórum Brasilianas.org, para falar um pouco mais do modelo de simulação do sistema elétrico desenvolvido pela Unicamp, com base da troca de conhecimentos com a Universidade de Princeton. Para quem tiver interesse, as inscrições para o evento ainda estão abertas. Clique aqui.
 
 
 
Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Pena que o texto não cita

    Pena que o texto não cita quanto era a capacidade de energia eólica instalada anteriormente para sabermos o quanto ela representa do total da matriz energética brasileira.
    Ano passado o Planalto informou que possivelmente este ano poderemos passar a ser a segunda maior potência mundial em energia eólica, não sei se os investimentos foram descontinuados, mas se não foram será um avanço fantástico.

    1. Números com fontes
      Aos fatos, pois contra eles não cabe discussão….
       —————————————————————————————————————————————————A capacidade de geração no Brasil era de 65GW  em 1998 ( http://www.aneel.gov.br/15anos/linha_do_tempo/geracao.html),  de 119,5GW em 2012 ( http://www.aneel.gov.br/15anos/linha_do_tempo/geracao.html) e de 133,9GW em 2014 (http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2015/01/capacidade-instalada-de-energia-eletrica-teve-adicao-de-7-5-mil-mw).
       Somente em 2014 entraram no sistema 7,5GW  (mais de meia Itaipu) e 8.000km de linhas de transmissão, totalizando 125.000km ( http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2015/01/capacidade-instalada-de-energia-eletrica-teve-adicao-de-7-5-mil-mw ).
       A geração eólica saiu de 398MW, em 1998, para 2.202MW, em 2012, chegando a 4.889MW em 2014, com 288 usinas instaladas ( http://www.epe.gov.br/AnuarioEstatisticodeEnergiaEletrica/20130909_1.pdf  ).
       Estão contratados 36,9GW até 2023, sendo 20,2GW em UHE, 11,2GW em eólicas, 1,4GW nuclear e 2,1GW térmicas, além de 69 mil km linhas de transmissão – um investimentozinho de R$ 301.000.000.000,00 ( http://www.mme.gov.br/web/guest/publicacoes-e-indicadores/boletins-de-energia?p_p_id=20&p_p_lifecycle=0&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&_20_struts_action=%2Fdocument_library%2Fview_file_entry&_20_redirect=http%3A%2F%2Fwww.mme.gov.br%2Fweb%2Fguest%2Fpublicacoes-e-indicadores%2Fboletins-de-energia%3Fp_p_id%3D20%26p_p_lifecycle%3D0%26p_p_state%3Dnormal%26p_p_mode%3Dview%26p_p_col_id%3Dcolumn-1%26p_p_col_count%3D1&_20_fileEntryId=1982924 ) —————————————————————————————————————————————————– Resumindo, há previsão de grande crescimento da geração eólica (1/3 do crescimento total) – se não atrapalharem, é lógico…. Renato 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador