EUA: Sanções contra o Irã voltam com força e exceções

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Observatório Político dos Estados Unidos – OPEU

Sanções contra o Irã voltam com força e exceções

por Solange Reis

Como anunciadas pela Casa Branca há alguns meses, as sanções contra o Irã voltaram a ser aplicadas na sua totalidade, na segunda-feira (5). Desta vez, os alvos são os setores financeiro, de energia e frete marítimo.

A decisão americana representa a pá de cal no acordo sobre o programa nuclear iraniano de 2015, assinado entre Teerã e o P5+1, grupo dos membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha.

Em maio deste ano, o governo Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do acordo e reaplicou, parcialmente, as sanções. Na ocasião, foi dado um prazo de seis meses para que os países compradores de petróleo e gás iranianos procurassem alternativas no mercado antes da retomada completa das penalidades.

As sanções integrais, no entanto, isentam alguns aliados e o principal rival. Além da China, Grécia, Índia, Itália, Turquia, Coreia do Sul, Taiwan e Japão poderão manter as importações de petróleo iraniano por outros seis meses. Outros países menos importantes para a política externa dos Estados Unidos, como os do Cáucaso, não foram poupados. Assim, em certa medida, a estratégia americana acaba por fortalecer a posição da Rússia como fornecedora regional de recursos de energia.

À parte a proibição ao comércio, os Estados Unidos também vetaram transações com 50 bancos e instituições financeiras, navios mercantes, a companhia aérea nacional e centenas de indivíduos no Irã. Ativos nos Estados Unidos pertencentes a estas empresas ou pessoas poderão ser congelados ou confiscados.

A intenção dos Estados Unidos é bombardear a economia iraniana, cortando a principal artéria: exportação de petróleo. Outro objetivo é inibir o fluxo de investimentos estrangeiros, que tinham retomado o ritmo parcial depois de 2015.

Estrangular a venda de petróleo dificulta tremendamente a entrada de moeda estrangeira forte no país, especialmente de dólar, que é a divisa mais usada nas transações internacionais. Com o enfraquecimento do rial, as importações gerais iranianas ficarão ainda mais caras do que hoje, e o governo terá que fazer escolhas duras sobre o que importar, prejudicando, inevitavelmente, alguns setores econômicos e a população.

Embora o governo iraniano minimize os efeitos das sanções na economia nacional, as consequências óbvias serão aumento da inflação e do desemprego, com possível inquietação popular e fortalecimento das vozes na oposição.

Derrubar o regime no Irã é um anseio antigo dos Estados Unidos desde a Revolução Iraniana em 1979, independentemente de quem ocupe a Casa Branca. Não seria diferente agora.

De acordo com um artigo do jornal israelense, Haaretz, órgãos de inteligência em Israel acreditam que o governo americano tenha dois objetivos, não necessariamente excludentes.

O primeiro é levar ao Irã à mesa de negociações para assinar um acordo mais rígido e permanente do que o anterior, e obrigar o país a desistir do programa de mísseis balísticos e da estratégia geopolítica regional de oposição a aliados dos Estados Unidos.  O segundo é derrubar o regime dos aiatolás.

Há divergências entre os maiores aliados dos Estados Unidos quanto às duas possibilidades. Arábia Saudita e Israel desejam as duas coisas, mas os europeus discordam de ambas. Para os europeus, o Irã abre muitas possibilidades comerciais a empresas europeias e a queda do regime geraria instabilidade regional, com reflexo migratório para a Europa.

Além disso, os principais países europeus veem na manutenção do acordo com o Irã uma forma de se contrapor às políticas desequilibradas de Trump. Em setembro, União Europeia, China, Rússia e Irã decidiram desenvolver um mecanismo legal de pagamentos para evitar as restrições americanas. Um órgão a ser criado com tal funcionalidade servirá como uma espécie de intermediário entre compradores e vendedor, sem envolvimento direto de bancos privados ou bancos centrais.

O Irã respondeu à medida americana com exercícios aéreos militares e uma declaração do presidente Hassan Rouhani sobre a “situação de guerra” enfrentada pelo país. Rouhani desconsidera voltar a tratar do programa nuclear com os Estados Unidos. “Negociar para que?”, pergunta-se. Conforme atestam a Agência Internacional de Energia Atômica e os demais membros do P5+1, o Irã cumpriu fielmente o acordo de 2015. 

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Irã deveria passar a ofensiva econômica, militar e política.
    O Irã deve fazer uma “cesta de moedas” para sua balança comercial que exclua definitivamente o US dólar, acelerar a integração econômica e militar com a China e agir de forma mais ativa no apoio a populações que estão sob o jugo das monarquias pró-EUA na região. Existe muita insatisfação no Bahrein, na própria Arábia Saudita (a divisão da “casa de Saud” depois do Golpe de Estado de Bin Salman deveria ser explorada) e no Iêmen. O Iraque já é um aliado na região depois que os EUA fizeram “vistas grossas” a tentativa do “Daesh”, com apoio velado de Israel, em dividir o país em vários pedaços. A denúncia da política “dividir para governar” dos EUA e Israel na região tem potencial para angariar até o apoio dos sunitas ao governo iraniano.

    1. Um pouco mais ao Oriente,

      Um pouco mais ao Oriente, nenhuma das duas Coreias aguenta mais a interferência dos EUA. Mais a Oeste, a Alemanha quer ver as tropas estadunidenses pelas costas. Tanto institucionalmente, através de vários estados nacionais, quanto os povos, as pessoas comuns, ninguém aguenta mais esses EUA achacando, atrapalhando os negócios e a evolução civilizatória com sua política “ou eu ganho ou faço você perder”. Sempre violentamente.

      Claro que o eixo Londres-Wall Street em conjunto com Israel, deve intensificar os ataques mas, o que? Vão atacar o mundo todo? Os ataques à América do Sul são o último recurso. Mas pendurarem-se em nós para nos chupinhar através de incompetentes locais não vai durar muito tempo.

      Bem… todo império um dia acaba. E se o do dólar não estivesse em franca decadência, Trump não teria dito “again” em “Fazer a América grande de novo.”

  2. Três episódios que ocorreram

    Três episódios que ocorreram no Mutiply me ensinaram a entender a psique dos gringos.

    Durante vários anos tive um amigo que era veterano da Guerra do Vietnã. Certa feita disse a ele que os EUA perdeu aquela guerra. Ele ficoilu irritado e disse que o país dele nunca perdeu uma batalha. Eu disse que depois da Ofensiva do Tet eles sairam correndo do Vietnã com o rabo entre as pernas e que os vietnamitas ainda estão lá. Nunca mais ele conversou sobre esse assunto comigo.

    Por causa de uma foto de um muro separando comunidades ricas e pobres no Rio de Janeiro briguei com outro gringo. Ele ficou furioso com meus argumentos e apelou para as armas que ele colecionava. Disse a ele que durante aquela noite, quando ele fosse verificar um barulho na porta da frente um amigo meu entraria pela porta dos fundos da casa dele e o pegaria de surpresa. Ele surtou, literalmente… o cara teve um surto de medo. Quando mais eu explorava o medo dele mais ele ficava apavorado. A fragilidade daquele marmanjo armado até os dentes me faz rir até hoje quando lembro o episódio.

    Uma moça gringa se aproximou de mim no Multiply. Ela era ferozmente nacionalista, mais ou menos sofisticada intelectualmente. Ela gostava de fazer comentarios gentis e sempre dizia que ganhava muito dinheiro e viajava o mundo inteiro. Fui dando corda para ela. Certa feita disse que estava em poder de alguns segredos importantes sobre o Brasil e ela tentou me recrutar para “uma agência americana” que valorizaria e pagaria bem minha colaboração. Exposta e ridicularizada ela desapareceu do Multiply.

    Os gringos ficam fazendo bullying contra o Irã, mas a verdade é que eles não conseguirão nada com essas Fake Punições. O petróleo continuará no solo do Irã e/ou será vendido para a China. Nenhum iraniano será recrutado pelos gringos com facilidade. E a verdade é que os gringos estão morrendo de medo do poder que os chineses construíram e construirão comprando petróleo do Irã.

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