Setor elétrico critica políticas do governo

Do G1

Setor elétrico critica políticas do governo e pede soluções ‘urgentes’
 
Relatório entregue ao Ministério de Minas e Energia pede transparência. Associação cita apagões e defende reservatórios para hidrelétricas.
 
Um relatório elaborado pelo Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase) criticou as políticas do governo para o setor e pediu “soluções urgentes”. No documento, a entidade pede mais “transparência” do governo sobre as medidas que estão sendo adotadas para solucionar problemas que atingem o setor.
 
“O setor passa por um momento de grandes desafios nas áreas de segurança de suprimento, competitividade de preços e sustentabilidade ambiental. O princípio básico para a solução dessas questões é a discussão transparente com todos os agentes, instituições e com a sociedade em geral, que resulte em soluções de consenso”, diz o documento, entregue nesta terça-feira (6) ao secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia,Márcio Zimmermann, durante o 11º Encontro Nacional dos Agentes do Setor Elétrico (Enase), no Rio de Janeiro.

O Fase aponta que “decisões do MME são às vezes (raramente) precedidas por consulta pública, as quais, quando ocorrem, não proporcionam espaço para discussão efetiva dos temas em pauta.” Diz ainda que decisões presidenciais que atingem o setor elétrico, além de decisões de órgãos como o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), “não têm discussão formal com os agentes e não possuem documento técnico público com divulgação prévia.”

Apagões e reservatórios
O documento aponta falta de segurança na infraestrutura do setor elétrico e cita, como prova disso, os apagões e falhas registrados recentemente. “Os vários apagões ocorridos recentemente indicam a necessidade de cuidados especiais com as redes de transmissão e distribuição.”

Ainda de acordo com o texto, o acionamento das usinas termelétricas, de maneira mais intensa, a partir do segundo semestre de 2012, “mostra a necessidade de aumentar a capacidade de armazenamento dos nossos reservatórios e de diversificar as opções de geração [de energia].”

O relatório aponta que as hidrelétricas que entraram em operação nos últimos anos, além dos projetos em estudo ou construção, entre eles o da usina de Belo Monte, no Pará, “praticamente não acrescentam nenhuma capacidade adicional de armazenamento”, já que funcionam sem reservatório.

Ao construir usinas desse tipo, o governo pretende reduzir os impactos ambientais e sociais com o alagamento de grandes áreas, principalmente na Região Norte do país. Entretanto, sem reservatórios essas grandes usinas não contribuem para armazenar energia, importante para as épocas de seca, o que leva o país a depender mais das usinas termelétricas, que geram energia mais cara.

O Fase defende “vencer o preconceito em relação aos reservatórios” através de uma melhor comunicação do governo, que mostre “os benefícios que os reservatórios hoje existentes proporcionam à sociedade”.

Fundo do setor
O documento também revela preocupação das associações do setor com o aumento das despesas atreladas à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo usado pelo governo para financiar várias ações do setor elétrico que vão desde programas de subsídio à tarifa de luz para famílias de baixa renda até o pagamento de indenização a empresas que aderiram ao plano do governo para renovações de concessões.

Ele aponta que as despesas da CDE saltaram de R$ 4,8 bilhões em 2012 para R$ 19,3 bilhões em 2013, “com perspectiva de subirem ainda mais em 2014.” No texto, o Fase pede que o fundo continue a receber recursos do Tesouro, “sobretudo para custear políticas públicas”, e sugere um planejamento para a redução dessas despesas.

“A preocupação, no caso, é que estas despesas mantenham-se altas nos próximos anos, necessitando de transferências constantes de recursos do Tesouro e/ou aumento significativo da arrecadação obtida por quotas pagas pelos consumidores (inclusive pelas compensações), o que resultaria em aumento nas tarifas”, diz o relatório.

Situação delicada
No início de março, o Fase, que representa 15 associações do setor elétrico, entregou uma carta o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em que classifica como “delicada” a situação dos principais reservatórios de hidrelétricas do país, com nível baixo desde o início de 2014 devido à estiagem.

No documento, as associações pedem para serem ouvidas pelo governo nas discussões sobre medidas a serem adotadas para enfrentar esse problema.

Apesar da queda acentuada no nível de armazenamento em plena época de chuvas, o governo vem negando risco de racionamento no país neste ano ou em 2015. A situação dos reservatórios, porém, levou a uma disparada nos custos com uso de térmicas, que produzem energia mais cara, e compra de energia pelas distribuidoras no mercado à vista.

Para socorrer as distribuidoras, o governo anunciou em meados de março um plano que inclui a injeção de R$ 12,4 bilhões no setor, sendo R$ 11,2 bilhões via empréstimos bancários que serão pagos pelos consumidores, via conta de luz, a partir de 2015.

Procurado pelo G1, o Ministério de Minas e Energia informou que o documento foi recebido pelo secretário-executivo do Ministério, que o entregará ao ministro. “Sobre as condições de abastecimento do setor elétrico, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), integrado por todos os órgãos do setor, além de outros convidados, se posicionará oficialmente amanhã, como tem feito ao final de suas últimas reuniões ordinárias”, diz o relatório.

 

Redação

9 Comentários

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  1. Será que só tem oposição?

    Nassif,

    Independe de o Fase ter ou não toda a razão que magina ter, o fato é que o Relatório tem cunho evidentemente político, e com nítido discurso de oposição, caso contrário já teria sido encaminhado antes, uma vez que todas as vírgulas apontadas não brotaram do chão há tres meses ou coisa que o valha. Dizer que nível de reservatórios, atuamente em torno de 40% é ameaça de apagão, isto ter ocorrido o maior período de seca da história é, no mínimo, leviandade.

    Só não entendo o porquê de tanta notícia contra o governo, ninguém consegue elogiar nada do que foi e está sendo feito,  do tanto que este país vem progredindo nos últimos anos.

    Não digo que o governo é perfeito (isto não existe), até porque eu o critico de vez em quando, mas esta enxurrada de notícias pretensamente ruins ou péssimas não tem cabimento. Agora, a mídia externa também passou a se manifestar a respeito da eleição daqui, com viés claramente oposicionista em reportagens cuja maioria delas beira o ridículo.

    Como a realidade do país, na qual nenhum dos seus dados macroeconômicos está inteiramente fora do lugar, ou seja, sem causar uma legítima precupação, onde são inegáveis as diversas conquistas sociais que passaram a beneficiar dezenas de milhões de brasileiros, país onde só tem horizonte nas inúmeras reportagens de jornalistas reconhecidamente sem qualquer compromisso com a verdade, a turma do “apagão” que não acontece, do “caosaereo” cadê ele que não aparece, do quanto pior melhor, literalmente incapazes de comentar uma notícia positiva sem que encaixem uma vírgula, a partir deste conjunto de fatores perfeitamente real fico sem compreender como alguém, em sã consciência, pode preferir uma opção de governo que, até aqui, só foi capaz de prometer as tais “medidas impopulares”, opção de governo preferencial do mercado, ou seja, pancadas na cabeça da maioria a começar pelos salário, altos demais, ou seja, uns bons anos sem qualquer tipo de reajuste atá alinhá-los “ao nível certo” .

    Não sei como, com grande mídia e tudo o mais, uma oposição desta qualidade possa ganhar alguma coisa, aliás, não sei como pode conseguir chegar ao segundo turno, tamanha a fragilidade /;ausência de argumentos,  “ninguém aguenta mais isso aí”, “tem que tirar esta turma daí” e por aí segue a cretinice amplificada pela mídia amiga, e propostas concretas de governo, um programa de governo, cadê que eu ainda não vi? Estão absolutamente convencidos de que a maioria de brazucas é formada por Homer Simpsons piorados.

     

     

      1. Detalhe

        Athos,

        Esta observação não passa de um detalhe em meu comentário, no qual posso estar equivocado quanto à  supernormalidade, mas não parece que vá ocorrer o tão sonhado apagão este ano, mesmo com o gigantesco período de seca.

        Procuro acompanhar o assunto, e quanto mais leio os “especialistas”, menos eu entendfo – uns dizem que fio d’água é que é bom, outros dizem que reservatórios são o caminho certo. Entre especialistas sem aspas do ´setor,deve ser quase obrigatório um consenso a respeito de questão básica como esta.

        Um abraço

         

    1. Não tem nada a ver com

      Não tem nada a ver com oposição, as empresas distribuidoras, transmissoras e geradoras querem garantir sua estabilidade financeira e TODAS estão tendo péssimos balanços, especialmente as estatais, é uma questão de REALIDADE, ninguem está inventando, são dados técncios e economicos, o setor reclama todo dia, não é só agora MAS o Forum agora consolidou suas criticas porque a situação está ficando perigosa.

      Recente entrevista de uma página na FOLHA dada por Mario Veiga, considerado o maior especialista em energia do Pais, consultado inclusive pela Presidente, faz um apanhado geral dos PROBELMAS REAIS que apontam para falta de energia este ano, projetam escassez de energia pelos proximos DEZ anos, indicam um uso absurdamente caro de termeletricas.

      As respostas do MME dão a nítica impressão de que as pesssoas que dirigem a area no Governo NÃO ENTENDEM DO ASSUNTO, são curiosos e amdores porque as respostas que essas autoridades dão não tem consistencia.

      Quem é do ramo percebe isso nitidamente e a entrevista de Mario Veiga deixa isto claro.

      1. Comentário

        Andre,

        A base do meu comentário não se prende a setor algum, nem mesmo ao elétrico, pois o dueto “o paístáacabando” e “de2015nãopassa” é genérico .

        Sobre este, não é verdade que todas, ao menos todas as listadas no Ibovespa. Algumas tiveram que renovar a concessão já por vencer, e isto trouxe reflexos aos resultados.

        Quanto à escasssez de energia, que não tem o mesmo significado do racionamento estampado na 1ª página do Grobo, é uma questão que não pode ser ignorada por ninguém, e sobre o oprtunismo político do Forum, está mais do que evidente.

  2. A chantagem

    O setor hidrelétrico não está conseguindo que a Presidenta caia na chantagem do setor. No Brasil de hoje as termo-elétricas respondem por uma parcela grande da produção de energia e seu potencial é imenso, temos biomassa da cana, do eucalipto, etc. E com a biomassa ocupa-se uma área menor do que os lagos das hidrelétricas. Além do mais as hidrelétricas competem com a irrigação. E a irrigação agrega muito mais, seja na segurança alimentar, na queda dos indíces inflacionários, na geração de empregos, etc.

    1. O SETOR HIDRELETRICO é 71%

      O SETOR HIDRELETRICO é 71% estatal, a ELETROBRAS é a maior produtora de energia hidreletrico do Brasil, através de suas subsidiarias FURNAS, CHESF, ELETRONORTE, então vc está dizendo que as estatais estão fazendo chantagem com o governo? Não faz nenhum sentido

      As termeletricas produzem 13% da energia despachada a custo CINCO vezes maior que a energia hidreletrica.

      As usinas de biomassa, basicamente de cana, não conseguem crescer porque FALTA BAGAÇO de cana para queimar,

      e aumentar a produção de bagaço leva percorrer todo o ciclo da cana, o que não é rápido e exige altos investimentos.

      A expansão do  plantio de cana está estacionada por causa da crise do setor sucro alcooleiro, não havendo expansão não há condições de expandir a produção de energia eletrica de biomassa de cana.

      Para o leigo tudo parece simples mas esse é um dos temas mais complexos da economia.

  3. É impressionante como se

    É impressionante como se exige algo dos outros que não se pratica.

    Trabalho no setor de energia, acompanho o que ocorre. De um lado os investimentos não ocorrem como quer fazer crer a turminha miltante, porque o pac está parado. De outro o setor teve uma diminuição de tarifa da ordem de 20% enfiada goela abaixo das empresas sem qualquer avaliação dos resultados. Ai vem um periodo de temperatura recorde no período úmido e não choveu tudo que é preciso para um país que tem uma base enorme de sua matriz ancorada na hidroelétricidade. Com isso as térmicas que possuem um custo de produção muito mais alto foram acionadas e isso impacta diretamente nos custos das empresas.

    Com isso o governo fez o quê? Liberou um empréstimo monstro para as empresas fecharem suas contas que terá impacto nas tarifas.

    logo é obvio concluir que o desconto de 20% nas tarifas se não tivesse sido imposto, o impacto acima explicado teria sido menor e menos sentido.

    Até porque o desconto foi dado mexendo em alguns tributos setoriais mas ninguem no governo se preocupou em por exemplo derrubar as aliquotas do pis/cofins, ou do IR das geradoras e distribuidoras e principalmente costurar com os governadores a diminuição do icms nas faturas que chega em 25% (33% no calculo por dentro) no caso da classe residencial.

    Não é possivel a ninguem, mesmo que seja um militante emperdenido, afirmar que o governo tem planejado o setor elétrico quando ele derruba a tarifa e depois empresat dinheiro encarecendo a tarifa para essas mesmas empresas fecharem suas contas.

    Finalmente sobre falar bem do governo, o mesmo gasta milhões de reais de impostos para propagandas e publicidade para falar bem de sim mesmo. Uma legião de internautas apregoa o governo petista como se fosse o reino de deus na terra e um forum especializado de um setor especifico ao fazer um relatório contendo a realidade do setor que difere do discurso marqueteiro é praticamente acusado de crime de lesa-patria.

    Ah sim!, a questão do abastecimento de agua em SP possui a questão do clima e como no governo federal falta o planejamento, mas nesse caso, a questão climática e deixada de lado, porque como o governo paulista é dos malvados tucanos, então é preciso bater na questão da falta de planejamento. Logo trata-se ao final e ao cabo de reclamar dos outros aquilo que se pratica sem pudor quando se trata de militância.

     

  4. A questão energética não é só produção

    No cabo de guerra da discussão sobre a crise atual do setor elétrico, em que alguns dizem que a situação é quase normal e outros afirmam que deveríamos ser mais responsáveis e começar um racionamento (que de fato já ocorre no contexto industrial) o que temos objetivamente é que o Tesouro (nós) vem gastando billhões de reais, por imprevidência e populismo, mascarando tarifas e empurrando os custos (mais juros) para os próximos anos. Isso está claro.

    O que não está devidamente comentado é que o setor energético inclui sempre unidades produtoras e consumidoras, cabendo dar mais atenção à eficiência energética. Lamentavelmente os últimos governos praticamente desmontaram os programas de eficiencia energética. É essencial resgatar o PROCEL, promover novamente o uso racional, adotar tecnologias e hábitos de consumo mais eficientes, como muitos países vêm fazendo sistematicamente. Ganha o consumidor, a sociedade e o ambiente.  

     

     

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