Pronunciamento de líderes do Fed gera efeito dominó

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – O mercado norte-americano encerrou a primeira semana de agosto em queda generalizada, com o índice Dow Jones acumulando desvalorização de 1,49%, e o S&P 500 em baixa de 1,07%. Mas não foi apenas a realização de lucros que impulsionou tal movimento. Os mercados sofreram com os impactos de diversos dirigentes do Federal Reserve – o Banco Central dos Estados Unidos – quanto à sinalização de início dos cortes de estímulos para o mês de setembro.

O efeito dominó dos pronunciamentos dos executivos Dennis Lockhart, de Atlanta, Charles Evans, de Chicago e Richard Fisher, de Dallas foi quase imediato – o volume de negociações foi abaixo do normal e índices como Dow Jones e Nasdaq recuaram consideravelmente desde então. Embora os dirigentes do Fed não tenham sido claros em suas afirmações, eles deixaram o mercado em alerta. Lockhart, por exemplo, disse que as compras de bônus podem ser reduzidas, mas “não necessariamente”, e que a redução dos estímulos deva ser gradativa, durante o último trimestre do ano.

Evans, que é votante no FOMC (Federal Open Market Committee, equivalente ao Comitê de Política Monetária do Banco Central), afirmou a jornalistas na última terça-feira (6) que “claramente não descartaria” a possibilidade e diz que os dados, que “não tem sido muito ruins”, é que dirão as providências a serem tomadas nos próximos dias. Ou meses. Fisher, embora não votante, foi mais taxativo durante uma palestra no início da semana. “Não confiem no Banco Central”, afirmou.

Tais depoimentos foram dados em meio ao frisson causado pela queda no déficit comercial norte-americano, que atingiu US$ 34,22 bilhões em junho – melhor que as projeções de US$ 43,5 bilhões. Provavelmente, a cautela em afirmar que a redução vai mesmo acontecer já nas próximas semanas também se deva à discreta recuperação do PIB no segundo trimestre. E como se a agitação no mercado não fosse suficiente, as ações do Washington Post avançaram 4,27% após o anúncio da venda do jornal para o milionário Jeff Bezos, fundador da Amazon, uma das maiores empresas de comércio eletrônico do mundo. O negócio foi fechado por US$ 250 milhões.

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os números do segundo trimestre não avançaram no Brasil também por conta da política do Tesouro dos Estados Unidos. Para ele, o mercado global anda turbulento com a perspectiva da redução dos estímulos monetários no país, e tanto o possível aumento dos juros como a diminuição das injeções de dólares na economia atrapalham o câmbio, configurando-se como um dos fatores que estão “retardando” a retomada de crescimento do país.

“A economia (dos EUA) já está dando sinais de crescimento, sem precisar desta injeção de dólares. Ela só se faz necessária num momento de crise. Como o cenário já dá sinais positivos, (o governo) retira o estímulo e o mantém em caixa”, disse Walter Hupsel, cientista político e professor de Relações Internacionais da Universidade Santa Marcelina.

Hupsel explica que o recente crescimento brasileiro foi à reboque ao preço das commodities internacionais, o que deixou a economia instável. “Houve uma mobilização, mas nossa pauta de exportação depende delas. Nos últimos 10 anos, o aumento foi brutal. Quando elas começam a se acomodar num preço médio, você tem essa desaceleração natural. E torna-se mais caro importar: a alta momentânea pode ser boa para a fatia que exporta, sendo que é commodity”. Sobre as declarações dos dirigentes do Fed, Hupsel acredita que elas foram usadas como uma espécie de termômetro. O Fed usou porta-vozes para medir o apetite do mercado, como ele reage à ideia da redução do estímulo. A medição dos índices em agosto é que dirá qual será a verdadeira atitude do banco central americano.

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, a interpretação e o comportamento do mercado frente às instabilidades é totalmente subjetivo. “De 31 de maio pra cá, a bolsa teve um péssimo desempenho e, até então, não tínhamos a confirmação da liquidez norte-americana, apenas o cenário internacional. Isso rouba capital financeiro de outras economias. Enquanto o mundo estava em crise, as economias emergentes cresceram. E agora, os investidores globais vão começar a se posicionar”, avalia.

Isso também gerou a volatilidade do dólar, além dos 47 mil pontos na bolsa contra 60 mil no período de expansão emergente. Agostini explica que há uma discussão no mercado de que essa redução de recursos possa acontecer só em 2015. A cada quatro reuniões, os membros são trocados, portanto a tendência é de que, na próxima, teremos especialistas muito mais focados na questão deste programa político. Isso afeta o preço dos ativos. A bolsa, por exemplo, está subindo 3% no fim desta semana”, diz. O especialista não prevê mudanças drásticas no cenário para o Brasil, mesmo que o freio do Fed na economia mundial se confirme.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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