Agenda de Moro e diretor da PF na viagem aos EUA inclui acordos com DoJ

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Moro não foi aos EUA sozinho. Levou o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, um dos que elogiou em 2017 a cooperação dos EUA na Lava Jato

Foto: Divulgação

Jornal GGN – A participação de Sérgio Moro na visita à Washington, junto a comitiva de Jair Bolsonaro para se encontrar com Donald Trump, não teve só como objetivo a pauta de aproximação internacional. Para Moro, a ida aos Estados Unidos tinha também como meta articular outras parcerias junto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o Doj.

Um destes acordos, segundo a colunista Bela Megale, de O Globo, é que Sérgio Moro quer permitir o acesso de pessoas investigadas em redes sociais como o Facebook e o WhatsApp, sem a obrigatoriedade que estas redes deem a permissão por meio de um pedido judicial.

Moro não foi aos EUA sozinho. Também está acompanhado do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, interessado no fim da privacidade das redes sociais como meio de provas para investigações. Ainda de acordo com a colunista, as investigações sofrem esse tipo de barreira, já que o Facebook e WhatsApp não permitem o acesso a informações confidenciais de seus usuários.

Entretanto, além desse interesse de Moro, há a suspeita de que o atual ministro da Justiça e o diretor da PF avancem em tratativas relacionadas a outros acordos de cooperação com as autoridades norte-americanas, a exemplo do que ocorreu enquanto Moro era juiz de primeira instância, com a colaboração extraoficial junto ao DoJ, relacionado à Lava Jato, ocasionando depois ações contra empresas brasileiras como a Odebrecht e contra a estatal brasileira Petrobras.

A cooperação judicial dos EUA com o Brasil no caso específico da Lava Jato já vem sendo assumida desde a gestão de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República. No ano passado, por exemplo, o GGN divulgou um vídeo do então procurador-geral adjunto dos Estados Unidos, Kenneth Blanco, elogiando essa troca de informações com a nação estadunidense e Janot afirmando que “sem a cooperação jurídica internacional, seria impossível fazer o que nós estamos fazendo”, ao se referir à Lava Jato.

O seminário em Washington datado de julho de 2017 também contava com a participação de Maurício Valeixo, hoje nomeado diretor da PF por Moro. Naquela ocasião, o ex-chefe da FCPA Unit do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Patrick Stolkes, fez questão de ressaltar a Lava Jato e admitiu que o Brasil conseguiu “otimizar o sistema jurídico”, para investigar “vários casos ao mesmo tempo”, graças “à adaptação de seus sistemas [de investigação] e o aumento da cooperação internacional”.

Mas as suspeitas da interferência de autoridades norte-americanas nas investigações internas brasileiras datam ainda de antes da Lava Jato. Ainda em 2004, a CartaCapital entrevistou Carlos Costa, que foi chefe do FBI no Brasil, e afirmou que as autoridades norte-americanas haviam “comprado a Polícia Federal” e a ABIN, Agência Brasileira de Inteligência, também havia se “prostituído”.

“A vossa Polícia Federal é nossa, trabalha para nós há anos. […] Foi comprada por alguns milhões de dólares. […] Os Estados Unidos compraram a Polícia Federal… quem paga dá as ordens…”, acusava Carlos, que comandou o FBI, durante o govenro de Fernando Henrique Cardoso e início do governo de Lula.

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Não se sabe se Sérgio Moro quer buscar parcerias que ultrapassem a do simples acesso dos investigadores brasileiros aos dados confidenciais de usuários do Facebook e WhatsApp que são alvos de apurações. Mas o assento de Moro e de Valeixo no avião de Bolsonaro não tinha como intenção a agenda do mandatário brasileiro do apenas comércio bilateral.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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