EUA comemora derrubada de presidente do Peru e inicia “acordos”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Entenda o que está por trás da valorização e dos aplausos das autoridades norte-americanas na suposta “democracia” com a derrubada de Kucyznski
 

Foto: Reprodução Facebook
 
Jornal GGN – A derrubada de Pedro Pablo Kucyznski da Presidência do Peru, por investigações desdobradas da Operação Lava Jato no Brasil com ilícitos envolvendo a Odebrecht aonde a empreiteira tem presença comercial, foi comemorada pelo governo dos Estados Unidos. Nesta sexta-feira (23), a saída de PPK, como é chamado o agora ex-presidente do país latino-americano, e a entrada com a posse de Martín Vizcarra mostra “a democracia”, afirmou em comunicado o Departamento de Estado dos EUA.
 
O Congresso peruano aceitou nesta sexta a renúncia de Kuczynski, após a pressão feita por parlamentares e pelo próprio partido do ex-mandatário, com a divulgação de vídeos e áudios em que aliados de PPK estariam tentando subornar outros parlamentares em troca de barrar o impeachment que já estava tramitando no Parlamento peruano contra o então presidente.
 
Após a divulgação da mídia, Pedro Pablo Kucyznski foi pressionado: caso não renunciasse, seu impeachment seria inevitável, indicavam os aliados. A carta de renúncia foi apresentada nesta quarta-feira e, na sexta, os parlamentares aprovaram a saída do presidente. No mesmo dia, foi realizada a posse de Martín Vizcarra.
 
Para o contentamento do Departamento de Justiça norte-americana, Vizcarra carrega a bandeira “contra a corrupção”, a exemplo do que adotou a própria Operação Lava Jato no Brasil para angariar apoios, apesar de questionáveis os métodos de atuação.  “A justiça deverá atuar com independência, responsabilidade e rapidez”, pontuou o novo mandatário.
 
Na outra ponta do continente, os EUA aplaudiram. “O respeito à Constituição durante essa transição reflete a força do país como uma democracia resiliente, compatível com os princípios articulados na Carta Democrática Interamericana”, disse a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Heather Nauert.
 
Mas por trás da comemoração à “democracia resiliente”, os EUA vem adotando um projeto de dominação judicial, por meio de colaborações com autoridades dos países latino-americano, e sob a bandeira de combate à corrupção. Como consequência, os países que não adotam as regulamentações consideradas padrão para os Estados Unidos, com a responsabilização, multas e prisões de dirigentes, ocorre a automática derrubada de empresas nacionais, como no caso do Brasil, a empreiteira Odebrecht, que possuía ampla presença de atuação mundial.
 
A sequência do discurso de Heather Nauer, porta-voz norte-americana, trouxe a confirmação da extensão dos aplausos: “Trabalharemos com o Peru na Cúpula das Américas de abril, em Lima, onde reafirmaremos o compromisso coletivo de nosso hemisfério com a democracia”.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. A atitude do Departamento de

    A atitude do Departamento de Estado não faz nenhum sentido. O Presidente deposto é mais americano que peruano, neoliberal de primeira linha,  PPK é de origem judaico-polonesa, foi diretor do Banco Mundial e banqueiro de investimentos em

    Wall Street, seria como Meirelles no Brasil. Porque os EUA comemorariam? Sem logica.

    1. Caro André, uma”lava-jato” no

      Caro André, uma”lava-jato” no Peru faria o mesmo que no Brasil. Um presidente eleito, mesmo que “americano”, não teria o poder de destruir o país e entregá-lo aos interesses norte-americanos.

    2. Histeria

      Concordo com a observação. O ex-presidente PPK é outro dos Chicago Boys, aqueles cujo pensamento econômico aplicado só produz terra arrasada, na base de onde pisam não nasce grama. Aqui, dá pra compará-lo com Álvaro Dias. Só porque se diz de centro e se põe como contraponto à direita transloucada não significa que é. Pedro Pablo Kuczynski (PPK), fundou um partido o Peru por el Kambio (PPK), com a exclusiva missão de levá-lo a presidência. Tal como seu paralelo no Brasil, Álvaro Dias com o seu Podemos, uma descarada apropriação indébita do nome do Podemos espanhol, com o qual não guarda a menor simetria. Ao menos, PPK, ao par do óbvio egocentrismo, foi original e montou uma gang com sua marca. Ambos desancam a pau a esquerda “corrupta e ineficiente” e se apresentam como impolutos, portadores da eficiência administrativa e da bandeira da moral pequeno-burguesa.

      Obiviamente, são farinhas do mesmo saco. Se, em uma eleição planejada no inferno pelo próprio Satanás, eu tivesse que escolher, sem a possibilidade de anular o voto, entre Álvaro Dias e Capitão Adolf Bolsonaro, votaria no segundo. Esse, ao menos, não esconde quem é e o que pretende. Pelo menos não falseia, como o faz, inclusive com o próprio cabelo, esse outro golpista do Paraná.

      Então, mesmo sabendo que as pegadas de Tio Sam se espalham por toda a cena de crime de estado aqui, algures e acolá, acho que, no caso, atribuir-lhe a queda do seu aliado no Peru beira a histeria. Pode ser, talvez, produto de dano colateral, não mais.

       

    3. Lógica na tropa do Trump –

      Lógica na tropa do Trump – quase um trocadilho – não é facil não.

      Mas pode estar no post mesmo…. queimar navios.

      “… os EUA vem adotando um projeto de dominação judicial, por meio de colaborações com autoridades dos países latino-americano, e sob a bandeira de combate à corrupção. Como consequência, os países que não adotam as regulamentações consideradas padrão para os Estados Unidos, com a responsabilização, multas e prisões de dirigentes, ocorre a automática derrubada de empresas nacionais, como no caso do Brasil, a empreiteira Odebrecht, que possuía ampla presença de atuação mundial.”

    4. Realmente estranho, uma

      Realmente estranho, uma explicação é o “carater pedagogico” do processo e o fato de que deve existir uma fila de PPKs aguardando sua vez. O império pode se dar o luxo de jogar alguns aliados aos leões.

      Outra explicação é que o negócio saiu do controle, mas o imperio faz de conta que ainda tem as redeas da situação. 

      O que esta aconetcendo com Sarkozi, o presidente frances mais pro americano das ultimas decadas é um exemplo.

    5. Tem uma locução protocolar
       

      que diz, “cumpriremos nossos propósitos mesmo que  tenhamos que sacrificar alguns dos nossos”

      O objetivo maior, nos parece, é o controle da política do continente de baixo e através desse o total acesso aos bens e direitos do território.

       

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