Deu a louca na Warner Music Brasil

Há algo estranho no mundo da música!

Em princípio gostaria de dizer que não sou nenhum especialista em tributos e impostos. O que escreverei é tão somente o ponto de vista de um consumidor que procura entender certas coisas para poder falar sobre elas, ainda que de forma leiga.

Lembro do meu primeiro LP que comprei: “Introducing the hardline according to Terence Trent D´Arby”, era o ano de 1988. Lembro que na época o CD custava mais caro do que o LP e a disponibilidade de títulos em CD era pouca. Só mesmo no início dos anos 90 é que o CD tomou mesmo o lugar dos velhos bolachões. Na transição do LP para o CD a indústria fonográfica talvez nunca tenha ganhado tanto dinheiro como naquela época. Pois o custo de produção do CD era (como é hoje) infinitamente muito mais barato do que o LP e ainda sim, era vendido muito mais caro, até a indústria adotá-lo como padrão de divulgação de música.  Aos poucos os vinis foram dando lugar aos CDs e o preço foi “diminuindo”.

Existem muitas razões para que as lojas de discos tenham quase sumido do mercado. No mundo civilizado da indústria da musica (no qual o Brasil ainda não faz parte), a razão para que muitas lojas tenham fechado as suas portas se dá praticamente por duas/três razões: a primeira/segunda foi sem dúvida o “download”, seja ele legal ou ilegal e a terceira que está diretamente ligada a essa é que o público mudou. Hoje, a maior parte dos novos consumidores de música preferem arquivos digitais a comprar o disco físico. Já no Brasil o download ilegal também foi uma das razões, (não A Principal) para que muitas lojas fechassem as portas. O “download ilegal” era uma resposta aos preços abusivos da nossa indústria e o principal incentivo a pirataria. Claro que muitos consumidores que tem condições de comprar CDs  preferem baixar de graça, ou seja, ilegalmente. Mas existe outro fator (acredito que seja particular ao Brasil como a jabuticaba) que muita gente não sabe. A principal razão para o fechamento de muitas lojas de discos foram os grandes magazines. Não vou entrar em detalhes da cadeia produtiva do disco (desde a hora que o artista entra no estúdio até o consumidor entrar na loja para comprar seu trabalho). O que aconteceu foi o seguinte: os grandes magazines compravam e ainda compram grandes lotes de CDs junto aos distribuidores e com isso conseguem descontos que podem ou nem serem repassados aos consumidores. Como também podem se dá ao luxo de vender o disco com o preço abaixo do que compraram, fazendo do disco a “isca” para que o consumidor entre na loja para comprar outros produtos, pois nenhum grande magazine depende da venda de CDs para sobreviver. E o pequeno lojista, compra quantidades limitadíssimas, sendo assim, não pode dá quase nenhum desconto e concorrer com os grandes magazines. Quem é do Rio de Janeiro deve lembrar da Modern Sound, uma das melhores lojas para se comprar discos. Lembro de uma entrevista que o dono da Modern disse, quando estava anunciando que iria fechar as portas,  que muitas vezes comprava discos mais barato nos grandes magazines do que no próprio distribuidor. Comprava nos grandes magazines para vender em sua loja! Tinha também a Gramophone e tantas outras grandes lojas de discos…

Hoje praticamente não encontramos mais lojas especializadas. Só algumas pequenas resistem bravamente.

Quem é hoje o público que compra CDs e LPs? Você que teve paciência de até agora ler essas mal traçadas linhas, quantas pessoas você conhece que compra CDs e LPs regularmente? Quantas pessoas você conhece que além de comprar também se interessa pela história dos artistas? Quantas pessoas você conhece que coleciona CDs e LPs? Quantas lojas especializadas em CDs e Lps têm na sua cidade? Uma coisa é certa, o verdadeiro amante da música não compra CDs falsificados.  A nova geração sim, compra arquivos digitais, vê filmes em tablets e smartphones, pois é outra geração. E a indústria   dos “download” legal  sofre também com o “download” ilegal por causa principalmente do  VALOR! Mas não devemos ignorar também uma boa parcela de consumidores que tem condições de comprar o produto físico ou digital mas que prefere o download ilegal, ou seja sem pagar. Mas não são esses a razão pela crise no setor fonográfico. Como consumidores, temos sim nossa parcela de culpa. Mas só uma pequena parte.

E agora vou dizer a razão de eu está escrevendo isto.

Ano passado a Warner Music relançou o disco “Vapor Trails” da banda RUSH por surreais R$ 49,90. Isso mesmo, R$ 49,90 num CD, ou US$ 22,57 (dólar Turismo R$ 2,21 em outubro de 2013). Em média, o valor de um CD (lançamento) de um artista gira em torno de R$ 35,00. Esse CD foi lançado nos Estados Unidos com valor médio de USS 10,00. Hoje custa US$ 12,00 em média. E aqui no Brasil, foi lançado por R$ 49,90 nos principais sites e magazines!!! Ou seja, US$ 22,57. Quando digo grandes magazines são: Americanas, Saraiva, Livraria Cultura e Submarino. Hoje a média desse CD está em R$ 47,73. Nas Americanas o valor chegou a R$ 54,90 e no Submarino R$ 51,90. Na época questionei esse valor na Saraiva por telefone. Perguntei como um CD fabricado no Brasil poderia sair mais caro do que se eu comprasse o mesmo CD nos Estados Unidos. O CD sairia por menos de R$ 50,00 (lembrando que desse valor, quase 45% é de frete). O atendente explicou, explicou, explicou e não disse nada! Depois resolvi enviar e-mails a Saraiva. Depois de vários e-mails veio a reesposta:

“Boa tarde,  Alexandre.

Conforme sua solicitação, o valor destinado ao site pela Warner.”.

Eu não entendi a resposta. Tem uma loja em São Paulo a London Calling que foi a única que teve coragem de dizer (por telefone) que a margem de lucro era baixíssima para a loja e que o preço se devia ao que a Warner Music Brasil cobrava para comercializar o produto. E me disse que não adiantava mandar e-mails a Warner Music Brasil que ela não respondia. E não responde mesmo.  Deixei pra lá!

E eis que o Led Zeppelin anunciou o relançamento de todos os discos de estúdio remasterizados por Jimmy Page em formato digipack com disco extras com o valor médio de… R$ 103,90!!!  Led Zeppelin I R$ 99,90, Led Zeppelin II R$ 99,90 e Led Zeppelin III… R$ 111,90! Ou US$ 44,40 (dólar turismo cotação de sexta-feira 1 de agosto, a R$ 2,34! Nos EUA foi lançado por US$ 19,79 inclusive o Led Zeppelin III. Aqui no Brasil não se sabe por que o III tem o valor diferente dos outros dois!!!!!

Em 2011 a EMI fez o mesmo com a discografia do Pink Floyd. Relançou todos os discos de estúdio remasterizados em formato Paper Sleeve (melhor do que o digipack) com média de preço de R$ 39,90. Os discos duplos, por R$ 55,90. Por esse preço, 39,90, achei um pouco salgado, mas em vista da remasterização e serem comercializados em Paper Sleeve (embalagem especial de papelão de luxo que imita a embalagem em vinil), dava pra aceitar! Agora, R$ 103,00 num CD duplo, mesmo em embalagem especial (seja ela slip/case, digipack ou paper sleeve) não dá para aceitar um acinte ao bom senso como esse, se se considerar que se eu comprar os mesmos produtos nos Estados Unidos, vou pagar mais barato. E então Warner, qual é a mágica para se cobrar esse preço?

Na época do lançamento do Plano Real, em que o dólar e o real tinham o mesmo valor, comprei muitos CDs importados de uma loja em São Paulo, a Sweet Jane (acho que fechou) e para a minha surpresa, os CDs importados tinham acabamento melhor e mais barato do que os mesmos CDs fabricados no Brasil. Só para se ter uma ideia. Um CD ao vivo de uma banda que comprei aqui no Brasil vinha na tradicional embalagem de acrílico e no encarte constava apenas os nomes das músicas. No importado, além da embalagem ser melhor para deslacrar (até nisso eles são melhores) o encarte se desdobrava três vezes no qual constava a ficha técnica do show, da turnê e várias fotos dos integrantes da banda durante o show. Isso é o que Eduardo Galeano chama em As Veias Abertas da América Latina de ganhar nas duas pontas, ou seja, vende-se um produto de qualidade inferior com o preço maior. Ganha-se nas duas pontas!!!

Não acabou não. De uns tempos pra cá, vários DVDss de shows em seus “extras” não vem mais com legendas em português. Antigamente vinha a legenda de pelo menos entre uma música e outra quando o artista falava alguma coisa, tipo um “obrigado”, ou “essa música foi composta e etc”. Há algum tempo não vinha mais com legenda durante o show, agora, não vem nenhuma legenda, nem mesmo nos documentários dos extras. O RUSH lançou um DVD ano passado que tem um extenso documentário sem nenhuma legenda em português. Na Revista Roadie Crew a Warner fez propaganda do lançamento do DVD com os seguintes dizeres:

“Uma turnê épica! Pela primeira vez a banda tem músicos convidados no palco, uma orquestra que executa clássicos como YYZ e Red Sector A. O show ainda inclui as favoritas Tom Sawyer, e The Spirit of Radio e músicas raramente executadas como  The Body Electric e Middletown Dreams. Bônus extensos incluem uma versão completa de Limelight na passagem de som e um documentário filmado nos bastidores”.

Deveria ter dito no final da propagada que tudo isso não tem legenda em português! Apesar de ser “fabricado no Brasil!” E isso vale para quase todas as gravadoras inclusive as independentes.

Quer mais? Tem! Muitos dos cantores/cantoras e bandas nacionais e internacionais estão praticamente com todos os seus discos fora de catálogo. Talvez a razão seja a de simplesmente obrigarem o consumidor a comprar arquivos digitais. Assim como na virada da substituição do CD para o vinil a indústria da música nunca ganhou tanto dinheiro, pois vendia um produto infinitamente mais barato para produzir e muito mais caro para vender (afinal de contas, era novidade), a indústria agora quer ganhar o mesmo quando vende um CD sem gastar quase nada, apenas fornecendo um arquivo digital. Faça o teste. Procure pelos CDs de um determinado artista e verá que quase todos seus discos estão esgotados.

Espera que o melhor ficou para o final. Com as presenças de vários artistas, entre eles, Lenine, Ivan Lins, Marisa Monte e Francis Hime no plenário do Senado, foi promulgada no ano passado a PEC da Música, que isenta a cobrança de ISS, IOF e ICMS para CDs/DVDs de artistas nacionais. Foi dito entre outras coisas que a redução de preço final ficaria em torno de 25%. Não, o preço não ficou mais barato não! Acredito na boa intenção da iniciativa da PEC, do relator e dos artistas que foram ao congresso. Eu não acredito é nas gravadoras! As gravadoras usaram e estão usando para aumentar suas margens de lucro. Comprei o CD Chão do Lenine, antes da PEC, no final de 2011 por R$ 29,90 na Saraiva. A PEC foi promulgada em 1 de outubro de 2013. Hoje está  R$ 25,11 (desconto de 10% do preço original de R$ 27,90) na Cultura R$ 29,90 e no Submarino R$ 27,90, ou seja, não houve quase redução alguma (fiz busca no site da Saraiva e não encontrei). Submarino e Americanas reduziram o valor em relação ao que paguei em 2011, mas não os 25% anunciados. Marisa Monte acabou de lançar um CD ao vivo, o “Verdade uma Ilusão – Tour 2012/2013”. Nos principais magazines com o preço de…. R$29,90!!!! Na Saraiva, a vista no cartão, você ganha 5% e leva por R$ 28,40. Nas Americanas estão dando desconto de 10%, R$ R$ 26,91, mas Submarino e Cultura é R$ 29,90 mesmo!

Como disse anteriormente, comprei muitos CDs importados em meados da década de 90, além de terem melhor acabamento, eram mais baratos do que os mesmos CDs fabricados no Brasil. Aí no final dos anos 90 estourou o câmbio e parei de comprar. Hoje, mesmo com o dólar a mais de R$ 2,00 e  60% de taxação sobre o valor total para compras acima de US$ 50,00 compensa importar vários CDs. Qual seria a razão para comprar esses CDs aqui no Brasil quando posso comprar em sites internacionais os mesmos CDs mais baratos? Mesmo com o dólar a 2,34 e todos os impostos? Patriotismo? Ajudar o comércio local? No final das contas, claro, vou pagar a matriz da multinacional que cobra um preço indecente por CDs fabricados em território nacional. Mas se é para comprar, vou comprar de quem sabe vender. E o empresário brasileiro representante da multinacional que vá vender seus CDs para outros, não pra mim. Não vou bancar sua feira.

Existe a taxação para produtos importados para proteger a indústria local. Mas quem vai proteger os consumidores desse tipo de prática, deste abuso escancarado e sem nenhuma justificativa? Quem vai nos proteger dessa ganância?

Já faz algum tempo que em todos os posts da Warner Music Brasil no Facebook eu pergunto a razão desse abuso e a Warner Music Brasil não deu nenhuma resposta. Como bem disse o funcionário da London Calling, a Waner não responde. Quase todos os dias mando a seguinte mensagem nos posts da Warner em sua página do Facebook:

 “Com relação ao preço dos cds do Led Zeppelin, gostaria de saber como os Srs chegaram ao preço desses CDs? Se eu comprar os três CDs irei pagar a bagatela de R$ 311,70. Seja na Saraiva ou Livraria Cultura vou pagar R$ 311,70 por três CDs duplos FABRICADOS NO BRASIL! Agora se eu comprar os mesmos três CDs duplos NOS ESTADOS UNIDOS, através de cartão de crédito internacional, em qualquer site de vendas de CDs on line, onde cada cd custa US$ 19,79, mais frete de US$ 20,89, total de US$ 80,36, irei pagar o valor total de R$ 300,87(contando o cambio do dólar turismo de hoje a 2,3400 e mais todos os impostos de importação (lembrando que 26% desse valor é do frete dos Estados Unidos para o Brasil). Como os Srs me explicam isso?. E outra, lá fora cada cd custa US$ 19,79, por que com o Led Zeppelin III o valor é diferente dos outros dois? Como vocês chegaram a esses valores? É na base do colar, colou? Por favor só não me venham com a balela dos impostos. A WEA relançou todos os discos do Pink Floyd em embalagem paper sleeve com o preço de lançamento (que já era caro) de R$ 39,90, os duplos saíam a R$ 55,90 e os Srs querem empurrar R$ 103,00 de média nesses CDs? Gostaria sinceramente que explicassem como os Srs chegaram a esses valores. Grato”.

Quando mandei a primeira mensagem a cotação do dólar turismo era de R$ 2,34. Hoje o total se eu fosse comprar nos EUA sairia por R$ 303,44. Ainda assim, mais barato do que se eu comprar aqui. Lembrando que um quarto desse valor é de frete dos EUA para o Brasil. Mas e seu for taxado em 100%, vou pagar R$ 376,08 aonde R$ 94,02 é de frete. Se eu comprar aqui no Brasil, tanto na Saraiva como na Cultura o frete “é grátis”!

Cansei de enviar posts para a Warner, pois sei que não vai responder, agora, se um veículo grande de comunicação, jornal, um blog como o seu Nassif, um portal de música como o Whiplash.net, uma revista de rock  como a Roadiecrew, questionar seriamente por esses preços, aí a Warner com certeza vai se manifestar (explicar não vai explicar nada). Agora, como é um simples consumidor… Ela pode ignorar. Como explicar isso? R$ 103,00 nun CD duplo fabricado no Brasil!!!! Parece aquele história do Playstation 4 quando a Sony anunciou o preço do console por inacreditáveis R$ 4.000,00, que fez da Sony piada no mundo inteiro e quando foi explicar a emenda ficou pior do que o soneto. Hoje o mesmo console que era R$ 4.000,00 está sendo vendido na Saraiva, Americanas e Submarino por R$ 2.999,00, sendo que se for em uma só parcela no cartão, na Saraiva fica R$ 2,699,10, Americanas e Submarino R$ 2.849,90 e R$ 2.849,05 respectivamente. Na cultura é R$ 2.999,00 e pronto! E então, o que houve no mundo do dia em que foi lançado por R$ 4.000,00? O dólar despencou? Alguma crise que eu não fiquei sabendo? Alguma hecatombe mundial que não foi noticiada? Ou essa diferença a Sony estava usando para fazer caridade?

 

Mais uma vez pergunto: qual seria a razão para eu deixar de comprar lá fora o mesmo produto fabricado no Brasil mais barato do que aqui?

Se as taxações de importação servem para proteger a indústria local, quem vai nos proteger desses absurdos?

A minha opinião sobre o preço desses CDs? Se colar, colou!

E se for pesquisar um pouco vai verificar que os preços praticados no Brasil funcionam dessa mesma forma para quase tudo, automóveis, eletro-eletrônicos, computadores/notebooks, celulares, e etc: se colar, colou! E pelo jeito, cola! Mas comigo, não vai colar não! R$ 103,00 em média por um CD duplo fabricado no Brasil? Hellooooooooooooooo!

Alex

 

 

Redação

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