Os grandes acontecimentos na Europa, por Filipe Rodrigues

Os grandes acontecimentos na Europa

Por Filipe Rodrigues

Atentado ao Charlie Hebdo na França e vitória do Syriza na Grécia, a crise na União Europeia é mais do que econômica

Nem bem iniciou o ano de 2015 e em menos de um mês, a Europa foi abalada por dois acontecimentos marcantes, divergentes e com chances de gerarem desdobramentos nos meses e anos seguintes, parecido com o pós-1929. O massacre a equipe do jornal Charlie Hebdo e a vitória do Syriza na Grécia.

Charlie Hebdo gerou uma divisão na esquerda entre #somostodoscharlie ou não, uns acham que a liberdade de expressão é inviolável mesmo ofendendo quem pensa o contrário, outros concordaram que apesar da trágica morte dos cartunistas eles passaram dos limites e não respeitaram a opinião divergente. Para muitos o episódio fortalecerá ainda mais a extrema-direita, num continente que sofre a cada dia um mal estar fruto de seis anos de recessão econômica e a incapacidade de lidar com o crescimento da imigração.

A eleição de Alexis Tsipras como 1º ministro grego pelo partido de esquerda Syriza é um grande acontecimento, pela 1ª vez um país europeu será governado por um partido socialista “orgânico” desde a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Há uma década esse processo político não é novidade na América Latina, o “Bolivarianismo” chega a Europa embalado pela rejeição a austeridade neoliberal. O sucesso do governo Tsipras irá fortalecer ainda mais os partidos anti-establishment na zona do Euro, Vladimir Putin e os BRICs se beneficiarão se a banca financeira e a CIA utilizar todos os instrumentos monetários para sabotar o governo do Syriza.

Esses acontecimentos reforçam ainda mais a crise da União Europeia, que vai muito além da situação econômica, já é há bastante tempo uma crise de identidade. Considerada um símbolo da superação europeia no pós-guerra, a UE desempenhou um importante papel de pacificação do continente e diálogo permanente. Antes conhecido como Mercado Comum Europeu, a atual união supranacional vigente desde o Tratado de Maastricht é acusada de priorizar muito mais a agenda econômica de abertura de mercados, os críticos acusam a UE pela por promover o globalismo em detrimento dos interesses europeus.

O crescimento de partidos críticos a atual postura europeia tanto a extrema esquerda e a extrema direita reflete a insatisfação. Apesar de carregar nos ombros o passado fascista, partidos como aFront National não estão errados em defender a identidade nacional e medidas para reduzir o alto desemprego (mesmo que seja preciso aumentar o protecionismo econômico em detrimento dos acordos de livre comércio).

O avanço dos partidos nacionalistas, não é compreendido por quem tem o hábito de se informar apenas pela mídia tradicional capturada pelos interesses econômicos. Há um sentimento no velho continente que tem se generalizado, a cultura europeia estaria morrendo frente ao multiculturalismo pós-moderno da globalização.

Apesar de todas as formas de preconceitos e discriminação serem inaceitáveis, o problema da imigração é causado pelas políticas do FMI, nações miseráveis da África são estados falidos e incapazes de proverem boas condições aos seus habitantes. Claro que se houvesse uma vida mais digna muitos não iriam imigrar para não ficar distantes de suas raízes e não serem discriminados em outros países.

Pra piorar a situação, as mesmas instituições financeiras que exploram os países pobres e patrocinam a austeridade europeia também foram responsáveis pela queda de Muammar Khadafina Líbia. Khadafi era importante para a estabilização na África, já que a Líbia oferece condições sociais muito superiores ao restante do continente, com a queda do regime muitos imigrantes africanos identificados com Khadafi e temendo o radicalismo islâmico foram forçados a fugir. Não é coincidência que a crise humanitária e migratória se agravou na Europa nos últimos quatro anos, aumentando também os naufrágios no Mediterrâneo e a possibilidade de atentados terroristas.

O fato da vitória do Syriza ter sido elogiada pela líder da Front National Marine Le Pen (Bolsonaro jamais faria com o PT), um sinal de convergência anti-austeridade, Alex Tsipras garantiu sua maioria parlamentar com o apoio do partido nacionalista Gregos Independentes. Claro que são partidos divergentes na questão da imigração, religião e direitos individuais (aborto, casamento gay, etc), porém com a mesma visão econômica. O programa de governo para a economia da FN é mais parecido com o do PT do que o Tea Party, Marine estaria até moderando seu discurso para vencer as eleições francesas, assim como Lula em 2002 seria um “Le Pen Paz e Amor”?

Polêmicas a parte, cada dia fica difícil acreditar que a austeridade tenha sucesso, simbolizada pela 1ª ministra alemã Ângela Merkel e sua rigidez fiscal. Aproveitando sua história de vida, Merkel deveria começar a perceber que o neoliberalismo caminha para ter o mesmo fim da Alemanha Oriental, cada um representando um diferente fundamentalismo ideológico, que também sirva de alerta para Dilma e seu ministro Levy.

Exemplos comprovam, enquanto a política europeia/economia é dominada pelos ajustes fiscais, no futebol europeu quem adota o Keynesianismo ganha a Copa do Mundo:

– O até então melhor time do mundo, Barcelona era à base da Espanha de 2010, chegando a entrar em campo com nove jogadores espanhóis ou revelados pelo clube, algo raríssimo no futebol europeu;

– A Alemanha campeã em 2014 colheu frutos por investir na formação de jogadores e menos contratações de estrangeiros, para diminuir a disparidade entre o gigante Bayern com os demais clubes foi criado o Fair Play financeiro (teto limite de salários);

Diferente da milionária liga inglesa, que apesar de muito disputada, não beneficia em nada o futebol local.

Redação

2 Comentários

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  1. A análise está tratando o

    A análise está tratando o ataque ao Charlie Hebdo como um acontecimento fortuito e não foi isso. O CH havia sido vendido ao grupo Rothschild poucos dias antes do atentado, mas isso ainda não quer dizer muita coisa. Mas o fato de terroristas ultra-experientes e muito bem treinados “esquecerem” a carteirra de identidade no banco de um dos carros usados na operação, isso não desceu pela garganta de quem, apesar do bombardeio diário de mídias descaradamente mentirosas, ainda conserva um mínimo de discernimento, na França e em toda a Europa. Há uma forte corrente de opinião que considera que o atentado foii perpetrado com falsa bandeira e teve por objetivo criar um ambiente de neura onde a repressão aos cidadãos comuns possa assumir ações de grandes proporções inteiramente anti-democráticas e à margem do Estado de Direito, tentando criar um ambiente de guerra interna que favoreça os esforços de obstacularização do esperado avanço eleitoral das esquerdas autênticas. O bloqueio midiático às informações corretas foi despedaçado na Europa, como também será em breve no Brasil, e as esquerdas autênticas em breve vão repetir a dose grega e tomar toda a Europa.

  2. desinformação e politica da negação

    Esse é um dos artigos mais desinformados que li sobre a situação européia em vários aspectos. É bom lembrar que ‘nacionalismo’ na Europa, por sua história, não tem a mesma conotação que tem no Brasil. Ademais o artigo de forma míope, só atêm a ‘politica da negação’. O Syriza não converge em nada com a FN em termos propositivos na política econômica.

    1) Syriza quer reconstruir o projeto europeu em outras bases e não acabar com a UE.  A FN quer a saída da França da UE, com uma nacionalização temporária dos bancos o que nunca foi defendido pelo Syriza. 2) A FN defende um Estado de bem estar frances para os franceses, um estado de bem estar nacionalista e excludente sem universalismo. Essa é a mesma proposta dos nazis do Golden Dawn e não a do Syriza. A FN defende uma definição cultural do ‘francês branco’  defendendo a  supressão do direito à nacionalidade francesa apenas pelo nascimento em solo francês e fim da dupla nacionalidade. Essa definição de nacionalidade não é alheia ao nazismo ao contrário do que os desinformados pensam; no inicio do nazismo havia várias discussões sobre o que definia a ‘raça’ ariana, a definição não era só biológia embora essa tenha vencido o debate. 3) A FN defende a expulsão de imigrantes ( ou ‘não franceses culturalmente definidos’ ) como uma das soluções para o desemprego, – como o Golden Dawn e não como o Syriza. A FN vê a causa do desemprego na imigração e não só ou principalmente na política de austeridade . A questão da imigração  é discutida como uma questão central na politica econômica na Europa e Syriza e FN estão em extremos opostos nessa questão.

    O que une partidos com a FN e o Syriza é somente a negação da politica européía atual e nada mais. Não há identidade ideológica, não há identidade em politicas sociais e de direitos humanos(a FN nem tem isso é só direito para os ‘franceses culturais’ de acordo com os valores tradicionais ‘da familia’) e não há identidade em propostas de politicas econômicas.

    Marine Le Pain elogiou o Syriza porque ela não é uma anta como o Bolsonaro, é um dos políticos mais hábeis hoje na Europa. O Brasil não está na situação da Grécia e o PT não é o Syriza (foi algo parecido a priscas eras,na década de 1980). A comparação é desastrosa!

     É uma total miopia política achar que todos que combatem o neoliberalismo estão do mesmo lado e um total desserviço ao debate no Brasil apontar a extrema direita como uma saída equivalente a da esquerda, qualquer que seja ela, para o estrangulamento neoliberal.

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