Protegendo a Europa no pós-Brexit, por Ana Palacio

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Miopia individualista tem comprometido UE, e saída do Reino Unido acendeu estopim de interesses pessoais

Jornal GGN – Caso o ditado “as coisas boas vêm para aqueles que esperam” for levado ao pé da letra, a nova estratégia global da União Europeia sobre política externa e segurança, que já possui mais de uma década de atraso, não só deve ser boa como é o que a Europa precisa. Contudo, o momento de seu lançamento – a saída do Reino Unido da UE – pode relegá-lo à irrelevância, como pontua Ana Palacio, ex-ministra das Relações Exteriores da Espanha e ex-vice-presidente do Banco Mundial, em artigo publicado no site Project Syndicate, ressaltando que a forma como a UE vai conduzir o plano será o termômetro para o futuro do projeto europeu.

Desenvolvida pela Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Federica Mogherini, a estratégia fornece uma visão orientadora considerada coerente e uma estrutura que viabiliza a adoção de políticas concretas, e atinge o equilíbrio entre o realismo e ambição. “A perspectiva fundamentada da estratégia resulta da primeira frase: ‘Precisamos de uma Europa mais forte’. Isso sinaliza uma grande mudança da estratégia anterior, emitida em 2003, cuja sentença de abertura – ‘A Europa nunca foi tão próspera, tão segura, e nem tão livre’ foi muito criticada”, diz a articulista.

Especificamente, a estratégia enfatiza a importância de um poder suave e duradouro da UE, em que o alargamento das perspectivas desempenha um papel fundamental, embora reconheça que o poder brando por si só não é capaz de garantir a segurança. O plano também estabelece implicitamente a sequência considerada correta para o desenvolvimento da abordagem da UE para o mundo, oferecendo uma visão mais específica para enfrentar os desafios regionais do que para os desafios globais. “A mensagem é clara: a UE precisa obter uma atuação em conjunto dentro de sua vizinhança antes que possa compreender um papel mais amplo”.

Os planos são bons, mas não são nada se os líderes da UE não se “juntarem”, como coloca Mogherini, para garantir que a estratégia cumpra seu potencial. E agora, as perspectivas não parecem promissoras. “O ‘Brexit’, que levou tumulto aos mercados globais e levantou diversas questões sobre o futuro da União, eclipsou o lançamento da estratégia de segurança, que quase não foi mencionada nas conclusões da última reunião do Conselho Europeu”, diz Ana Palacio. “Para piorar as coisas, ao invés de inspirar um muito necessário exame de consciência entre os líderes da UE, o referendo britânico parece ter estimulado muitos a permitir que interesses políticos nacionais, para não mencionar ambições pessoais, guiem seu pensamento”.

Entre os exemplos citados pela articulista, estão os comentários feitos pelo presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, que pediu para o Reino Unido invocar o artigo 50 (o procedimento de retirada) imediatamente; além do posicionamento mais firme do presidente francês, François Hollande, que espera por uma batalha eleitoral contra a representante da extrema-direita francesa, Marine Le Pen; e a luta entre o Conselho Europeu e  a Comissão Europeia para o controle sobre as próximas negociações de Brexit, em que o Conselho está preocupado principalmente sobre defender a autonomia dos Estados-Membros.

“Este é precisamente o tipo de miopia que tem prejudicado a imagem da UE no mundo e, reforçando a impressão de ineficiência e inépcia, nos Estados Unidos também”, afirma a articulista. “Se continuar, o Brexit poderia, como os pessimistas avisaram, ser a queda da UE. Se, em vez disso, os líderes da UE responderem à altura do desafio que representa o Brexit e se reunirem para realizar a visão estabelecida na nova estratégia global, a UE poderia emergir deste período tumultuado mais forte do que nunca”.

Em tempos de incerteza, Ana Palacio diz que a Europa tem de decidir como irá abordar os desafios existenciais que enfrenta. “A maneira sensata de avançar é minimizar os pontos fracos, maximizando pontos fortes coletivos. A alternativa – para cada país para seguir seu próprio caminho, como os britânicos optaram por fazer – seria imprudente. Mas a abordagem mais perigosa – que traria a mais conflitos e insegurança – seria continuar fingindo uma união, mas agindo de forma independente”.

 

 

 

(tradução livre por Tatiane Correia)

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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