O impacto da Brexit sobre a economia global, por A.Kaletsky

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Questão pode abalar mercados globais e levar a novas insurgências políticas, diz articulista

Jornal GGN – A instabilidade vista nos mercados financeiros antes do referendo do Reino Unido em 23 de junho sobre a possibilidade de seguir na União Europeia mostra que o resultado vai afetar as condições econômicas e políticas no mundo de forma mais expressiva do que a participação de 2,4% no PIB (Produto Interno Bruto) global poderia sugerir. A afirmação é de Anatole Kaletsky, economista-chefe e co-presidente do GaveKal Dragonomics, em artigo publicado no site Project Syndicate.

Um dos pontos para tal prognóstico parte do fato de que o referendo integra uma espécie de fenômeno global, em que revoltas populistas contra partidos políticos estabelecidos, partindo especialmente dos eleitores mais velhos, mais pobres ou menos instruídos “irritados o suficiente para derrubar as instituições existentes e desafiam o ‘estabelecimento’ político e econômico”.  O articulista explica que, na verdade, “o perfil demográfico dos potenciais eleitores favoráveis à Brexit assemelha-se aos dos defensores de Donald Trump nos Estados Unidos e os adeptos da Frente Nacional na França”.

Pesquisas de opinião mostram que os eleitores britânicos favoráveis à saída da UE, por uma larga margem (65% a 35%), se não concluíram o ensino médio, tem mais de 60 anos ou ocupam posições inferiores (“D” ou “E”) nas empresas. Em contrapartida, aqueles que votam pela manutenção (por margem de 60% a 40% e mais) possuem formação universitária, eleitores com menos de 40 anos ou são aqueles de classes profissionais “A” ou “B”.

Na Grã-Bretanha, Estados Unidos e Alemanha, as rebeliões populistas não são apenas alimentadas por queixas semelhantes e sentimentos nacionalistas, mas também estão ocorrendo em condições econômicas semelhantes. “Todos os três países voltaram a mais ou menos o pleno emprego, com taxas de desemprego de cerca de 5%, mas muitos dos empregos criados pagam salários baixos, e os imigrantes recentemente substituíram os banqueiros como bodes expiatórios para todos os males sociais”.

Segundo Kaletsky, o ataque frontal contra as elites políticas tem sido muito bem-sucedido na Grã-Bretanha, a se considerar pelas recentes sondagens Brexit. Segundo o articulista, “só depois que os votos são contados saberemos se as opiniões  expressas aos pesquisadores previram o comportamento da votação em si”.

Esta é a segunda razão pela qual o resultado do Brexit ecoará em todo o mundo. Segundo o articulista, o referendo “será o primeiro grande teste para saber se são os especialistas e mercados, ou as pesquisas de opinião, foram mais perto da verdade sobre a força do aumento populista”. Por enquanto, os analistas políticos e mercados assumem, de forma talvez complacente, que a irritação dos eleitores não reflete a forma como eles vão votar de fato.

Contudo, caso o Brexit vença o referendo no próximo dia 23, as baixas probabilidades atribuídas serão “imediatamente” consideradas suspeitas, enquanto as maiores probabilidades sinalizadas pelas pesquisas de opinião vão ganhar mais credibilidade. Segundo o articulista, isso não ocorre porque os eleitores norte-americanos serão influenciados pelos britânicos mas, para além de todas as semelhanças em termos sociais, “as sondagens de opinião nos EUA e na Grã-Bretanha enfrentam desafios e incertezas semelhantes, devido à quebra de lealdades políticas tradicionais e os sistemas dominados por dois partidos”.

Contudo, o economista diz que a “terceira e mais preocupante questão”, que é a implicação da votação britânica. “Se o Brexit ganha em um país tão estável e politicamente fleumático como a Grã-Bretanha, os mercados financeiros e empresas em todo o mundo serão abalados fora de sua complacência sobre insurgências populistas no resto da Europa e os Estados Unidos. Por sua vez, tais preocupações podem aumentar a preocupação quanto à mudança da realidade econômica. Assim como ocorreu em 2008, os mercados econômicos terão sua ansiedade econômica amplificada, gerando mais raiva anti-establishment e alimentando expectativas ainda mais altas de revolta política”.

Para Kaletsky, a ameaça desse contágio poderia catalisar uma nova crise global – mas, desta vez, “os trabalhadores que perdem seus empregos, os pensionistas que perderem as suas poupanças, e os proprietários de casas que estão presos em patrimônio líquido negativo não serão capazes de culpar “os banqueiros””.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

7 Comentários

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  1. Pouco a pouco o mundo se vai

    Pouco a pouco o mundo se vai aproximando da geopolítica descrita por George Orwell. A Inglaterra se afasta da Europa e certamente vai ficar mais unida aos EUA, formando um bloco. Só falta que a Alemanha e a França rompam com os EUA e acabem com a NATO, passando a compor um bloco geopolítico e econômica com a Rússia. Quanto ao Japão se unir à China para formar um terceiro bloco, ainda não há sinais de que isso possa acontecer. A incipiente amizade entre Rússia e China parece ter apenas o cimento da união circunstancial contra um inimigo comum. Enquanto ela não se afirmar com grandes projetos societários de infraestrutura e de cultura, não se poderá dizer que seja duradoura.

  2. Brexit

    Engraçado mesmo a OTAN fincar “batalhões” na fronteira russa com comandantes “britânicos”, alemães e o terceiro, EUA…

    É o chamado “pirou o cabeção”…

    (EUA, obviamente cai fora…)

    Imagina uma tropa “alemã” na fronteira russa…Seja lá o que isso for (o bosh vai ser “tiro de canhão”?)

    Nem Bismarck tentaria…

     

     

  3. O que ele quer dizer com
    O que ele quer dizer com revolta populista?
    Ele tenta desqualificar os contrários a UE como eleitores velhos, pobres, ignorantes e sem educação. Compará-los com eleitores do Trump entao é demais.
    Os britânicos contrários a UE tem muito boas razões para o serem. Quem pagou o preço mais alto por essa união foram justamente os cidadãos de menor escolaridade e renda. É olha que o Reino Unido não entrou na aventura da moeda única. Se tivesse estaria agora na mesma situação da Itália, quebrada.

  4. Por conta das condições
    Por conta das condições draconianos impostas pela troika, leia-se Merkel e BCE, aos paises sob o regime da moeda unica europeia em crise, Portugal chegou ao ponto de vender hospitais para investidores chineses além de promover um encolhimento recorde da rede pública de ensino, fechando escolas principalmente em áreas com população de baixa renda. É essa realidade amarga que tem impulsionado o voto anti-UE na Gran Bretanha, não a tolice expressa por esse russo pseudo-analista de mercado. Os britânicos de baixa renda tem pavor da truculência da Troika.

  5. Artigo ruim, mas pesquisando encontram-se outros bem melhores

     

    Jornal GGN,

    Vale a leitura pela importância do assunto e também recomenda a discussão trazida por Anatole Kaletsky o fato de o artigo a que esta matéria faz referência ter sido publicada no bom site do Project Syndicate.

    Agora o artigo de Anatole Kaletsky é muito ruim. Eu fui atrás do artigo original para verificar se não houve algum lapso na tradução porque o parágrafo que transcrevo a seguir, e que é quase todo uma reprodução de trecho do artigo de Anatole Kaletsky, cujo título em inglês – “Brexit’s Impact on the World Economy” – é o mesmo do post, pareceu-me bastante sem sentido. O parágrafo em pauta, segundo o que consta aqui no post é:

    “Esta é a segunda razão pela qual o resultado do Brexit ecoará em todo o mundo. Segundo o articulista, o referendo “será o primeiro grande teste para saber se são os especialistas e mercados, ou as pesquisas de opinião, foram mais perto da verdade sobre a força do aumento populista”. Por enquanto, os analistas políticos e mercados assumem, de forma talvez complacente, que a irritação dos eleitores não reflete a forma como eles vão votar de fato”.

    No original em inglês Anatole Kaletsky diz o seguinte:

    “This is the second reason why the Brexit result will echo around the world. The referendum will be the first big test of whether it is the experts and markets, or the opinion polls, that have been closer to the truth about the strength of the populist upsurge.”

    Não faz nenhum sentido dizer que o referendo será um teste entre mercado e especialistas de um lado e os institutos de opinião pública de outro. E pode-se dizer que nem na leitura deste post “O impacto da Brexit sobre a economia global, por A. Kaletsky” apresentando um resumo do artigo de Anatole Kaletsky nem na leitura do próprio artigo obtem-se algum ganho de conhecimeto.

    Agora, há muitos bons artigos ou posts discutindo esse assunto. Só no blog de Simon Wren-Lewis – Mainly Macro – e que estão na primeira página hoje, 22/06/2016, há os seguintes posts com referência ao referendum: a) “Why defeating Brexit is so importante” de quarta-feira, 22/06/2016, b) “Brexit and the Left” de terça-feira, 21/06/2016, c) “More on Brexit and the politicisation of truth” de segunda-feira, 20/06/2016, d) “Brexit despair” quinta-feira de 16/06/2016, e e) “Defending George Osborne on Brexit once again” de quarta-feira, 15/06/2016. E no blog de Paul Krugman foi publicado recentemente o post “Notes on Brexit” de domingo, 12/06/2016 às 01:13 pm. E hoje aqui no blog de Luis Nassif saiu o post “Brexit em contexto, por Michael Spence” de quarta-feira, 22/06/2016 às 11:20, fazendo referência a artigo de Michael Spence publicado também no site do Project Sydicate, mas com um conteúdo bem mais assertivo e conclusivo do que o artigo de Anatole Kaletsky.

    Os endereços dos mencionados post são:

    1) Para o post “Why defeating Brexit is so importante”:

    https://mainlymacro.blogspot.com.br/2016/06/why-defeating-brexit-is-so-important.html

    2) Para o post “Brexit and the Left”:

    https://mainlymacro.blogspot.com.br/2016/06/brexit-and-left.html

    3) Para o post “More on Brexit and the politicisation of truth”:

    https://mainlymacro.blogspot.com.br/2016/06/more-on-brexit-and-politicisation-of.html

    4) Para o post “Brexit despair”:

    https://mainlymacro.blogspot.com.br/2016/06/brexit-despair.html

    5) Para o post “Defending George Osborne on Brexit once again”:

    https://mainlymacro.blogspot.com.br/2016/06/defending-george-osborne-on-brexit-once.html

    6) Para o post “Notes on Brexit”:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2016/06/12/notes-on-brexit/?_r=0

    e 7) Para o post “Brexit em contexto, por Michael Spence”:

    https://jornalggn.com.br/noticia/brexit-em-contexto-por-michael-spence

    E o artigo de Michael Spence publicado no site do Project Syndicate, em 20/06/2016, com o título “Brexit in Context”, pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/brexit-em-contexto-por-michael-spence

    Ao que parece, após a morte de Helen Joanne “Jo” Cox, parlamentar britânica que defendia a permanência, a tendência da votação mudou e a popularidade da permanência cresceu e a Inglaterra deve permanecer na Comunidade Europeia. É esperar para ver.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 22/06/2016

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