A mudança de direção dos EUA, por Marc Bassets

Jornal GGN – Da legalização do casamento homossexual ao retrocesso da pena de morte, os Estados Unidos têm abraçado causas progressistas que pareceriam inimagináveis. O país segue divido, como se percebe pela vitória do Partido Republicano nas eleições legislativas. E os valores conservadores continuam fortes. Mas em questões sociais, a terra do Tio Sam tem mudado radicalmente de direção.

Enviado por Gunter Zibell

EUA abraçam causas progressistas

Por Marc Bassets

Do El País

Casamento em Austin (Texas). / DAULTON VENGLAR (AP)

Existem mudanças que, de tão rápidas, correm o risco de passar despercebidas. Um dia o mundo é outro; nada é igual. Em alguns anos, menos de uma década, a sociedade norte-americana abraçou causas progressistas que até pouco tempo atrás pareciam inimagináveis.

Não é que os Estados Unidos de repente tornaram-se de esquerda. Os valores conservadores e a desconfiança em um Estado central forte continuam arraigados. A vitória do Partido Republicano nas eleições legislativas de novembro é a prova de que este é um país dividido.

Mas, desde a legalização do casamento homossexual até o retrocesso da pena de morte, o país que o democrata Barack Obama deixará quando abandonar a Casa Branca em 2017 será mais tolerante e aberto a ideias que, quando chegou ao poder em 2009, eram marginais.

“Em questões sociais, o país mudou radicalmente para uma direção mais progressista”, diz John Halpin, pesquisador no laboratório de ideias Center for American Progress. “Não poderia ter acontecido nos anos oitenta ou noventa” do século passado.

Em 15 dias, três notícias evidenciaram a transformação. Na semana passada, o Center for American Progress, próximo ao democrata Obama, e os irmãos Koch, os financiadores da direita, anunciaram que se uniram para reformar o sistema de justiça penal.

Ambos, preocupados com a superlotação carcerária e os episódios de tensões raciais em Ferguson (Missouri), impulsionam uma campanha para reduzir as penas de prisão e modificar as leis e práticas que criminalizam as minorias. Os EUA são hoje o líder mundial em população penitenciária: nesse país, vive 5% da população mundial e 25% dos presos, de acordo com dados da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês).

A aliança entre progressistas e conservadores marca o fim de uma era, da law and order, a da lei e ordem: as políticas de punho de ferro feitas pela direita, as quais a esquerda não teve outro remédio a não ser fazer parte para não parecer fraca diante da ascensão do crime dos anos setenta e oitenta.

Na mesma semana, a rede de hipermercados Wal-Mart, a maior empresa privada do país em número de empregados, disse que aumentará o salário mínimo de meio milhão de trabalhadores, até nove dólares (26 reais) por hora. Que o Wal-Mart, um gigante em um dos setores mais mal pagos, melhore os salários, mesmo que modestamente, é um reconhecimento da recuperação econômica, mas também dá asas ao debate, promovido pela Casa Branca, sobre a desigualdade de renda e a erosão da classe média.

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Redação

7 Comentários

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  1. O maior interesse em relação

    O maior interesse em relação aos EUA não é em relação às políticas internas, à alardeada recuperação de sua economia, que muitos internamente contestam, e outras questões afetas ao povo de lá. O problema para os demais mortais do planeta é a política externa daquele país, a sua luta para impor a “excepcionalidade” que julga possuir, para manter o poder hegemônico.  Quando resolvem interferir em algum país ou região (e fazem isso o tempo todo), o saldo não é progresso, nem melhoria de indicadores sociais e apreço às causas de minorias É destruição,  terra arrasada, mortes.

      1. Vc não ouviu, Vc leu.
            E

        Vc não ouviu, Vc leu.

            E na Roma Antiga TODOS davam e comiam tbm.Principalmente Imperadores e senadores.

           E nem era enrustido.Era normal e fazia parte da cultura,

           Explica pro leigo aí acima.

                      

  2. mudanças vieram dos movimentos sociais!

    O texto atribui a mudança em várias questões sociais nos EUA ao governo de Obama e  a ” aliança entre progressistas e conservadores”. Parece uma peça de propaganda encomendada. Inacreditável! O debate sobre o salário mínimo nos EUA não foi ‘promovido pela CAsa Branca”, ele é o que os americanos chamam de ‘grass root movement’ – um movimento organizado que começa local e se espalha pelo pais. Um ponto de virada nesse movimento foi a eleição de  Kshama Sawant, que fez parte do movimento Occupy e foi eleita pelo partido de esquerda (mesmo, não liberal ou progressista) Socialist Alternative para o conselho da cidade de Seattle em 2013 e que conseguiu elevar o salário minimo na cidade. A campanha se espalhou pelos EUA como um movimento social, de base reunindo sindicatos, associações de trabalhadores, organizações de esquerda e progressistas, não como um movimento de ‘Obama say’!

    A mesma coisa com relação ao casamento de pessoas do mesmo sexo que hoje tem o apoio da maioria da população americana. E não é por causa dos peseudolibertários de direita nem por causa do partido democrata. É o resultado de um movimento social, independente do monobipartidarismo, de mais de 4 décadas. Conquistaram corações e mentes primeiro.

    Quanto a situação carcerária o motivo é obvio: os EUA temem uma primavera americana!  O movimento sobre Ferguson foi amplo, outro exemplo de ‘grass root movement’ – a ponte do Brooklin em NY, por exemplo, foi fechada em um protesto. E a situação estava se radicalizando, tendia a algo mais próximo dos panteras negras que do Dr. King. Os poderosos dos EUA tem pavor que algo como os anos 1960 se repita.

    As concessões sociais são, por um lado, uma vitória de movimentos organizados da sociedade que estão aos poucos reflorescendo nos EUA; por outro uma tentativa de manter o monbipartidárismo cleptocrático e conter a insatisfação crescente dos americanos com o estado absolutamente lastimável em que se encontra a maioria da sua população. Pais de classe média? ‘bullshit’; na CNN ouvi um debate sobre o orçamento americano em que se falava a expressão ‘working class’ que parece estar de volta ao vocabulário político americano.

     

  3. É, os Estados Unidos avançam e os Republicanos também

     

    Gunter Zibell

    Os Estados Unidos estão mudando. Não tanto como diz a reportagem. E mudaram até antes da recuperação econômica deles que como sempre vem à frente do resto do mundo (Menos da China, porque ali há outro experimento). Ainda assim estão mudando para ficarem mais próximo da Europa muito mais liberal do que eles.

    Talvez o que faça a mudança parecer maior é o fato de, na Europa, estarem renascendo as velhas práticas do que eu chamo de fascismo de pequenas causas. Ainda assim a mudança dos dois lados apenas mais os aproxima. Não se pode esquecer que os republicanos há muito tomaram conta dos estados sulistas reacionários onde antes mandava o Partido Democrata, como vingança da direita racista contra o Partido Republicano de Abraham Lincoln, e veem paulatinamente ganhando também nos Estados do norte mais liberais e colocando em prática políticas mais de direita. Um exemplo disso é este post de Paul Krugman “Naked Came The Class Warriors” de sábado, 14/02/2015 às 09:49 am, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2015/02/14/naked-came-the-class-warriors/

    Segundo Paul Krugman, os governos republicanos estão fazendo o sistema tributário e de transferência de renda americano mais difícil para os pobres e mais fácil para os ricos.

    E há as avaliações otimistas que não ajudam a compreender bem os Estados Unidos. Um grande otimista e que eu admiro e por isso o menciono com frequência como venho de o fazer, é Paul Krugman. E um post bonito e otimista dele recente é “Chastened Exceptionalism” de 20/02/2015 às 10:33 am e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2015/02/20/chastened-exceptionalism/

    E o otimismo de Paul Krugman não é falso e se constrói em bons valores como se pode ver no parágrafo a seguir transcrito:

    “What’s more, there have always been American patriots who could acknowledge flaws in the country they loved. For example, there’s the guy who described one of our foreign wars as “the most unjust ever waged by a stronger against a weaker nation.” That was Ulysses S. Grant — who long-time readers know is one of my heroes — writing about the Mexican-American War”.

    Só que para ele, a Guerra do Iraque, em minha avaliação “a mais injusta guerra travada por uma nação mais forte contra uma mais fraca”, ou a demonstração de que os americanos, nas palavras dele, “também podem fazer o mal”, fora fruto apenas das mentiras de George Walker Bush, o filho, quando na verdade, as mentiras de George Walker Bush foram apenas a maneira mais fácil que ele encontrara de ser reeleger presidente dos Estados Unidos. Não fora pelas mentiras de George Walker Bush, o filho, que ele ganhou a reeleição. Ele foi reeleito porque ganhou a guerra. O que é a grande sombra sobre o povo americano. Não é, entretanto, nenhum demérito para eles, pois George Walker Bush, o filho, seria reeleito se o povo americano tivesse sido substituído por qualquer outro povo do mundo. Compreender isso é importante porque permite mais bem compreender o povo americano e outros povos do mundo também.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 24/02/2015

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