A Globo e o mau futebol, por Vanderlei Borges

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

A Globo e o mau futebol

por Vanderlei Borges

Entra ano sai ano, o circo de horrores se repete. O pouco de emoção que restou no Campeonato Brasileiro foi a disputa de vaga na Libertadores da América e o sofrimento contra o rebaixamento. Nem o campeão Corinthians, pelas atuações pífias nos últimos jogos, escapou da mediocridade.

É repetitivo dizer que o calendário do futebol brasileiro é desumano e responsável pelo esgotamento das equipes e o rendimento medíocre dos jogadores.

Todos deveriam saber que esse show de horrores se deve ao desgaste físico provocado, principalmente, pela enxurrada de competições e o excessivo número de jogos – sem parâmetro com outros países -, agravado pelo forte calor dos trópicos. Sem falar no horário proibitivo dos jogos noturnos para os trabalhadores, com consequências também para os jogadores. Um calendário “de tirar o fôlego”, literalmente.

Há quatro anos, jogadores de clubes da Primeira Divisão fizeram um movimento histórico para reivindicar a reformulação do calendário. Sabiam de antemão que esbarrariam nos interesses comerciais da Globo, principal parceira dos clubes e da CBF. E ficou nisso mesmo. O máximo que o movimento conseguiu, depois de ameaçar uma greve histórica, foi uma redução dos Estaduais do ano seguinte de 23 para 21 datas.
O número de datas para a Globo está relacionado ao pacote de jogos para atender os anunciantes e o dinheiro que paga aos clubes pelos direitos de transmissão. Um “pacotão” até hoje imutável, em detrimento do bom futebol e do direito do consumidor (torcedor) de receber um produto (futebol) à altura do preço que paga (ingresso e TV por assinatura).

Não é coincidência que os grandes clubes brasileiros a cada temporada lideram o “ranking mundial” de número de jogos, e a principal competição, o Campeonato Brasileiro, seja um espetáculo deprimente comparado aos principais campeonatos da Europa.

Para ficar apenas no exemplo do Flamengo. O diretor-executivo do clube, Rodrigo Caetano, longe de querer se expor a “bater de frente” com o poderio dos patrocinadores e a Globo, em entrevista após a 78ª partida do Flamengo no ano, fez conta para mostrar o sentimento de frustração com as atuações ordinárias da equipe, uma das mais caras do futebol brasileiro. O dirigente lamentou que durante a temporada o Flamengo “teve muito pouco tempo para treinar” e argumentou com o número assustador: “Podemos ter 84 jogos (na temporada)”. É isto mesmo: no seu último jogo do ano, pela final da Copa Sul Americana, a equipe rubro-negra completa 84 jogos na temporada 2017. Um recorde mundial. Esmiuçando os números: Copa Sul Americana (11), Brasileirão (38), Copa do Brasil (8), Libertadores (6), Estadual (17) e Primeira Liga (4),
O Barcelona, dos clubes que mais vezes entram em campo na Europa, fez 63 partidas em toda a temporada 2016-2017: Troféu Joan Gramper (1), Supercopa da Espanha (2), Liga Espanhola (38), Liga dos Campeões (10) e Copa do Rei (12).

Compreende-se que os clubes precisam arrecadar para manter a folha de pagamento – algumas inaceitáveis. Compreende-se, claro, que os patrocinadores queiram ver a sua marca exibida o maior número de vezes na TV em contrapartida ao volume de investimento. Compreende-se também que a TV precisa gerar caixa e preencher a sua grade de programação. O que não se compreende é que isto se dê a um custo tão elevado, que se traduz em jogos ruins e medíocres que ajudam a afastar (e irritar) o público e a desgastar a imagem do futebol brasileiro.

Mas se dirigentes, patrocinadores e a Globo já demonstraram que não vão (ou não querem) mudar, então está na hora de agir ao menos os órgãos de defesa do consumidor, especialmente do Ministério Público Federal. As investigações do FBI na FIFA que apontaram corrupção na venda de transmissão de jogos pela TV Globo, com pagamento de subornos milionários para dirigentes do futebol brasileiro, mostram que o jogo fora de campo pode ser muito mais feio do que o que é jogado dentro das quatro linhas no Brasil. E sempre quem perde é o consumidor (torcedor).

Portanto, enxugar e igualar o calendário ao padrão europeu e adequar o horário dos jogos noturnos à realidade do trabalhador são condições indispensáveis para melhorar a qualidade do espetáculo e garantir a presença dos torcedores nos estádios.

Está na hora de virar esse jogo. Que seja nos “moldes” da Lava Jato, tão exaltada quando o alvo são outros “inimigos”. Ou será que “não vem ao caso”?

Vanderlei Borges é jornalista, autor (juntamente com Luiz Augusto Erthal) do livro “Zagallo, um vencedor”, biografia autorizada do único tetracampeão mundial de futebol.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK.

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK. O autor está de brincadeira, não? Afinal, os times desclassificados na Libertadores fizeram de tudo para serem encaixados na Taça do Brasil e, ainda, buscam encaixe na Sulamericana. De mais a mais, não há de se contar o número de jogos de determinado clube, mas, sim, a quantidade de partidas de que os jogadores participaram. Quanto aos horários noturnos da Globo, tal só acontece nas 4as. feiras, sendo que também há jogos nas segundas, quintas e sábados (ainda há?). Nas quartas-feiras, o caso parece ser a omissão dos ditos conselhos tutelares que “abençoam” pais com filhos menores de 12 anos (pra não dizer de colo) em jogos às 22 horas. Então, não reclamemos só da globo (mesmo que tenhamos de reclamar dela), mas, sim, dos dirigentes “capachos-negociantes” desses timinhos de meia pataca. Aliás, não é a globo quem vende jogadores durante os campeonatos. Nem é a globo quem está por trás das casas de apostas clandestinas. Muito menos é a globo que escala reservas para determinadas partidas, sempre em desacordo com o que seria um campeonato sério. O restante, sinto muito, mera cascata dos de sempre.

    1. Os dirigentes fazem de tudo

      Os dirigentes fazem de tudo para se encaixar no modelo da Globo e não se unem para mudá-lo. Por isso a solução é lei federal que proiba esses excessos. Mas duvido, o Congresso está repleto de defensores da escória global.

  2. A Globo conseguiu mesmo

    A Globo conseguiu mesmo destruir o futebol brasileiro. Um campeonato que tem timecos como o Sport Recife se segurando por dois anos consecutivos para não cair, e ainda assim ficando na série A, não pode ser um bom campeonato… Times como esse Sportimeco são a cara do brasileirinho atual… Droga pura…

  3. a….

    Os crimes da RGT são gritantes. A farsa em comprar direitos de transmissão de intermediários, que são na verdade seus agentes, como Kleber Leeite ou J. Hawillla, foi desmascarado pela Polícia norte-americana. Não existe exclusividade. É monopólio descarado. Mas isto só é possível com muito apoio político. Com o silêncio do CADE e MP. O que mostra o nível da nossa representação e democracia. Figuras que sempre acusaram o crime, tornaram-se comparsas. Toda a pseudo-esquerda. Comunistas com Rebbello. Petistas como Vicente Cândido. O Tucanistão não merece nem citação. Já revelados há muito tempo a classe de pulhas e golpistas que são.  Parabéns aqueles que crerão. E fanáticos que ainda creem. Mas o pior é o silêncio corporativista da maior parte da Imprensa. Medo? De bater na RGT ou perder a chance de trabalhar lá? Um produto nacional tão abrangente, restrito nas mãoes de única emissora. Vários campeonatos, vários torneios, em várias regiões e estdaos, em várias divisões. Tudo controlado por mãos mafiosas. E o silêncio da Imprensa? Revelador. O Brasil se explica. 

  4. O Calendário

    O formato do calendário do futebol brasileiro atual é ridículo. Peguemos 2012 quando os times que disputavam a Libertadores não disputavam a Copa do Brasil, casos do Corinthians e São Paulo campeões continentais:

    – Corinthians: 20 partidas pelo Paulistão, 14 pela Libertadores, 38 do Campeonato Brasileiro, 2 pelo Mundial de Clubes. Disputou 74 jogos. 

    – São Paulo: 21 jogos pelo Paulistão, 9 jogos pela Copa do Brasil, 38 do Campeonato Brasileiro, 10 pela Copa Sul-Americana. Disputou 78 jogos.

    Numa época em que as férias e a pré-temporada mal davam 40 dias. 

    Agora dois casos de times que disputaram finais de Copa Libertadores, Sul-Americana e foram finalistas (campeões ou não):

    Atlético-MG em 2013: 15 jogos pelo Mineiro, 14 pela Libertadores, 38 pelo Campeonato Brasileiro, 2 jogos pela Copa do Brasil e 2 pelo Mundial de Clubes. Disputou 71 jogos. Em 2014 foram 15 jogos pelo Mineiro, 8 pela Libertadores, 38 pelo Brasileiro, 2 pela Recopa e 8 pela Copa do Brasil chegando à 71 jogos também

    Ponte Preta em 2013: 20 jogos pelo Paulistão, 4 pela Copa do Brasil, 10 pela Copa Sul-Americana e 38 pelo Brasileiro. Disputou 72 jogos.

    Flamengo em 2017: 15 jogos pelo Carioca, 6 pela Libertadores, 10 pela Copa Sul-Americana, 6 pela Copa do Brasil e 38 pelo Brasileiro. Disputou 75 jogos.

    Grêmio em 2017: 15 jogos pelo Gaúcho, 14 pela Libertadores, 6 pela Copa do Brasil, 38 pelo Brasileiro e 2 no Mundial de Clubes: 75 jogos. 

    Perguntas e respostas:

    1 – Quem disputa a Libertadores tem que disputar a Copa do Brasil? Precisa ser o ano todo?

    Sim, mas não no exagero que colocaram. Hoje a Copa do Brasil está com um pedaço morto da competição (as 4 primeiras fases)  e o que interessa é das oitavas em diante. 14 jogos. Não precisa ser o ano todo, podendo pegar apenas um trecho de outubro à dezembro. Ao invés de 86 times, ampliaria-se para 96 times e seria assim:

    – Distribuição de vagas por estado: São Paulo 7; Rio de Janeiro 6; MG e RS 5; PR, PE, SC, GO, BA, CE, PA, AL e RN 4; AM, MA, Pi, PB, SE, ES, DF, MT, MS com 3 vagas e AC, RO, RR, AP e TO com 2 vagas. 

    – Primeira, segunda e terceira fases em jogo único. Os times seriam alinhados de acordo com o ranking da CBF e os 32 melhores colocados entram direto na segunda fase, enquanto que os outros 64 disputam uma fase eliminatória de um jogo; segunda fase com os 32 vecedores com os 32 melhores em eliminatória de um jogo, terceira fase no mesmo formato e os 16 vencedores fariam mata-mata em dois jogos até a final. Seriam necessárias 11 datas para a Copa do Brasil e os finalistas teriam realizado no máximo 10/11 partidas.

    2 – Brasileiro nas divisões de acesso podem ter mais espaço?

    Sim, merecem e devem. A Série C não precisa ser de pontos corridos, mas sim regionalizada (países como Itália, Espanha e França adotam isso a partir da terceira divisão) e com mais times. Não com 48 times como quer o Bom Senso, mas 28 times, onde os eliminados da primeira fase chegariam com 26 jogos disputados enquanto que os finalistas no máximo a 32. Manteria-se a forma de disputa (chaves norte e sul), 4 sobem e 4 descem para a Série D. 

    A Série D seria com 96 times (4 rebaixados da Série C, e cada estado teria uma quantia de vagas assim: São Paulo 7; Rio de Janeiro 6; MG e RS 5, PR, PE, SC, GO, BA, 4; CE, PA, AL e RN AM, MA, Pi, PB, SE, ES, DF, MT, MS com 3 vagas e AC, RO, RR, AP e TO com 2 vagas). 8 grupos de 12 times, fase classificatória onde os eliminados na primeira fase jogariam 22 jogos e os finalistas no máximo à 32. 

    3 – Campeonatos Estaduais cabem no calendário?

    Sim, e se bem organizados com um teto máximo de 20 datas e em alguns estados reformulados, sim. São Paulo foi um exemplo bom no qual reduziu de sofríveis 20 times para 16 times. O Rio deveria seguir o mesmo rumo, sendo o ideal para 12 times. As equipes que ficarem sem atividades no semestre onde é disputado o Brasileirão tem que disputar Copas Estaduais. Muitos estados tem, e deveria ser obrigação de todas as federações manterem esses times em atividades. 

    4 – Libertadores e Sul-Americana poderiam ser revisadas?

    Sim, Libertadores não precisa de 44 times. 32 equipes estaria de bom tamanho. A Sul-Americana com 48 times como era disputada até 2016 era ótima. E outro ponto que nem deveria ter era essa duração exagerada de 1 ano para as competições. O ideal era começar do final de fevereiro até maio. 14 datas para a Libertadores e 12 para a Copa Sul-Americana.

    5 – Campeonatos Regionais devem existir?

    Sim, deveriam e como prêmio para os campeões uma vaga na Copa Sul-Americana. Copa do Nordeste, Copa Verde, Primeira Liga, começando entre fevereiro e terminando em maio, mas apenas para os times que não estivessem envolvidos nem na Libertadores e nem na Sul-Americana. Outros micro torneios regionais para movimentar as regiões Norte e Centro-Oeste deveriam ser reativados para valer vaga para a Copa Verde por exemplo. 

    6 – Como ficaria esse calendário e de que forma deveria ser?

    – Adaptação aos moldes do futebol europeu;

    – Férias em junho;

    – Pré-temporada em julho;

    – Início do Brasileirão em agosto com Copa do Brasil começando na terceira semana de outubro e terminando na última semana de dezembro;

    – Mundial de Clubes em dezembro. O campeão da Libertadores está dispensado da Copa do Brasil e teria 4 partidas remanejadas do Brasileiro para a pré-temporada, enquanto que a quinta partida antecipada seria disputada na data que coincide com a primeira fase da Copa do Brasil.

    – Sem paradas para natal e ano novo, salvo se os feriados coincidirem de ser numa quarta ou quinta, sábado ou domingo. Aí não teria futebol (óbvio).

    – Brasileirão encerraria em janeiro.

    – Estaduais começando de fevereiro à maio, junto com a Libertadores. A Recopa Sul-Americana ocorreria em janeiro e em jogo único, na casa do time que fizer a melhor campanha dentre as duas competições. 

    São coisas que pensei e resolvi colocar nesse comentário.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador