A decadência do futebol brasileiro

Por Rui Daher

A demissão de Muricy Ramalho e o caminho infeliz do futebol brasileiro

TERRA MAGAZINE

A demissão de Muricy Ramalho como técnico do Santos é mais uma evidência do ridículo que vai se tornando o futebol brasileiro.

Decadente como seus cartolas, em todos os clubes, federações e confederação, vive de um passado glorioso cada vez mais longínquo.

Contam para isso a vitaliciedade dos dirigentes, a corrupção em contratos de patrocínio, a sabujice diante dos interesses televisivos, o rombo nos cofres dos clubes, as escandalosas ajudas governamentais, como o Timemania, o desrespeito ao Estatuto do Torcedor, e as disparatadas remunerações de técnicos e jogadores.

Vai junto uma imprensa acrítica, ufanista em geral e, com raras exceções, preguiçosa no aprofundamento de temas mais complexos. A pá de cal vem da cadeia publicitária, capaz de transformar jecas em ídolos pop.

Resultado: um espetáculo de chutões, chuveirinhos, carrinhos demolidores e incentivos a organizadas refregas de violência em calendários mal pensados.

O Santos fez e desfez vários times ao longo dos últimos anos. Com a sorte de ter dois ótimos técnicos, Dorival Jr. e Muricy, sérios, sem a malemolência luxemburguiana, que deveria ser reservada apenas a Garrinchas e Almir Pernambuquinhos.

Vendeu um mundo de jogadores. Depois de Wesley, Robinho e Diego, os mais recentes Danilo, dois Brunos, Alex Sandro, Elano, Ganso, Borges, sei lá mais quem. Muitos torcedores conscientes poderão me ajudar nessa lista.

Agora, demitem Muricy logo após venderem Neymar, que deste fizeram um ambulante, como os que passeiam na Rua Direita, ensanduichados em placas de “Vende-se Ouro”.

Para quê? Reformular a equipe aproveitando a base, dizem. Quer dizer que Muricy não seria capaz de fazê-lo?

O mesmo Muricy que serviu para chegar à final do pífio Paulistão com um elenco ainda menos expressivo.

Laterais que não conseguem cruzar uma bola sem carimbar o adversário; Léo-sem-fôlego; Patito e Miralles esbanjando trejeitos de “não deu”; André tropeçando na cara do gol; Felipe Anderson distraído se perguntando por que não nasceu Neymar.

Enquanto técnicos europeus, ganhando ou perdendo, passam décadas nas principais equipes do planeta, aqui vivemos um rodízio de altos salários e baixos trabalho e criatividade.

O grande sacrifício de nossos “professores” – que tal expressão a eles aplicada faz indigna profissão tão séria – fica por conta de dar entrevistas às folhas e telas cotidianas e responderem às perguntas de sempre ou se rebelarem diante das mais incisivas.
Agora falam em trazer um argentino. “Sabem mexer com a base”, coisa que Muricy, com seu currículo, não deve saber.

El Loco Bielsa, talvez. Pelo menos, poderá fazer companhia a Patito, Miralles, Montillo, na parrilla e chimarrão, e ser demitido daqui a um ou dois anos.

Luis Nassif

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