O VAR, os sites de apostas & o futuro do futebol, por Cesar Oliveira

Sou do time do Mimi Sodré, campeão carioca de 1910, que levantava o dedo quando cometia uma infração, antes que o "referee" a apontasse.

Metade dos clubes da Premier League são patrocinados por sites de apostas esportivas

O VAR, os sites de apostas & o futuro do futebol

por Cesar Oliveira

Já disse antes e vou repetir: sou um daqueles que, ainda hoje, coubertianamente, acreditam na lisura e na ética no desporto, no “que vença o melhor”. Detesto mão na bola, empurrão ou calço pelas costas; nem na pelada mais vagabunda isso é aceito.

Sou do time do Mimi Sodré, campeão carioca de 1910, que levantava o dedo quando cometia uma infração, antes que o “referee” a apontasse. Sou de um tempo em que árbitro algum voltaria atrás na marcação de um pênalti.

Por isso, me enojo quando alguém, dorado campo e longe dos ouvidos de público e imprensa, dá palpite no trabalho do árbitro que, segundo a Regra 5, deveria ter “total autoridade para fazer cumprir as regras de jogo na partida”.

Ainda segundo a mesma Regra 5, “as decisões do árbitro sobre fatos em relação com o jogo são definitivas. O árbitro poderá mudar sua decisão unicamente se perceber que sua decisão é incorreta ou, se o julgar necessário conforme indicação de outro membro do quarteto de arbitragem, sempre que ainda não tenha reiniciado a partida”.

A Regra 6, que trata dos árbitros assistentes, diz que eles são dois e determina as suas funções, e que eles “têm o dever de indicar”, entre outras coisas, “quando forem cometidas infrações em que os árbitros assistentes estejam mais perto da ação que o árbitro” [principal].

Em tempos de tantos sites de apostas metidos no futebol – em camisas de grandes clubes, em propaganda estática nos gramados, patrocinando jogos e atletas — o esporte tomou um caminho muito perigoso.

Pixbet paga ao Flamengo por R$48 milhões por dois anos de propaganda na manga da camisa.

Num Santos 3 a 2 Flamengo, tempos atrás, pela Copa do Brasil, o árbitro principal Leandro Vuaden não vacilou um instante sequer em marcar um pênalti de Réver em Bruno Henrique, e apontou imediatamente a marca da cal. Então, sem que se saiba o porquê, acontece uma “interferência externa”: o quarto árbitro (cadê essa figura nas “Regras do Futebol”?), chama o árbitro principal pelo intercomunicador (equipamento que quase levou o árbitro José Roberto Wright ao cadafalso quando usou um, a pedido da TV Globo, gravando seus diálogos no gramado com jogadores), conchinha no ouvido e Leandro Vuaden voltou atrás da marcação do pênalti.

É, pelo menos, estranho que, contrariando as Regras do Futebol, o árbitro principal se mantenha hoje em comunicação privada (duplo sentido) com gente fora do ambiente de jogo (o que eles falam?).

E, principalmente, que o árbitro seja chamado por um elemento de fora do trio de arbitragem (Regra 5) para convencer o árbitro a mudar sua decisão, tomada sem hesitação no momento da infração.

Aposta online dá lucro a jogo do bicho e estrangeiros.

Se querem uma arbitragem limpa e isenta de erros, com o tal “árbitro de vídeo”, o futebol tem que se preparar para que isso seja feito limpamente. Como é no vôlei e no tênis. Sempre que uma pessoa interfere na arbitragem principal, dá zebra.

Sabemos que o futebol é um esporte muito corrupto. Por seus dirigentes (muitos presos, outros que não podem sair do País), árbitros, federações, agremiações etc. Os casos de suborno e “papeletas amarelas” estão aí e ninguém faz nada para coibi-los.

Torço por um time que já perdeu até campeonatos por arbitragens duvidosas. Mas quem já não perdeu campeonatos por arbitragens duvidosas? Então, volto ao começo do meu texto: estou ficando velho demais para ver minha paixão imaterial pelo futebol ser negociada por debaixo dos panos.

Certa vez, sentado a uma mesa em clube nobre do Rio de Janeiro, ouvi um ex-dirigente de um clube (desses que não são queridinhos da “futebolpress” ou favorecidos por arbitragens estranhas, contar casos escabrosos em que comprou arbitragens). Meu mundo caiu. Nunca pensei que aquele clube, prejudicado em tantas ocasiões, também lançasse mão de fatores extracampo para conseguir os resultados que precisava. Certamente, com times de menor expressão do que ele.

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O que estamos fazendo do nosso futebol? Eu queria acreditar na lisura do desporto. Na vitória do melhor. No que melhor se preparou e melhor se desempenhou no campeonato. No que tem melhor preparo físico para executar um plano de jogo superior e irresistível. Naquele que faz na Base a criação de jogadores de qualidade para abastecer o time de cima. No que vence limpamente, pela qualidade do time.

Eu sou um velho bobo…

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

2 Comentários

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  1. “Quem é ele, afinal, um ator?”
    “Não.”
    “Um dentista?”
    “…Não, ele é um apostador.” Gatsby hesitou, depois acrescentou, calmamente: “Ele é o cara que arranjou o World Series em 1919.”
    “Arranjou o World Series?” Eu repeti.
    Fiquei assombrado. Eu lembrava, é claro, que o World Series havia sido arranjado em 1919, mas, se pensasse naquilo de alguma forma, pensaria em alguma coisa que simplesmente acontecera, por força de alguma situação natural do esporte. Jamais conceberia que aquilo pudesse ocorrer por causa de um homem, que assim estaria brincando com a fé de milhões e milhões de pessoas – com a naturalidade de um ladrão que explodisse um cofre.
    “Como ele fez isso” eu perguntei após uma pausa.
    “Ele apenas percebeu a oportunidade.”
    “Por que ele não está preso?”
    “Eles não conseguem pegá-lo, meu velho. Ele é um cara esperto.”

    World Series, a finalíssima do campeonato de baseball – os americanos são tão cheios de si, que chamam de Série Mundial a final de seu campeonato doméstico de baseball.
    Num tempo em que os donos de times de baseball pagavam salários de fome aos seus jogadores – e sequer pagavam, por exemplo, a lavagem dos uniformes deles – oito atletas do Chicago White Sox foram condenados por terem vendido a final para apostadores. O principal jogador do time era “Shoeless” Joe Jackson, um homem rústico e analfabeto, de origem bastante humilde – quando jovem, trabalhara em plantações de algodão – presa fácil para espertalhões de toda ordem, desde gente que vendia autógrafos dele, até o dono do time, Charles Comiskey, que, apesar de manifestar-se pública e ostensivamente pela condenação dos jogadores, colocou o advogado do time para “defender” Jackson – do que resultou uma confissão, obtida sabe-se lá de que forma. Em 1921, todos os jogadores foram perdoados, menos Jackson. Até hoje, ele não foi reabilitado, enquanto Comiskey até nome de estádio já foi.
    Tudo isso, amigos, em 1919, quando as cifras que o esporte movimentava soam ridículas, perto do que hoje circula nessa área.
    Como se sabe, capitalistas enriquecem com o trabalho dos outros, com o dinheiro dos outros, com a boa fé e ingenuidade dos outros. Qualquer coisa, desde que seja dos outros, e haja como se apossar de seus frutos.
    A força de trabalho das pessoas acaba, o dinheiro das pessoas acaba, mas o sonho, a fé, o desejo, a paixão, nunca acabam, e nos acompanham até o túmulo.
    Torcedores do Atlético MG, do Palmeiras, do Flamengo, e, futuramente do Cruzeiro – se os planos das pessoas que hoje exploram a imagem de Ronaldo Fenômeno forem adiante – não se iludam. Lava-se dinheiro de todas as formas possíveis e imagináveis, hoje. Até o momento em que a mina seca, e buscam-se outras formas de enriquecer. Não necessariamente no esporte. Mas em outra coisa qualquer que envolva sonhos e desejos, paixão, e fé. Coisas com que a natureza humana aquinhoa abundantemente os que não tem dinheiro, neste mundo, e que gera receitas imensas para os que já tem.

  2. Jogos e ligas mainstream aparentemente não têm esquema de apostas atualmente. Mas divisões inferiores e categorias de base, é quase certeza.

    Arbitragem é ruim para todos os times, a mais aceitável é a da Premier League pela prática da mínima interferência, em campeonatos de pontos corridos acaba vencendo o melhor time mesmo. Já em mata-matas, um erro pode ser fatal.

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