De tanto consumir séries televisivas e filmes, os norte-americanos começaram a imaginar suas vidas como um “roteiro” com finais felizes e atos heroicos. Eles não vivem, encenam. Eles não julgam suas ações levando em conta o que é bom ou ruim e sim considerando o efeito que a cena produzirá nos espectadores.
Nesse contexto, o que é justiça se torna rapidamente injustica. E o que é injustiça passa a ser glorificado como se fosse algo socialmente desejável.
A simulação substituí a realidade. O significado da liberdade e da vida são distorcidos pelo desejo de encenar e de ser lembrado por causa daquilo que ficou gravado em vídeo. E todos sabem que tudo será filmado o tempo todo em todos os lugares.
O “olho onipresente da câmera” se torna uma obsessão social reforçada por aqueles que são encarregados de noticiar não fatos e sim interpretar cenas. A cena do menino armado matando pessoas que protestam como se eles não tivessem direito de protestar ou como se o ato de matar pudesse ser considerado glorioso porque foi filmado (ou porque poderia ser filmado) é o resumo perfeito da “arena romana” em que se transformou a sociedade norte-americana.
O menino é um gladiador, sim. Dedos para baixo quando ele mata sua vítima à distância. A proximidade da câmera legitima a covardia do assassinato praticado à distância.
Entretanto, os gladiadores romanos combatiam seus adversários em igualdade de condições. Eles podiam sentir o cheiro do suor dos oponentes e o risco que eles corriam era real.
Nenhuma arma foi disparada contra o garoto-gladiador assassino. Mesmo assim a imprensa norte-americana considera o ato dele exemplar. Ele é sem dúvida alguma o exemplo da decadência epistemológica de uma nação.
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