A Promessa do Regrexit, por George Soros

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Itália deve ser o ponto mais complicado de se lidar no pós-Brexit

Jornal GGN – Até o momento em que as pessoas do Reino Unido decidiram pela saída da União Europeia, a crise dos refugiados era o maior problema enfrentado pelos europeus. Na verdade, tal crise exerceu um papel fundamental para o desenrolar da chamada “grande calamidade do Brexit”.

“A votação para o Brexit foi um grande choque: na manhã após a votação, a desintegração da União Europeia parecia praticamente inevitável”, diz George Soros, presidente do Soros Fund Management, em artigo publicado no site Project Syndicate. “O desenrolar de crises em outros países da UE, especialmente na Itália, aprofundou os prognósticos sombrios para a sobrevivência da UE”.

Mas, assim como o Brexit foi uma surpresa negativa, a resposta espontânea a ele foi considerada positiva pelo articulista. “Pessoas de ambos os lados da causa – mais importantes, aqueles que sequer votaram (em particular os jovens com menos de 35) – se mobilizaram. Este é o tipo de envolvimento das bases que a UE nunca foi capaz de gerar”, diz Soros.

A turbulência pós-referendo destacou para as pessoas na Grã-Bretanha apenas o que eles têm a perder ao deixar a UE. “Se este sentimento se espalha para o resto da Europa, o que parecia ser a desintegração inevitável da UE poderia criar um impulso positivo para uma Europa mais forte e melhor”, pontua o articulista.

Para Soros, este processo poderia se iniciar na Grã-Bretanha. O voto popular não pode ser revertido, mas uma campanha de coleta de assinaturas poderia transformar a paisagem política, mostrando um novo entusiasmo à adesão da UE. Esta abordagem poderia, então, ser replicada no resto da União Europeia, criando um movimento para salvar a UE, reestruturando-o profundamente. “Estou convencido de que, com o desdobramento das consequências da Brexit nos próximos meses, mais e mais pessoas estarão ansiosas para aderir a este movimento”.

Um ponto considerado problemático por Soros é a Itália, que passa por uma crise bancária e deve ter referendo em outubro. “O primeiro-ministro Matteo Renzi está preso em uma situação de “Catch-22”: se ele não pode resolver a crise bancária em tempo, ele vai perder o referendo”, diz Soros. “Isso poderia levar ao poder o Movimento Cinco Estrelas, um parceiro do pro-Brexit Partido da Independência do Reino Unido no Parlamento Europeu. Para encontrar uma solução, Renzi precisa da ajuda das autoridades europeias, mas eles são muito lentos e inflexíveis”.

O articulista diz que os líderes europeus devem reconhecer que a UE está próxima do colapso e, ao invés de culpar uns aos outros, “eles devem se unir e adotar medidas excepcionais”. Para Soros, é preciso fazer uma distinção entre a adesão à UE e à zona do euro, e os países que não integram a zona do euro não devem sofrer discriminação. “Se a zona do euro quer ser mais integrada, como deveria ser, ela precisa ter sua própria tesouraria e orçamento, para servir como uma autoridade fiscal ao lado de sua autoridade monetária, o Banco Central Europeu”.

Em segundo lugar, a UE deve colocar seu crédito (excelente e largamente inexplorado) em uso. Para Soros, os líderes estariam agindo de forma “irresponsável” ao deixar de empregar a capacidade de empréstimo da UE quando a sua própria existência está em jogo. O reforço das defesas contra inimigos externos e a revisão dos planos europeus para lidar com os refugiados também foram pontos abordados.

“Se a UE progride ao longo destas linhas, ela se tornará uma organização em que as pessoas vão querer integrar. Nesse ponto, uma alteração dos tratados – e uma maior integração – vai voltar a ser possível”, diz o articulista. “Se os líderes europeus não conseguem agir, quem quiser salvar a UE, a fim de reinventá-la deve seguir o exemplo dos jovens ativistas na Grã-Bretanha. Agora mais do que nunca, os defensores da UE deve encontrar maneiras de fazer sentir sua influência”.

 

 

(Tradução e adaptação livre por Tatiane Correia)

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

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  1. é bem por aí. A UE começou em

    é bem por aí. A UE começou em Roma, e pode terminar em Roma.

    Renzi é o último suspiro de uma UE minimamente democrática, ou seja, unida e sem austeridade, uma espécie de UE-anti-Alemanha.

    Se perder o referendo, cai o governo, e provavelmente teremos um Itaxit, já que todos contra Renzi são eurocéticos. 

    Aí…bye bye Europa. O euro só vai valer pra aquele pessoal da numismática.

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