Um sorriso de gladiador antes da extinção da espécie humana

Arthur Schopenhauer defendeu a tese de que entre a “objetividade do mundo” e “aquilo que dele pode ser representado” pelo homem existe um véu.

Esse véu, que sempre tem a mesma função (deturpar e turvar a percepção humana e preserva o conflito primordial entre forças imperceptíveis), assume diversas formas ao longo da história.

De uma maneira grosseira, podemos dizer que entre os romanos o véu era a glória da civilização, entre nós ele é o capital. Nos dois casos a preservação do conflito (entre os romanos pelo prestígio decorrente da ação gloriosa e entre Roma e os bárbaros pelo exercício do poder; entre os capitalistas pelo lucro e entre os demais através do consumo de objetos que conferem prestígio) gerou subprodutos considerados irrelevantes: a violenta escravização dos povos derrotados por Roma e a destruição da natureza pelas empresas capitalistas.

A valorização destes subprodutos é revolucionária?

Bem… Roma não existe mais, e sua queda foi em parte atribuida à reorganização do mundo romano por uma religião que não desprezava a humanidade dos escravos. O capitalismo está fadado a deixar de existir quando os recursos naturais se esgotarem ou a vida no planeta se tornar impossivel.

Há uma diferença sutil entre esses duas fases do mundo enquanto vontade e reapresentação: a exaustão de Roma não exauriu a capacidade do planeta de manter a vida. Isso será uma consequência do capitalismo.

O capitalismo será abolido antes da extinção da nossa espécie?

Essa é uma pergunta impertinente, pois não produz lucro ou prestígio. E apenas essas duas coisas são capazes de estruturar a percepção da objetividade do mundo e orientar a vontade humana na disputa no momento em que o mundo vai sendo totalmente consumido.

No auge de seu poder Roma era uma grande arena. E no centro do Império romano, o Coliseu era a representação perfeita de uma civilização que virou sua natureza pelo avesso a fim de transformar a violência em espetáculo. O espetáculo da destruição do mundo natural pelo capitalismo já é uma realidade cotidiana em nossa civilização.

Cada espectador presente nos jogos gladiatorios era um a vareta que consolidava o imenso poder do “fascio” romano. Cada clique num vídeo de catástrofe postado e comentado na internet produz lucro para os capitalistas que destroem a natureza. Os romanos queriam fortalecer sua civilização. Nós fortalecemos a nossa mesmo tentando rebaixar o poder do capital.

Só duas opções são possiveis diante da catástrofe: chorar ou rir. Na beira do abismo construído pelo capitalismo existe uma lápide. Sugiro aos inimigos da extinção da humanidade escrever nela algo memoravel:

Sorria capitalista desgraçado, você também não poderá fugir. Mas se você chorar meu sorriso antes da queda será digno de um gladiador romano.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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