O alarme Brexit, por Adair Turner

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Livre circulação pode ser boa para todos, desde que existam compensações

Jornal GGN – O resultado do referendo da Grã-Bretanha sobre a adesão à União Europeia causou surpresa em muita gente, e seu resultado quase certamente será a saída do país da UE. Existiu o temor de um fluxo imigratório em grande escala para o Reino Unido poderia gerar uma resposta populista prejudicial ao país, mas o que fica do processo é que a globalização do capital, comércio e fluxos migratórios não são favoráveis a todos e, caso não se saiba lidar com seus efeitos, o Brexit não será a última – ou a pior – consequência.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, o ex-presidente da Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido, Adair Turner, explica que a imigração líquida para a Grã-Bretanha foi próxima de zero no começo dos anos 90, e passou a ganhar força ao longo da década, principalmente após a adesão de oito países ex-comunistas à União Europeia em 2004, quando a Grã-Bretanha – ao contrário, por exemplo, França e Alemanha – renunciou ao seu direito de impor um atraso de sete anos antes de permitir a livre circulação de pessoas dos novos estados-Membros. No ano passado, a imigração líquida foi de 333.000, e a população total cresceu cerca de 500.000.

“A migração, sem dúvida, traz muitos benefícios (…) Mas, como a Comissão de Assuntos Econômicos da Casa dos Lordes, da qual eu era membro, argumentou em 2008, a imigração em grande escala trouxe desvantagens significativas para muitas pessoas”, diz Turner. “O impacto preciso da migração sobre os salários é muito debatido entre os economistas, mas nenhuma economia pode enfrentar um aumento repentino da oferta de trabalho sem algumas consequências adversas para, pelo menos, alguns grupos de trabalhadores ‘nativos'”.

Um súbito aumento popul

acional, muitas vezes concentrado em determinados locais, também leva à superlotação de serviços públicos como educação e saúde, a não ser que seja compensado por um aumento bem planejado do investimento público – e esse investimento não ocorreu no Reino Unido. “Na Inglaterra – que concorre com a Holanda em termos de maior densidade populacional na Europa -, muitos temem que um maior crescimento da população significará uma pressão indesejada sobre o setor doméstico. Isso provocou intensa oposição local ao aumento da infraestrutura, gerando atraso sem fim, aumento dos custos, ou um ressentimento duradouro como resultado inevitável”.

Por conta disso, Turner diz que o aumento da migração para o Reino Unido levou a uma reação política que, em parte, refletiu a xenofobia atiçada por um exagero deliberado. “Os ativistas do ‘Deixar’, por exemplo, mentirosamente sugeriram que a Turquia, com sua rápida e grande expansão populacional, poderia em breve ingressar na UE sem o consentimento da Grã-Bretanha. Mas as mentiras se mostraram eficazes por terem sido construídas sobre um núcleo de verdade, e por se recusar a reconhecer que a verdade apenas intensificou a reação populista”. A negação de autoridades e acadêmicos sobre o racismo e a existência de consequências adversas também ajudaram a aumentar o clima a favor da saída britânica.

“O fracasso da campanha ‘Remain’ no Reino Unido em refutar as preocupações sobre a migração reflete a incapacidade mais ampla da elite global para convencer as pessoas de que a livre circulação de capitais, bens e pessoas é, em geral, boa para todos. Na verdade, ela não é, e a boa economia diz-nos porquê”, diz Turner ao citar que, segundo a teoria econômica, cada uma destas três liberdades pode aumentar o tamanho do bolo global, mas que inevitavelmente haverão perdedores e vencedores, “de modo que a liberalização e a globalização serão boas para todos se os vencedores compensarem os perdedores. Em todo o mundo, tem havido pouca compensação aos perdedores”.

 

 

(tradução e adaptação livre por Tatiane Correia)

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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