O imbróglio das eleições italianas, por Rogerio Maestri

O imbróglio das eleições italianas, por Rogerio Maestri

Ao noticiar os resultados das eleições italianas há uma grande confusão sobre a classificação ideológica dos partidos, o Partito Democratico é citado como um partido de centro-esquerda, já o Movimento 5 Stelle geralmente é citado como um partido de centro-direita. Enquanto os demais partidos que obtiveram uma votação significativa Forza Italia, Lega, Fratelli d’Italia e Noi com l’Italia são citados como partidos de direita.

Porém o que está em jogo não é uma simples denominação de esquerda e direita, mas sim toda uma divisão da Itália e sobrepondo a isto o Europeísmo ou o Eurocepticismo. Entre o norte e o sul da Itália há uma clara diferença, no sul o Movimento 5 Estrelas praticamente domina e se colocarmos o mesmo junto com o Partido Democrático praticamente em toda a Itália a soma destes dois partidos ultrapassa com facilidade 50%.

O problema é a definição que é dado ao Movimento 5 Estrelas, caracterizado como um movimento populista, que em muitos casos significa um movimento com apoio popular. Por outro lado, o Partido Democrático que é definido como um partido de centro-esquerda na realidade é um partido liberal, dominado pelo primeiro ministro Matteo Renzi, que provocou na sua entrada uma saída da esquerda do partido.

A grande confusão que há na interpretação dos partidos e movimentos italianos é o fator Comunidade Europeia. Todos os partidos de direita se dizem eurocéticos exceto o Forza Itália de Berlusconi (que na verdade, não é contra nem a favor, é muito antes pelo contrário!) porém de característica liberais para aumentar a confusão os Fratelli d’Italia se dizem conservadores. No conjunto o grupo formado são liberais e eurocépticos no discurso, duas coisas que entram em choque.

Por outro lado, o Movimento 5 Estrelas é um movimento antipartido, ecologista, adeptos da democracia direta, e como os partidos de direita, eurocépticos.

Em resumo, o que se vê na Itália é um imenso imbróglio, pois nenhum partido ou movimento segue uma linha programática que se possa definir com clareza, podendo resultar em imensas traições aos eleitores que também não souberam muito em quem votaram.

Redação

10 Comentários

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  1. O Movimento 5 Estrelas é

    O Movimento 5 Estrelas é afiliado a uma das duas frentes europeias de extrema-direita, a EFDD (Europe for Freedom and Direct Democracy), do qual fazem parte os notórios UKIP (Reino Unido), AfD (Alemanha) e Democratas Suecos (e os menos notórios, mas não menos perigosos, “Patriotas” (um racha da Frente Nacional) franceses, “Ordem e Justiça”, na Lituânia, e “Liberdade”, na Polônia). Todos eles uma espécie de “fascistas light”.

    Não vamos chamar urubu de meu louro, por favor.

    1. Se fosse simples assim eu o chamaria de Louro ou de Urubu.

      Eu perguntaria algo simples. Pauta antiglobalização é algo de esquerda ou de direita. Pauta ecológica é de esquerda ou de direita. E poderíamos ir daí por diante, as coisas não estão nada claras na Itália, para que fiques completamente perdido e mais confuso que estás, assistas os interessantes vídeos de Diego Fusaro como Hegel nous explique pourquoi le capitalisme déteste la famille et l’État-Nation.

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=4pqIguLeHms%5D

      e El antifascismo heròico de Gramsci y el antifascismo cobarde de la Izquierda actual. 

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=M_bOj9X6GNs%5D

      Depois me explica como define este filósofo.

      Também há o famoso debate entre ele e o Juiz Di Pietro em que Fusaro coloca claramente que a Operação Mani Pulite na Itália foi um GOLPE DE ESTADO, é interessante o debate, pois o Juiz perdeu a linha e o carretel, não aparece no vídeo, mas ele foi direto para o hospital.

      [video:https://youtu.be/Z32sWrgjvJM%5D

      Este vídeo não tem legenda, tem que saber italiano. Caso não entender, podes ler uma pequena carta pós incidente em que o mesmo esclarece o que houve e foi traduzida para o português:

       

      Tradução: Mario S. Mieli

      “Foi o protagonista de um golpe que entregou a Itália à especulação internacional, à lógica cega da privatização integral e à rápida “dessoberanização” no plano monetário e constitucional. Eu disse e repeti. Sem qualquer desmentida. Eu também escrevi isso no meu livro “Il futuro è nostro” (O futuro é nosso) (2014).

       

      Mani Pulite foi o golpe de estadi judiciário e extraparlamentar pelo qual, de acordo com a nova política global, começou a ser destruído o legado de um estado social de tipo keynesiano, embora vítima da corrupção. Mani Pulite foi o golpe de estado que abriu o ciclo catastrófico das privatizações neoliberais, consistente com o mundo pós-1989 e com a catastrófica experiência da União Europeia. Mesmo Maastricht ocorreu – não por acaso – em 1992. A DESTRUIÇÃO DA PRIMEIRA REPÚBLICA.

       

      O objetivo era duplo, com a “longa manus” da monarquia leviatânica do dólar: a) destruir uma forma de Estado que, com Craxi, ainda tinha um vislumbre de soberania econômica, política e militar (ver Sigonella); b) destruir uma “primeira República” que ainda tinha o senso do Estado e dos direitos sociais (do Partido Comunista Italiano, ao Movimento Social Italiano à Democracia Cristã). Mani Pulite, como sabemos, ocorreu com a convergência total da direita (Antonio Di Pietro), do centro (Francesco Saverio Borrelli) e da esquerda (Gerardo D’Ambrosio): o resultado foi a despedida da Primeira República, que ainda conservava um fundo de soberania nacional e de política externa autônoma (Sigonella, 1985) e dos direitos sociais com base keynesiana. A partir daquele momento, o Estado italiano foi irresponsavelmente entregue à especulação internacional, à lógica cega da privatização integral (com a difamação do público e do Estado como “comunistas”, conforme a maníaca retórica de Berlusconi) e à rápida dessoberanização do plano monetário e constitucional.

       

      O segundo golpe de Estado – não mais judicial, mas diretamente econômico – ocorreria em 2011, pela vontade direta do Banco Central Europeu (junta militar-econômica de Mario Monti, “o homem dos mercados”).

       

      DI PIETRO ME INSULTOU TAMBÉM COM AS CÂMARAS DE TV APAGADAS. Eu disse a ele na outra manhã no programa “L’aria che tira”, do canal La7, na presença de Di Pietro, que daquela época foi protagonista. Teve uma reação completamente alterada e, eu diria, delirante: insultos, linguagem chula e gritos. Um show indecoroso, não há nada a ser adicionado. Mas o pior veio depois: sem fôlego, o Sr. Di Pietro continuou a xingar, aproximando-se ameaçadoramente.E depois de gritos incontroláveis, ele colapsou no chão até que o viessem socorrer. Foi isso o que aconteceu. Desejo-lhe tudo de bom e envio-lhe uma saudação calorosa. Não há nada de pessoal, de minha parte. Uma canção de alguns anos atrás dizia: ” La verità ti fa male, lo sai!” (A verdade dói, como você sabe!)”

       

      Discussão a que se refere o Fusaro, entre ele e o Di Pietro, do dia 22 de outubro de 2017 Di Pietro vs Diego Fusaro:

       

      ‘Mani Pulite un colpo di stato? che ca**o stai dicendo vai a cag**!’

       

      Agora se querem mais detalhes da Operação Mani Pulite veja o vídeo de uma conferência (este tem legenda para o espanhol) sobre o assunto.

      [video:https://youtu.be/NrZMNGuy5d8%5D

  2. o imbroglio…..

    A Italia sempre foi um grande imbroglio. Teve um periodo equilibrado e democratico, na imposição da derrota do fascismo na Guerra Mundial. Mesmo assim, passou por décadas, entre atentados e terrorismo . A Italia aprende a viver sob o signo da Opinião Livre e Soberana do seu Povo.    

  3. Se reduzirmos a democracia

    Se reduzirmos a democracia direta a termos mínimos, admnistrada por uma SA.  – A Casaleggio Associados, que tem o controle acionário (e isso não é uma metáfora) do “Movimento”, que controla o sistema de “participação” direta dos cidadãos, um aplicativo chamado Rousseau que, recentemente foi condenado por falta de transparência e segurança na inviolabilidade dos dados (dito em poucas palavras, quem controla o sistema pode manipular os resultados)…aí sim teremos uma idéia do que é o Movimento 5 Estrelas. A isso podemos juntar a péssima qualidade da representação parlamentar, convindo vocês a ouvirem um dos “brilhantes” doscurso de Paola Taverna, senadora da República pelo M5S, ferraz porta-bandeira do movimento no-vax (contra a vacinação obrigatória) porque, como ela mesmo diz, é do setor (de saúde?), por haver trabalhando como secretária em um laboratório. Mas, o pior é o conteúdo, ou melhor a falta dele. Como diz o texto, eles são capazes de dizer e defender tudo e o contrário de tudo numa mesma frase. Baste pensar a famosa “balla” da saída da Itália da zona Euro, empunhada como bandeira e desmentida um sem número de vezes de acordo com o humor do eleitorado. Grillo, demiurgo do Movimento, namora faz tempo com formações de cunho fascistas que estão pululando na península e no Continente. As prefeituras adminstradas pelo Movimento, Roma e Torino in primis, são um desastre.

    1. Não há um namoro de Grillo com os fascistas, o que há é uma…..

      Não há um namoro de Grillo com os fascistas, o que há é uma mesma visão da importância do Estado Nacional, a esquerda francesa de Jean Luc Mélenchon também trilha paralelamente a esta visão.

      O nacionalismo é uma bandeira de resistência contra a financerização do blocos econômicos e pode ser adotado sem e com xenofobia e racismo, que vai diferenciar os dois grupos.

      Para dar um exemplo concreto:

      São eurocéticos em Portugal pela esquerda o Partido Comunista Português, o Partido Operário de Unidade Socialista, o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses e o Movimento Alternativa Socialista (Um pardido marxista-leninista, dois partidos trotskistas e um partido maoista.

      São eurocéticos em Portugal pela direita o Partido Nova Democracia e o Partido Nacional Renovador.

       

      1. Caríssimo, envio dois artigos

        Caríssimo, envio dois artigos que dão suporte à minha afirmação do “flerte” de Grillo com as bandeiras empunhadas pelos movimentos facistas hodiernos que, como disse, pululam na península:

        http://web.rifondazione.it/home/index.php/23-home/20706-grillo-e-il-fascismo-tre-analogie-che-contengono-differenze

        https://www.nextquotidiano.it/m5s-fascismo-casapound/

        Ao fim e ao cabo, não me interessa se o faz por um cálculo eleitoral ou por convicção: fascista é quem fascismo prega. 

        Em tempo, a atual prefeita de Roma, Virginia Raggi, que é do Movimento 5 Estrelas, reesumou inúmeros personagens historicamente ligados à militância fascista e ao terrorismo “nero” dos anos 70 e 80 e que, não por acaso, possuem liames com a máfia, a exemplo da Banda della Magliana. 

         

    1. Nunca.

      Europeísmo é uma corrente política e cultural assente na ideia de que os povos da Europa partilham uma matriz etnocultural única, não obstante as suas identidades específicas, devendo colectivamente desenvolver o processo de unidade do continente, com vista à formação de uma entidade política e jurisdicional supra-nacional.

      Euroceticismo é uma doutrina política asssentada na desconfiança ou na descrença da União Européia.

      Um lado pretende que a Europa crie entidades políticas, economicas e jurisdiscional supra-nacional, o outro lado DEPLORA ISTO.

  4. A confusão tem seu proposito

    O Movimento 5 Estrelas é um partido da chamada extrema-esquerda e como todos os partidos, sejam da extrema esquerda ou direita são mostrados pela imprensa como partidos demagogicos-populistas. A imprensa sempre fazendo o papel dela de controle da informação. 

    Acho que o resultado das eleições na Italia tem o fator de que o Pais esteja dividido com problemas diferentes sendo do norte ou do sul, além do fator dos barcos com migrantes que chegam diariamente na costa italiana. 

    A Italia é, ironia, um pequeno Brasil.

  5. Os Estados Nacionais tornaram-se uma barreira não contra os ….

    Os Estados Nacionais podem se tornar uma barreira não contra os povos, mas sim contra a financeirização internacional imperialista. É importante diferenciar a solidariedade internacional dos povos com o domínio do Imperialismo Internacional contra o Estado Nacional.

     

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