Documentário: “Razões para guerra”

Todas as vezes que os EUA entraram nas guerras do século XX  foram precedidas de fatos que a história descobriu serem mentiras…

Recentemente temos sido brindados com um grande número de filmes do gênero documentário. Uma série deles ganhou um interessante espaço numa ação de divulgação tipicamenteunderground e, naturalmente, todos buscam colocar o espectador frente a novas formas de enxergar o momento histórico que estamos vivendo, podendo instruir a uma nova mentalidade crítica ou a novas atitudes sócio-ambientais, entre outras perspectivas oferecidas.

O filme “Razões para a guerra” (Why we fight), que deverá ser distribuído em breve pela Sony Pictures, é um documentário sem tom histriônico: não tenta modificar a fisiologia humana, não re-inventa a história da humanidade, e nem tenta propor radicalizações comportamentais. Ele apenas informa fatos conhecidos. Com mais clareza! Essa virtude lhe rendeu algumas premiações. E finalmente o público brasileiro poderá conhecê-lo.

De certa maneira, “Razões para guerra”, revisa um tema já visto no excelente “The corporation”, mas o disseca com amplitude. O assunto não é novo: – como a ação corporativa introduz um aspecto novo no movimento militarista da segunda metade do século XX e perverte a forma de agir dos Estados Unidos, pelo estabelecimento de conexões corrompidas entre as empresas – que obtém lucros fabulosos com a manutenção de um verdadeiro ambiente de guerra, que nunca foi abrandado após o início da segunda guerra mundial – com peças chaves do governo americano.

É muito desolador se observar que o mundo moderno, homenageado pelas conquistas tecnológicas, nunca abriu mão de sua postura belicosa. Embora possa parecer um pensamento meio simplista, é possível se pensar que todas as virtudes da tecnologia são “sobras” do desenvolvimento armamentista, não somente as armas em si, mas todos os equipamentos que foram qualificados paralelamente para aprimorar as estratégias de guerra: os novos meios de comunicação, as novas tecnologias de informática, os novos progressos em engenharia etc. Vozes tradicionais poderão argumentar que as vantagens que foram disponibilizadas devem sobrepor-se às mazelas bélicas. Mas talvez isso não passe de visão tolerante, típica das pessoas que não querem se sentir responsáveis pelo sofrimento de outrem.

Todos sabemos que a maioria da população mundial não tem acesso às virtudes dos avanços tecnológicos atuais. Também sabemos que é muito difícil que as milhões de mortes provocadas direta ou indiretamente pelo contínuo estado de guerra tenham um custo menor que as eventuais vantagens dos progressos que imaginamos ter alcançado. Pior ainda seria propor que tais mortes fariam parte do “investimento” para o progresso.

Razões para a guerra” começa de um ponto importante, mas meio esquecido da história: a advertência que o presidente Dwight D. Eisenhower fez ao povo americano sobre a necessidade da população ficar muito atenta sobre o modo de se fazer controle sobre a crescente importância econômica da indústria armamentista na época em que ele se retirava do governo. O filme utiliza como linha de condução da narrativa as impressões de um cidadão comum de Nova York que foi brutalmente tocado pelo 11 de setembro. À medida que o filme avança, esse personagem vai mostrando as modificações na sua postura frente aos progressos que faz no conhecimento dos fatos pertinentes a essa simbólica catástrofe americana. Uma catástrofe que gerou intenso sofrimento em pessoas comuns e incalculáveis lucros para uma parcela importante do poder daquele país.

O documentário mostra ainda como uma pessoa comum responde à pergunta: “Por que nós lutamos?”. “Lutamos pela liberdade” vai ser uma resposta chavão. Essa resposta faz parte de uma cultura que tentou justificar a guerra pelos melhores motivos. Não se deve esquecer que “Why we fight” era o título de uma série dirigida pelo diretor Frank Capra, na época da segunda guerra, que visava familiarizar o povo americano com seus soldados – foi uma série tipicamente propagandista da guerra. A boa propaganda é muito eficiente em montar mentalidades.

Essa e outras informações são mostradas nesse excelente documentário, feito, por incrível que pareça, por americanos! Se nós queremos defender e promulgar a paz, sem dúvida, precisamos conhecer, e bem, as razões para a guerra!

(José Carlos Brasil Peixoto, 160207)

(Why we fight – diretor: Eugene Jarecki, 2005, duração aproximada: 100 minutos; Sony Pictures, já disponível em DVD)

(Filme premiado com o grande prêmio do Júri do Sundance Festival de 2005)

Veja o trailer do documentário:
 

 

Redação

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