A geopolítica dos Estados Unidos no vazamento Panamá Papers

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

 
Jornal GGN – A geopolítica norte-americana está por trás do recente vazamento dos documentos de offshores da Mossack Fonseca, que veio à tona esta semana, conhecida como Panamá Papers, informou o grupo de hackers WikiLeaks. O objetivo seria atingir o presidente da Rússia, Vladimir Putin, completou o canal venezuelano de televisão TeleSUR.
 
O grupo WikiLeaks disse que organizações de combate ao crime e à corrupção, sobretudo a OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project), que sempre teve como alvo a Rússia e a ex-União Soviética, recebe o financiamento dos Estados Unidos, por meio da U.S. Agency for International Development, da USAID e do fundo bilionário de Gerge Soros, que estaria por trás do vazamento dos documentos.
 
“O ataque à Putin pelo #PanamaPapers foi produzido por OCCRP, que tem como alvo a Rússia e a ex-URSS e foi financiado pela USAID e Soros”, escreveu o grupo de hackers no Twitter. “O governo norte-americano criou a #PanamaPapers, com o objetivo de ataque a Putin via USAID. Há alguns bons jornalistas [no Consórcion Internacional de Jornalistas Investigativos – ICIJ], mas nenhum modelo de integridade”, publicou.
 
 
A rede de televisão venezuelana afirmou que imediatamente após o vazamento dos documentos ir a público, muitos canais de notícias mundiais tiveram como foco um amigo do presidente Putin, em como ele estava diretamente envolvido em esconder bilhões de dólares em paraísos fiscais, usando os serviços do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca. Sem, contudo, o próprio presidente russo estar diretamente relacionado aos arquivos e seu nome sequer aparecer nas contas e contratos das offshores.
 
 
“Alguns [jornalistas] questionaram o foco estar sobre os líderes russos, enquanto foram ignorados outros líderes mundiais que estava diretamente relacionados ao esquema de evasão fiscal com as offshores, como o rei da Arábia Saudita e o presidente dos Emirados Árabes, que coincidentemente são grandes aliados dos Estados Unidos”, publicou o veículo.
 
Jornais da Rússia informam que as organizações pertencentes a Soros já foram proclamadas como “indesejáveis” no país. “No ano passado, o escritório do procurador-geral russo reconheceu as Fundações de livre sociedade de Soros e a Fundação Open Society Institute Assistance como grupos indesejáveis, proibindo os cidadãos e as organizações russas da participação em qualquer dos seus projetos”, disse um noticiário russo, nesta quarta-feira (06).
 
O vazamento do Panamá Papers foi descrito como o maior do seu tipo na história do jornalismo, por incluir mais de 11,5 milhões de documentos pertencentes à empresa panamenha de offshores. O caso expôs muitos políticos, funcionários do governo e celebridades em todo o mundo.
 
Coincidentemente, após a revelação dos documentos atacarem Putin, os Estados Unidos anunciaram que podem expandir as sanções, incluindo novos nomes na lista, como a Rússia. De acordo com a agência de notícias Bloomberg, se os documentos da Mossack Fonseca forem considerados verdadeiros, o Departamento do Tesouro norte-americano pode expandir as sanções contra o país.
 
O primeiro jornal a ter acesso aos documentos foi o alemão Sueddeutsche Zeitung, que neste domingo liberou as provas de participação de alguns altos funcionários russos com offshores da Mossack. Entre os nomes, empresários e políticos próximos de Vladimir Putin, como o ministro do Desenvolvimento Econômico, Aleksei Ulyukaev, o empresário  Suleiman Kerimov, e a esposa do secretário da imprensa do Kremlin Dmitry Peskov, a patinadora artística Tatyana Navka.
 
O secretário da imprensa russo afirmou que o alvo dessas publicações do Panamá Papers era atacar o presidente Vladimir Putin, e que o vazamento ocorreu visando afetar as próximas eleições russas. O secretário disse que o material é um jogo de “desinformação”.
 
Leia também:
Da Primavera Árabe ao Brasil, como os EUA atuam na geopolítica
A dança do vazamento limitado dos Panama Papers, por Pepe Escobar
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

29 Comentários

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  1. Descontrole Remoto
    É a informação como poderosa arma de guerra. Não que nunca tenha sido, é que nunca antes, ela, a informação, foi usada de forma de forma tão direta e aberta. E ainda tem gente que diz que o “melhor controle sobre a informação é o controle remoto”, né não presidenta. Tal frase é de deixar desolado qualquer ativista.

  2. Descontrole Remoto
    É a informação como poderosa arma de guerra. Não que nunca tenha sido, é que nunca antes, ela, a informação, foi usada de forma de forma tão direta e aberta. E ainda tem gente que diz que o “melhor controle sobre a informação é o controle remoto”, né não presidenta. Tal frase é de deixar desolado qualquer ativista.

  3. Esperando

    O States vaza informações para atingir o poderoso Putin. Queremos agora ver alguma matéria questionando a conduta moral do russo .Não, infelizmente , nas redes sociais ditas de esquerda  é praticamente zero esta possibilidade.Entre outros meios, supostamente não teríamos informações confiáveis.

    1. E voce vai achar que eh

      E voce vai achar que eh conspiracao na hora que o troco chegar?

      Ah, sim, o troco vai chegar.  Pode contar com isso.

      Sabe de uma coisa?  Nem vai vir da Russia.

    2. TV ESTATAL FRANCESA DIZ QUE VEM DOS EUA SIM

      Andre,

      Discordo às vezes mas respeito as suas opiniões e gosto dos seus posts. Sei que vc fala francês, certo?

      A notícia de que os Panama Papers vieram dos EUA já fizeram o crossover das bolhas “teoria da conspiração” para a mídia mainstream. A TV Estatal Francesa afirmou isso com todas as letras na noite de terça feira em um programa de quase 3h (!) com o Ministro de Estado das Finanças e representante da OCDE ao vivo no estúdio.

      Vou reproduzir abaixo mais uma vez comentário meu sobre a cobertura na imprensa brasileira e sobre o programa francês. Como vc fala a língua, veja o programa e tire suas conclusões.

       

      *********

      *********

       

      Panama Papers na Imprensa Brasileira novo

      qui, 07/04/2016 – 14:32

      Considero o jornalista José Roberto Toledo sério e bem intencionado. Um oásis no deserto da imprensa familiar. Costuma ser bastante ponderado em suas análises, as quais compartilho quase sempre nas redes sociais.

      Hoje publica ele no Estadão uma meia-vacina para as alegações de viés no vazamento dos Panama Papers.

      http://m.estadao.com.br/noticias/geral,cade-os-gringos,10000025299

      Ele fica no meio do caminho: nota as distorções mas também desmerece os questionamentos como “teoria da conspiração”. Alguns são de fato estapafúrdios no terreno fértil da internet, mas não vale usar o álibe “Para eles a culpa é sempre dos Estados Unidos” para deitar todos os questionamentos por terra.

      Eu mesmo o alertei, via twitter, para o viés. Como desejo que a cobertura no Brasil vá no sentido adequado – diferentemente do infame tratamento dado ao Swissleaks – entrei em contato para passar minhas percepções, como advogado que atuou amplamente no direito empresarial e na constituição de sociedades dentro do Brasil e fora.

      Da mesma forma, assim como fiz aqui, alertei-o sobre o programa de quase 3h (!) que foi ao ar na terça-feira à noite na TV estatal francesa sobre os Panama Papers. Ontem o mesmo canal veiculava comercial comemorando a excelente audiência de quase 4 milhões de pessoas que acompanhou o programa até quase a meia-noite.

      Como digo no comentário que reproduzo abaixo, também feito ontem à postagem do artigo do Pepe Escobar, a tese de que antes de chegar ao consórcio os documentos passaram pelas mão de autoridades americanas não se restringe mais aos círculos “teoria da conspiração da internet”. A respeitada e seríssima jornalista Elise Lucet, que ancorou o programa, afirmou isso com todas as letras diante do Ministro de Estado das Finanças da França e de representante da OCDE. Os dois estavam ao vivo no estúdio, dado o peso do programa, para debater a longa matéria que acabara de ir ao ar.

      Fez mais: disse que os EUA pagou pelos documentos. Não temos como daí concluir que a versão que chegou ao consórcio de jornalistas foi “editada”. Mas é forçoso reconhecer que os documentos antes passaram sim por suas mãos. 

      Assim como o the Guardian fez ontem, no artigo de hoje José Roberto Toledo tenta explicar por que não há americanos peixes grandes nos documentos:

      http://www.theguardian.com/us-news/2016/apr/06/panama-papers-us-tax-have

      Os dois apontam algo verdadeiro – o fato de que alguns Estados dos EUA permitem a constituição de offshoes – para daí concluir que os americanos não precisariam viajar ao Panamá. A conclusão está equivocada. A despeito das leis estaduais, as leis federais americanas só tornam essas sociedades “invisíveis” para a Receita Federal Americana – o IRS – se elas não tiverem operações nos EUA e se seus sócios não forem americanos.

      Assim, o dinheiro sujo dos EUA não pode usar esses Estados para a ocultação. O esconderijo pode até não ser o Panamá – como Toledo deixa entrever anotando que a Mossak não necessariamente detinha monopólio nesse mercado – mas certamente também não é os EUA. A anedota de como finalmente se pegou Al Capone deixa bem claro que com o IRS não se brinca.

      Por sim, fiquei lisonjeado com a reprodução da minha piada no fim do artigo de Toledo. Afinal, foi tweet meu de ontem para ele que fez a brincadeira a que ele se refere. Ou seja, que o plano maligno do Tio Sam é desacreditar todo o futebol para finalmente conseguir emplacar o chatíssimo baseball no gosto do resto do mundo. Snowden também sabe rir.

      Repito abaixo meu comentário anterior sobre o programa francês, porque ainda oportuno. Principalmente a parte sobre o cuidado de jornalistas quanto a não serem pautados pela fonte:

      ******************** TV Estatal Francesa Escancara!06/04/2016 – 15:13 

      Nassif,

      Artigo muito pertinente. Temos que trazer o assunto dos #panamapapers aqui para o blog, mas com todos os matizes e ressalvas necessários. 

      Chamei ontem no Twitter a todos que pudessem assistir que o fizessem: o programa “Cash Investigation” da France2 – ontem com uma duração de quase 3h sem intervalo comercial – foi muito esclarecedor.

      Repercutiu tanto que durante a transmissão a hashtag #cashinvestigation chegou ao No. 2 dos Trending Topics mundiais do Twitter.

      É um programa de peso. Basta dizer que após a reportagem volta-se ao estúdio ao vivo, onde a apresentadora recebe o Ministro das Finanças e um representante da OCDE para debater as revelações ali feitas.

      Bom, durante a transmissão fiz um “live blogging” informal dos pontos principais do programa para um jornalista no Brasil. Caso haja interesse, posso recortar e colar para o blog. Evidentemente está cheio de abreviaturas e linguagem informal.

      Mas vamos ao ponto final, que casa com o alerta intuitivo do Pepe Escobar:

      Com o Ministro no Estúdio, a apresentadora Elise Lucet – seríssima e parte do consórcio que recebeu os documentos – confronta o Ministro com o fato de que os “papers” haviam originalmente sido COMPRADOS por países e compartilhado entre EUA, Reino Unido, Alemanha, Canadá e Austrália. Tiraram eles dos papers o que não convinha?

      De alguma forma – de boa fé ou não – os papers encontraram o caminho até os jornalistas do Süddeutsche Zeitung há um ano. Diante da imensidão de documentos os dois jornalistas acharam por bem dividir o trabalho de análise com mais de 70 jornalistas de dezenas de países. Fizeram-no através do consórcio.

      A jornalista informa que processos internos – e discretos – já vinham sendo encaminhados pelos países compradores contra seus nacionais que se beneficiavam das offshores no Panamá com base nesses documentos. Para eles vale a máxima “roupa suja se lava em casa”. Menos sorte tem os escroques dos BRICs e do mundo em desenvolvimento em geral.

      Quem sabe não é ação levada a cabo de boa-fé, com o Ocidente atuando mais uma vez em sua missão civilizadora?

      Pausa para o riso.

      Tenho alertado jornalistas com a pauta dos Panama Papers no twitter sobre isso.

      Evidentemente que os documentos são de interesse jornalístico. Ao que tudo indica são legítimos e comprovam dinheiro oculto e/ou de origem criminosa. Mas, como impõem as regras do bom jornalismo, a fonte não pode pautar o jornalista. A fonte não substitui o jornalista e o editor.

      Basta conter um pouco a húbris e não deixar uma cobertura – que tem todo o valor – deixar-se manchar por suspeita de manipulação e viés dos vazadores. Tenho dito aos jornalistas que façam uma ressalva no texto ressaltando a parcialidade do vazamento. Alguém vai deixar de ler por isso?

      Creio que não. Eu, pelo menos, não.

       

       

       

  4. Paul Jorion

    Para quem lê em francês, aconselho a boa entrevista com o economista Paul Jorion, que segue a mesma linha de Picketty, com algumas nuances. A entrevista abaixo fala essencialmente sobre o caso Panama Papers, o qual, segundo o economista e antropologo, não vem ao grande publico agora por acaso…

    Télérama.fr, Paul Jorion, économiste : “Les fuites des Panama papers ne surviennent pas par hasard”, le 5 avril 2016

    le dernier qui s'en va...
    Sur Télérama.fr : Paul Jorion, économiste : “Les fuites des Panama papers ne surviennent pas par hasard”

    Depuis la crise de 2008, les Etats courent après l’argent. Pour l’économiste et anthropologue, l’accent mis aujourd’hui sur la fraude fiscale résulte aussi d’une volonté politique.

    C’était il y a bientôt dix ans. Six mois avant la crise des subprimes et un an et demi avant le krach du 14 septembre 2008, l’économiste Paul Jorion, ancien trader, était presque seul à prévoir l’effondrement du système financier (Vers la crise du capitalisme américain ? La Découverte, janvier 2007). Il a depuis enchaîné les avertissements : Le capitalisme à l’agonie, L’implosion. La finance contre l’économie. Le titre de son dernier livre est glaçant : Le Dernier qui s’en va éteint la lumière. Essai sur l’extinction de l’humanité. (Fayard) Car Paul Jorion n’est pas seulement économiste, il est anthropologue. Voilà pourquoi il observe avec une lucidité narquoise et un engagement renouvelé la gigantesque fuite des Panama Papers…

    Que vous inspire ce nouveau scandale du monde de la finance ?

    Cela m’inspire une réflexion sur l’indignation. Comment se fait-il qu’on s’indigne à certains moments de choses connues depuis des années ? De gros livres existent sur les paradis fiscaux, tous les mécanismes y ont été décrits. Un des plus récents, Treasure islands : tax havens and the men who stole the world (Iles au trésor : les havres fiscaux et les personnes qui ont volé le monde) de Nicolas Shaxson, a été en 2011 un best-seller aux Etats-Unis.

    Oui, mais là, un gigantesque stock de données a fuité !

    C’est une bonne chose, bien sûr, et je m’en réjouis. Mais je ne pense pas que ces fuites surviennent par hasard. Le Monde et Süddeutche Zeitung ne sont pas des journaux révolutionnaires. En février 2010, Der Spiegel avait eu des fuites, qui révélaient que la Grèce avait trafiqué ses comptes pour entrer dans la zone euro. Quelle en était l’origine : Angela Merkel elle-même, ou Jens Weidmann, le président de la Banque centrale allemande ? Des choses sont sues dont personne ne s’indigne, puis l’indignation apparaît soudainement…

    “François Hollande s’est félicité de la publication de ces dossiers.”

    Pourquoi ?

    Dès 2009, les gouvernements ont compris que les contribuables mis à contribution après le krach de septembre 2008 n’accepteraient plus de redonner aux gouvernements la liberté d’engager des sommes considérables dont ils étaient la source pour sauver le système financier. On avait à l’époque inventé le terme de bail out (« sauvetage de perdition »). En 2012, lorsqu’une banque a fait faillite à Chypre, on a inventé l’expression bail in, c’est à dire « aller chercher l’argent là où il se trouve ». On a ponctionné les comptes des déposants, au-delà des 100 000 euros garantis pour chacun des dépôts de la zone, Chypre en fait partie. Or les déposants étaient des Russes, pour qui Chypre fait office de paradis fiscal. Donc, on a ponctionné les Russes.

    Et aujourd’hui ?

    L’accord européen du 26 juin 2015 prévoit de solliciter, en cas de pertes bancaires, en priorité les créanciers financiers, puis les dépôts des grandes entreprises, ceux des PME et enfin ceux des particuliers au delà de 100 000 euros. Mais cette règle, qui a pour but d’épargner les contribuables, fait désormais l’objet d’une campagne complotiste sur Internet disant « l’Etat vient directement voler dans votre poche ! ». Les Etats se rendent alors compte que si le bail out n’est plus acceptable pour le contribuable, le bail in ne l’est plus non plus pour l’épargnant ! Les Etats cherchent donc à récupérer un peu de l’argent qui fuit. C’est pour cela que l’éclairage est mis aujourd’hui sur la fraude fiscale. François Hollande s’est d’ailleurs félicité de la publication de ces dossiers qui vont permettre à son gouvernement de récupérer un peu plus d’argent.

     

    “Il est évident que la raison d’Etat a besoin de ces paradis.”

    Les fuites révèlent surtout des noms de célébrités, hommes d’Etat, sportifs, artistes, alors que vous montrez dans votre livre que l’évasion fiscale est, à une tout autre échelle, au cœur du système financier, et avant tout le fait des sociétés transnationales ?

    C’est exact. Il faut savoir que le réseau des paradis fiscaux est en fait extrêmement bien surveillé, parce qu’il correspond à l’ancien Empire britannique. La City de Londres continue d’opérer une surveillance de bon niveau sur l’ensemble du réseau. En fait, les Etats ont besoin de cette surveillance parce qu’ils veulent contrôler de façon semi-permissive le blanchiment d’argent sale qui provient du trafic de la drogue, de la prostitution, du trafic d’armes. Le 17 septembre 2008, jour où le système s’est effondré, beaucoup d’argent sale a été injecté par le biais des paradis fiscaux si l’on en croit Antonio Mario Costa, qui était alors directeur de l’Office des Nations-Unies contre la drogue et le crime. Il est évident que la raison d’Etat a besoin de ces paradis.

    Même s’ils le voulaient, les Etats ont-ils le pouvoir de contrôler des transnationales parfois plus puissantes qu’eux ?

    Oui, je crois. Apple a été convoqué devant une commission du Sénat américain et a dû avouer que 60% de son chiffre d’affaire n’était taxé nulle part. Depuis un an ou deux, il y a des avancées considérables. L’affaire Luxleaks en novembre 2014 qui a révélé le principe des tax rulings, des privilèges fiscaux que le Luxembourg réservait aux entreprises domiciliées chez lui, a obligé la Principauté à faire marche arrière. Ce système remonte à l’avant-guerre. Si le Luxembourg s’est subitement retrouvé sur la carte de l’indignité européenne, c’est parce que les ressources financières manquent cruellement dans les pays européens qui soumettent leurs populations à des plans d’austérité. La Belgique va aussi mettre de l’ordre dans sa pratique des tax rulings. Les Etats, parce qu’ils subissent la pression de l’opinion, changent d’attitude.

    “Le système démocratique est gangrené par l’argent.”

    La raison qui fait que les Etats se réveillent, n’est-ce pas l’appauvrissement du plus grand nombre ?

    Bien sûr. Les chiffres sont clairs. Aux Etats-Unis, en Europe, ce qu’on appelait la classe moyenne est laminée. Les salaires baissent, et c’est aggravé par le chômage, le fait qu’on ne pose pas la question de l’emploi en termes de remplacement de l’homme par le logiciel ou par le robot. On continue de dire que ceux qui ont perdu leur travail doivent en retrouver. Or, quand le travail disparaît, ce sont les salariés qui disparaissent et d’un point de vue purement comptable, les entreprises vont mieux quand elles licencient. Pour la bonne raison que, selon les principes de comptabilité, dans le partage de la valeur, l’apport en travail est considéré comme un coût, alors que le paiement des dividendes et des bonus est une part de bénéfice. Or aucun facteur objectif ne justifie qu’un salaire soit un coût, et les dividendes et les salaires des dirigeants des parts de bénéfice : tous sont au même titre des « avances » nécessaires, il s’agit donc d’une simple croyance. Ce débat faisait rage dans la pensée socialiste au XIXe siècle. Il a disparu. On le voit réapparaître autour des mouvements type « Occupy »…

    Mais en France, le gouvernement socialiste continue de parier sur la modération des salaires et une dérégulation du marché du travail.

    Un sondage BVA vient de montrer que le gouvernement actuel n’avait plus que le soutien des milieux d’affaires. Il applique la plate-forme du Medef. Partout, depuis les années 70 et l’école de Chicago, qui a promu l’ultralibéralisme, règne un système politique caractérisé par la domination d’une élite économique. Il suffit d’observer chez nous la succession de gouvernements élus sur des plate-formes différentes qui mettent en œuvre exactement les mêmes politiques.

    En 2010, la Cour suprême des Etats-Unis a autorisé les firmes à investir des sommes d’un montant illimité dans les spots publicitaires des campagnes électorales. Et elles financent la campagne d’Hillary Clinton…

    La Cour suprême était alors à majorité conservatrice. Mais Antonin Scalia, le doyen ultra-conservateur des juges de la Cour suprême est mort en février et la question se pose de savoir si le président Obama a le droit de nommer un remplaçant à quelques mois d’une nouvelle campagne électorale. Bernie Sanders en a fait un point important de sa campagne, et demande à Barak Obama de « le remplacer le plus vite possible. »

    Cette décision de la Cour Suprême ne montre-elle pas que le pouvoir de la sphère économique empiète largement sur le politique et le judiciaire ?

    Bien sûr. Le système démocratique est gangrené par l’argent. Deux universitaires de Chicago ont fait un relevé de mille deux cents souhaits émis par la population américaine, ils ont constaté qu’une quantité infime de ces souhaits étaient débattue au Congrès, et uniquement quand ils étaient proposés par des lobbies.

    Au cœur de l’évasion fiscale, il y a l’incroyable enrichissement des ultra-riches. Si un gouvernement voulait agir, que faudrait-il faire ? Fortement taxer les plus hauts revenus et l’héritage, comme le préconise Thomas Piketty ?

    Thomas Piketty considère que le processus correctif peut suffire. C’est vrai que ses propositions de taxer fortement les très forts revenus élimineraient les grandes crises économiques. Ses idées marcheraient sans atteinte à la propriété privée. Mais je préfère les solutions en aval, mieux partager la création de richesse plutôt que la corriger après coup. Ce qui est sûr, c’est que 2008 a démontré que l’autorégulation ne marche pas en finance. J’ai le sentiment que les choses sont en train de changer. J’ai participé l’an dernier à une commission mise sur pied par le Ministre des finances belge pour réfléchir à l’avenir du secteur financier. Et j’ai eu la bonne surprise de constater que le sens de l’Etat était en train de revenir au sein des dirigeants.

    Peut-être parce qu’ils redoutent des explosions sociales ?

    C’est sûr que les Etats ont peur, surtout dans un contexte de terrorisme, de foules qui s’installent dans la rue. Nuit Debout, ça fait désordre. Lorsque des jeunes découvrent le « Panama papers », je pense que ça leur donne envie d’aller sur la Place de la République. Ça ne m’étonnerait pas que certains décident d’y aller alors qu’ils n’y seraient pas allés autrement…

    A lire

    Paul Jorion, Le dernier qui s’en va éteint la lumière, essai sur l’extinction de l’humanité, 290p. 19€, éd. Fayard.

    http://www.pauljorion.com/blog/2016/04/05/telerama-fr-paul-jorion-economiste-les-fuites-des-panama-papers-ne-surviennent-pas-par-hasard-le-5-avril-2016/

     

  5. Amigo do Putin, Amigo do

    Amigo do Putin, amigo do Lula… É o mesmo modus operandi. O Pepe Escobar tem razão, os BRICS estão sofrendo ataque violentíssimo neste momento.

    1. Não há na lista, estranhamente, nome de nenhum americano.

      Na lista do panam papers, os americanos tornaram-se o povo mais honesto do planeta.

      Não há um único nome de nenhum americano.

      Parece até com a operação lava a jato, não acham. Só os petistas são corruptos,

      os outros são todos santos. É o mesmo modo operanti da operação lava a gato.

  6. Cara,me aprofundando mais

    Cara,me aprofundando mais ainda na teoria da conspiração,veja bem:

    Obama fez uma vista na Argentina,será que propos algo ao Macri e ele negou!

    Logo em seguida ouve o Panama papers…e pelo que li Macri,está encrencado.

     

    2013 Dilma recebe uma visita de um representante dos EUA…e logo depois….todos sabem da história….

  7. Teoria da conspiração?

    Credulidade é engolir versões patrocinadas de fontes como a da Open Society, de Soros, e a da USAID, bem conhecida no patropi, desde 1964.

    Aliás, outro texto fundamental é “EUA contra os BRICS: Corrupção como arma de propaganda”, do jornalista Robert Parry, traduzido pelo pessoal da Vila Vudu. Ele mostra como o discurso da corrupção serve à mídia empresa para demonizar inimigos. 

    E sobre Panamá Papers, convenhamos, o maior paraíso fiscal hoje são os EUA. Nova teoria? E fonte?

    Ah, peguei. Simplesmente a Bloomberg, aqui, infelizmente só em inglês.

  8. Quando vazamento nos EUA é

    Quando vazamento nos EUA é pra valer os vazadores são perseguidos vide Snowden, Assange e o Manning. Vazamento consentido como diria o padre Quevedo “Isso non existe”. Se vazou com anuência dos EUA só pode ser uma jogada geoestratégica, se atingiram alguns bagrinhos amigos é o tipico “friendly fire”, ou seja vale apena perder alguns colaboradores para atingir um alvo cobiçado.

    1. Nao, confirmou o que ja se

      Nao, confirmou o que ja se sabia:  o projeto “jornalistico” de “pesquisa” (filtragem descarada e aberta) dos papeis foi fundado por eles.  Todo mundo ja sabia disso.

      1. Como disse em comentario em

        Como disse em comentario em outro post ref. Panama Papers, eles foram COMPRADOS pelo governo dos EUA, num esquema de dela$$ão premiada.

        Quem diz isso é a TV Estatal Francesa, ela mesma parte do Consórcio de jornalistas que teve acesso aos documentos.

        Os EUA compartilharam com governos amigos: Canadá, Reino Unido, Alemanha, Austrália. Depois disso o todo ou uma parte dos documentos encontrou o caminho até os jornalistas alemães. Fico tentado a pensar que foi algum funcionário do fisco alemão.

  9. Golpes, revoluções “coloridas” e primaveras

      O combustivel primordial, fundamental, imprescindivel, para qualquer Golpe de Estado ( revoluções, primaveras, impedimentos etc.. ), é o DINHEIRO , de preferencia “vivo”, tanto em moedas fortes como em numerario local fartamente disponivel e de imediato ( o EI por exemplo não usa cartão de débito ou vale refeição, nem traficante de armas aceita cheque, mas depósitos 50% na encomenda / 50 % na entrega, pagos em off-shores , as vezes certificados de ouro, ou titulos podem ser aceitos – com deságio ).

       Como pegar, pagar, movimentar esta grana : Só tem um jeito, através de off-shores e seus correspondentes locais.

    1. Armas

      Junior,

      Importante essa lembrança. Toledo no Estadao já soltou uma matéria ao menos sobre um traficante de armas. Acho que ontem.

      Veja abaixo comentario com a confirmaçao – pela TV Estatal Francesa – de que os Panama Papers passaram antes pelos EUA sim.

  10. A Russia livrou o mundo do Estado Islâmico, USA se ferrou nessa.

    Esse é o problema da USA, o Putin enfraqueceu o Estado Islâmico e agora esta libertando uma por uma

    as cidades Syrias, e o mundo descobriu que quem apoiava o Estado Islâmico era os Turcos, aliados dos 

    americanos. O mundo de hoje é diferente do mundo da segunda grande guerra, não havia informação,

    e os americanos sairam como os grande vencedores, mas foi a Russia a principal vencedora que destruiu

    os alemães (baixas russas de 24 milhões entre soldados e civis), foi a russia que pagou o preço mais alto

    de mortes na segunda grande guerra.

     

     Só após os russos tomarem parte da guerra contra os EI na Syria, foi que os americanos se mexeram.

  11. Este é um vasto e sinuoso

    Este é um vasto e sinuoso campo onde cabem todas as teorias de conspiração. Mas existem alguma REALIDADES factuais que é preciso considerar.

    1.As contas bancarias e o dinheiro NÃO estão nos paraisos fiscais, em nenhum paraiso fiscal, 95% está nos EUA, nos off shore centers só existe o “parking” a contabilização grafica dos recursos, o dinheiro nem passa pelos paraisos fiscais, só o endereço da conta está lá, numa caixa postal.

    2.A esmagadora maioria das sociedades off shores e legal e não tem por finalidade lavar dinheiro. São elos de negocios de todos os tipos, patrimoniais, societarios, de leasing de avião e navios, planejamento tributario. Dinheiro sujo, criminoso é  pouco nesse universos, que já há duas decadas é muito vigiado pelos Tesouros dos paises ricos, que tem Acordos Tributarios com esses paraisos, hoje o nivel de sigilo é praticamente nenhum, o controle se faz pelos bancos, que são americanos ou europeus e sujeitos a rigidos sistemas de compliance.

    3.Parte importante do “investimento estrangeiro” no Brasil é registrado como oriundo de paraisos fiscais sendo na realidade dinheiro de brasileiros disfarçado de estrangeiro para obter vantagens legais e tributarias. O instrumento usado nessa categoria são off-shores de paraisos fiscais.

    1. OK, mas “Na Prática a Teoria é Outra”

      Pontos muito relevantes que vc levanta, Andre.

      (3) Trabalho com regulação em nível internacional de investimentos estrangeiros. Os policymakers estrangeiros sempre ficam abismados com o volume de Investimento Estrangeiro Direto que se dirige ao Brasil. O país sempre esteve nos top 5 nos últimos anos.

      Sempre os alerto de que parcela significativa é na verdade capital brasileiro, voltando de visita a paraísos fiscais. Levantamento das estatísticas do BC deixa claro este quadro e esta artificialidade.

      (2) Outro ponto importante que vc levanta é o fato de que a maioria das offshores é legal. Eu mesmo em minha prática como advogado constituí offshores na Holanda para empresas brasileiras de petróleo adquirirem sondas de perfuração e navios fora, para depois alugá-los à parent company brasileira com os benefícios do REPETRO. Todas o fazem, inclusive a nossa Petrobras.

      É fato que a maior parte do dinheiro nas offshores não é dinheiro sujo. Mas há que se fazer a distinção entre dinheiro sujo (fruto de prática criminosa) e dinheiro ocultado (fruto de atividade lícita mas que busca se evadir do fisco do país de origem). Acredito que há bem mais do segundo caso do que do primeiro nas offshores.

      No entanto, como o consórcio tem apurado, o grosso dos Panama Papers se referem a offshores com sócios pessoa física e não pessoa jurídica. Isso aponta para uma finalidade maior de aplicação financeira de um patrimônio do que atividade econômica propriamente dita.

      Vc viu meu comentário a vc abaixo sobre o programa francês? Quando o vir vc saberá “por que o Panamá?” e relativizará mais um pouco o seu ponto (2). De fato nos ultimos anos a OCDE e o G20 apertaram o cerco aos paraísos fiscais. Arrancaram as concessões a que vc se refere de locais como Suíça, Channel Islands, Ilhas do Caribe, Hong Kong, Singapura… mas não do Panamá.

      O Ministro das Finanças da França fala ao vivo no programa que o Panamá “est la bête noire” que se recusa a cooperar. Não troca nenhuma informação.

      Aí vc pergunta: e como o governo de um país pequeno resistia a tamanha pressão?

      Simplesmente o sócio da Mossack Fonseca era ministro chave do governo atual e presidente do partido político do presidente. O governo estava completamente capturado pela indústria local de offshores.

      Isso são algumas das coisas que anotei no live blogging que fiz para um jornalista brasileiro durante o programa. Caso o Nassif decida publicar o link do programa aqui, posso mandar esse resumo em português, já que o programa é em francês.

      Mas vc que fala a língua não deixe de assisti-lo! Imperdível.

      1. Agradeço seu otimo comentario

        Agradeço seu otimo comentario e concordo plenamente, acompnho a cruzada da OECD para ranqueamento e por fim cerceamento de paraisos fiscais que começou há 20 anos mas acho que a força maior anti-off shore vem dos Tesouros em busca de mais arrecadação.

        1. Concordo.
          É acaba em briga de

          Concordo.

          É acaba em briga de burocracias nos governos (como quase sempre): tesouros vs. reguladores do setor financeiro (devidamente capturados pelas instituições).

  12. O Fed está provocando o Caos contra as nações e seus BCs

    Assim como os banqueiros internacionais usam os QE (estimulos) e a política de juros como ferramentas, o Fed está usando o caos para destruir centenas de bancos centrais pelo planeta e substituí-los por um único órgão regulador, para isto estão criando o Caos e depois venderão a eles mesmos como a solução.

    O Brasil, como outros integrantes dos BRICs ficaram no contra-fluxo deste movimento e pode acontecer de um destes países ser pego para exemplo de como a destruição pode ser cruel. A subida da taxa de juros americano parece ser a senha.

    Jogo perigoso e mortal, expeculações da Russia entrar em Guerra surgem a todos os instantes, o cenário externo está extremamente conflituoso e os atores relevantes ocultos e inacessíveis, não vejo onde se possa dar as negociações, a China acaba de reclamar que o G20 é para tratar de assuntos econômicos e não políticos.

    Vivemos em tempos interessantes.

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