A lógica predatória de lucro dos norte-americanos, por Ricardo Cavalcanti-Schiel

Por Ricardo Cavalcanti-Schiel

Comentário à publicação “Economista Peter Temin mostra o subdesenvolvimento dos EUA

A lógica de funcionamento do sistema socioeconômico norte-americano se consumou sob a forma da maximização da predação.

Isso não só está na cabeça dos 20% do FTE, como nas cabeças de todos os americanos, inclusive os 80% trash (não importa de white ou colored). É isso que legitima a política eleitoral, o funcionamento dos lobbies, as políticas públicas, enfim, a possibilidade mesma da vida política na tal da “democracia” americana.

Quando Houston fica debaixo d’água não é só por causa de um furacão provocado pelo aquecimento global que Trump & Co. não querem ver. É porque o espaço público do planejamento urbano e da regulação foi apagado a ponto de permitir que os vorazes empreendimentos imobiliários aterrassem todas as áreas de charco que continham a carga pluvial de Houston.

A cabeça de 99% dos americanos funciona pela lógica da racionalidade de meios, do tipo “pra qualquer farinha, meu pirão primeiro”. A única coisa que, em úlltimo termo, prospera nessa selva individualista dos meios atomizados é a apropriação utilitarista da “identidade”.

No que diz respeito ao fim do túnel, ele já foi inteiramente ocupado pelo capitalismo em estado absoluto.

No estado a que chegou o individualismo liberal, simplesmente falta aos americanos a capacidade de apreender o público. Essa categoria se tornou progressivamente inapreensível, ininteligível.

Norberto Bobbio fez uso certa vez de um exercício lógico para reconhecer a relação entre liberdade e igualdade. Lógica formal  significa identificar numa relação quem é o antecedente (“dado que X”) e quem é o consequente (“então Y”). Para Bobbio é possível deduzir a liberdade (consequente) da igualdade (antecedente), porque uma vez que todos sejam iguais, serão igualmente livres em direito. Mas não é possível deduzir a igualdade da liberdade, porque dada a liberdade como ponto de partida, uns poderão invadir livremente o espaço de direito dos outros.

O pensamento liberal (e os valores que regem a sociabilidade na sociedade norte-americana) toma a “liberdade” como o precedente absoluto. O estado social que em última instância pode ser deduzido disso seguramente não é um estado de justiça, mas um estado de guerra social, uma vez que a (preciosa) linha vermelha do contratualismo seja rompida.

As políticas de identidade a vinham repuxando, na esperança (distributivista — à la Raws) de que ela solucionasse o paradoxo de uma justiça já de antemão inviável (não dedutível). O que a eleição de Trump parece ter demonstrado é que essa linha pretensamente elástica pode ter chegado no limite de arrebentar.

Redação

4 Comentários

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  1. Putz!

    Transformaram meu comentário sucinto em post!…

    Como sucinto e despretensioso, ele acabou saindo com erros.

    No primeiro parágrafo, entre parêntesis, deveria ser “não importa se white ou colored”, e não “de”. E no último, é “Rawls” (de John Rawls), e não “Raws”.

  2. E quem se importa com isso,

    E quem se importa com isso, grande Ricardo?

    Se importamos com o conteúdo

    Mas tenho uma consideração a fazer:

    ”No que diz respeito ao fim do túnel, ele já foi inteiramente ocupado pelo capitalismo em estado absoluto.’

      A resposta está aqui :

              

    Em resposta a Safatle, J. P. Coutinho defende democracia representativa

      http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/09/1916549-joao-pereira-coutinho-responde-a-safatle-e-fala-da-tirania-da-multidao.shtml

                   Abração !

  3. Como Roma, eles sugarão tudo

    Como Roma, eles sugarão tudo o possível e em seguida implodirão, lançando o Ocidente numa escuridão, talvez pior que a do pós queda de Roma.

    Não há outra saída. Os recentes movimentos dos golpistas brasileiros, a mim, só confirmam que a banca anglo-americana já nos rateou entre eles e os chineses. Por enquanto. E poderão prolongar por muito tempo a sociedade. Só que o sistema anglo-americano está falido pela monumental dívida contraída no mercado de derivativos, especialmente. Como o centro de tudo, os Estados Unidos, não vão cair tão rápido; vão definhar lentamente até o dia em que o sisterma implode por completo e voltamos aos bandos de assaltantes da baixa Idade Média até que venha os feudos, também uma desgraça.

    Os freios e contra-pesos falharam fragorosamente.

  4. sociedade norte-americana

    POis é, e ainda tem coloniado querendo que o Brasil copie este modelo desencadeador de desigualdade social. Os principais porta-vozes dessa ideia são as autoritárias autiridades brasileiras pós-golpe que gostam de ser capachos dos norte-americanos enquanto fazem o trabalhador brasileiro de capacho.

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