Neste domingo, suíços opinam sobre lei anti-imigração mais rígida

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

do Deutsche Welle

Suíços vão às urnas opinar sobre lei anti-imigração mais rígida

Neste domingo, suíços opinam em referendo sobre “iniciativa contra a imigração em massa”, proposta pelo partido popular de direita. Em jogo, acordos de livre fluxo de pessoas e comércio assinados em 1999 com a UE.

Muitos relacionam a Suíça a montanhas cobertas de neve e contas bancárias bem protegidas. O vizinho ao sul da Alemanha é um popular destino turístico, mas cada vez mais alemães vão para lá para trabalhar. Isso é possível porque o pequeno país neutro fechou um acordo de livre circulação com a União Europeia em 1999. Embora a Suíça não seja membro do bloco europeu, os cidadãos da UE podem emigrar para lá quase sem restrições.

O acordo agora é tema de discussão. Neste domingo (09/02), os suíços irão votar em referendo nacional sobre uma “iniciativa contra a imigração em massa” do Partido Popular Suíço (SVP, na sigla em alemão). O partido populista de direita quer limitar o número de imigrantes e estabelecer cotas.

Todos os anos, cerca de 80 mil imigrantes chegam à Suíça, que conta com uma população de 8,1 milhões de habitantes. Segundo o semanário alemão Zeit, trata-se do maior crescimento populacional do país desde a década de 1960. Anualmente, a Suíça tem um crescimento demográfico do tamanho de uma cidade como Lucerna.

Suíça “superlotada”

Blocher: grande número de estrangeiros prejudica a Suíça

“Empreendemos a iniciativa sob o espírito de que a situação ficou fora de controle”, disse o líder do SVP, Toni Brunner, à emissora estatal alemã SWR. “Temos um alto índice de imigração. Com nossa iniciativa, a Suíça recupera a autoridade de decidir seu próprio destino, de se limitar e selecionar mais no mercado de trabalho.”

Sem o elevado número de estrangeiros – na Suíça essa cifra gira em torno de 23% – a situação no país estaria muito melhor, afirmou Christoph Blocher, vice-presidente e principal mentor do SVP. “Todos os problemas que temos remontam a esse fato”, disse Blocher. “Falta de espaço, falta de habitação, pressão salarial, problemas escolares. O país está superlotado.”

Todos os outros partidos são contra a iniciativa do SVP. Eles acusam os populistas de direita de alarmismo e advertem para um isolamento da Suíça. O Partido Civil Democrático (BDP, sigla em alemão) teme consequências negativas para o país, caso o número de trabalhadores estrangeiros venha a ser reduzido drasticamente.

Racismo generalizado?

Não somente os políticos no Conselho Nacional irão se manifestar sobre a iniciativa anti-imigratória, mas também a população do país. E, entre os suíços, as opiniões sobre os cidadãos estrangeiros nem sempre são positivas.

“Na Suíça, muitas pessoas tendem a ser racistas”, disse Andreas Gross, deputado do Partido Social Democrata da Suíça (SP) no Conselho Nacional, à emissora Deutschlandfunk. Ele conhece bem as queixas de seus conterrâneos sobre cidades lotadas e dumping salarial.

“Muitos suíços estão preocupados, e quanto melhor a situação deles, mais eles se preocupam”, afirmou Gross. Ele disse ainda não compreender as reclamações, nem mesmo tal iniciativa para tentar reduzir o número de trabalhadores estrangeiros. “Temos uma situação privilegiada e devemos isso às pessoas que aqui trabalham.”

Cartaz do SVP: alarmismo dos populistas de direita

Entre esses trabalhadores, estão muitos alemães. Um deles é Jens Eckstein, médico no Hospital Universitário da Basileia. Segundo estimativa da Associação Suíça de Enfermeiros, entre 30% e 40% dos trabalhadores da área da saúde são estrangeiros. Eckstein veio para a Suíça atrás de uma melhor remuneração. Pessoalmente, ele disse não ter tido nenhuma experiência xenófoba no país. “No hospital, gozo de grande apreço, caso contrário eu não estaria mais por aqui.”

A Suíça tem um acordo vinculativo com a União Europeia. O acordo de livre circulação é parte de um pacote de outros sete assinados com a UE. Caso um dos parceiros rescinda um dos tratados, todos os demais também perderiam sua validade.

Em jogo está também o livre acesso ao mercado interno europeu, com seus 500 milhões de clientes. E a Suíça, com certeza, não quer perdê-lo, já que 60% de suas exportações vão para o bloco de países vizinhos.

 

DW.DE

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Dissimulação…

    Suiços com aversão aos alemães? De quem mais investe em seu sistema financeiro? Só na cabeça dos jornalistas da Deutsche Welle mesmo.

    O buraco lá é mais embaixo…

    1. Os suíços sao xenófogos em relaçao a todo mundo

      Estive na Suíça por ocasiao de outra votaçao parecida, na segunda metade dos anos 70. A expulsao nao passou, mas foi por um triz. E a grande maioria dos trabalhadores era formada de italianos, vizinhos, vizinhos.

      Aí em cima há uma foto do cartaz do partido da Direita. Mas vocês precisariam ver os cartazes do partido de esquerda naquela época. Eram quase tao ruins quanto. Defendiam sim que os trabalhadores nao fossem expulsos. Mas de que modo… Um dos cartazes mostrava uma rua cheia de pessoas, com um X sobre a cabeça de 1 em 5 (na época a proporçao de estrangeiros já era de cerca de 20%); e perguntava: Vcs querem pagar os impostos deles? Outro mostrava pessoas lavando latrinas, varrendo o chao, etc., e perguntava: vcs querem fazer os trabalhos deles? Nenhum argumento de solidariedariedade ou abertura humana. 

  2. A VANTAGEM PLEBISCITO POPULAR

    Caso a decisão não seja acertada, ela poderá ser reformulada a qualquer tempo, sem depender da boa vontade dos políticos. Bastando que o povo convoque um novo plebiscito para isso.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador