Emma Gonzales, John Forbes Kerry e Paul MacCartney: all they need is love or war?

Este fim de semana a imprensa brasileira explorou à exaustão a manifestação contra a comercialização de fuzis na internet. Fotos e vídeos dos discursos de Emma Gonzales inundaram a internet. O Google registra centenas de notícias produzidas no Brasil fazendo referência ao nome da líder dos estudantes que se levantaram por causa do massacre na Stoneman Douglas High School. O total de notícias ao redor do mundo que fazem referência à Emma Gonzalez no Google já se eleva a 2.820.000 (dois milhões, oitocentos e vinte mil).

O que chama atenção nesse movimento é uma ausência: os estudantes de Stoneman Douglas High School reclamam da venda de fuzis e querem a NRA seja desarmada. Mas eles não falam absolutamente nada sobre o imperialismo norte-americano, sobre o controle da política externa dos EUA pelos fabricantes de armamentos utilizados pelo US Army, US Air Force e US Navy.

Sob o governo republicano as tensões cresceram no Oriente (EUA x Coréia do Norte; EUA x China), no Oriente Médio (EUA x Síria e Rússia; EUA x Irã) e na Europa (EUA e Ucrânia x Rússia; EUA e Inglaterra x Rússia; EUA e OTAN x Rússia), um rompimento parece ser desejado por Washington. Nos últimos dias Donald Trump ter anunciado: punições comerciais aos chineses, obrigando-os a reagir; expulsão de diplomatas russos por causa de um suposto incidente que ocorreu na Inglaterra. Mesmo assim Emma Gonzalez não disse uma só palavra sobre a guerra que o Pentágono parece estar planejando contra a China e contra a Rússia

Desarmar a população civil nos EUA é uma plataforma política absolutamente justa. Afinal, na última década os massacres de inocentes tomaram proporções epidêmicas à medida que os norte-americanos avidamente consomem pistolas, espingardas e fuzis. Mas se isso for feito apenas para evitar conflitos entre civis durante uma guerra mundial o resultado será inócuo. Qualquer analista militar sabe que as vidas dos norte-americanos não ficarão mais seguras durante uma guerra mecanizada que inevitavelmente chegará ao território dos EUA. Além disso, um conflito armado convencional entre EUA, Inglaterra e OTAN x Rússia e China pode rapidamente levar à uma guerra nuclear de proporções planetárias.

O perigo de uma guerra mundial existe. Portanto, Emma Gonzalez e seus colegas deveriam tomar cuidado para não serem usados como se fossem inocentes úteis nas mãos dos chacais que acreditam que irão lucrar fornecendo armamentos sofisticados e caros para os EUA e para a OTAN. A ausência de repressão policial me parece um indicativo claro de que o movimento dos estudantes pode estar sendo tolerado em razão de algo maior e mais importante me parece evidente.

Há alguns anos o Movimento Occupy foi ferozmente reprimido pela polícia porque ousou desafiar o neoliberalismo. Isso ocorreria se Emma Gonzalez começasse a atacar os fabricantes de caças, tanques, submarinos, porta-aviões e mísseis “made in USA” ? Manifestações imensas de estudantes seriam toleradas pelo FBI se eles, por exemplo, exigissem educação universitária gratuita para todos, assistência médica universal paga pelo Estado e aumentos salariais?

Ao meditar sobre o que ocorreu no fim de semana as únicas imagens que me vieram à mente foram as do soldado John Forbes Kerry criticando a Guerra do Vietnam e do Secretário de Estado John Forbes Kerry defendendo o imperialismo norte-americano na Síria https://www.youtube.com/watch?v=Vs448eq1k9M. Se não tomar cuidado Emma Gonzalez seguirá os passos dele.

Uma última ironia. Paul MacCartney foi visto durante as manifestações A imprensa aplaudiu seu comprometimento com a não violência, mas convenientemente esqueceu que no Brasil ele posou sorrindo para foto com policiais acostumados a espancar e a matar adolescentes pobres, pardos e negros. As vidas dos norte-americanos são mais preciosas do que as dos brasileiros?

Fábio de Oliveira Ribeiro

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