O que está em jogo nas investigações do FBI sobre a campanha de Donald Trump?, por Carlos Henrique R. da Siqueira

​O que está em jogo nas investigações do FBI sobre a campanha de Donald Trump?

por Carlos Henrique R. da Siqueira

As investigações do FBI sobre a interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016 parecem estar chegando a seu ponto crítico e podem redefinir o futuro da política nos EUA e além. A equipe do investigador especial Robert Mueller pode ajudar restabelecer algum parâmetro para a verdade num ambiente político global profundamente perturbado pela mentira e a manipulação que vem do coração do poder do império norte-americano.

Após dois anos de trabalho, Robert Mueller já abriu 196 processos divididos entre 36 indiciados, dentre eles 5 ex-integrantes da equipe de campanha de Donald Trump, além agentes ligados ao governo russo. Os documentos abertos ao público até o momento indicam que há evidências suficientes para afirmar que houve algum tipo de intervenção da Rússia, e que ela favoreceu a campanha do atual presidente.

O PRIMEIRO CRIME DE TRUMP
Sabe-se já que o FBI acusa Trump de ter cometidos crimes financeiros referentes a sua campanha. Os pagamentos que ele fez a duas mulheres para que elas não falassem sobre seus casos extra-conjugais foram considerados gastos de campanha, mas eles não foram contabilizados. Os pagamentos foram intermediados pelo seu advogado Michael Cohen, que depois de aceitar cooperar nas investigações, teve a pena estabelecida em 3 anos de prisão.

Não é possível dizer se apenas essa acusação será suficiente para a abertura de um processo de impeachment. Jerry Nadler, deputado democrata que deve assumir a Comissão de Justiça do Congresso em 2019, já disse em entrevista que crimes de campanha são passíveis de impeachment mas não acha que tenham força política suficiente para a abertura do processo. (https://www.youtube.com/watch?v=MWUI9r0erHE)

Porém, se esses crimes não levarem ao impeacument eles certamente serão objeto de processo criminal quando Trump deixar a presidência. E se a pessoa que agiu sob sua orientação cumprirá pena, dificilmente ele escapará de uma condenação. Portanto, a despeito do que aconteça daqui por diante, já se sabe que há grande possibilidade de que Trump seja o primeiro primeiro presidente dos EUA a cumprir pena numa prisão.

A CAMPANHA DE TRUMP E A RÚSSIA
As investigações do FBI já provaram que poucas horas após Donald Trump, em frente às câmaras de TV, pedir explicitamente que a Rússia encontrasse os emails de Hillary Clinton, o diretório central do Partido Democrata e o coordenador de campanha de Hillary, John Podesta, tiveram seus emails hackeados (https://www.youtube.com/watch?v=-b71f2eYdTc?t=21)

Os emails foram hackeados, segundo o FBI, por Guccifer 2.0, um dentre os vários perfis usados pela agência russa de espionagem eletrônica (G.U ou G.R.U) . Pouco depois, ficou provado que Roger Stone, o mentor intelectual da candidatura de Trump, manteve contato com ele. O FBI identificou e processou mais de 10 individuos que trabalham para a agência russa por sua interferência na campanha.

Até agora já foi provado que 16 pessoas ligadas à campanha de Trump atuaram em seu nome junto a autoridades ou representantes informais do governo russo.  

Esse fato não encontra precedente na história dos EUA. Jamais uma campanha eleitoral presidencial se relacionou com um Estado rival, nem de forma tão intensa. As investigações têm mostrado, por exemplo, que de um lado, seu filho e assessores tentaram obter de representantes russos informações comprometedoras sobre Hillary Clinton. E, em outro front,  Michael Cohen e outros assessores negociavam com autoridades russas a construção de uma Trump Tower em Moscou até a véspera das eleições.

Esse caso é mais grave e deve ser um fator de profunda perturbação para o presidente americano. Pois nele estão envolvidos não apenas advogados e assessores, mas seu cunhado e dois de dois de seus filhos. O envolvimento de sua família em potenciais crimes deve dar grande vantagem para o FBI que pode utilizá-la como moeda em troca de cooperação por parte da defesa de Trump.

A DESLEGITIMAÇÃO DA MENTIRA NA POLÍTICA
Mais importante que um eventual impeachment de Donald Trump, o que há de relevante para o resto do mundo nas investigações do FBI é a possibilidade da completa deslegitimação e desmoralização do paradigma de campanha eleitoral conduzida pelo atual presidente e exportada para outros países.

Os EUA têm uma rara oportunidade de restabelecer o valor da verdade no debate público, e condenar de uma vez por todas uma campanha baseada na mentira e na manipulação em níveis nunca antes vistos.

A partir do resultado das investigações de Robert Mueller e sua equipe podem surgir novos marcos para as próximas campanhas eleitorais dentro e fora dos EUA ao colocar no campo da ilegalidade manobras que têm como objetivo minar a confiança pública na informação e abalar as já frágeis bases institucionais da democracia liberal.

 

**Carlos Henrique R de Siqueira é mestre em História e Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília. Atualmente é professor no Instituo de Ensino Superior de Brasília, IESB.

Redação

2 Comentários

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  1. Não tem santo nem amor à verdade nesta história

    O grupo de Trump prefere um confronto com a China, ao contrário dos democratas, que preferem demonizar a Rússia. Por isso, pode até ter havido alguma aliança com a Rússia, mas as investigações e eventuais punições não tem nada a ver com o desejo de restaurar a verdade ou combater manipulações eleitorais.

    O que está em jogo é uma queda de braço entre a extrema-direita nacionalista de Trump e o neoliberalismo globalizante dos democratas e de boa parte dos conservadores, dois grupos que, se preciso, pisam nno pescoço da mãe por conta do poder.

    Não devemos nos esquecer que a dupla dinâmica Obama-Clinton foi responsável pelas primaveras árabes e sul-americanas, pelo caos na Líbia e Síria, financiaram o Estado Islâmico via Arábia Saudita e estavam À beira de um confronto nuclear com a Rússia.

    Por seu lado, Trump não fica atrás em matéria de cometer loucuras militaristas.

    Não há boas intensões nem ninguém santo nesta história.

  2. “Sabe-se já que o FBI acusa

    “Sabe-se já que o FBI acusa Trump de ter cometidos crimes financeiros referentes a sua campanha. Os pagamentos que ele fez a duas mulheres para que elas não falassem sobre seus casos extra-conjugais foram considerados gastos de campanha, mas eles não foram contabilizados. Os pagamentos foram intermediados pelo seu advogado Michael Cohen, que depois de aceitar cooperar nas investigações, teve a pena estabelecida em 3 anos de prisão.”

    Enquanto isso, em um país muito mais civilizado do sul,  disparos de watshapp denegrindo a imagem do candidato opositor e seu partido pagos por empresários que ameaçvam de demissão seus empregados caso não votassem no candidato deles é considerado normal pelo nosso TSE.

    Aquele mesmo TSE que impediu que o candidato favorito conccorresse na mesma eleição daquele.

    Onde os membros do tse brasileiro deveriam estar neste momento?

    R.: No mesmo lugar que o advogado Michael Cohen, que depois de aceitar cooperar nas investigações, teve a pena estabelecida em 3 anos de prisão.” CADEIA.

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