Sociedade, mídia e futebol

Por Fontinatti

SOCIEDADE, MÍDIA E FUTEBOL

Uma questão fundamental nas negociações dos direitos de transmissão do futebol têm sido neglicenciada: as relações entre a sociedade e o futebol. Tanto a Rede Globo como a Record enxergam no futebol apenas uma fonte a mais de lucro. Nisso embarcam a quase totalidade dos jornalistas, torcedores e dirigentes de clube, preocupados mais em engordar suas contas bancárias do que propriamente com o futebol.

O futebol brasileiro é estruturador de imagens e representações sociais, estereótipos e contra-estereótipos, tanto positivos quanto negativos; é suficientemente rico e deveria ser capaz de despertar um interesse maior por parte do estado e dos movimentos sociais. Interesse que deveria se refletir em ações concretas não apenas no plano econômico como também no simbólico.

SedoSe, do ponto de vista da sociedade, não há dúvidas que o futebol segue sendo central no imaginário nacional, o mesmo não se pode dizer do ponto de vista do estado. O que vemos é uma total complacência com a apropriação privada de algo que perpassa outros âmbitos da vida social, inclusive a esfera pública. Não desconhecendo o possível caráter privado e outras particularidades econômicas das agremiações esportivas, que devemos, é claro, reconhecer. Mas, é preciso ampliar o leque de análise para a compreensão do que está em jogo nesse momento, em que se negociam os direitos de transmissão da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol a partir de 2012. É preciso que se incluam outras questões nestas negociações. Porque negociam-se direitos econômicos sim, ok, concordamos. Mas, também representações sociais, símbolos, identidades coletivas e história.

Por isso, seriam benvindas, a meu ver, medidas como uma oferta estatal na briga pela compra dos direitos de transmissão do futebol. Porque só a Globo e a Record se arriscam a negociar? Onde está a TV Pública nesse momento? Onde estão os defensores de liberdade de imprensa? Qual o papel da EBC e da TV Brasil no esporte nacional?

Semelhantemente ao já feito na Argentina, deveríamos incentivar o estado a investir o dinheiro do cidadão naquilo que é importante para ele. Isso afetaria diretamente a compra e venda do direito de transmissão das imagens, sem dúvida. Mas também, e mais importante, começaria a tocar em outras questões negligenciadas como a corrupção nos meios esportivos, as associações de diregente e empresários com as máfias internacionais e com o narcotráfico, o tráfico de armas e a lavagem de dinheiro feitas através do futebol.

Portanto, defendo que deveríamos reinvindicar do governo brasileiro que tenha uma postura mais ativa e propositiva, e faça uma oferta para compra e transmissão das partidas da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol. Quem sabe começe, assim, a peitar os grandes grupos empresariais como fez o governo argentino com o Clarín.

http://doutorsujeira.blogspot.com

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador