Ronaldo Bicalho
Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Riscos e oportunidades do mercado de GNL, por Yanna Clara

Do Blog Infopetro

Por Yanna Clara

O mercado de gás natural brasileiro depende fortemente de importações. Em 2014, o gás importado totalizou 52% da oferta nacional, resultado bastante influenciado pelo despacho contínuo das térmicas que vem ocorrendo desde 2012. As importações são provenientes principalmente da Bolívia, mas o Gás Natural Liquefeito (GNL) vem assumindo papel importante no suprimento do energético.

A perspectiva é que a importação de GNL no Brasil se intensifique, devido a incertezas quanto ao futuro do fornecimento de gás boliviano com o término do contrato em 2019, assim como a incertezas do gás proveniente do Pré-Sal. Com o GNL se firmando no mercado energético brasileiro, torna-se crucial uma avaliação da posição do Brasil dentro do contexto internacional.

A atual configuração do mercado internacional de GNL e tendências para o futuro

O gás natural corresponde a aproximadamente 25% da demanda energética mundial, dos quais 10% são supridas via GNL. O GNL cresceu mais do que qualquer outra fonte de gás natural do mundo – uma média de 7% ao ano desde 2000, o que resultou em uma perspectiva de maior integração e flexibilidade para importantes mercados mundiais (IGU, 2015).

Atualmente, existem 38 plantas de liquefação de gás natural em 21 países. O Oriente Médio possui a maior parcela da capacidade de liquefação mundial, com 34% do total, sendo 25% proveniente somente do Qatar, o maior exportador do energético no mundo.

Com esta posição dominante, o Qatar atua como “swing supplier” entre o mercado Asiático e Europeu. Com sua localização geográfica privilegiada e equidistante aos mercados europeus e asiáticos, o Qatar consegue arbitrar e vender para a região que oferecer maior preço no mercado spot. Dessa forma, o país consegue exercer seu poder de mercado: ao vender GNL para Europa, o Qatar consegue manter os preços na Ásia mais elevados (Fattouh et al, 2015).

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Fonte: Elaboração Própria com dados do IGU.

Pelo lado da demanda, a região do Pacífico Asiático é a maior consumidora do energético atualmente. O maior país importador de GNL é o Japão, que teve sua estrutura energética fortemente afetada após o acidente nuclear de Fukushima, em 2011, que resultou no desligamento de todas as plantas nucleares. Dessa forma, o país se tornou altamente dependente de importações de GNL para suprir sua demanda elétrica.

A Europa é a segunda maior região consumidora de GNL, em países como Reino Unido, Espanha e França. Certos países da Europa são altamente dependentes de importações de gás natural provenientes principalmente da Rússia, Argélia e Noruega.

Nos países da Ásia e Ásia Pacífico, a maior parte da demanda é suprida por contratos indexados ao petróleo e de longo prazo com alguma importação complementar do mercado spot (Ver Colomer, 2015). Desde 2011, com o desastre de Fukushima, o comércio spot se intensificou, elevando consideravelmente seus preços (como podemos observar no gráfico abaixo, que apresenta os preços de GNL no Japão e no Brasil).

Desde o início do ano de 2015, os preços de GNL vêm caindo progressivamente. São algumas razões conjunturais que levaram a este resultado: (i) a queda abrupta do preço do petróleo, reduzindo o valor do GNL indexado a este; (ii) a demanda estagnada dos países europeus; e (iii) a demanda chinesa menos promissora do que o esperado. O resultado foi uma aproximação dos diversos preços de GNL ao preço do hub europeu, o NBP.

Comparação entre preços internacionais de gás natural – 2001-2015 (US$/MMBtu)

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Fonte: Elaboração Própria com dados do MME, Indexmundi e EIA.

Existem incertezas para o futuro do mercado de GNL tanto pelo lado da oferta como da demanda, que deverão impactar os preços futuros. Primeiramente, existem diversos projetos de plantas de liquefação em vários países, que irão incrementar fortemente a oferta mundial do energético. Atualmente, são aproximadamente 74 projetos identificados nos EUA, Canadá e Austrália, alguns já próximos de alcançarem o FID (Final Investment Decision). Destes, 15 projetos estão em construção e irão adicionar 127 MTPA (aprox. 473 MMm³/d) de capacidade entre 2015 e 2019 (IGU, 2015). Esses projetos representam 42% da capacidade atual de liquefação e aproximadamente metade do volume comercializado em 2014, o qual alcançou o patamar de 241 MTPA (aprox. 898 MMm³/d). 

São dois os desdobramentos importantes relativos ao cenário de incremento de oferta: (i) o Qatar perderá poder de mercado pela diversificação de players; e (ii) com a entrada doshale gas no mercado internacional, os preços tenderão a ser mais competitivos. (…) Continua no Blog Infopetro.

Ronaldo Bicalho

Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

3 Comentários

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  1. “”Incertezas quanto ao futuro

    “”Incertezas quanto ao futuro fornecimento de gas boliviano””, gas que foi o Brasil, exclusivamente o Brasil, quem descobriu e desenvolveu, FEZ TODO INVESTIMENTO e não tem um fiapo de influencia sobre esse regime de reeleições infinitas de onde Evo Morales só sairá se morrer, regime no inicio APADRINHADO pelo Planalto e hoje inimigo do Brasil, prefere negociar com qualquer ditadura asiatica suas reservas de litio do que propor ao Brasil qualquer coisa.

    Tudo pela IDEOLOGIA DE ESQUERDA que  virou as costas paro lado boliviano ALIADO DO BRASIL, as cinco provincias da Meia Lua, porque essas são de empreendedores e então não servem para a esquerdolandia.

    Para completar Morales autorizou o aumento da plantação legal de folha de coca de 3.000 hectares para 42.000 hectares,

    sem um telefonema de protesto do Brasil. 42.000 hectares de folha de coca dá para abastecer o mundo de cocaina, o

    Brasil hoje tornou-se o 2º maior mercado mundial depois dos EUA e a maior rota de passagem da cocaina no planeta.

    Morales não tem o menor respeito pelo Brasil e nos humilhou exigindo a demissão do Ministro das Relaç~es Exteriores Antonio Patriota, o que o Brasil cumpriu prontamente. So falta devolver o Acre ao Morales para mostrar quem manda.

  2. Perai, perai, perai

    Há algumas semanas atrás saíu notícia AQUI neste blog dizendo que a Petrobrás tinha um pênis enorme todinho de gás.

    Eu chamei o reporter de mentiroso, cara de pau e fiquei com uma estrela no comentário.

    Disse ainda que a Petrobras era o nome da empresa que impedia a criação de um mercado de gás neste país. Fui chamado de amigo do Serra. Uma estrela novamente.

     

    De semana passada para HOJE, o que mudou? 

    A sim,….a reportagem. Porque o festival de desinformação segue de vento em popa.

    Acordem IDIOTAS! A Petrobrás contabiliza gás queimado em plataforma como produzido E utilizado.

    A Petrobras não tem nem nunca teve qualquer interesse na exploração de qualquer reserva de gás neste país. Isso é o que impede nosso desenvolvimento!

    Se a Petrobras demonstrar interesse, demita a pessoa! Porque há outras coisas mais rentosas para seu capital. Além da legislação nacional de petróleo que a obriga a investir onde nem tem interesses fazendo seu escasso capital parecer ainda mais escasso.

     

    Precisamos cindir a Petrobras. Mas como fazer isso agora, após o pior plano de investimentos da história da humanidade?

    Agora, depois de colocar um professor universitário, que nunca dirigiu um boteco, para comandar a maior e mais improtante empresa do país, como vender seus ativos?

    Não deveria ser parte DO PLANO, o foco?

    Tem certeza que O PLANO não foi IDEOLÓGICO?

     

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