Os desperdícios do setor elétrico brasileiro

Jornal GGN – Com altos índices de desperdício, o setor elétrico brasileiro ainda tem o desafio de melhorar sua eficiência. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), no ano passado, o Brasil desperdiçou 46,6 mil Gigawatts/hora (GWh) – quase metade do que é gerado pela usina de Itaipu.

Nesse cenário, especialistas falam sobre a necessidade do setor de investir em novas tecnologias, capazes de identicar e mitigar perdas. Eles apontam como possível solução  o desenvolvimento de redes elétricas inteligentes, os chamados Smart Grids – sistemas digitais integrados que permitem maior controle de medição e distribuição.

De acordo com Carlos Frees, líder do projeto de redes elétricas inteligentes da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em alguns casos, esses sistemas conseguem reduzir as perdas em até 20%. Ele cita como exemplo a concessionária fluminense Light, que atualmente tem aproximadamente 40% de perda por roubo de energia.

O problema, no entanto, continua sendo o custo e a grande escala dos projetos. Enquanto um medidor convencional custa de R$ 25 a R$ 30, o medidor eficiente chega a custar dez vezes mais, variando entre R$ 200 e R$ 300. Os especialistas do setor consideram inquestionáveis as possibilidades de ganho econômico, financeiro e operacional no longo prazo, mas a implantação exige planejamento cuidadoso.

Mapeamento tecnológico do sistema energético brasileiro

Pensando nisso, a ABDI realizou um mapeamento para identificar o nível de domínio tecnológico  dos fornecedores nacionais e o andamento dos projetos de pesquisa e desenvolvimento das concessionárias. O estudo identificou, de 2008 até o final de 2013, 273 projetos em andamento, realizados por 34 concessionárias de distribuição, 21 de geração e sete de transmissão. Algumas concessionárias, inclusive, já iniciaram as aplicações em escala comercial.

Atualmente, os investimentos previstos declarados para a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), superam a marca de R$ 1,09 bilhão. Além disso, há a previsão de inserção de aproximadamente R$ 3 bilhões com investimentos do programa Inova Energia, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Para Carlos Frees, a indústria nacional já demonstra interesse e capacidade para desenvolver novos produtos e já domina a tecnologia em diversas áreas fundamentais, mas mesmo assim ainda enfrenta uma série de entraves. “A atual regulação da Aneel não reconhece investimentos em ativos de redes elétricas inteligentes, o que mantem as concessionárias dependentes de fundos governamentais, impossibilitando investimentos próprios expressivos”, diz Frees.

De acordo com o executivo, o processo para emitir a certificação também é muito longo, o que prejudica o lançamento de novos produtos (principalmente medidores inteligentes). “Esse tempo acaba resultando na avaliação de produtos tecnologicamente defasados”, explica.

O estudo da ABDI ainda citou como dificuldades a carência de mão de obra especializada, a rigidez da legislação trabalhista, a inadequação da Lei da Informática para incentivar o desenvolvimento de tecnologias e a demora na produção de patentes para definir percentuais e direitos aos royalties.

Além das críticas, o mapeamento propõe alternativas, ações prioritárias que o Governo Federal pode desenvolver para promover o mercado de redes elétricas inteligentes no Brasil. Entre outras coisas, o estudo sugere: adotar uma política industrial integrada multiministerial para favorecer o investimento de longo prazo; revisar e alterar o modelo regulatório da Aneel para reconhecer investimentos em ativos de telecom, TI e sistemas de potências; investir em centros técnicos, institutos e universidades para formar mão de obra especializada para a indústria; estabelecer produtos prioritários e desenvolver ações que acelerem o tempo de homologação pelo Inmetro, como o credenciamento de agentes externos e o investimento em pessoal para atender o aumento da demanda; e criar uma política de impostos para a implantação de redes elétricas inteligentes, que inclua a revisão do ICMS na geração distribuída, a revisão da CLT e da Lei da Informática e a adoção de planos de financiamento e incentivo para substituição em massa de medidores.

Projetos pilotos

Uma das empresas que já aposta nas vantagens das redes inteligentes é a distribuidora EDP. Atualmente, a companhia tem um projeto piloto de Smart Grid que irá substituir 100% dos medidores na área urbana dos municípios de Domingos Martins e Marechal Floriano (ES). O investimento para alterar os 5.500 medidores da região é de R$ 5 milhões. O projeto foi lançado em junho deste ano e está em fase planejamento operacional.

Além da substituição dos medidores tradicionais pela tecnologia inteligente, o programa abrange algumas ações modelo, como a mudança da iluminação de uma rua de cada município, que receberão lâmpadas de LED. A intenção, segundo o gestor executivo da EDP, Amadeu Wetler, é mostrar, na prática, as possibilidades de economia e incentivar as prefeituras a investir em eficiência energética.

A EDP ainda irá implantar um sistema alternativo de tarifas, que irá testar a aceitação do público ao pré-pagamento de energia. Além de resolver o problema da inadimplência – que não é grave nesses municípios, mas que atinge as regiões de baixa renda de grandes centros, como Vitória –, a expectativa é avaliar como as pessoas lidam com um consumo mais controlado e com a responsabilidade compartilhada de evitar desperdícios.

Com as informações fornecidas pelos medidores inteligentes, a EDP espera, ainda, dar subsídios para que a população reveja seu comportamento de consumo. “Tradicionalmente, as pessoas não participam muito do processo, elas consomem o que precisam e recebem a conta no final do mês. As redes elétricas inteligentes dão elementos para o consumidor identificar onde há desperdício e interferir”, afirma Wetler.

Ele dá como exemplo o uso de tomadas inteligentes, que conversam com os medidores. “Se você tem o costume de usar um ciclo inteiro pra bater uma única peça de roupa e nós ligamos sua máquina de lavar em uma tomada inteligente, você será capaz de perceber exatamente quanto poderia economizar de energia se esperasse até ter uma quantidade maior de roupa pra lavar de uma vez”, explica.

O executivo espera que no início de 2015, todos os novos medidores já estejam instalados em Domingos Martins e Marechal Floriano, e diz que até o final de 2015, as demais ações já devem estar sendo realizadas.

Questionado sobre a viabilidade desses projetos em grandes centros urbanos, ele diz que a aplicação depende de definições regulatórias da ANEEL. “Se você muda toda a rede, isso vai ter um impacto na tarifa. A ANEEL ainda não permite a realização desses projetos em grande escala. O consumidor não pode ser onerado por um processo tecnológico que não lhe traga benefícios”.

A EDP já realizou projetos de Smart Grids em outras regiões. Em Aparecida (SP), foram 13.650 medidores inteligentes instalados. “Foi o nosso primeiro projeto no Brasil, então, houve alguns aprendizados sobre a infraestrutura de comunicação de dados, pois o volume de dados é muito grande”, diz. No entanto, o executivo encara as dificuldades do passado como experiência e garante que não terão os mesmos problemas nesse novo projeto. Apesar dos problemas, ele parece confiante com o desenvolvimento das redes elétricas inteligentes no Brasil.

Redação

20 Comentários

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  1. “Se você muda toda a rede,

    “Se você muda toda a rede, isso vai ter um impacto na tarifa. A ANEEL ainda não permite a realização desses projetos em grande escala. O consumidor não pode ser onerado por um processo tecnológico que não lhe traga benefícios”.

     

    Traduzindo: vantagem para empresa e tarifa mais alta para os consumidores. 

    Só podemos atribuir a definição de moderno ou nova tecnologia a algo que traga benefícios com custo menor.  Se uma dita nova tecnologia não traz benefícios para o consumidor e ainda tem custos maiores, então, ela não é moderna, ela é um passo atrás.

    1. É isso mesmo Beatriz. Na

      É isso mesmo Beatriz. Na apresentação dos medidores pré-pagos, foi dito que os mesmos deveriam ter a mesma tarifa dos pós-pagos. A grande “vantagem” é que você poderia ser desligado logo após o fim dos seus créditos (considerando os kWh da “emergência”).  Outra coisa ridícula é a tarifa branca, aumenta-se o valor na ponta e um desconto ridículo no resto do dia. Resumindo, tarifa mais alta para o consumidor.

  2. Há um geral ineficiencia no

    Há um geral ineficiencia no USO da energia eletrica no Brasil. Nós não temos nenhum programa  federal de racionalidade no uso de energia, permitomos a construção de predios de uso INTENSIVO de energia, que em nada aproveitam a luz solar nem a ventilação externa, so funcionam com  ar condicionado central insensivel ao numero de ocupantes do predio MEGA devorador de quilowatts, e um conceito do tempo da aenergia abundante e barata.

    O Estado da California há 25 anos criou leis de CONSERVAÇÃO DE ENERGIA e reduziu em 50% o consumo do Estado.

    Ontem, um dia frio em SP, fui a um restaurante e tive que brigar para abaixarem o ar condicionado, fizeram com má vontade, porque NÃO HAVIA NENHUMA NECESSIDADE DE AR CONDICIONADO e estava ligado, isso acontece em muitos ambientes, não há conciencia disso, a mesma coisa com a luz, pode estar sol a pino ao meio dia, todas as luzes dos grandes predios de escritorios estão acesas como se fosse 7 da noite, a luz solar não serve para nada? Tudo depende do projeto de construção, hoje ISOLAM completamente a luz solar e a ventilação externa, obrigando o uso de energia,

    LEIS FEDERAIS deveriam obrigar as Prefeituras a seguir regras de licenciamento levando em conta eficiencia de energia,

    algumas regras já são seguidas mas cabe muito mais.

  3. Esse é o tipo de coisa que só

    Esse é o tipo de coisa que só serve para corroborar que a crise de água em SP é muito por desperdício, quando o povo brasileiro é exemplo de uso dos besn público com parcimônia

    1. Pelo contrário

      Pelo contrário, não é o caso de se responsabilizar o consumidor, mas de verificar quais são os projetos possíveis e necessários para que concessionárias e distribuidoras possam mitigar perdas.

  4. algumas considerações

         Esse desperdício de  que fala o texto é na transmissão da energia. Portanto, não cabe aos consumidores finais qualquer responsabilidade por medidas de economia. Incentivos a prédios ou casas que gastem menos energia estão em outro departamento.

         As empresas que fazem a distribuição tem perdas grandes, mas também grandes margens de lucro. Então, porque investir em novos equipamentos, reduzindo os lucros, se podem manter tudo como está e encherem as burras de grana?

     

          Deve-se pensar  em medidas para reduzir as margens das empresas, como foi feito com a geradoras de energia, forçando as distribuidoras e investir para reduzir perdas e aumentar os lucros, mesmo que no longo prazo.

    1. Nosso sistema é, basicamente,

      Nosso sistema é, basicamente, hidroelétrico, é natural que as perdas sejam superiores a um sistema termoelétrico.

      1. perdas previsíveis

        A perda de carga devido à transmissão de energia por longas distâncias é previsível e prevista nos projetos de linhas de transmissão.

        Não é esse tipo de perda que é discutida no texto.

        1. Não entendi, você escreveu

          Não entendi, você escreveu “Esse desperdício de  que fala o texto é na transmissão da energia.”

        2. Não entendi, você escreveu

          Não entendi, você escreveu “Esse desperdício de  que fala o texto é na transmissão da energia.”

          1. correção

            no primeiro post, deveria ter escrito “distribuição” ao invés de transmissão.

            As perdas de  que fala o texto são na distribuição de energia aos consumidores, porém ANTES de entrar na casa dos mesmos. As linhas nas ruas da cidade.

    2. Não entendi.

      Como o desperdício é apenas na transmissão? Não possuo os dados, mas é só passar por qualquer comunidade ou favela que os gatos pululam. Aliás, não só ali. E tem gente que finge que não vê. Caracas, sé eu vejo? Por que as distribuidoras nada fazem?

      1. Mesmo que seja visível a

        Mesmo que seja visível a instalação do “gato”, o complicado é desmancha-la.

         

        Quando encontrar algum carro da concessionária fazendo manutenção em alguma rede, pergunte para o funcionário o que acontece quando eles entram na “comunidade” e se eles tem coragem e apoio policial para desmanchar o “gato” localizado.

         

        Tenho um amigo que trabalha com isso e ele me frala que entrar em alguns locais para religar a luz, só é feito com o apoio de 3 ou 4 viaturas de polícia, pois a rede foi desligada para alguem realizar algum “serviço”. Se para religar precisa desse suporte policial, imagina para desligar 200 ou 300 ligações clandestinas de energia!

        1. Então como ficamos?

          Paga-se mais por ser honesto? Construir uma usina dá um trabalhão do cão. E estamos construindo. Se por ameaças não se consegue cobrar ou pagar pelos serviços prestados e a polícia ou empresa se omite, vamos esquecer das leis de uma vez.

    3. A distribuição tem grande

      A distribuição tem grande margem de lucro?  Informe-se melhor, as DISTRIBUIDORAS ESTÃO EM PESSIMA SITUAÇÃO FINANCEIRA, precisam de contuans injeções de dinheiro do Governo federal para poder pagar as geradoras, as ações das distribuidoras despencaram, é hoje o pior negocio do Pais.

  5. Pobre consumidor

    Debita-se na conta do consumidor os problemas que tem origem na má gestão e operação do sistema por parte do patronato. Tudo abençoado com programas de incentivo e a vista grossa da Aneel.

    Para o grid ser smart o operador deve ser smart também e dividir os ganhos com a comunidade.

    Ps: mais de um quarto da minha conta de luz é ICMS….

  6. Dívida do setor elétrico

    “Edição do dia 10/07/2014

    10/07/2014 09p1 – Atualizado em 10/07/2014 09p2

    Aneel adia data para pagamento de dívida de R$1,3 bi das distribuidoras

    Situação do setor de energia está complicada. Reservatórios cada vez mais vazios, obras atrasadas e distribuidoras com dificuldade de honrar dívidas.

         

    As previsões para o setor de energia não são nada boas. Os reservatórios estão cada vez mais vazios, metade das obras para transmissão de energia estão atrasadas e as distribuidoras estão com dificuldade de honrar suas dívidas. A situação está complicada.

     

    [video:http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2014/07/aneel-adia-data-para-pagamento-de-divida-de-r13-bi-das-distribuidoras.html align:center]

  7. Tudo bem, a Light é da Cemig

    “concessionária fluminense Light, que atualmente tem aproximadamente 40% de perda por roubo de energia.” Tudo bem, já que a Light pertence à Cemig e é preciso quebrar as concessonárias de governos do PSDB (as melhores do país), para acabar com essa tralha. Dentro de MG, é mais fácil desligar os gatos e a perda fica em apenas 6%, o governo federal precisa de criar alguma dificuldade para elevar essa perda!

  8. Qual é a porcentagem que as

    Qual é a porcentagem que as residencias usam do sistema elétrico?

    Os maiores consumidores de enegia elétrica do país são o setor de siderurgia e metalurgia, creio que só o aluminio gasta 25% do que temos disponivel de energia.

    E creio que as tarifas pagas são menores que a residencial e de por que não dizer “subsidiada” pela coletividade.

     

  9. Nem lí até o final…

    Roubo é uma coisa, desperdício e sistema inteligente é outra.

    Para quê misturar estes temas? Para confundir.

    Se existe gato na rede não quer dizer que está desperdiçando, a energia está sendo usada, de forma irregular mas usada.

    Desperdício atualmente nem tem jeito de ser medido.

    Sistema inteligente de consumo de energia é conto da carochinha, vá se catá. As lâmpadas fluorescentes econômicas recebem uma tributação absurda.

    O consumo de energia no Brasil é ridículo. 

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