Quem daria o golpe? Quando e como?, por Maria Fernanda Arruda

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Do Correio do Brasil

A oposição dos tempos atuais não sabe fazer oposição, até por ausência de competência e por nojo à democracia. Quer o poder e sabe-o inatingível por caminhos legais. Essa oposição golpista contou sempre com o apoio da imprensa, a escrita, a falada e a imaginada. O ruído provocado por ela atinge mais de 100 decibéis, que são completados com os famosos bater-as-panelas, nas coberturas dos apartamentos de abrigam o luxo das elites. Do que se sente falta? Da voz de autoridade que brade: moleques, ponham-se no lugar que lhes cabe, não golpe porque nós não queremos.

A História que se repete: Vargas eleito, Carlos Lacerda pregou o golpe. Dilma Rousseff reeleita, Aécio Cunha, FHC e seguidores pedem um terceiro turno, pregam um “golpe democrático”, ridículo em si, mas que não dispensa aponta-lo enquanto tal. O PSDB, sob a inspiração da ausência de escrúpulos de Jose Serra, não tem pejo em vestir-se de União Democrática Nacional-UDN, a que, por ser golpista, tornou-se a “vivandeira” dos quartéis. E por ai até que concordamos todos: não há mais disponibilidade de tanques de guerra, nem mesmo de fantasias de vacas fardadas, como as que se ostentaram em 1964.


Na foto, o que aconteceu para O Globo, em seguida à morte de Vargas: 25 de agosto de 1954

Mas o que o PSDB/UDN não apreendeu ainda: essa elite anacrônica não representa mais o capital internacional, os banqueiros e os empresários, e nem a autoridade imperial dos Estados Unidos. Ela é exatamente o anacronismo que a Constituição de 1988 permitiu sobreviver. Alienados, os golpistas enxergam uma Presidente enfraquecida, a ser defenestrada por um simples sopro intestinal. Será assim?

Em diferentes momentos, o STF mostrou-se parcial e disposto a golpear a fundo o PT e os que o representam. Houve a sinfonia macabra, regida por um condutor catatônico. Ele não está mais e os seus sucessores, figuras infelizmente desconfiáveis, não possuem o mesmo grau de atrevimento. O ministro Mello não mostra insolência e reconhece a legitimidade do mandato outorgado pelo povo a Dilma Rousseff. Por certo, há um Gilmar Mendes, a cada dia mais andorinha só, a que não faz verão.

E a ameaça de reprovação de contas de campanha? Lembre-se o 10 de dezembro de 2014: A prestação de contas da campanha da candidata reeleita pelo PT à Presidência, Dilma Rousseff, foi aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após julgamento que se estendeu por quase quatro horas na noite desta quarta-feira (10), por unanimidade, os ministros da Corte consideraram não ter havido falhas suficientes na documentação apresentada para reprovar as contas.

Bem, e o julgamento das “pedaladas” pelo TCU? Haja paciência. O TCU é uma repartição pública, prestigiada apenas pela imprensa. Hoje tem a presidência de Aroldo Cedraz, político pequeno, menino de recados de Antônio Carlos Magalhães. Não há mais o que comentar sobre isso, depois da fala de um senador da República, membro do PSDB. Tasso Jereissati, sobre tal figura, depois de ter ela cometido a ousadia de não atender a uma convocação da Casa:

“Aroldo Cedraz não está apto a ser presidente do TCU”. Ainda de acordo com o parlamentar, o ofício é uma afronta ao Congresso Nacional porque não gostaria de comparecer à casa antes da votação do Tribunal. “O presidente comete um grave erro. Ele não tem que gostar ou não gostar, o TCU é uma casa auxiliar do Congresso”, ressaltou. Jereissati afirmou ainda que o ofício foi ignorante. Pode-se imaginar, depois disso, que o Senado volte a considerar algo que tenha origem desse “órgão auxiliar.”? Só mesmo as analistas políticas, selecionadas pelo O Estado de São Paulo, ainda darão ouvidos ao auxiliar infante.

Sejamos pacientes, ouvindo os golpistas e seus porta-vozes da imprensa. Não compete à Justiça decidir sobre impedimento de um presidente, mas ao Congresso. Os jornalistas facciosamente apressados não contam a estória que precisa ser contada, para que o povo a entenda: é necessário que 2/3 dos deputados acusem em votação nominal a presidência, para que essa denúncia possa ser levada ao Senado, onde será necessária a maioria absoluta de 2/3 dos membros do Senado para que seja cassado o mandato presidencial. Esses são números inatingíveis. E sejamos muito claros no que todos sabem: derrotados fatalmente, os eleitores do impedimento poderão solicitar “auxílio desemprego”.

Já desprovidos de munição de poder de fogo maior, os golpistas passaram a usar um marionete, querendo fazê-lo tenor em teatro de ópera. Está moribundo e irá à falência, incapaz de um mínimo de dignidade. Senadores, membros do PSDB, dizem de voz bem dita que o impedimento de Dilma Rousseff não tem fundamento algum em nenhum lugar. Eduardo Cunha morre agora, sem choros e nem velas. Suicidou-se como decisão pessoal. O PMDB prescinde dele.

Sabidamente, não há qualquer possibilidade de destituição da PresidentA com o uso de instrumentos legais. Seria necessário um ato de violência. Quem poderia praticá-lo? E a que preço? O Senado Romano apunhalou Júlio Cesar. E que aconteceu com os senadores romanos?

Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.
 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

14 Comentários

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  1. #grayscale’); -webkit-filter:
    Reinaldo Del Dotore

     

    REINALDO DEL DOTORE

    Graduado em Odontologia e Direito. Servidor público na área da saúde

    Corrupção e soberania nacional

    29 de Julho de 2015Compartilhe no Google 

     

    Ontem, em mais um episódio relacionado à Operação Lava Jato, foi decretada, pelo juiz Sérgio Moro, a prisão do vice-almirante da reserva Othon Luiz Pinheiro da Silva, pois, segundo um delator, ele teria se beneficiado pelo recebimento de propina. Esta prisão, ao contrário da maioria das anteriores, acende uma “luz amarela” que parece alertar que pode haver muito mais interesses envolvidos nessa mega-operação da Polícia Federal do que aqueles que supomos.

    Em primeiro lugar, e para que eu não seja mal interpretado, que fique bem claro: todo e qualquer cidadão comprovadamente envolvido em corrupção deve ser penalizado conforme determina a lei – seja ele agente político (e não importa a qual partido pertença ou a qual partido esteja vinculado: devem cumprir pena, caso condenados, os políticos do PT, bem como seus homens de confiança, assim como políticos e agentes de qualquer outro partido) ou particular interessado. Não é possível compactuar com a corrupção ou relativizar seus efeitos. A luta contra a corrupção deve ser contínua.

    O motivo, porém, que faz acender a tal “luz amarela”: o vice-almirante preso ontem foi o responsável pelo início e pela continuidade do desenvolvimento da tecnologia nuclear brasileira. A questão, aparentemente, começa a extrapolar o universo da corrupção e, ao que tudo indica, já esbarra na própria soberania nacional.

    O programa nuclear brasileiro (e isso não é sabido pela maioria dos cidadãos) é de excelência ímpar, e já há muito tempo despertou o interesse de potências estrangeiras. As ultracentrífugas para enriquecimento de urânio desenvolvidas no Brasil pelo programa conduzido pelo Vice-Almirante Othon são muito mais eficientes, em termos energéticos, do que as mais modernas centrífugas em utilização na Europa ou nos EUA. Segundo o almirante Alan Arthou, diretor do Centro Tecnológico da Marinha, o Brasil foi o único país a desenvolver ultracentrífugas por levitação magnética, tecnologia que proporciona esse desempenho energético significativamente maior. Quem conhece efetivamente o ramo assegura que as centrífugas brasileiras só encontram concorrência naquelas desenvolvidas no Irã (o que, se confirmado, explicaria muita coisa que ocorreu nos últimos anos). É de se ressaltar que, além do aspecto estratégico do tema e de sua evidente vinculação ao futuro da soberania nacional, o mercado do enriquecimento de urânio, segundo estimativas, movimenta cerca de 20 bilhões de dólares por ano. Além disso, sob a batuta do Vice-Almirante está sendo desenvolvido o primeiro submarino nacional movido a energia nuclear, fundamental se considerados os aparentemente intermináveis campos de petróleo do Pré-Sal localizados em mar aberto na costa brasileira. Segundo a agência de notícias Defesanet, especializada em defesa, estratégia e inteligência e segurança, a prisão do Vice-Almirante Othon pode incentivar o ataque ao único projeto estratégico brasileiro que realmente eleva a nação a um patamar vários níveis acima. Nas entrelinhas: não seria o Vice-Almirante o alvo, e sim a Eletronuclear e toda a estratégia nuclear brasileira.

    Abstraídos o prejuízo causado pelas ações da Lava Jato no desenvolvimento da infraestrutura nacional e seus efeitos negativos no próprio crescimento do PIB, e mais uma vez deixando claro que ninguém em sã consciência pode ser contrário ao combate à corrupção e respectiva penalização de seja lá quem for (almirante, político, bilionário, governador ou presidente), é necessária muito mais cautela na análise dos desdobramentos (e, especialmente, da motivação) das ações da Polícia Federal e das decisões do juiz Sérgio Moro. É possível, em última análise, que não se trate apenas da corrupção, e que interesses geopolíticos, industriais e comerciais estejam atuando nos bastidores. É possível que o nosso futuro esteja sendo desconstruído sem que tenhamos consciência disso.

     

    1. O 1% vai ser um trocado

      O ataque ao setor tecnológico poderoso e estratégico como esse, assim baseado na delação de um, me desculpem, delator deixa no chinelo, de longe, o 1% do pib apontado pela Dilma. 

      O pig venceu: vão destruir este país. Vejam as carassorridentes deles no jn de cada dia. Desastre.

  2. Isso já virou rotina

    Pregar a saída antecipada do presidente em exercício tem sido uma constante desde a redemocratização. Os manifestantes gritaram Fora Sarney, Fora Collor (esse eles conseguiram) e Fora FHC, só Lula escapou. Agora gritam Fora Dilma. A diferença foi que, nos casos de Sarney, Collor e FHC,a maioria dos manifestantes era do PT, então não se trata de golpe; como a bola da vez é Dilma, então é golpe.

    Pessoalmente não acredito que um processo de impeachment será sequer iniciado, pois a maioria da oposição está contente de ver Dilma se queimar, e só quem insiste nisso é o Aécio Neves, que anda muito saidinho. Mas devo chamar a atenção de que o impeachment é figura presente na CF/88, e portanto, simplesmente pedir o impeachment não é o mesmo que pedir um golpe de estado. O congresso julgará se é procedente ou não.

    1. Conta a história direito!!

      Gritar Fora Presidente não é necessáriamente pedido de impeachment.

      Collor sofreu pedido de impeachment impetrado pela OAB. Não tinha apoio de ninguém. Não tinha base partidária, nada! A acusação era contra ele, não contra administradores (pois a Lava Jato acusa administradores da Petrobras, não a Presidente)

      FHC também não teve pedido de impeachment. O Fora FHC não avançou na medida em que a ala moderada do PT enquadrou a ala radical. 

      Atente-se para o seguinte (muito importante): todos estes gritos de Fora Presidente deram-se após mais de ano e meio do mandato do governante.

      Dilma está governando a quanto tempo, pelo segundo mandato? 7 meses!!

      Não é uma questão de impeachment. É a não aceitação da derrota nas urnas… É golpe descarado, com tentativa de legalizá-lo através do… impeachment!!

    2. Pedir impeachment sem causa…

      …é golpe sim! É para desestabilizar e economia.  Não existe NADA contra Dilma.  O Bolsonaro é um exemplo de democrata (com “d” minúsculo para não confundir com o partido).  Ele pede o impeachment baseado em quê?

      Tudo isso é pra criar dificuldades para vender facilidades.

      Só numa república de banana cheia de macacos isso é considerado uma coisa séria.

  3. Uma das melhores articulistas da Internet brasileira

    Acompanho atentamente o que ela escreve. Sabe das coisas. E como escreve bem.

    Não discordo de uma vírgula desse texto. Os apoiadores do impeachment de Dilma, depois do vendaval que atingiu Eduardo Cunha, não possuem mais fôlego. Cunha está desmoralizado, cada vez mais. O impeachment só sai se o governo for muito frouxo e não jogar como deve jogar, mais no ataque do que na defesa.

    Qual o crime de responsabilidade que cometeu Dilma Rousseff? Essa pergunta, quando feita, faz eles se enrolarem todo. E se partir para as provas, então, sai de baixo.

  4. Quem daria o golpe?

    Num meio político tão mediocre nem precisa ter bola de cristal para prever que a estória se repete em g~enero número e grau…MFArruda captou a mensagem e foi buscar no passado recente a natureza exata do golpe.

     

     

  5. Golpe

    Alguém acredita que Cunha esta fazendo todo que vem fazendo para salvar o Brasil do PT e, no fim, colocar aécio, psdb, ou temer na presidência ?
    Alguém acredita que aécio, PSDB, etc estão fazendo tudo que estão fazendo para salvar o Brasil do PT, e, no fim, colocar Cunha ou Temer na presidência ?
    —-
    Cunha pode ser tudo, menos…burro !
    É um espertalhão reforçado com uma “cara- de- pau” imensa.
    Não tem “torcida organizada” como aécio.
    Parece não ver muita vantagem em movimentar massas.
    Seu negócio não é povo.
    Parece ser de uma fidelidade canina a seus financiadores
    —-
    Aécio continua parecendo meio desesperado.
    Parece estar agindo sob pressão.
    Aposto que quem o financiou está “puto” com ele
    Sua “torcida” debandou em parte, mas, ainda pode fazer barulho.
    Acho que Cunha tem mais munição prá queimar.
    —-
    Acho que, por traz dessa “briga política” o que está realmente acontecendo, é uma disputa entre dois grupos poderosos.
        
    1 ) Um dos grupos tem como braço político a turma do PSDB e outros.
          
    2 ) No outro grupo, Cunha lidera um punhado enorme de políticos eleitos com sua ajuda.

    Em jogo, está a inimaginável situação de poder e riqueza que caberá ao grupo vitorioso nessa “briga”.
    E, obviamente, o grupo derrotado perderá muito, muito, muito.
    Privatizações, vendas de empresas, concessões, contratos, etc
    Num país como o Brasil, as possibilidades são quase infinitas.
    O grupo vencedor ainda recebe de bônus 200 milhões de trabalhadores que poderão ter o preço de seu trabalho “ajustado” de acordo com as “leis do mercado”.

    Aquela delação premiada acusando Cunha de ter recebido 5 milhões de dólares, UM DIA ANTES de Cunha aparecer na TV, é uma evidencia dessa “briga”.
    Foi uma delação encomendada para “melar” a aparição de Cunha na TV.
    Essa delação mostra como, parte da PF e judiciário estão sendo usadas nessa disputa.
    — Se segurem e apertem os cintos !
     

    1. Se a Dra. Catta Pretta faz

      Se a Dra. Catta Pretta faz parte do grupo de Anastasia e

      este é umbilicalmente ligado a  Aécio.

      Ela assessorava o denunciantre de Cunha e este

      não era o alvo da delação premiada que acabou acontecendo.

      Por esta razão a Catta Pretta vai dar “linha na pipa” para Miami.

      Antes dessa delação ela pensava em ir para Miami ou só vai

      porque seu constituído roeu as cordas?

      Por que quando chamada à CPI aparecem  OAB e Moro para defende-la?

  6. Eu não acredito em

    Eu não acredito em impeachment, pois os responsáveis pelo circo – Eduardo Cunha e Renan Calheiros – estão também metidos nas roubalheiras. Isso faria pt e aliados se atirarem com todas as suas forças num contrataque e aí entraremos num caos político que sabe-se lá onde pode chegar.

    Mas não duvido de uma renuncia da Dilma. Quando a queda da economia chegar (ainda estamos na metade do percurso) ao chão e isso representar um desemprego em massa, falta de crescimento para os próximos anos e dólar indo pra lua, a situação ficaria insustentável. Nesse cenário, não duvidaria que o próprio Lula tentasse convencer Dilma que a renúncia seria um mal menor. 

     

    1. o problema é q o psdb está de

      o problema é q o psdb está de cara limpa, está ‘ilibado’ como dizem os portugueses, está virgem já q não falta quem o proteja. Por isto lá estão eles conclamando os coxinhas e os coxinhas passados (q já estão verdes e impróprios para o consumo) para o dia 16, ao passo q deveriam estar preocupados já q o coordenador de campanha e criatura criada por aécio está dentro da confusão, além do próprio ter sido citado e de quebra estar dentro da confusão de Furnas tb. Até que sejam pegas continuarão ‘se achando’… este é o perigo

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