O Morumbi e o estádio Ellis Park, da Copa 2010

Por Geraldo Costa

Do Blog do Bob Fernandes

O Morumbi é excluído. E o Ellis Park serve? 

Bob Fernandes
Direto de Johannesburgo

Amigos, amigas, vamos à real: para quem pedia tanto ao estádio do Morumbi, agora definitivamente excluído da Copa 2014, para quem quer tanto do Brasil como quer a FIFA, uma observação inicial: o estádio Ellis Park, o esquema que cercou o jogo de estreia do Brasil na Copa, foi o que costumamos chamar de “várzea”.

Acesso para quem vai trabalhar no jogo, como os jornalistas? Esqueça. Ou se consegue a tapa uma credencial para estacionamento, ou se arrisca perder horas nos ônibus da FIFA, ou o sujeito se joga a quilômetros do estádio, mochila nas costas, e vai à luta.

Torcedores brasileiros, centenas deles, tinham ônibus fretados que os aguardariam ao final da partida, próximo ao Ellis Park. Finda o jogo, nada. Longa espera na madrugada gelada, zero grau, até a solução.

Em Em um dos acessos ao estádio, policiais com armamento pesado. Por quê? Para vigiar, conter protestos de trabalhadores que cobram pagamento atrasado.

Segurança nos acessos ao estádio? Meia-boca, uma mera e descuidada conferência visual no crachá, detectores de metal sem funcionar, nada de revista eficaz.

Foi assim no Ellis Park, foi assim no Green Point, Cidade do Cabo, na partida França x Uruguai.

Melhor do que o detectado há um ano por este blog, mas extremamente frágil diante de alguma ameaça que seja real.

Os Centros de Mídia terminam por ser uma solução para jornalistas diante dos incontáveis problemas de conexão. Problemas que começam por um cambalacho que a própria FIFA levou.

Nessas tretas e mutretas onde só quem é do ramo se entende, gângsteres locais deram um tombo em 1 mil e 200 vagas reservadas em condomínios, hotéis e quetais.

Agências credenciadas pela FIFA, como já noticiado neste Terra, ofereceram pacotes e, na hora da entrega, não havia o todo prometido. Foi assim que, depois de uma semana no Hotel Garden Court, uma renca de jornalistas veio bater no Garden Court do B, um outro da rede.

Resumo da ópera: o hotel, credenciado pela mesma FIFA, oferece um pacote de internet, US$ 100 a semana, que funciona ora sim, ora não. Nesta semana, ficou três dias fora do ar.

Apelou-se para tal pacote porque outro pacote também não funcionou. Este, de conexão via celular e chancelado por um dos patrocinadores oficiais da Copa. Não funcionou, não funciona na região em que estamos e em outras. O bicho não pega aqui, não pega ali, não pega acolá. Não pega nada. Mas, se pensa: sempre haverá uma saída.

A saída no dia da estreia do Brasil seria o Centro de Mídia do Ellis Park, as conexões a cabo no próprio centro e na tribuna de imprensa. A coisa funcionou? Sim, mas para poucos.

Da Copa das Confederações para cá o Centro de Mídia encolheu. Fisicamente. Diminui o número de mesas e posições enquanto, Copa do Mundo, obviamente multiplicou-se o número de jornalistas.

Cerca de 16 mil são os jornalistas credenciados para todas as sedes, oficialmente 600 atrás do Brasil. Mais de uma centena não tinha onde sentar, nem onde e como escrever no dia da estreia do pentacampeão do mundo.

Não foi diferente na tribuna de imprensa, onde dezenas não tinham como trabalhar; não havia acesso à internet e sequer pontos de energia para todos. E não apenas no Ellis Park. No Soccer City, com seus 94 mil lugares, vários sobraram da mesma forma.

Se o Ellis Park basta para abrigar jogos da seleção pentacampeã do mundo, se bastam alguns dos estádios onde o Brasil jogou nos EUA em 94 e na França em 98, o Morumbi, com reparos, poderia sediar jogos da Copa. Se não a abertura, algumas partidas.

Se aquele campinho da Universidade de Stanford pode receber o então tricampeão do mundo, vários estádios do Brasil também podem. Se aquele pirambeira de Marseille pode na França, vários do Brasil poderão.

Falar-se em estádios novos, nove estádios novos no Brasil financiados com dinheiro público, beira a indecência. Como é indecente a África do Sul, com um terço da força de trabalho desempregada, ter um superfaturamento estimado em mais de 40% na construção do Soccer City, hoje estádio de US$ 1 bilhão e depois da Copa um elefante branco.

Outro bilhão custou o belo Green Point, na Cidade do Cabo. A África tem todo o direito de fazer sua Copa, como tem o Brasil, mas são evidentes os exageros, o mau uso do dinheiro público, o desequilíbrio entre os custos e os benefícios. E essa é mais uma lição para a qual o Brasil não pode fechar os olhos.

O Brasil precisa de intervenções urbanas de grande porte em suas grandes cidades, quase todas já enfartadas, precisa de novas vias, precisa mais ainda de Veículos Leves sobre Trilhos ou coisa que o valha, como precisa de aeroportos, hotéis. Esse seria, como se repete aqui, “um legado” para o país, mas o Brasil não necessita desse festival de estádios anunciados.

O BNDES tem uma linha de crédito de R$ 3,5 bilhões para a construção de estádios, nove deles com dinheiro público, seja federal, estadual ou municipal. Não é preciso grande investigação para saber que, incluídas as obras de infraestrutura nos entornos, os tais nove estádios custarão muito mais do que isso.

Dirão que não, mas que crédito podem ter autoridades, todas elas, e inclua-se a CBF no pacote, que negaram por anos e anos o uso de dinheiro público para a Copa quando se sabe, sempre se soube, quem vai pagar a conta?

Se o Ellis Park vale, se essa organização e segurança valem, o Brasil não está tão longe. Quem está ou entra e sai dos hotéis credenciados sabe que não há segurança alguma. Ninguém confere nada. Se alguém quiser mesmo detonar um hotel, um Centro de Mídia, qualquer coisa, entra e detona.

A África faz a Copa que pode fazer, com as condições que tem, com o seu jeito de ser e viver e tem todo o direito de fazê-la, mas, diante do momentoso “Caso Morumbi”, parece haver um sistema de pesos e medidas completamente diferente para medir 2010 e 2014.

Algo muito estranho, embora sempre imaginável, está rolando nesse jogo entre FIFA, CBF e São Paulo. O presidente Lula anuncia que pelo menos R$ 11 bilhões serão gastos em obras de infraestrura, estádios fora.

Problema algum obras que sirvam às cidades estranguladas, às populações carentes, ainda que seja previsível: a conta irá muito além dos tais R$ 11 bilhões.

O mesmo presidente defendeu há 10 dias, em entrevista à ESPN, o Morumbi como o estádio de São Paulo para 2014. A FIFA e mais alguém não quiseram. Durma-se com esse barulho. E com a conta que vem por aí. 

Luis Nassif

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