Os escritores inspirados no confronto Fla-Flu

Por MiriamL

Fla-Flu inspirou escritores nos últimos cem anos

Do iG Esportes

Nelson Rodrigues é o principal cronista da história do futebol carioca, mas muitos outros já escreveram sobre o clássico.

O clássico Fla-Flu, que completa cem anos neste sábado, é provavelmente o confronto entre dois clubes brasileiros que mais inspirou jornalistas e escritores. Desde o dia 7 de julho de 1912, não foram apenas cariocas ou brasileiros que se encantaram pelo jogo, mas também muitos estrangeiros. Para celebrar a data, o iG separou algumas das grandes pérolas escritas sobre o encontro.

Nelson Rodrigues, o maior cronista do futebol do Rio de Janeiro em meados do século 20, tem incontáveis frases sobre o clássico. Talvez, inclusive, a mais famosa delas, dizendo que “o Fla-Flu surgiu 40 minutos antes do nada”. Mas além dele, outros nomes de peso, como José Lins do Rego e o uruguaio Eduardo Galeano também tentaram descrever o que consideravam quase indescritível.

Confira abaixo alguns dos principais textos sobre o clássico centenário.

Divulgação Nelson Rodrigues deu ao Fla-Flu a dimensão de jogo maior que a criação do universo

Nelson Rodrigues:

“Até hoje, em todo o mundo, não há um jogo que chegue aos pés do Fla-Flu. Que é cada vez mais empolgante. E cada jogo entre o Fluminense e o Flamengo parece ser o maior do século e será assim eternamente”.

“Eu queria dizer que o Fla-Flu apaixona até os neutros. Ou por outra: diante do formidável clássico não há neutros, não há indiferentes. Há sujeitos que não gostam do Fluminense, não gostam do Flamengo, mas estão lá. Encontrei um desses, no último Fla-Flu. No intervalo, fui tomar um café. No caminho, vi o meu conhecido num canto, estrebuchante. E mais: babava na gravata. Aquilo me escandalizou: – ‘Ô rapaz! Você não é Flamengo, não é Fluminense. Estás torcendo por quem?’. Arquejou: ‘Torço contra os dois’. Mas torcia, o desgraçado…”.

“Eu gostaria de saber que gesto, ou palavra, ou ódio deflagrou a crise. Imagino bate-bocas homicidas. E não sei quantos tricolores saíram para fundar o Flamengo. Há um parentesco óbvio entre o Fluminense e o Flamengo. E como este se gerou no ressentimento, eu diria que os dois são os irmãos Karamazov do futebol brasileiro.”

 

 Getty Images  Para o uruguaio Eduardo Galeano, Fla e Flu têm relação de “filho rebelde e pai abandonado”

Eduardo Galeano, uruguaio, no livro “Futebol ao sol e à sombra”

“O Flamengo tinha nascido pouco antes para a vida futebolística. Brotara de uma fratura do clube Fluminense, que dividiu-se em dois depois de muitas confusões e muitos ruídos de guerra e gritarias de parto. Depois o pai se arrependeu por não ter afogado no berço este filho respondão e gozador, mas já não podia fazer mais nada: o Fluminense havia gerado sua própria maldição, e a desgraça não tinha mais remédio.

Desde então, pai e filho, filho rebelde, pai abandonado, dedicam-se a se odiar. Cada clássico Fla-Flu é uma nova batalha desta guerra de nunca acabar. Os dois amam a mesma cidade, o Rio de Janeiro, preguiçosa, pecadora, que languidamente se deixa querer e se diverte oferecendo-se aos dois sem se dar a nenhum. Pai e filho jogam para a amante que joga com eles. Por ela se batem, e ela vai aos duelos vestida de festa”.

José Lins do Rego

“Mais do que os homens lutam no gramado, há o espetáculo dos que trepam nas arquibancadas, dos que se apinham nas gerais, dos que se acomodam nas cadeiras de pistas. Nunca vi tanta semelhança entre tanta gente. Todos os setenta mil espectadores que enchem um “Fla-Flu” se parecem, sofrem as mesmas reações, jogam os mesmos insultos, dão os mesmos gritos. Fico no meio de todos e os sinto como irmãos, nas vitórias e nas derrotas. As conversas que escuto, as brigas que assisto, os ditos, as graças, os doestos que largam são como se saíssem de homens e mulheres da mesma classe. Neste sentido o futebol é como o carnaval, um agente de confraternidade. Liga os homens no amor e no ódio. Faz que eles gritem as mesmas palavras, e admirem e exaltem os mesmos heróis. Quando me jogo numa arquibancada, nos apertões de um estádio cheio, ponho-me a observar, a ver, a escutar. E vejo e escuto muita coisa viva, vejo e escuto o povo em plena criação. “

Hugh Mcllvanney, escocês, correspondente do jornal The Observer em 1969

“(O Fla-Flu é) enorme, esmagador, capaz de transformar um carnaval em um espetáculo de futebol, o Maracanã já é uma lenda. A realidade, contudo, é muito maior. A memória que em mim, ficará para sempre do Fla-Flu e, mais, do próprio futebol brasileiro, será desta enorme, pungente, feliz experiência humana”.

Armando Nogueira

“O Fla-Flu não é uma simples partida entre duas equipes, entre dois clubes, entre duas torcidas. O Fla-Flu tem camisa própria. Tem desígnios que são só seus. O Fla-Flu tem torcida própria. Tanto é verdade que, outro dia, conheci uma moça, numa roda em que se falava de futebol. Perguntei-lhe, amavelmente: por qual você torce? E a moça me respondeu, candidamente: Eu torço pelo Fla-Flu. Só uma coisa explica esta moça: é a encantadora química do Fla-Flu”.

Luis Nassif

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