A questão não é Donald Trump – somos nós, por John Pilger

Sugestão de Almeida

do Resistir.info

A questão não é Donald Trump – somos nós, por John Pilger

No dia da tomada de posse Trump como presidente, milhares de escritores nos Estados Unidos manifestarão sua indignação. “Para sanear e avançar…”, diz Writers Resist, “desejamos superar o discurso político directo, em favor de um enfoque inspirado no futuro e nós, como escritores, podemos ser uma força unificadora para a protecção da democracia”.

E acrescenta: “Instamos organizadores e oradores locais a evitarem utilizar nomes de políticos ou a adoptar “anti” linguagem como seu foco no evento do Writers Resist. É importante assegurar que organizações sem fins lucrativos, as quais estão proibidas de fazer campanhas políticas, se sentirão confiantes em participar e patrocinar estes eventos”.

Portanto, o protesto real tem de ser evitado pois não está isento do pagamento de impostos.
Compare tal disparate com as declarações do Congresso de Escritores Americanos, efectuado no Carnegie Hall, Nova York, em 1935, e novamente dois anos depois. Foram eventos electrizantes, com escritores a discutirem como poderiam confrontar acontecimentos agourentos na Abissínia, China e Espanha. Telegramas de Thomas Mann, C Day Lewis, Upton Sinclair e Albert Einstein foram lidos ali, reflectindo o temor de que enormes forças haviam agora sido desencadeadas e que se tornara impossível discutir arte e literatura sem política ou, na verdade, acção política directa.

“Um escritor”, afirmou a jornalista Martha Gellhorn no segundo congresso, “deve ser agora um homem de acção… Um homem que deu um ano de vida a greves siderúrgicas, ou aos desempregados, ou aos problemas do preconceito racial, não perdeu ou desperdiçou tempo. Ele é um homem que sabia a que pertencia. Se você pudesse sobreviver a tal acção, o que você teria a dizer posteriormente acerca da mesma é a verdade, necessária e real, e perdurará”.

Suas palavras ressoam em meio a excitação e violência da era Obama e do silêncio daqueles que colaboram com seus enganos.

Que a ameaça do poder predatório – desencadeado desde muito antes da ascensão de Trump – tem sido aceite por escritores, muitos deles privilegiados e celebrados, e por aqueles que guardam os portões da crítica literária e da cultura, incluindo a cultura popular, é facto incontroverso. Não é com eles a impossibilidade de escrever e promover literatura destituída de política. Não é com eles a responsabilidade de falar alto, sem se preocupar com quem ocupa a Casa Branca.

Hoje, o falso simbolismo é tudo. A “identidade” é tudo”. Em 2016, Hillary Clinton estigmatizou milhões de eleitores como “um cesto de miseráveis, racistas, sexistas, homofóbicos, xenófobos, islamófobos – o que quiser”. O seu abuso foi apresentado num comício LGBT como parte da sua campanha cínica para persuadir minorias através do abuso da maioria da classe trabalhadora, principalmente branca. Divida e conquiste, chama-se a isto; ou política de identidade na qual raça e género ocultam classe e permitem que se trave a guerra de classe. Trump entendeu isto.

“Quando a verdade é substituída pelo silêncio”, disse o poeta dissidente soviético Yevtushenko, “o silêncio é uma mentira”.

Não se trata de um fenómeno americano. Há poucos anos, Terry Eagleton, então professor de literatura inglesa na Universidade de Manchester, observou que “pela primeira vez em dois séculos não há qualquer poeta, dramaturgo ou romancista britânico apto a questionar os fundamentos do modo de vida ocidental”.

Nenhum Shelley fala aos pobres, nenhum Blake de sonhos utópicos, nenhum Byron amaldiçoa a corrupção da classe dominante, nenhum Thomas Carlyle e John Ruskin revela o desastre moral do capitalismo. William Morris, Oscar Wilde, HG Wells, George Bernard Shaw não têm equivalente hoje. Harold Pinter foi o último a levantar a sua voz. Dentre as insistentes vozes de hoje do consumismo-feminismo, nenhuma ecoa Virginia Woolf, a qual descrevia “as artes de dominar outro povo… de controlar, de matar, de adquirir terra e capital”.

Há algo tanto de venal como de profundamente estúpido acerca de escritores famosos quando se aventuram fora do seu mundo mimado e abraçam uma “causa”. No Guardian de 10 de Dezembro havia uma foto nebulosa de Barack Obama a olhar para os céus e as palavras “Amazing Grace” [1] e “Farewell the Chief”.

A bajulação jorrava como uma torrente de tagarelice poluída página após página. “Ele foi uma figura vulnerável em muitos aspectos… Mas o encanto. O encanto amplo: na maneira e na forma, no argumento e no intelecto, com humor e frescura… [Ele] é um resplandecente tributo do que foi e do que pode ser outra vez… Parece pronto para continuar o combate e permanece um campeão formidável a ter do nosso lado… … O encanto… os quase surreais níveis de encanto…”

Misturei estas citações. Há outras ainda mais hagiográficas e sem atenuantes. O apologista chefe do Guardian, Gary Younge, sempre foi cuidadoso em atenuar, ao dizer que o seu herói “podia ter feito mais”: oh, mas houve as “soluções calmas, ponderadas e consensuais…”

Nenhum deles, contudo, pôde ultrapassar o escritor americano Ta-Nehisi Coates, o beneficiário de uma “licença de génio” no valor de US$625 mil concedida por uma fundação liberal. Num ensaio interminável para The Atlantic, intitulado “Meu Presidente era Negro”, Coates deu novo significado a prostração. O “capítulo” final, intitulado “Quando você sai, leva tudo de mim consigo”, um verso de uma canção de Marvin Gaye, descreve a visão dos Obamas “a saírem da limusine, a elevarem-se acima do medo, a sorrirem, a acenarem, a desafiarem o desespero, a desafiarem a história, a desafiarem a gravidade”. A Ascensão, nada menos.

Um dos traços persistentes na vida política americana é um extremismo fanático que se aproxima do fascismo. Isto manifestou-se e reforçou-se durante os dois mandatos de Barack Obama. “Acredito no excepcionalismo americano com toda a fibra do meu ser”, disse Obama, o qual expandiu o passatempo militar favorito da América, bombardeamento e esquadrões da morte (“operações especiais”), como nenhum outro presidente havia feito desde a Guerra Fria.

OBAMA: 71 BOMBAS POR DIA EM 2016

Segundo inquérito do Council on Foreign Relations, só em 2016 Obama despejou 26.171 bombas. Isto equivale a 71 bombas por dia. Ele bombardeou os povos mais pobres da terra, no Afeganistão, Líbia, Iémen, Somália, Síria, Iraque, Paquistão.

Toda terça-feira – como informou o New York Times – ele seleccionava pessoalmente aqueles que seriam assassinados por mísseis hellfire disparados de drones. Foram atacadas festas de casamento, funerais, pastores, bem como aqueles que tentavam recolher restos dos corpos classificados como “alvos terroristas”. Um importante senador republicano, Lindsey Graham, estimou, aprovadoramente, que os drones de Obama mataram 4.700 pessoas. “Por vezes atingem-se pessoas inocentes e odeio isso”, disse ele, “mas removemos alguns altos membros da Al Qaeda”.

Tal como no fascismo dos anos 1930, grandes mentiras são entregues com a precisão de um metrónomo: graças aos media omnipresentes cuja descrição agora se ajusta àquela do promotor de Nuremberg. “Antes de cada grande agressão, com algumas poucas excepções de conveniência, eles iniciavam uma campanha de imprensa calculada para enfraquecer suas vítimas e preparar psicologicamente o povo alemão… No sistema de propaganda… havia a imprensa diária e a rádio, que foram as armas mais importantes”.

Tome-se a catástrofe na Líbia. Em 2011, Obama disse que o presidente líbio Muammar Gaddafi estava a planear “genocídio” contra o seu próprio povo. “Nós sabemos… que se esperássemos mais um dia, Bengazi, uma cidade da dimensão de Charlotte, poderia sofrer um massacre que teria repercutido por toda a região e manchado a consciência do mundo”.

Era a conhecida mentira de milícias islamistas a enfrentarem a derrota diante das forças do governo líbio. Isto tornou-se a narrativa dos media. E a NATO – dirigida por Obama e Hillary Clinton – lançou 9.700 “incursões de ataque” contra a Líbia, das quais mais de um terço foram destinadas a alvos civis. Foram utilizadas ogivas com urânio; as cidades de Misurata e Sirte foram bombardeamentos em tapete. A Cruz Vermelha identificou sepulturas em massa e a UNICEF informou que “a maior parte [das crianças mortas] tinha menos de 10 anos de idade”.

Sob Obama, os EUA estenderam operações secretas de “forças especiais” a 138 países, ou 70 por cento da população mundial. O primeiro presidente afro-americano lançou o equivalente a uma invasão em plena escala da África. Recordando a Partilha da África (Scramble for Africa) [2] no fim do século XIX, o US African Command (Africom) construiu uma rede de suplicantes entre regimes africanos colaborantes ansiosos por subornos e armamentos americanos. A doutrina “soldado para soldado” do Africom está incorporado nos oficiais estado-unidenses a todo nível de comando, desde o general até o primeiro-sargento. Só estão a faltar capacetes de cortiça.

É como se a magnífica história da libertação da África, desde Patrice Lumumba a Nelson Mandela, fosse remetida ao esquecimento por um novo mestre da elite negra colonial cuja “missão histórica”, advertida por Frantz Fanon há meio século atrás, fosse a promoção de “uma capitalismo desenfreado embora camuflado”.

Foi Obama quem, em 2011, anunciou o que se tornou conhecido como o “eixo na Ásia” (“pivot to Asia”), pelo qual quase dois terços das forças navais dos EUA seriam transferidas para a Ásia-Pacífico para “confrontar a China”, de acordo com as palavras do seu secretário da Defesa. Não havia ameaça da China; todo o empreendimento era desnecessário. Foi uma provocação extrema para manter feliz o Pentágono e suas altas patentes.

Em 2014, a administração de Obama supervisionou e pagou por um golpe fascista na Ucrânia contra o governo eleito democraticamente, ameaçando a Rússia na fronteira ocidental através da qual Hitler invadira a União Soviética, com uma perda de 27 milhões de vida. Foi Obama que colocou mísseis na Europa do Leste apontados para a Rússia; e foi o vencedor do Prémio Nobel da Paz que aumentou as despesas com ogivas nucleares a um nível mais alto do que o de qualquer outra administração desde a guerra fria – tendo prometido, num discurso emotivo em Praga, “ajudar o mundo a livrar-se de armas nucleares”.

Obama, o jurista constitucionalista, processou mais denunciantes do que qualquer outro presidente na história, muito embora a Constituição dos EUA os proteja. Ele declarou Chelsea Manning culpada antes do fim de um julgamento que foi uma farsa. Ele recusou-se a perdoar Manning [3] , que sofreu anos de tratamento desumano o qual a ONU afirma equivaler a tortura. Ele insistiu num caso inteiramente falso contra Julian Assange. Ele prometeu encerrar o campo de concentração de Guantanamo e não o fez.

Depois do desastre de relações públicas de George W. Bush, Obama, o fluente operador de Chicago via Harvard, foi encarregado de restaurar o que ele chama de “liderança” por todo o mundo. A decisão do comité do Prémio Nobel fazia parte disto: a espécie de enjoativo racismo reverso que beatificou o homem por nenhuma razão senão facto de que era atraente para sensibilidades liberais e, naturalmente, para o poder americano, ainda que não para as crianças que ele matava em países empobrecidos, principalmente muçulmanos.

Este é o Apelo de Obama. É o contrário de um apito de cão: inaudível para a maior parte das pessoas, mas irresistível para os embrutecidos e estúpidos, especialmente “cérebros liberais conservados no formaldeído da política de identidade”, como disse Luciana Bohne. “Quando Obama entra numa sala”, emocionou-se George Clooney, “você quer segui-lo para qualquer lugar, seja onde for”.

William I. Robinson, professor na Universidade da Califórnia, e um de um não contaminado grupo de pensadores estratégicos americanos que conservou sua independência durante os anos do apito para cães, desde de o 11/Set, escreveu na semana passada:

“O presidente Barack Obama… pode ter feito mais do que ninguém para assegurar a vitória de [Donald] Trump. Se bem que a eleição de Trump tenha disparado uma rápida expansão de correntes fascistas na sociedade civil dos EUA, uma saída fascista para o sistema político é longe de inevitável… Mas esse combate requer clareza de como actuar diante de um precipício perigoso. As sementes do fascismo do século XXI foram plantadas, fertilizadas e regadas pela administração Obama e a elite liberal politicamente em bancarrota”.

Robinson destaca que “tanto nas suas variantes do século XX ou no emergente século XXI o fascismo é, acima de tudo, uma resposta à profunda crise estrutural do capitalismo, tal como na década de 1930 e naquela que começou com o colapso financeiro de 2008… Há aqui uma linha quase recta desde Obama até Trump… A recusa da elite liberal a desafiar a voracidade do capital transnacional e sua marca da política de identidade serviu para eclipsar a linguagem das classes trabalhadoras e populares… empurrando trabalhadores brancos para dentro de uma “identidade” de nacionalismo branco e ajudando os neo-fascistas a organizá-los”.

A terra preparada para a sementeira é a República de Weimar de Obama, uma paisagem de pobreza endémica, polícia militarizada e prisões bárbaras: a consequência de um extremismo “de mercado” o qual, sob a sua presidência, acelerou a transferência de US$14 milhões de milhões (trillion) de dinheiro público para empresas criminosas na Wall Street.

Talvez o seu maior “legado” seja a cooptação e desorientação de qualque oposição real. A especiosa “revolução” de Bernie Sanders não tem aplicação. A propaganda é o seu triunfo.

As mentiras acerca da Rússia – em cujas eleições os EUA intervieram abertamente – provocaram gargalhadas entre os mais importantes jornalistas do mundo. No país com a imprensa constitucionalmente a mais livre do mundo, o jornalismo livre agora existe só em honrosas excepções.

A obsessão com Trump é um encobrimento para muitos daqueles que se consideram “esquerda/liberais”, como que a pedir decência política. Eles não são “esquerda”, nem tão pouco especialmente “liberais”. A maior parte das agressões da América ao resto da humanidade vieram das chamadas administrações liberais-democráticas – tal como a de Obama.

O espectro político da América estende-se do mítico central até à direita lunar. A “esquerda” são renegados sem lar que Martha Gellhorn descreveu como “uma fraternidade rara e absolutamente admirável”. Ela excluiu aqueles que confundem política com uma fixação acerca dos seus umbigos.

Enquanto eles “curam” e “movem-se em frente”, será que os que fazem campanhas do Writers Resist e outros anti-trumpistas reflectem acerca disto? Mais especificamente: quando será que um movimento genuíno de oposição se levanta? Revoltado, eloquente, um por todos e todos por um. Até que a política real retorno às vidas do povo, o inimigo não é Trump, somos nós próprios.
17/Janeiro/2017

[1] Amazing Grace: hino cristão publicado em 1779, com texto do poeta e clérigo inglês John Newton (1725–1807).
[2] The Scramble for Africa: é uma história da África escrita por Thomas Pakenham
[3] Em 19 de Janeiro, véspera do fim do seu mandato, Obama anunciou a comutação de parte da sentença de 45 anos de prisão de Chelsea Manning. No entanto, não lhe concedeu o perdão presidencial.

O original encontra-se em newmatilda.com/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Redação

9 Comentários

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    1. Make America Great Again!

      “Donald Trump defende o povo contra interesses das empresas pró deslocalização de empregos e contra o complexo militar e de segurança. Seria de esperar que a esquerda norte-americana soubesse defender um presidente tão furiosamente atacado e ameaçado abertamente pela CIA [e por George Soros e a revista Fortune [NTs]). Mas não. Trump é deslegitimado como racista eleito por eleitores racistas.”

      Como assim? Em seu primeiro dia, Trump faz visita a CIA e declara estar 1000% ao lado da CIA.

      Alguma dúvida de que Trump e a CIA vão se ajeitar nas próximas semanas?

      Não vejo a mesma violência verbal contra a direita. O grande inimigo a ser combatido parece ser a esquerda [coloque aqui o seu adjetivo preferido].

      Afe!

  1. É curioso que, após a

    É curioso que, após a Revolução Cubana, os esquerdistas latino-americanos que a apoiavam eram frequentemente acusados de fechar os olhos ao ditador, ao paredón, à perseguição política, supressão de direitos humanos, para se embevecerem diante do charmoso e sedutor revolucionário…

    Diante desse artigo demolidor, que dirão agora dos que sucumbiram diante do charmoso e sedutor Obama? Não ignoraram, igualmente, os crimes e morticínios patrocinados por seu ídolo?

  2. Precisamos de um Trump para dar um jeito na Globo

    Por que Trump diz que vai combater a mídia “com unhas e dentes”

     hare

     

     por : ´Diário do Centro  do Mundo  Ele

    Ele

    Publicado na DW.

     

    A imprensa foi o alvo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no seu primeiro dia completo no cargo, neste sábado (21/01). Ele chamou os jornalistas de desonestos, disse que a mídia inventou a briga dele com a CIA e acusou jornais e emissoras de subestimar o público que acompanhou a sua cerimônia de posse, em Washington.

    Os ataques aconteceram no mesmo dia em que mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de grandes cidades dos Estados Unidos para protestar contra o novo presidente e a favor dos direitos das mulheres e das minorias, que os críticos afirmam correrem risco no governo Trump.

    Neste domingo, o chefe de gabinete de Trump, Reince Priebus, afirmou à emissora Fox News que o presidente está tentando fazer com que a mídia se comporte de forma “honesta”, acrescentando que “há uma obsessão por parte da mídia para deslegitimar este presidente e nós não vamos ficar passivos assistindo a isso”. Priebus disse que o governo vai combater a cobertura midiática desfavorável “com unhas e dentes”.

    No sábado, durante uma visita à sede da CIA, em Langley, na Virgínia, Trump afirmou que os jornalistas estão entre as pessoas “mais desonestas da Terra” e disse que mais de 1,5 milhão de pessoas assistiram à sua cerimônia de posse em Washington, o que fotografias do evento desmentem.

    A visita tinha por objetivo melhorar a relação de Trump com a CIA, depois de ele ter culpado os serviços de espionagem pelo vazamento de um dossiê com informações comprometedoras não comprovadas e ter sugerido que as práticas dos agentes remetem à Alemanha nazista. O então diretor da agência, John Brennan, foi chamado por Trump de “vazador de notícias falsas”.

    Apesar disso, Trump afirmou durante a visita que a sua briga com a agência foi inventada pela imprensa. “Eu estou em guerra com a imprensa. Eles estão entre os seres humanos mais desonestos da face da Terra, e eles fizeram parecer que eu tinha uma briga com a comunidade de inteligência”, afirmou. “É exatamente o oposto. Eu amo vocês e respeito vocês. Eu estou mesmo do lado de vocês.”

    Segundo o New York Times, Nick Shapiro, um dos principais assessores de Brennan, disse que o ex-diretor da agência está profundamente triste e irritado com a “lamentável autoglorificação” exibida por Trump diante do memorial dos heróis da CIA. “Brennan disse que Trump deveria se envergonhar de si mesmo”, acrescentou Shapiro. Brennan renunciou ao cargo nesta sexta-feira.

    Polêmica sobre participação popular na posse

    Durante a visita, Trump aproveitou para questionar a cobertura de sua posse. “Eu fiz um discurso. Eu olhei para frente, o espaço estava… parecia um milhão, um milhão e meio. Eles mostraram um espaço onde não havia praticamente ninguém por lá”, declarou aos agentes. “Nós os pegamos de jeito. E eu acho que eles vão pagar caro.”

    O presidente ainda atacou um jornalista da revista Time que afirmou que ele removeu um busto de Martin Luther King Jr. do Salão Oval da Casa Branca. “É assim que a imprensa é: desonesta”, disse Trump. O jornalista reconheceu seu erro e disse que uma porta e um segurança taparam sua visão do local. A Time também publicou uma retificação.

    Mais tarde, o porta-voz de Trump, Sean Spicer, acusou as empresas de comunicação de “deliberadamente reportar de forma falsa” sobre o número de participantes da cerimônia de posse para tentar “semear a discórdia” num momento em que Trump estaria tentando unir o país. Ele disse que o governo fará a imprensa prestar contas do que faz.

    Spicer acrescentou que Trump “atraiu o maior público que já acompanhou uma posse e ponto final. Essas tentativas de diminuir o entusiasmo com a posse são vergonhosas e equivocadas.” Spicer, porém, admitiu que ninguém tem números oficiais porque as autoridades locais não fornecem esse tipo de informação.

    Kellyanne Conway, conselheira do presidente, foi questionada neste domingo, em entrevista à emissora NBC, sobre por que Spicer deu declarações que podem ser facilmente provadas falsas e disse que o porta-voz simplesmente ofereceu “fatos alternativos”, uma expressão que causou espanto e indignação entre jornalistas e nas redes sociais.

    Diversas estimativas afirmam que cerca de 1,8 milhão de pessoas participaram da primeira posse de Obama, em 2009, no mesmo local onde ocorreu a de Trump. Nesta sexta-feira, autoridades de Washington esperavam um público de cerca de 900 mil durante a posse do magnata.

     

  3. Crayg Roberts, Olavo de Carvalho, Trump

    Faz tempo que Paul Craig Roberts me faz lembrar o nosso “filósofo” astrólogo, Olavo de Carvalho.

    Bem…  talvez a minha impressão não seja totalmente desprovida de fundamento.

    Acabo de encontrar duas pequenas notas do astrólogo na qual Roberts é citado. Ao contrário daqueles a quem Olavo de Carvalho abomina, Craig Roberts não é vilipendiado.

    Naturalmente isso é muito pouco para comprovar a minha tese da proximidade ideológica entre os dois… Mas a pergunta fica…

    ooops… Carvalho também termina a sua nota com a mesma expressão (ver abaixo).

    Agora, que a proximidade ideológica dos dois é espantosa, ah isso é.

    Duro é ver o compartilhamento de teses semelhantes pelos seguidores de Roberts e pelos seguidores de Olavo de Carvalho. Os primeiros se dizem de esquerda. Os segundos não escondem serem de direita.

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    Olavo de Carvalho

    20 de junho de 2016 ·

    Paul Craig Roberts, que foi assessor direto do Presidente Reagan, fez estes dias uma pergunta aterrorizante: Por que, com todo o alarde sobre o “massacre de Orlando”, não apareceu até agora na grande mídia um único cadáver, um único ferido?
    Tirem as conclusões que quiserem, mas a pergunta fica.

    —-

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    Olavo de Carvalho curtiu Paul Craig Roberts.

    20 de junho de 2016 · Paul Craig RobertsFigura públicaPaul Craig Roberts9.693 curtidas

    —————-

    Bem… para não ficarem apenas nas minhas impressões, sugiro uma pesquisa no gúguel com o nome dos dois.

    Finalmente, o site, reconhecidamente de extrema-direita “Mídia sem Máscara”, no qual Olavo de Carvalho é um dos seus mais principais colunistas, também defende Donald Trump com argumentos bastante semelhantes:

    http://www.midiasemmascara.org/artigos/internacional/estados-unidos/16902-2017-01-18-15-18-43.html

     

     

    1. Roberts sempre militou com os republicanos.

      Nos últimos anos tem sido um crítico severo do neoliberalismo, dos neocons, das grandes corporações, da política externa belicista americana e outras mazelas do capitalismo globalizado e do seu país. Roberts é republicano desde a época, em que o fiofósofo com o curso ginasial incompleto frequentava tariqa, depois de sair do hospício sem alta, e ensaiava de astrólogo, muito antes de posar de trumpista.

      Quanto a midia sem máscara, esse pessoal ainda não entendeu que Trump não veio para reeestabelecer a moralidade cristã, mas para tentar salvar o capitalismo de si próprio; que quem corrói toda moralidade e corrompe todas religiões é o materialismo implícito das mercadorias, da ganância e do dinheiro divinizado no capitalismo.

      Um abraço.

  4. Paul Krugman, hoje, na Folha

    Trump fez grandes promessas durante campanha e risco de desilusão é alto

    23/01/2017 10p9
    Se os Estados Unidos vivessem sob um sistema parlamentarista, Donald Trump —que passou seu primeiro dia como presidente tendo um faniquito por causa de reportagens que apontaram, com precisão, o baixo comparecimento de público à sua posse— já estaria enfrentando um voto de desconfiança. Como o nosso sistema é outro, teremos de descobrir como sobreviver a quatro anos disso.

    E como é que ele vai reagir a números decepcionantes sobre coisas que realmente importam?

    Em seu lúrido e horrendo discurso de posse, Trump retratou um país em péssima situação —”a carnificina norte-americana”. O país verdadeiro não se parece com isso em nada. Há muitos problemas, mas as coisas poderiam estar piores. Na verdade, é provável que elas de fato piorem. E como é que um homem incapaz de enfrentar até o mesmo o mais modesto abalo de seu ego lidará com isso?

    Vamos falar sobre as más notícias previsíveis.

    Primeiro, a economia. Quem ouve Trump imaginaria que os Estados Unidos estão em meio a uma depressão em larga escala, com “fábricas enferrujadas espalhadas como lápides por todo panorama de nosso país”. O emprego na indústria de fato caiu, de 2000 para cá, mas o nível de emprego geral subiu, e o desemprego é baixo pelos padrões históricos.

    E não é só um indicador que parece bom. Os salários em alta e a ascensão no número de norte-americanos que se sentem confiantes o bastante quanto à economia para pedirem demissão de seus empregos voluntariamente sugerem que a economia está próxima do pleno emprego.

    O que isso quer dizer é que o desemprego dificilmente cairá muito, de seu patamar atual, e portanto, mesmo com boas políticas econômicas e boa sorte, a criação de empregos será muito mais lenta do que nos anos Obama. E porque coisas ruins acontecem, existe uma forte probabilidade de que o desemprego seja mais alto dentro de quatro anos do que é hoje.

    Oh, e os deficit orçamentários que Trump expandirá provavelmente ampliarão o deficit comercial, e com isso é provável que o emprego na indústria caia, em lugar de subir.

    Uma segunda frente quanto à qual as coisas certamente vão piorar é a saúde. O plano de reforma da saúde de Obama (Obamacare) causou uma forte redução na porcentagem de norte-americanos desprovidos de planos de saúde, para o mais baixo total histórico.

    Sua revogação causaria uma disparada imediata no número de pessoas desprovidas de cobertura —de acordo com estimativas do Serviço Orçamentário do Congresso, 18 milhões de pessoas perderiam sua cobertura de saúde no primeiro ano da revogação, e o total posteriormente poderia atingir 30 milhões de norte-americanos.

    E, não, os republicanos que passaram sete anos sem propor uma alternativa real para substituição do plano não desenvolverão uma nova proposta nas próximas semanas, se é que a desenvolverão um dia.

    Quanto a uma terceira frente, o crime, as tendências futuras são incertas. A visão de Trump, de áreas urbanas devastadas por “crimes, e gangues e drogas” é só uma fantasia distópica. Os crimes violentos na verdade estão em profunda queda, a despeito do alarde feito recentemente quanto à alta no número de homicídios em algumas grandes cidades.

    Imagino que o crime poderia cair ainda mais, mas também pode subir. O que sabemos é que o governo Trump não será capaz de pacificar as zonas de guerra urbanas dos Estados Unidos, porque elas não existem.

    Assim, como Trump lidará com as más notícias sobre alta no desemprego, queda severa na cobertura de saúde e pouca, se alguma, redução no crime? A resposta é óbvia: ele negará a realidade, da maneira que sempre faz quando ela ameaça seu narcisismo. Mas será que seus eleitores o acompanharão nessa fantasia?

    Pode ser que sim. Afinal, eles bloquearam as boas notícias dos anos Obama. Dois terços dos eleitores de Trump acreditam, falsamente, que o desemprego subiu nos anos Obama. (E 75% deles acreditam que George Soros paga pessoas para que se manifestem contra Trump.)

    Apenas 17% das pessoas que se declaram republicanas estão cientes de que o número de norte-americanos desprovidos de planos de saúde registra uma baixa histórica. A maioria das pessoas achava que o crime estava em alta mesmo quando estava caindo. E por isso pode ser que elas bloqueiem as más notícias dos anos Trump.

    Mas é provável que isso não seja assim tão fácil. Para começar, as pessoas tendem a atribuir melhoras em sua situação pessoal aos seus próprios esforços; com certeza, muitos dos eleitores que conseguiram empregos nos últimos oito anos acreditam tê-lo feito apesar, e não por causa, das políticas de Obama. Será que vão atribuir a culpa por empregos e planos de saúde perdidos a elas mesmas, e não a Trump? Improvável.

    Além disso, Trump fez grandes promessas durante a campanha, e por isso o risco de desilusão é especialmente alto.

    Será que ele vai responder às más notícias aceitando a responsabilidade e tentando se sair melhor? Ou vai renunciar á sua fortuna e entrar para um mosteiro? São duas soluções com igual probabilidade de acontecer.

    Não, o egomaníaco em chefe, com toda a sua insegurança, certamente tentará negar as verdades desconfortáveis, e atacará a mídia por reportá-las. E —isso é o que mais me preocupa— é bem provável que empregue o seu poder para fuzilar os mensageiros.

    Falando sério, como é que vocês acham que um homem que comparou a CIA (Agência Central de Inteligência) aos nazistas vai reagir quando o Serviço de Estatísticas do Trabalho reportar uma primeira alta no desemprego ou queda no emprego industrial? O que ele fará quando os Centros de Controle de Doenças ou o Serviço de Recenseamento reportarem uma alta no número de norte-americanos desprovidos de cobertura de saúde?

    Você talvez tenha imaginado que o faniquito da semana passada foi ruim. Mas faniquitos muito, muito piores estão por vir.
    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    1. Paul Krugman

      Paul Krugman prêmio “nobel” de economia, não é um economista de esquerda, embora, dentro do espectro político norte-americano alguns o considerem assim. É o que lá chamam de um liberal.

      Nas últimas eleições, por exemplo, apoiou enfaticamente Hilary Clinton contra o candidato democrata, Bernie Sanders.

      Em relação aos republicanos e a Donald Trump, Paul Krugman tem sido implacável, mesmo antes das eleições de novembro.

      Agora, entre Paul Krugman e Paul Craig, me parece existir um abismo, não só ideológico e intelectual, mas principalmente de coerência. Confio muito mais no primeiro do que no segundo.

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