Preço e custo da energia; por Miriam Leitão

Sugerido por BRAGA-BH
 
Do blog de Miriam Leitão, no site do jornal O Globo
 
Preço e custo
 
Há um problema extra no setor de energia. As distribuidoras não conseguiram contratar toda a eletricidade que elas têm que entregar aos seus consumidores. Não é falta de energia ou possibilidade de apagão. O risco é de preço alto. Ao todo, elas estão com uma falta de 4.000 MWH. Tem que comprar no mercado à vista e o preço disparou. Custa hoje quase o dobro do que na média do ano passado.
 
Houve alguns dias de chuvas fortes nas grandes cidades do Sudeste. Quem viu a tempestade achou que, pelo menos, um problema estava afastado. Não está. Tanto a subcontratação quanto o uso das térmicas aumentarão o custo. Para não bater na conta do consumidor, terá que aumentar a conta do contribuinte.
 
A confusão foi a seguinte: pelo mecanismo de leilão, feito pela EPE, as distribuidoras contratam a energia que têm que fornecer aos seus consumidores. Quando não têm tudo, precisam ir ao mercado spot e comprar. O problema é que, na segunda-feira, o preço estava em R$ 484 o megawatt hora. No ano passado, o preço médio foi de R$ 263 o MWH.

 
Energia existe no sistema. O mecanismo de leilões falhou porque o preço máximo estabelecido pela EPE foi baixo demais. Alguns leilões “deram vazio”, como se diz no setor: não apareceu oferta. Se toda essa energia tiver que ser comprada no mercado livre ao preço de segunda-feira, significa R$ 1,4 bilhão por mês.
 
Especialistas do mercado de energia dizem que, na hora de fazer os leilões no fim do ano passado, a EPE fixou um preço máximo baixo demais, de R$ 161, e aí ninguém ofertou energia a esse preço. Mais tarde elevou para R$ 193 o Megawatt hora. E apareceu oferta de 2.500 MWH. Mesmo assim, ficou faltando.
 
— Quando as distribuidoras estão subcontratadas como agora, não quer dizer que faltará energia, mas elas terão que comprar no mercado spot e isso eleva o custo que, pela lei, teria que ser repassado para o consumidor. Teremos dificuldade de carregar esse custo até ele ser remunerado — disse um empresário do setor.
 
Por isso o governo teria que agir para evitar esse estrangulamento. Por essa conta gráfica, se toda energia tiver que ser comprada no mercado à vista, vai aumentar o preço da eletricidade. Ou terá que haver mais transferências do Tesouro para cobrir os desequilíbrios financeiros do sistema.
 
Esse problema se soma a outro que também encarecerá a energia: o nível dos reservatórios. No Sudeste e Centro-Oeste, os reservatórios estão com 41,5% e eles são os mais importantes para abastecimento de energia do país. No Nordeste, o nível está em 42%; no Sul, 63% e no Norte, 57%. Já houve situações piores, como a do começo do ano passado, e o mercado não prevê risco de racionamento. Mas isso significa mais uso de térmicas, que elevará o custo. No ano passado, essa diferença entre custo e preço impactou o Tesouro em R$ 10 bilhões; para 2014, estão previstos no Orçamento R$ 9 bilhões.
 
— E pensar que nós estamos em pleno verão, época em que, normalmente, estaria vertendo água nos reservatórios — disse um empresário.
 
O problema foi a tentativa de realizar leilões com o preço máximo abaixo do que o mercado estava disposto a vender a oferta. Não deu certo e a situação acabou ficando assim: o país entra na estação chuvosa com os reservatórios com um nível baixo e com desequilíbrio de energia contratada.
 
O divórcio entre custo e preço está criando um ambiente mais artificial, com um subsídio cada vez maior. As empresas distribuidoras reclamam que não têm caixa para carregar o prejuízo até serem ressarcidas; o governo decidiu pagar o subsídio que for para manter a ficção do marketing político de que reduziu o preço da energia. O consumidor é poupado; e o contribuinte, onerado.
Redação

10 Comentários

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  1. Para variar, metade verdade,

    Para variar, metade verdade, metade mentira. O custo no ano passado foi perfeitamente absorvido, inclusive, pelo governo federal, para evitar reajustes maiores. O que acontece, hoje? Ora, ora e ora – e a dona Leitão, mais uma vez, “esquece” de dizer, as termelétricas serão desligadas mais cedo do que no ano passado. Há mais água nos reservatórios, mesmo que o Sul, pelo menos, esteja passando por verão seco e úmido (calamidade pública, quase). Então, mesmo que o preço tenha sido majorado – e muito – as concessionárias públicas (responsáveis pela entrega da energia aos consumidores finais) têm condições de bancar o preço em razão de sua rentabilidade no restante do ano. Qualquer coisa em contrário, uma só, “chantagem” das mesmas (Celesc, Santa Catarina, é bom (ou mau) exemplo). E a dona Leitão, mais uma vez, faz de tudo para honrar a pauta da globo: o brasil (com m) é uma m…). Haja paciência em ano eleitoreiro-palanqueiro-politiqueirol.

    1. Acho que no caso vc está

      Acho que no caso vc está enganado.

      A Leitão fez o diagnóstico a partir da situação atual. Não interessa se tem mais ou menos água que no ano passado. O que interessa é que o nível atual NÃO é o adequado. E foi isso que ela disse.

      Se vc considera normal um reservatório estar a 40% quando deveria estar a 80%… então… vc tem razão, hehehe.

       

      A solução apresentada por ela, é uma das soluções possíveis.

      Eu discordo dela. Acho que existem outros caminhos mas… a solução sugerida por ela( cof, cof, cof) funcionaria com facilidade.

      Eu só acho que se for pelo caminho que ela sugere, a situação tarifária ficará pior do que a atual.  Ela só mente neste pontinho específico que é muito pequeno comparado ao ponto do risco de racionamento.

      Abraço

  2. Enquanto isso o marido, dono

    Enquanto isso o marido, dono de ONG,propõe cataventos  em lugar de hidrelétricas. Portanto,  abaixo Belo Monte  e todos outros planejados e em execução!

  3. Olha, o diagnóstico da

    Olha, o diagnóstico da situaçã atual é preciso. Faltou só mencionar que tudo isso que estamos vendo hoje surgiu exclusivamente devido a administração desastrosa do Governo FHC.

    Os motivos para termos chegado a este ponto são apenas 4 e os cito abaixo. 

    1- Os Bertin

    Não é culpa do Governo se os Bertin prometeram cosntruir em 5 anos o que a Cemig construiu em 40.

    Poderiam ter feito tudo? Não, não poderiam. Poderiam ter feito metade? Sim, poderiam. Quanto fizeram? ZERO!

    Os Bertin receberam uma bolada do BNDES. Boa parte resolveram colocar em energia.  Criaram a Bertin energia e compraram duas empresas altamente especializadas, pequenas e de alto faturamento. Faturavam quase 1bi com 10 funcionários. Sabe como é dicicil fazer isso?

    Bom, voltando ao fio da meada, o “mercado” que estava de orelha em pé, por conta dos Bertin, ficou tranquilizado quando houve estas compras pois gente DO RAMO altamente ESPECIALIZADA estava ENTRANDO no GRUPO BERTIN.

    Mas… mas… Os Bertin não estavam interessados na especialização, estavam interessados apenas nos projetos e concessões prontos destas empresas. Acabaram com as empresas altamente especializadas e criaram um elefante la no Plaza na Faria Lima.

    Após a primeira reunião de diretoria, diretores de uma destas empresas se entreolharam, já fora e sem ninguém vendo e disseram: FUDEU! Nao sabem porra nenhuma literalmente.

    Nesta reunião, estes diretores disseram exaustivamente, não é assim, não pode, não vai dar certo e tiveram até que discutir questões de ENGENHARIA com ADVOGADOS E ECONOMISTAS.

    Prometeram bater o recorde mundial de terraplanagem em 100% num terreno 20 vezes menor de onde foi estabelecido o recorde mundial que, pelo que me lembro, é da Camargo.

    Na segunda reunião, não foram convidados.

    Resultado, nada foi realizado e os Bertin vão perder METADE do patrimônio em MULTAS ainda não pagas. Ano passado a conta deles estava em R$300mi por mês negativos. Vai tudo ser judicializado. MAs vai ter que pagar!

    Os Bertin deixaram de entregar mais do que o valor em MW citado pela Leitão no artigo.

    Agora a Bertin Energia acabou. Existe só pra administrar o passivo que, como disse antes, vai abocanhar mais do que a metade do patrimônio do Grupo que é um dos maiores do país.

     

    2- Licenças ambientais

    Houve um descontrole nas licenças ambientais. Diversos projetos ficaram parados até o Governo descobrir a polvora. Só pode entrar no leilão COM licença.

    Agora ok mas isso não resolve o passado paradinho paradinho além de não acelerar novas licenças muitas vezes delegadas por agências altamente corruptas.

    Isso criou uma série de distorções no sistema como o caso das usinas prontas que não estão no sistema porque as linhas, cosntruídas por outros, não estão prontas. Estas usinas que não estão no sistema estão recebendo 100% de sua receita e vc é quem está pagando.

     

    3- OS Malandros

     

    O terceiro motivo são os MALANDROS. E diga-se de passagem, aqui no blog do Nassif ta cheio de gente batendo palmas pra malandro.

    O que fazem os malandros nos leilões de energia. Eles ganham seja por qualquer preço.

    Bom, lembram daquele leilão em que o preço da eólica chegou a R$90? Lembram? Bom o pessoal aqui achou ótimo e bateu plamas pra competência do vencedor. Só não sabiam que o vencedor é um malandro que NÃO vai construir porcaria nenhuma porque O PREÇO é INVIÁVEL.

    O malandro faz o que faz porque é uma pessoa do “sistema” viciada em velhas práticas, como vencer e depois, através de contatos POLÍTICOS, empurrar a trolha para alguma estatal. Quando o projeto der prejuízo, é porque é uma estatal. Se fosse privado daria lucro. Sacou a lógica?

     

    4- O Medo

    Quando viu o tamanho do problema deixado pelo governo FHC e a situação delicada emq ue o Brasil se encontrava e ainda se encontra, o que o Ministro de Minas e Energia fez?

    Anunciou a construção de 30 usinas nucleares no Brasil.

    uahuahauhuahahuahuahauhuahauhuahuahuahuahauhauhuahuahuhauhauhauahuhauhauhauhahahauhauauahahuhauauha

    Brasil il il

    Quer resolver o problema ou ficar no risco?

    Olha, se der uma seca ja era. Se o Brasil disparar no crescimento, ja era projeto de poder do PT.

     

    Conclusão:

    O Governo tem razão em fazer o que faz e NÃO o que a Miriam sugere.

    Deveria o governo assinar contrato de 20 ou 30 anos com preço alto porque o preço da energia subiu nos últimos 6 meses? Lógico que não e lógico que estou exagerando. Os preços estão altos há mais tempo, hehehe. Mas a grosso modo o argumento é este.

    Então o Governo decidiu BANCAR A CONTA até que o setor volte a normalidade.

    Quem confia no próprio taco, faz é isso mesmo. Trabalha e vai aonde quer ir.

    Quem não tem, paga.

     

    PS. Tudo o que a Miriam disse é verdade. Repare que ela disse o preço médio. Médio!

     

    Ainda bem que o PIB não cresceu, hehehe. Lobão deve ter aberto uma champagne.

     

    Abraço

     

     

    1. Pera la, Athos, veja a

      Pera la, Athos, veja a oportunidade de ouro aqui:  vamos suponhar que eh tudo verdade;  mais ainda, vamos suponhar que o fato do governo estar pagando pela baixa do preco foi barbeiragem de Dilma e que essa foi a causa do aumento do preco…

      Solucao?

      Aumentar os impostos das energeticas.

  4. A Mirian está certa no

    A Mirian está certa no diagnóstico.

    o caminho natural para o setor é as térmicas entrarem na base da geração, e não como backup. Isso é quase consenso nos especialistas. Precisa resolver questões regulatórias entre a ANP e ANEEL para viabilizar o funcionamento das térmicas as gás, tal como a OGX está fazendo no Maranhão (Usina na boca do poço). 

    Acho que não dá pra apontar culpados. Mas as questão ambiental tem que ser resolvida. Os orgãos ambientais tem pensar o impacto das usinas hidrelétricas como um todo. 

    Mas o Brasil vai ter que conviver com um custo de energia cada vez maior, não há como evitar isso.

  5. É engraçado este jornalismo,

    É engraçado este jornalismo, só tem um lado da história, ou melhor, estória. A história tem vários lados.

    O pouco que sei sobre esta prática profissional é que seu papel deveria ser o de apresentar as várias versões dos fatos. No mínimo isso, mesmo que a pessoa do jornalista, na hora de apresentá-los pessasse mais para o lado que ele, enquanto ser dotado de razão e emoção, acreditasse ter mais relevância.

    Mas não, eles contam a sua versão dos fatos e querem que acreditamos que estes são os própios fatos, únicos e verdadeiros. E por que isso? Ora, porque eles são jornalistas, trabalham para um jornal, logo…

    Tá bom.

  6. De novo esse papo de

    De novo esse papo de “racionamento”, “lagos secos”? Será que a DILMA vai ter de “peitar” esse povo e reduzir novamente a tatifa? Bom, a Tacanhede ainda não marcou a “reuião de emergência”, ao menos. Onde vai faltar água, parece, é nas torneiras abastecidas pela Sabespe do PSDB. Aquela que ia tinha propaganda aqui em Rondônia e ali no Acre, na última eleição presidencial (2010). Povo mais besta, meu.

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