Donald Trump na hora da Zona Morta, por Fábio de Oliveira Ribeiro

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Um dos aspectos mais interessantes da última eleição norte-americana foi o terremoto causado Donald Trump quando ele disse que seu país deveria usar armas nucleares para resolver disputas militares. O resultado foi imediato: uma vez eleito e empossado Trump não terá acesso imediato aos dispositivos que permitem usar bombas nucleares. Além disto, alguns congressistas estão tentando limitar o poder presidencial de autorizar o emprego daquelas armas de destruição em massa.

Uma vez mais a realidade não se ajustou à ideologia. No filme The Dead Zone (1983), um autêntico líder operário pode chegar à presidência dos EUA. Todavia, Greg Stillson é impedido de seguir em frente pelo protagonista Johnny Smith (jovem que adquiriu a capacidade de ver o futuro após ficar em coma por causa de um grave acidente de veículo). Ao apertar a mão de Stillson, Johnny vê que ele será eleito presidente e iniciará uma guerra nuclear. Johnny mata o futuro presidente dos EUA antes dele chegar ao poder e provocar a morte de milhões de norte-americanos.

O dilema de Johnny Smith é evidente. Como pode ele ter certeza de que agiu corretamente se, ao interferir nos acontecimentos, ele mesmo impediu um curso de ação que poderia ou não produzir o resultado antevisto?

A outra questão levantada pelo filme é mais delicada. Porque um líder genuinamente operário faria algo que seria prejudicial aos próprios operários que ele defende e gostaria de representar na presidência dos EUA?  The Dead Zone dá a entender que somente as pessoas ricas podem exercer o poder. Portanto, a ideologia do filme se ajusta perfeitamente às crenças que difundidas pelos dois principais partidos políticos norte-americanos com a ajuda da imprensa daquele país.

Os fatos, porém, contrariam a ideologia de The Dead Zone. Donald Trump não é um líder operário. Ele nasceu rico e ficou milionário atuando como empresário do setor da construção civil. O desejo dele de usar armas nucleares em conflitos militares (fato que provocou reações justificadas da imprensa, dos militares e dos congressistas norte-americanos) contradiz em tese os interesses da classe a que ele pertence. Afinal, se atacar um país que tem armas nucleares Trump provocará uma reação igualmente devastadora que pode levar à destruição de algumas cidades nos EUA.

Trump, um milionário, encarnou o temor produzido pelo operário Greg Stillson do filme The Dead Zone. Ao invés de tentar de matá-lo, os norte-americanos estão tentando apenas limitar o poder presidencial. Impossível dizer qual será a consequencia deste curso de ação.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

5 Comentários

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  1. Se o Comandante supremo não pode apertar o botão, quem pode?

    Ninguém vai apertar botão nuclear nenhum pois a ameaça de destruição é muito mais útil do que a destruição em si.

    O código diário
    Por Janos Biro 16/09/2007 às 17:44

    Uma ficção.

    Certa vez um homem fez uma bomba e a instalou secretamente nas fundações de um prédio. A bomba estava programada para explodir ao meio-dia em ponto, a não ser que o homem entrasse com um código num aparelho que ele tinha instalado no porão de sua casa. Nesse caso a bomba explodiria ao meio-dia do outro dia. Todo o dia o homem entrava com o código para não explodir a bomba ainda. Ele fez muitas bombas idênticas a essa, e começou a espalhá-las por todos os prédios, bancos, hospitais, escolas, igrejas, postos de gasolina, lojas e todo tipo de construção em que ele pudesse se infiltrar. Dia após dia, ano após ano, o homem se dedicou a instalar secretamente essas bombas, que explodiriam todas juntas caso ele não digitasse o código antes do pôr do sol.

    Ele percebeu a grandiosidade do seu trabalho, então ele encontrou um herdeiro para continuar sua obra. Este herdeiro encontrou mais pessoas, e logo eles fundaram uma sociedade secreta dedicada exclusivamente a instalar bombas nas fundações de todo tipo de construção. Expandiram tanto que começaram a espalhar também em algumas mansões, condomínios, áreas de recreação, bares, restaurantes e até nos bombeiros e nas delegacias de polícia. Com mais organização e tecnologia, fizeram bombas discretas o suficiente para ser instaladas em casas comuns, mesmo em casas pequenas do interior, e mesmo favelas. Também havia bombas potentes o suficiente para explodir centros culturais, estádios, jardins, indústrias, estúdios de televisão, museus, aeroportos, universidades e parques de diversão. Comemoraram muito quando instalaram nos centros administrativos, no congresso, na câmera dos deputados, nos tribunais de justiça e também nas prisões.

    Muitos anos depois, quando os membros da sociedade secreta já eram pessoas influentes no governo, uma discussão os dividiu. Uma parte pretendia continuar espalhando as bombas eternamente, pois acreditavam que o objetivo não era destruir, mas manter tudo sob uma contínua ameaça de destruição, para que a sociedade funcione corretamente. A outra parte acreditava que as bombas precisavam ser detonadas em algum momento, para completar a obra, ou todo trabalho seria inútil. Mas eles não entravam em acordo sobre quando detonar as bombas. Alguns diziam que deveria ser ao acaso, no dia em que todos eles se esquecerem de entrar o código antes do pôr do sol…

     http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2007/09/393986.shtml

  2. Nao conheco o filme mas o

    Nao conheco o filme mas o livro eh lindo, Fabio, Stephen King em sua melhor fase.  Dos mais ou menos 15 livros dele que li so gostei mais de Firestarter.

    A mensagem do autor King, no entanto, era sobre um cavalo de Troia, nao era essa que voce entendeu (corretamente, diga se) do filme.

  3. O PLANO TRUMP
    Introdução
    Vou

    O PLANO TRUMP

    Introdução

    Vou fazer um comentário procurando demonstrar como a política do presidente Trump consiste em uma inflexão na política externa norte-americana praticada nas últimas décadas no Oriente Médio e na Ásia Central, passando por uma breve introdução histórica desses eventos e discutindo os planos estratégicos para a área, principalmente a estratégia dos gasodutos e a iniciativa chinesa para a conexão dos dois maiores mercados do mundo(UE e China)por meio do desenvolvimento da Nova Rota da China(one road, one belt).

    Discordo dessa análise, na verdade, ao defender o uso de armas nucleares, o que Trump está fazendo é defender a restauração do equilíbrio estratégico entre os EUA e a Rússia, o que está de acordo com sua política de distensão com os russos.

    Nas últimas décadas, os EUA vem tentando destruir o equilíbrio estratégico garantido pela dissuasão nuclear de duas formas: pelo desenvolvimento tecnológico(o escudo anti-míssseis)e as guerras de baixa intensidade(as revoluções coloridas).

    Dada a inviabilidade técnica do escudo anti-mísseis, os EUA começaram a agir por meio de guerras de baixa intensidade, por meio de armamentos convencionais, promovendo a desestabilização em territórios sensíveis à segurança nacional russa. Foi assim na Georgia(berço das revoluções coloridas, como a sofrida pelo Brasil com o impeachment de Dilma Roussef), e, mais grave, na Ucrânia, onde o objetivo final era a tomada da base naval russa na Criméia, desafiando a hegemonia russa no mar negro(essa estratégia se desenvolveu em paralelo com a guerra de desestabilização da Síria, sede da base naval russa no mediterrâneo. Ou seja, é claro o objetivo de contestar o poderio naval russo no mediterrâneo e mar negro, o que permitiria aos americanos expandir sua influência adentro do território russo).

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%B5es_coloridas

    O mapa abaixo evidencia a estratégia de cercamento da Rússia por países membros da Otan, países desestabilizados por revoluções coloridas promovidas pelos EUA(Ucrânia, Síria, Georgia, Quirgiquistão) e países diretamente invadidos(Iraque, Afeganistão).

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    Vale lembrar que a estratégia americana na Ásia Central teve início ainda no governo Carter, com o apoio aos mujahedins(que incluiam um jovem Osama bin Laden)contra as tropas soviéticas no Afeganistão, sendo esse apoio americano ao fundamentalismo islâmico o embrião do que seria o Estado Islâmico.

    Há também o apoio americano às madrasas – escolas religiosas islâmicas, como missões cristãs, mas que servem como pontos de endocrinação ideológica e recrutamento de fundamentalistas, sendo amplamente utilizadas pela Arábia Saudita para promover a ideologia wahabi pelo mundo islâmico – estabelecidas pelo turco Fethullah Gulen na Ásia Central, acusada de promover o fundamentalismo islâmico na região.

    https://es.wikipedia.org/wiki/Movimiento_de_G%C3%BClen

    Um mapa ampliado da região demonstra a coordenação de movimentos, supostamente isolados, na estratégia maior de expansão do poderio americano na área.

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    Percebam a continuidade territorial formada por países membros da OTAN, países acometidos por campanhas de desestabilização, e países invadidos durante a Guerra ao Terror.

    Com a guerra no Afeganistão, os EUA estabeleceram uma base aérea no Quirgiquistão, país estrategicamente localizado na fronteira com a China.

    Nesse ponto, não pode-se negligenciar a convergência de interesses entre os americanos e os fundamentalistas islâmicos, que, com apoio americano, poderiam se expandir do Oriente Médio até as fronteiras da China, exercendo sua influência sobre movimentos islâmicos separatistas da Rússia(Chechênia)e da China(os Uigures de Xinjiang).

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    https://es.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Chechena

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    https://es.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Chechena

     

    Percebam como esses territórios alvos de invasões e guerras de desestabilização se encontram na rota dos gasodutos russos e chineses.

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    Image result for russia china pipeline map

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    https://es.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_energ%C3%A9tica_de_Rusia

    Esses territórios se encontram também na rota da Nova Rota da Seda, a iniciativa chinese de promover a integração comercial dos dois maiores mercados do mundo(UE e China).

    Image result for one road one belt map

     

    https://es.wikipedia.org/wiki/Iniciativa_del_Cintur%C3%B3n_y_Ruta_de_la_Seda

    Related image

     

    A ESTRATÉGIA TRUMP

    Ao meu ver, pelos indicativos dados até agora, a estratégia Trump representa uma reversão da política americana para a Ásia Central(o que envolve o relacionamento americano com a Rússia e a China), desde ao menos o governo Carter, levada adiante por governos democratas e republicanos(no discurso de posse, Trump ressaltou que seu governo não era nem republicano, nem democrata, mas o retorno ao poder do “povo americano”).

    Na estratégia Trump, ao invés do confronto, sua política de distensão com a Rússia demonstra o interesse de engajar os EUA economicamente nos enormes projetos russos e chineses, em detrimento das iniciativas militares predominantes nos governos anteriores.

    O RETORNO DO REALISMO NA POLÍTICA EXTERNA AMERICANA

    Outro aspecto interessante na eleição de Trump seria o retorno dos EUA a sua política realista, em oposição à tradicional política excepcionalista, da qual as revoluções coloridas(supostamente de povos lutando pela Democracia, mas na verdade instrumentos da perseguição de objetivos geoestratégicos dos EUA).

    Nesse ponto, percebe-se muitas semelhanças entre o contexto da presidência Trump e do governo Nixon(1969-1974). Assim como Nixon, Trump chega à presidência num momento difícil, onde os EUA se encontram estagnados em uma crise econômica que desafia os fundamentos da arquitetura financeira global(no caso de Nixon, o fim do sistema Bretton Woods I, cujo marco é o abandono dos EUA, em 1971, da política de paridade ouro-dólar, com a flutuação da moeda americana e a reforma da carta do FMI(Acordos Smithonianos).

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Choque_Nixon

    https://es.wikipedia.org/wiki/Nixon_Shock

    De igual maneira, Trump herda não apenas uma economia americana em situação de dificuldade, mas também uma arquitetura financeira internacional fortemente contestada, seja pelas populações dos países desenvolvidos, há quase uma década em grave crise financeira, seja pelas potências econômicas emergentes, principalmente os países organizados nos BRICS, que reclamam uma nova arquitetura financeira internacional.

    https://es.wikipedia.org/wiki/BRICS

    Também semelhante é o contexto geopolítico, caracterizado, no caso de Nixon, pela derrota americana na Guerra do Vietnã, que foi concluída pelo governo Nixon. No caso atual, os acordos de paz da Síria, sendo negociados no Cazaquistão sem a participação dos EUA, tem sido apontada não apenas como símbolo da derrota americana em suas guerras no Oriente Médio, mas praticamente do fim da hegemonia americana na região, que remete à década de 70.

    http://www.informationclearinghouse.info/article45634.htm

    Outra semelhança é o aparente retorno dos EUA às políticas Realistas, como as praticadas durante o governo Nixon, que teve como chanceler o dr. Henry Kissinger, principalmente em relação à diplomacia triangular praticada pelo governo Nixon com a Rússia e a China, que parece ser a opção de Trump para lidar com esses países no momento atual.

    http://thediplomat.com/2016/08/is-kissingers-triangular-diplomacy-the-answer-to-sino-russian-rapprochement/

    Assim, a política de distensão com a Rússia, alardeada por Trump, visaria o fortalecimento dos EUA em sua relação com a China, cuja ascensão é o principal fator de desestabilização do Equilíbrio de Poder mundial na história(lembre-se das palavras de Napoleão, “quando a China acordar, o mundo vai tremer”).

    Desse modo, a defesa do equilíbrio nuclear por Trump corresponde à concordância do presidente americano ao equilíbrio estratégico há muito aceito pelos russos como válido, o que está de acordo com sua alardeada política de distensão com a Rússia.

    Há, aparentemente, duas vertentes na polítca de Trump para esses países: a econômica, que visa substituir o engajamento militar pelas parcerias econômicas(o Secretário de Estado de Trump, Rex Tillerson, foi CEO da EXXON e possui relações muito boas com o Kremlin), e a política, que representa o abondona da política externa excepcionalista, baseada em intervenções em outros países(Trump deixou isso bastante claro em seu discurso de posse)e o retorno à política Realista, baseada em arranjos fundados no Equilíbrio de Poder.

    http://www.ibtimes.sg/trump-names-oilman-russophile-rex-tillerson-next-secretary-state-5469

    A REJEIÇÃO DO PROJETO GLOBALIZANTE

    Por fim, a política Trump de “America First” é o mais duro golpe ao projeto globalista do bloco ocidental. Há muito a rejeição do nacionalismo tem sido uma constante na imprensa adepta às políticas globalistas do projeto neoliberal(o ex-presidente FHC chegou a falar em “nacionalismo botocudo” e chamar os brasileiros de “caipira” em suas críticas a projetos nacionalistas), pois nada menos que o presidente dos EUA, o principal veículo da consecução do projeto globalista, rejeita suas premissas e adota um discurso nacionalista de “America First”.

    A meu ver, o muro que Trump pretende construir entre os EUA e o México, muito mais que uma solução para problemas migratórios e de tráfico de drogas, é, na verdade, um símbolo do retorno das fronteiras e do fim da Era da Globalização.

    https://www.youtube.com/watch?v=i6atiFQQOdM

    O BRASIL

    Por fim, deve-se notar que, assim como no movimento de 1964, o Brasil pós-impeachment vai na contramão das tendências internacionais. Vítima de uma revolução colorida, promovida por movimentos “apartidários” financiados por organizações estrangeiras(George Soros?)e neoliberais tupiniquins, cujo objetivo, como vai ficando cada vez mais claro, é o petróleo do pré-sal, o desmonte e inviabilização de qualquer projeto de desenvolvimento-nacional.

    No caso de 64, a contramão durou até o governo Costa e Silva.

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