Os ricos do Brasil e o minério estratégico que o país despreza, por Sergio da Motta e Albuquerque

 
por Sergio da Motta e Albuquerque
 
A lista anual de multimilionários da revista Forbes é uma referência mundial de abastança. Ou riqueza, melhor dizendo. A relação dos brasileiros, publicada pela revista no final do ano passado mostra alguns casos interessantes, do 5º ao 9º lugar. Neles estão alguns magnatas locais ligados às comunicações e ao cinema. Notem que a lista pula do 6º para o 9º lugar. Abílio Diniz [7º lugar] e Jorge Moll Filho [8º] ficaram de fora da relação publicada no “Povo online”, mas constam na lista da Forbes americana. Os dois não trabalham, ou estão ligados a nenhum tipo de negócio envolvendo a propriedade de meios de comunicação, ou a entretenimento e mídia. Ressalva feita, passemos à relação dos multimilionários do Brasil (Povo online, 31/12/2016):

Encabeçando este pedaço da lista, Eduardo Saverin, o “brasileiro” que ajudou a fundar o Facebook, mas nunca recebeu a aprovação de Zuckerberg. Logo baixo dele estão os herdeiros Marinho (Roberto, Fernando e José Roberto). Quem aparece depois? Os irmãos Moreira Salles – dois deles parte importante da nobreza do cinema nacional. Walter Salles passou de 21º em 2014 a 9º em 2016. Não creio que cinema do Brasil dê tanto tanto dinheiro. E não dá.

Há três anos, o “Valor Econômico” (13/3) informou que os herdeiros acabaram como uma das famílias mais ricas do Brasil graças à um investimento que seu pai fez em 1965 na exploração em um mineral desconhecido chamado “nióbio”. Que tem a virtude de tornar o aço ainda mais forte e maleável, entre muitas outras. Nesse ano, Walther Moreira Salles, o pai, depois de atender a convite para exploração comercial do metal junto com o Almirante norte -americano Arthur Radford, (então presidente do conselho da mineradora ianque Molycorp), tomou o controle de partes da empresa e passou a produzir a maior parte do minério consumido no mundo. A Molycorp faliu um 2016 e ainda tenta sobreviver com dificuldade depois que a canadense “Neo Performance Materials” passou a controlá-la.

Foi diferente com a exploração do nióbio no Brasil. Com os anos de 1970, a empresa de Salles cresceu. O mineral é essencial nas indústrias de aviação, aço, informática, armamento convencional e nuclear e indústria naval. Além disso, o subproduto de sua extração gera as “terras raras”, magnéticas e necessárias na produção de lâmpadas LED e chips de computador e outros componentes resistentes ao calor. Seu pó pode ser usado para fabricar capacitores e componentes eletrônicos que trabalham em temperaturas muito altas. O nobre metal também é resistente à corrosão. Com a guerra do Vietnã, seu preço disparou com as demandas do conflito, adicionada às duas “corridas” da Guerra Fria: a armamentista e espacial. Os Salles criaram o monopólio do Nióbio, e agora a fortuna da família não vem apenas de bancos e fusões, mas em grande parte da exploração do metal pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) , a companhia controlada pela família Moreira Salles.

Em 2013, o Valor Econômico (13/3) informou que a companhia de nióbio dos Salles era mais valiosa que a parte deles de 7,1 biliões de dólares no Itaú-Unibanco. Os irmãos, através do grupo E. Johnston (partilhado entre eles) controlam 33,5% “do Itaú Banco Participações, o que os faz controlar 51% das ações de voto do Itaú”, aditou o periódico. O irmãos Moreira Salles são uma das famílias mais ricas do Brasil. Graças ao patriarca da família, que sempre se valeu de suas relações com o estado Brasileiro em seus negócios, antes e depois do golpe de 1964.

Cinema no Brasil não não paga bem. Nem boas histórias comoventes, como a do filme “Central do Brasil”. Mas o Nióbio é considerado um mineral estratégico para os Estados Unidos. O Brasil detêm quase 90% das reservas do metal no mundo, informou o Wikileaks em 2010 através do “ Business Insider”(12/10). Em 2016, a revista “Brasileiros”(5/9) publicou uma matéria mais completa sobre o desperdício que acontece no Brasil. Que, na realidade, segundo a publicação, concentra “aproximadamente 98%” das reservas mundiais, informou Wanderley Pleite Sobrinho, o autor da matéria. Poderíamos estar na liderança de componentes eletrônicos de alta resistência térmica (como fontes de energia de PC’s ou componentes para celulares, por exemplo), se produzíssemos no Brasil os componentes mais elementares da indústria eletrônica, como resistores, capacitores e transístores com este metal.

A revista apontou outras contradições importantes. A EMBRAER “poderia participar da cadeia produtiva” do mineral e ampliá-la, acrescentou o geólogo e ex-secretário de Mineração, Geodiversidade e Recursos Hídricos do Estado do Amazonas Daniel Nava – hoje no Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas. Afinal, não se pode fabricar uma boa turbina de avião, ou as saídas de exaustão dos motores a jato sem o mineral. Elas são feitas com o nióbio, assim como as dos misseis. O alumínio de aviação, leve e ultra-forte, também leva o mineral em sua composição. O geólogo explicou à revista que o PT perdeu uma grande oportunidade com a mineração do metal nobre e suas aplicações na indústria de alta-tecnologia.

Não é tão fácil assim pensarmos o mercado mundial de terras raras e exploração do nióbio. A China é o maior consumidor mundial do minério e a maior produtora de terras raras. Desde 1986 existe naquele país o “Programa 863”, criado com a supervisão do próprio Den Xiaoping para acabar com a dependência do pais nas industrias de alta tecnologia. O esforço chinês que condenou a Molycorp à falência funciona, para os chineses, como um jogo de soma-zero com o resto do mundo: o que eles ganham é igual ao que os outros países juntos perdem. Em 2011, a CBMM dos Salles vendeu 15% de participação empresa para um consórcio japonês-coreano. Os chineses ficaram com os outros 15%.

O Brasil, com sua imensas reservas, não é ameaça à China. Continuamos submetidos pelos desígnios de Pequim e pela ambição dos nossos empresários. Que não possuem visão estratégica associada ao desenvolvimento da tecnologia nacional e à elevação do pais a condição de produtor de bens de alto valor agregado. O Marco Regulatório da Mineração ainda não chegou. E não vai chegar agora, no governo Temer e seu arrocho prometido de 20 anos. Não vai haver investimento público para a expansão da nossa indústria de base tecnológica. Continuaremos a importar minérios que deveríamos exportar, explicou Daniel Nava à revista “Brasileiros”. Nada de indústrias de tecnologia por aqui. Se educação e saúde estão com os orçamentos minguados, que esperança resta para projetos de desenvolvimento tecnológico no Brasil?

 

 

 

 

Redação

5 Comentários

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  1. O Brasil nunca será ameaça a ninguém!!!

    Somos um país colônia disfarçado de capitalista.

    Não tem homem nem mulher no momento para reverter este paradoxo nacional.

    1. O Brasil….

      Seu comentário foi correto. Disfarçado de capitalista. E disfarçado de capitalistas estão os anti-capitalistas. Aqueles que combateriam os efeitos maléficos da burguesia, do liberalismo e do capital. Estiveram aí nestes últimos 30 anos. Todos. Qualquer inocente sabe como repudiaram o capital, ou você não viu? Um país em a menor soberania, doado e administrado pelos interesses comerciais e estratégicos estrangeiros. Até sua liberdade precisa ser paga em pedágios extorsivos. Quem produziu este milagre brasileiro nestes 30 anos? Quem reescreveu a Constituição Cidadã, senão anti-capitalistas? Quer exemplos: de Brizola a Amazonino Mendes, de Montoro, Covas a  Lula ou José Dirceu. Cabralzinho que bebeu na fonte, filho de Cabralzão, perseguido politico do governo militar, exerceu seu anti-capitalismo indo conferir suas contas na Suiça, 3 vezes por mes durante 9 anos. Agora sendo anti-capitalistas para que esta gente quer desenvolver os benefícios comerciais para toda a a nação que produziria a exploração e industrialização do nióbio, do petróleo, do minério de ferro, da bauxita, terras raras, agropecuária, etc, etc, etc…?..Basta exportar estas riquezas que sustentarão a Casa Grande, nossa Elite que não é Elite, que são os outros. “Um país que não sabe da sua história sofre o risco de repetí-la”. O ouro de MG, explorado por séculos, deixou o que para o estado ou para o país? Sustentou uma elite até a exaustão enquanto financiou a industrialização de outro país. Você enxerga alguma semelhança com os dias atuais?      

  2. Os Marinho, assim como os

    Os Marinho, assim como os Moreira Salles, também ganharam sua fortuna com uma máquina que escaneia o cérebro das pessoas. Tem cientistas que afirmam que a tela da TV quando passa o JN irradia uma poderosa força vinda de um minério tipo esse nióbio aí.

    O resultado para quem fica exposto muito tempo é esse que a gente vê por aí. Coisa de Nacional Kid. Eu acredito 

  3. Nióbio por Sergio da Motta e Albuquerque …

    Eis aí mais um TEXTO escrito por Sergio da Motta Albuquerque que mostra mais uma razão para o nosso “COMPLEXO DE VIRA LATAS”, e seu respectivo preço por esta doença mental do POVO BRASILEIRO e reforçado pelas elites da “”casa grande”” para que o ciclo do escravismo e pelorinho seja infinito … probre povo com sua custosa ignorância cara e inútil !!!

  4. comentário do nióbio

    Não sei de onde você tirou essa informação que a Molycorp faliu. A Molycorp é do grupo Rockfeller, e tem como acionista principal a Occidental Petroleum. Este ano ela colocou um link de propaganda onde aparece mimnerando vasta mina de terras raras na California. Realmente, ela tinha pedido falência estratégica, mas há anos, porque estava sendo investigada pelo FBI e pela comissão de investigação das Bolsas Americanas. Porém suas subsidiárias estão a todo vapor. A Molycorp e o Sr, Walter Moreira Salles associaram-se, em plena guerra fria à Silmet da Estonia, empresa pertencente ao governo da União Soviética. Através de terceiros e subsidárias enviavam para lá o Coltan( Colúmbio -nome do Nióbio no exterior- e Tântalo. Isso mesmo, com este material os soviéticos fabricavam canos de alta qualidade para seus canhões e tanques de guerra, bem como mísseis intercontinenais com bombas atômicas, cujas carcaças eram fabricadas com aço liga de nióbio. A fortuna daquele senhor foi pautada em alta traição ao bloco ocidental e ao Brasil, pois caso houvesse um conflito nuclear seríamos também bombardeados. Só por isso, a CBMM deveria ser expropiada e confiscados todos os bens dos herdeiros play-boys.Por certo eles dirão que é elucubração fantástica. Entretanto, olhem os links e as propagandas da Molycorp Silmet, da Estonia, da Itália, da Finlândia e verão que ela se propaga como a maior processadora do mundo de Coltan, Titânio e terras raras. Como funciona a CBMM? Ela vende o nióbio misturado ao ferro para falsamente dizer que é uma liga aço-nióbio, com alta tecnologia secreta. Que bobagem. Até um metalurgista de nédia experiência consegue processar o Pirocloro ou o Coltan para obtenção do nióbio. Porque o grande segredo? A verdade é que o processo de separação exige grandes quantidades de ácidos fluorídricos e ou clorídricos, que ao serem processados geram escória altamente cancerígena e degrada o meio ambiente. Além disso suas represas de escória emanan gases altamente tóxicos e o entorno ficará condenado por décadas. A represam caso vazem causarão um desastre dezenas de vezes maior do que Mariana. A diferença é que a escória de Mariana tinha baixa toxidade.

    O processo comercial. A venda por 28 dólares o quilo do nióbio, como é feita, rende apenas 56 centavos para o país. Se as minas fossem fechadas o Brasil perderia menos do que um milésimo por cento de suas receitas governamentais. Desconfia-se que a CBMM vende para suas filiais com subfaturamento. Por quê? Eles alegam que a subsidiárias vendem com apenas 2% de lucro. Ora, se fosse verdade não se precisaria de filiais. Bastaria acrescentar 2% ao preço e saíria o mesmo custo para o cliente usuário, com a vantagem de o transporte ser feito por linha direta. o pulo do gato estaria, no seguinte: A subsidiária vende a associadas (por fora) como a Molycorp Silmet que revenderia a preços imensamente maiores, e sem imposto de renda e com caixa direto para os paraísos fiscais.

    Quanto a tal tecnolgia de produtos finais, são muito simples. Uma peça, por exemplo,do anel do zoom dos celulares custa em torno de 2 ou 3 dólares a grama. Ou seja : 107 vezes o valor que exportamos. O Brasil perde 100 bilhões de dólares ano.

    Quanto a Molycorp Silmet, aqui vai alguns endereços Sillamae, Estonia . Silmet Italia: Via Martiri Della Liberta,31 Torborele Casaglia – Brescia – Italia. Silmet Israel (fábrica de próteses, implantes etc. R. Hasadna, 51 00 Yehuda Israel ou Silmetoy Sulant Fe 1618 cep 04300 Tuusula, Vejam os linkes da Molycorp Silmet. Todos vão gostar, e ver como eles vicem, principalmente da Estonia e como nós vivemos.

    Quanto a importância do Coltan,as multinacionais da eletrônica e de tecnologia financiam Ruanda, e sua invasão ao Congo, mantendo uma guerra que gerou o maior genocídio da história da humanidade com 8 milhões de mortos. Cada vez que alguem falar no celular ou assitir TV de LED, sentirá o sangue correndo, bem como o sangue dos brasileiros nos PS, na falta de vacinas, na falta de escolas, enquanto damos para os herdeiros do sócio dos soviéticos 1 bilhão por ano de lucro, para explorar o que é de todos os brasileiros. Quem resolve ?

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