Bruno Lima Rocha
Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista formado pela UFRJ, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise (no ar desde setembro 2005), comentarista de portais nacionais e internacionais, produtor de canal estrangeiro e editor do Radiojornal dos Trabalhadores.
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A Petrobrás sob o controle dos especuladores e a greve dos caminhoneiros, por Bruno Lima Rocha

Foto Jota

A Petrobrás sob o controle dos especuladores e a greve dos caminhoneiros

por Bruno Lima Rocha

A paralisação e greve dos caminhoneiros deixou a nação estática. Iniciada na segunda dia 21 de maio, atravessou quatro dias até que na noite de 5ª, 24 de maio, o governo Temer teria “negociado” com “representantes” dos caminhoneiros. Vivemos o avesso do avesso. Quem assinou o “acordo” de 5ª à noite foi considerado pelo governo ilegítimo como sendo os “trabalhadores do transporte rodoviário”. Logo na sexta dia 25 de maio, a paralisação continuava, até porque no meio da reunião de 24 de maio, o presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (ABCAM) se retirou.  Evidentemente que as reivindicações mais óbvias não estavam sendo atendidas. Sem a previsibilidade mínima, não há como seguir rodando “ganhando” bruto R$ 1,20 o quilômetro. Quanto à redução definitiva do valor dos derivados de petróleo, diesel, gasolina e querosene, nada feito porque além dos 10% a menos no preço da refinaria, a diretoria da Petrobrás não se compromete com mais nada. Trata-se de outro capítulo da crise, a dependência do modal rodoviário e a subordinação da Petrobrás às determinações dos especuladores paralisaram o Brasil.

Vale observar, novamente, o fenômeno. Os dados coletados foram vários, e nos dias durante a greve e paralisação, a trama do transporte foi verificada. A terceira semana de maio de 2018 viu-se diante de um fato. O país roda a diesel e os preços praticados pela Petrobrás levaram algumas categorias de transportadores ao desespero. Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), rodam no país 2,7 milhões de caminhoneiros. Deste total, os chamados caminhoneiros autônomos são proprietários de cerca de 70% da frota e os demais, 30%, pertencem a empresas de logística e outros setores. De acordo com o Cadastro Geral de Emprego (CAGED) trabalham nas transportadoras 360 mil motoristas de carga, enquanto os autônomos são 1,8. Tal condição aproxima a maioria dos caminhoneiros de algumas reivindicações das empresas do setor, mas essa é uma aproximação.  Os interesses não são os mesmos e menos ainda as representações.

Vale repetir. O governo ilegítimo tratou de “negociação” quem estava fazendo locaute e depois compôs com as emissoras de TV e conglomerados de mídia a “grande narrativa”. Houve locaute e segue havendo! A alegação é do núcleo duro de MT. E quem seriam os operadores máximos do locaute? Justo os autônomos, que trabalham por conta ou como locatários de donos de caminhões. O discurso de “minoria radical” não colou nada bem e a revolta se somou com a necessidade da luta. O apoio popular para a causa, não baixou, de jeito algum. Os dias seguintes foram intensos: sexta dia 25, sábado 26, domingo 27 de maio; e a pressão continuou. É necessário reafirmar. Em Brasília, as duas entidades presentes na reunião do dia 24 de maio, no Palácio do Planalto, onde teriam chegado a algum tipo de acordo, não representavam a maioria dos caminhoneiros autônomos. É como se o “representante não representasse”. O mesmo pode-se afirmar quanto à Petrobrás. Sua diretoria indicada após o golpe parlamentar que levou Michel Temer ao Poder Executivo não representa nem os interesses do país e, menos ainda, tem o respaldo dos trabalhadores do setor.

Não resta sombra de dúvida. A primeira reação de Pedro Parente já  merecia a demissão sumária e imediata dele e de toda sua diretoria.  Depois, em rede nacional, outra pérola do entreguismo a favor dos especuladores.

“Nosso objetivo é gerar valor para os acionistas no médio e no longo prazo”, afirmou o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, ao vivo, no Jornal Nacional, de 24 de maio.

Parente opera contra os interesses do país. Correu o país o texto da Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET) e é necessária a sua repetição: A partir de outubro de 2016, passou a praticar preços mais altos para os combustíveis, viabilizando a importação de derivado. Com isso, a Petrobras perdeu mercado e a capacidade ociosa das refinarias saltou para 25%. Com menos refino, explodiram as exportações de óleo cru e as importações de derivados. O maior beneficiado foram os Estados Unidos: enquanto as importações de diesel se multiplicaram por 1,8 desde 2015, a importação de diesel dos EUA dos EUA aumentou 3,6 vezes. Passou de 41% em 2015 para 80% do total de importados pelo Brasil, ao mesmo tempo em que a Petrobras abria mão da refinaria de Pasadena. Os grandes ganhadores foram os “traders” internacionais, dentre as quais o maior é a Trafigura, a gigante que montou o maior esquema de corrupção da história de Angola, estava envolvido até o pescoço com os escândalos da Petrobrás e foi surpreendentemente liberada pelos procuradores da Lava Jato e pelo juiz Sérgio Moro.

Cabe perguntar, porque a Federação Única dos Petroleiros (a FUP) e mesmo os setores dissidentes à esquerda desta entidade, não coordenaram esforços para lançar uma campanha em defesa da Petrobrás, da composição nacional de preços e não subordinada aos especuladores transnacionais (os chamados traders). Seria o momento perfeito para tentar uma greve de trabalhadores do setor de óleo e gás, visando à retomada do controle nacional sobre o setor mais importante do país.

A falta de alianças políticas no nível social é proporcional ao abandono do trabalho na base da sociedade complexa que se formou no período do boom econômico, fomentado tanto pelo auge das commodities como pela dominação do capitalismo pós-fordista no regime de extração de mais valia coletiva e acumulação flexível. A identificação imediata dos caminhoneiros autônomos é com motoristas de vans – como os transportadores escolares – motoboys, taxistas e até condutores de aplicativos. A sociedade brasileira tem uma complexidade nas relações econômico-produtivas e o sindicalismo verticalizado sozinho já não dá conta da organização do mundo do trabalho.

Mesmo com todas estas dificuldades somadas à confusão e o oportunismo ideológico da tentativa de captura pela extrema direita da justa luta dos caminhoneiros autônomos, o momento é de mais crise para o governo ilegítimo, aproximando o debate de necessidade de projeto de país e defesa incondicional dos interesses da maioria do povo brasileiro. A legitimidade dos grupos de mídia também se fragiliza nesta semana de paralisação de caminhoneiros, pois a partir de 6ª dia 25 de maio, começaram a fazer o infame esforço de criminalizar a luta e acusar de locaute justamente quem trabalha por conta.  

É o momento ideal para popularizar o tema da defesa da Petrobrás pública e a serviço da soberania popular. Razões para esta luta não faltam, embora sejamos bombardeados, 24 horas por dia, com mentiras em relação ao Petróleo e o Pré-Sal.

Bruno Lima Rocha é vice-coordenador do Grupo de Pesquisa Capital e Estado, pós-doutorando em economia política, doutor e mestre em ciência política, professor de relações internacionais e jornalismo (https://estrategiaeanaliseblog.com/ [email protected] / canal no Telegram t.me/estrategiaeanalise)

Bruno Lima Rocha

Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista formado pela UFRJ, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise (no ar desde setembro 2005), comentarista de portais nacionais e internacionais, produtor de canal estrangeiro e editor do Radiojornal dos Trabalhadores.

2 Comentários

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  1. A classe média paga o preço de sua irresponsabilidade política

    Quando os Fasci-Golpistas estavam em processo de derrubada da Dilma, nós demonstrávamos que o problema era o capitalismo, e não a Dilma, e que a solução era a socialização dos meios de produção, e não o Michel Temer. Eles não ouviram. Pois que arquem com as consequencias de suas irresponsabilidades políticas.

    Que morram abraçados com o governo golpistas que apoiaram.

  2. DESTRUIR E ENTREGAR A

    DESTRUIR E ENTREGAR A PETROBRAS AO CAPITAL INTERNACIONAL

    Destruir a Petrobras o objetivo de Sérgio Moro, o objetivo do impechment de Dilma, o objetivo da prisão de Lula.

    Quanto $$$ não rolou e rola nisso ???

    Leia-se a (1) Nota dos Engenheiros da Petrobras – AEPET e a nota da (2) Federação Única dos Funcionários da Petrobras – FUP relativas à política de submissão, destruição e entrega da Petrobras ao capital interncional:

    (1) Nota da AEPET sobre a política de preços da Petrobrás

    https://jornalggn.com.br/noticia/nota-da-aepet-sobre-a-politica-de-precos-da-petrobras

    A AEPET reafirma o que foi expresso no Editorial “Política de preços de Temer e Parente é ‘America First!’ “, de dezembro de 2017.

    A Petrobrás adotou nova política de preços dos combustíveis, desde outubro de 2016, a partir de então foram praticados preços mais altos que viabilizaram a importação por concorrentes. A estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada. A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes. A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015, dos EUA por 3,6. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 superou 80% do total importado pelo Brasil.

    Ganharam os produtores norte-americanos, os “traders” multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil. Perderam os consumidores brasileiros, a Petrobrás, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação. Batizamos essa política de “America first! ”, “Os Estados Unidos primeiro!”.

    Diante da greve dos caminhoneiros assistimos, lemos e ouvimos, repetidamente na “grande mídia”, a falácia de que a mudança da política de preços da Petrobrás ameaçaria sua capacidade empresarial. Esclarecemos à sociedade que a mudança na política de preços, com a redução dos preços no mercado interno, tem o potencial de melhorar o desempenho corporativo, ou de ser neutra, caso a redução dos preços nas refinarias seja significativa, na medida em que a Petrobrás pode recuperar o mercado entregue aos concorrentes por meio da atual política de preços. Além da recuperação do mercado perdido, o tamanho do mercado tende a se expandir porque a demanda se aquece com preços mais baixos.

    A atual direção da Petrobrás divulgou que foram realizados ajustes na política de preços com o objetivo de recuperar mercado, mas até aqui não foram efetivos. A própria companhia reconhece nos seus balanços trimestrais o prejuízo na geração de caixa decorrente da política adotada.

    Outra falácia repetida 24 horas por dia diz respeito a suposta “quebra da Petrobrás” em consequência dos subsídios concedidos entre 2011 e 2014. A verdade é que a geração de caixa da companhia neste período foi pujante, sempre superior aos US$ 25 bilhões, e compatível ao desempenho empresarial histórico.

    Geração operacional de caixa, US$ bilhões

    2011      2012      2013      2014      2015      2016      2017

    33,03     27,04     26,03     26,60     25,90     26,10     27,11

    A Petrobrás é uma empresa estatal e existe para contribuir com o desenvolvimento do país e para abastecer nosso mercado aos menores custos possíveis. A maioria da população quer que a Petrobrás atue em favor dos seus legítimos interesses, enquanto especuladores do mercado querem maximizar seus lucros de curto prazo.

    Nossa Associação se solidariza aos consumidores brasileiros e afirma que é perfeitamente compatível ter a Petrobrás forte, a serviço do Brasil e preços dos combustíveis mais baixos e condizentes com a capacidade de compra dos brasileiros.

    * Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

    Obs.: ouça-se e assista importantíssima entrevista do Presidente da Aepet:

    https://www.youtube.com/watch?v=8XNoGZLqRSI

    ***

    (2) FUP – Federação Única de Petroleiros

    https://www.ocafezinho.com/2018/05/26/fup-esclarecimento-a-populacao-sobre-os-precos-abusivos-de-combustiveis/

    FUP: ESCLARECIMENTO À POPULAÇÃO SOBRE OS PREÇOS ABUSIVOS DE COMBUSTÍVEIS

    26/05/2018

    Publicado pela FUP

    A disparada dos preços da gasolina, do gás de cozinha e do diesel não pode ser tratada como uma questão apenas de tributação. É, acima de tudo, um problema de gestão da Petrobrás, que vem sendo administrada para atender exclusivamente aos interesses do mercado.

    Com o aval do governo Temer, o presidente da empresa, Pedro Parente, adotou em outubro de 2016 uma política de preços internacionais para os derivados produzidos pela estatal, sem estabelecer qualquer mecanismo de proteção para o consumidor. A FUP denunciou na época que quem pagaria a conta seria o povo brasileiro e que o País estaria refém das crises internacionais de petróleo.

    Mesmo sabendo das consequências, Temer e Parente optaram por satisfazer o mercado e, em julho do ano passado, os reajustes nas refinarias passaram a ser diários.

    Desde então, a Petrobrás alterou 230 vezes os preços nas refinarias. Isso resultou em aumentos de mais de 50% na gasolina e diesel, enquanto os preços do GLP tiveram 60% de reajuste.

    Não adianta, portanto, reduzir os impostos, que o governo já havia aumentado em 100% no ano passado, se não houver uma mudança estrutural na gestão da Petrobrás. Os combustíveis continuarão subindo de forma descontrolada, enquanto o principal foco do problema não for atacado.

    O alinhamento internacional dos preços de derivados faz parte do desmonte da Petrobrás. O objetivo é privatizar as refinarias, os dutos e terminais, assim como já ocorreu com os campos do Pré-Sal, gasodutos, subsidiárias, entre dezenas de outros ativos estratégicos da estatal. Para facilitar a entrega, Pedro Parente, subutilizou o parque de refino e passou a estimular a importação de derivados por empresas privadas.

    Em 2013, a Petrobrás tinha capacidade de atender 90% da demanda interna de combustíveis. Em 2017, esse percentual caiu para 76%. Algumas refinarias já operam com menos da metade da capacidade de produção, como é o caso da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, uma das quatro unidades que Parente colocou à venda.

    Beneficiadas por essa política, as importadoras de combustíveis fazem a festa. Os derivados importados já representam 24% do mercado nacional. Ou seja, a cada 10 litros de gasolina vendidos no Brasil, 2,5 litros são importados. Enquanto isso, a Petrobrás está sendo reduzida a uma mera exportadora de petróleo, quando poderia abastecer integralmente o País com diesel, gasolina e gás de cozinha a preços bem abaixo do mercado internacional.

    Pedro Parente, que no inicio dos anos 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso, ficou conhecido como o ministro do apagão, de novo criou uma armadilha para o povo. Com a enxurrada de importação de combustíveis, ficará mais difícil controlar os preços, pois, sem a paridade internacional, as importadoras saem de cena, deixando o prejuízo para a Petrobrás. Se a estatal não voltar a ocupar lugar de destaque no refino e na distribuição de derivados, ficará cada vez mais refém dos preços internacionais.

    Estamos, portanto, diante de mais um apagão imposto por Pedro Parente. Um desmonte que a mídia esconde, fazendo a população pensar que a disparada dos preços dos combustíveis é apenas uma questão de tributação.

    Por isso os petroleiros farão a maior greve da história da Petrobrás. Uma greve que não é por salários, nem benefícios. Uma greve pela redução dos preços do gás de cozinha, da gasolina e do diesel. Uma greve pela retomada da produção de combustíveis nas refinarias brasileiras e pelo fim das importações de derivados de petróleo. Uma greve contra o desmonte da empresa que é estratégica para a nação.

    Porque defender a Petrobrás é defender os interesses do povo brasileiro.

     

     

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