Ronaldo Bicalho
Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Oportunidades e custos na atividade petrolífera em águas profundas

Sugerido por Ronaldo Bicalho

Do Blog Infopetro

O objetivo deste artigo é apontar o porquê da fronteira petrolífera de águas profundas continuar atrativa para as petroleiras, a despeito dos riscos, dos níveis de participações governamentais, da concorrência com outras fontes de recursos e, em especial, dos custos técnicos dos projetos de E&P.

Pretende-se demonstrar que o desenvolvimento de capacitações dinâmicas por parte das petroleiras potencializou as transformações tecnológicas e organizacionais na indústria e favoreceu a evolução dos indicadores de desempenho desse segmento do setor de petróleo e gás. Não obstante a inflação de custos e os desafios envolvidos terem crescido, os resultados do E&P desse segmento da indústria são promissores, tanto no âmbito técnico quanto do ponto de vista econômico.

Algumas evidências sugerem que as oportunidades em águas profundas deverão permanecer no rol das prioridades das empresas petrolíferas líderes desse segmento: i) a magnitude das acumulações recém-descobertas; ii) o potencial remanescente de recursos de petróleo e gás por descobrir; iii) o acúmulo de competências e conhecimentos críticos; iv) o bom desempenho operacional e econômico de muitos dos projetos recentes.

Os dois primeiros aspectos foram abordados em algumas das minhas postagens anteriores, mas vale mencionar as descobertas que a Petrobras poderá anunciar em águas profundas da costa de Sergipe. É possível que o potencial de descoberta do Brasil, de Angola e de outros países da costa oeste africana seja superior ao estimado, mas que o seu aproveitamento requeira elevado grau de competência e experiência operacional, em particular, nos casos em que os recursos estiverem acumulados na camada pré-sal.

Já os últimos aspectos serão mais bem abordados a partir da análise de elementos organizacionais correlatos às firmas petrolíferas. Destaque para o desenvolvimento de capacitações dinâmicas que permitem que as petroleiras se adaptem e respondam, adequadamente, às transformações dos ambientes em que elas operam. Estas capacitações podem ajudar a aumentar, consideravelmente, a eficiência em custos das companhias. Petroleiras com capacitações dinâmicas mais bem desenvolvidas tendem a apresentar melhor desempenho, em diferentes métricas, em relação às demais.

Diante da complexidade das áreas exploradas, dos sistemas e dos serviços empregados no segmento de águas profundas da indústria, as petroleiras foram obrigadas a desenvolver competências e acumular conhecimentos idiossincráticos. Tiveram de lidar com desafios específicos conforme as condições ambientais, institucionais e de mercado: enfrentamentos no desenvolvimento e na operação de seus projetos.

Cumpre notar que diferentes arranjos regulatório-contratuais podem influenciar as decisões de investimento e afetar o nível dos custos de modo distinto. Regimes em que há mecanismos de controle sob os custos podem estimular a eficiência em custos, por um lado, ou conduzir a decisões abaixo do nível ótimo, ineficiente, a depender das regras e limites impostos. Ademais, quanto maior o nível das participações governamentais, maior a importância da eficiência em custos na administração da atividade petrolífera.

Quanto maior a capacidade das petroleiras de cooperar com fornecedores no desenvolvimento de inovações para sistemas e serviços, bem como de absorver tecnologias geradas externamente, maior será o potencial de ganho de eficiência em custos a despeito da tendência marcante de inflação de custos. Neste contexto, ao longo das últimas décadas, as transformações das tecnologias empregadas no upstream de águas profundas ajudaram a mitigar os efeitos da inflação. No mesmo sentido caminharam os esforços de mudanças na gestão das firmas, que aproveitaram, adequadamente, as oportunidades de aprendizado organizacional.

As petroleiras de vanguarda tiveram de se adaptar às oportunidades e desafios que surgiram, muitos deles de natureza tecnológica. Elas reconfiguraram os seus recursos e as suas competências e aceleraram as suas curvas de aprendizagem. As operadoras líderes se destacaram por alcançar um grau mais elevado de domínio tecnológico, de conhecimento crítico, de capacidade de planejamento e execução de grandes projetos.

As líderes também se diferenciaram, nestes aspectos, de seus pares, em especial, daquelas petroleiras com menos bagagem neste negócio, especificamente. As firmas que acumularam mais experiência na condição de operadoras, assim como aquelas que formaram consórcios com estas experientes, tenderam a experimentar melhoria do desempenho (em custos/lucros, por exemplo) em projetos de águas profundas.

Diante dos distintos desafios ligados ao E&P de águas profundas e da rápida evolução das atividades nesse ambiente, o setor parapetrolífero também teve um importante papel na geração de conhecimento e soluções para potencializar as descobertas e a produção de hidrocarbonetos em ambientes hostis e pouco conhecidos. A atividade inovativa da indústria de fornecedores e prestadores de serviços foi favorecida pela crescente especialização das empresas, bem como pela oportunidade de vender para petroleiras que executariam projetos offshore cada vez maiores e mais complexos.

A disponibilidade de competências e recursos críticos, mesmo que escassos e caros, permitiu que as atividades petrolíferas e gasíferas de águas profundas evoluíssem e correspondessem a uma das mais importantes fronteiras exploratórias do mundo. As descobertas de reservatórios com elevada produtividade, com grandes acumulações de hidrocarbonetos de boa qualidade foram funcionais. Ajudaram a compensar, em alguma medida, ambientes de custos e riscos mais elevados, assim como a tendência de aumento do controle e das participações governamentais dos países hospedeiros.

Diante de grandes oportunidades e desafios, as firmas petrolíferas que aprimoraram as suas competências e estoques de conhecimento tenderam a se destacar das demais em termos de desempenho em projetos de águas profundas. Avanços na capacidade de acessar recursos, planejar e executar projetos, bem como nas estratégias de contratação e relacionamento com fornecedores favoreceram a performance delas. (…) O texto continua no Blog Infopetro.

Ronaldo Bicalho

Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

1 Comentário

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  1. Segurança operacional

    A esta distância do continente, não reconhecida por países como os EUA por exemplo, estaremos vulneráveis à um bloqueio, que se estabeleça sob qualquer desculpa. Cabe então a pergunta: Quem irá dar segurança operacional a estes ativos, se o nosso submarino nuclear estará pronto somente em 2020?

    Se a China for nosso parceiro na exploração, creio que iremos “dividir” a ameaça e seus ônus.

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