Lava Jato: dos EUA para a Argentina e o Brasil


Moro ao lado de Lorenzetti, da Suprema Corte argentina, e do juiz Bonadio, seu sósia portenho – Foto: Reprodução

Enviado por Rogério Mattos*

Da Executive Intelligence Review

Outra vez Braden ou Perón

Um corrupto Departamento de Estado dos EUA por detrás da campanha “anticorrupção” para encarcerar ou matar Cristina Fernández de Kirchner

A mesma rede corrupta do Departamento de Estado dos EUA e do FBI que vem coordenando a operação “anticorrupção” chamada Lava-Jato no Brasil, utilizada contra as instituições nacionais, que são os mesmos que estão a mando da operação “Russiangate” para derrubar o presidente dos EUA, Donald Trump, são os mesmos que estão por detrás da ofensiva similar na Argentina, que busca encarcerar ou criar as condições para o assassinato da ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner.

Isto não tem nada a ver com a corrupção, mas se trata de uma ofensiva dirigida desde Londres contra qualquer governo ou dirigente político que se atreva a propor políticas de verdadeiro desenvolvimento econômico ou se aliar com a Rússia e a China, e em sua Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota. Como disse acertadamente Fernández de Kirchner em seu discurso de 22 de agosto no senado argentino, se trata de uma campanha “regional”, que afeta Argentina, Brasil e o Equador. O que não mencionou é que a investigação do “Russiangate” que está sendo feita nos EUA pelo procurador Robert Mueller, contra o presidente anti-sistema Donald Trump, em conluio com a inteligência britânica e redes corruptas nos mais altos níveis do Departamento de Justiça (DOJ) e do FBI, é parte da mesma ofensiva regional.

Trata-se de uma só operação. Como documentou a Executive Intelligence Review em dezembro do ano passado,  o juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro, foi treinado pelo Departamento de Estado dos EUA. Ele coordenou diretamente com um oficial sênior do DOJ, Kenneth Blanco, ex vice procurador-adjunto da Divisão Criminal do DOJ,  para iniciar as detenções de grande repercussão midiática, assim como as acusações seletivas contra indivíduos escolhidos a dedo entre as principais construtoras e empresas de engenharia do Brasil.

Em um discurso dado em julho de 2017, Blanco se jactou dos “resultados extraordinários” que havia produzido sua coordenação com Moro e outros procuradores da Lava-Jato, desde a destituição da presidenta Dilma Rousseff até a condenação do ex-presidente Lula. Seu trabalho foi tão efetivo, disse Blanco nesse discurso, porque operavam “fora dos processos formais”, e porque só se incomodavam com as “formalidades” jurídicas quando era necessário. “É difícil imaginar uma história melhor de cooperação na história recente” – alardeou Blanco – “que a do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e os procuradores brasileiros”.

Cabe destacar também que em sua arenga, Blanco reservou um elogio especial a seção de fraudes da Divisão Penal, pelo seu êxito em iniciar a operação Lava-Jato. A seção de fraudes era então dirigida por ninguém menos que Andrew Weismann, transferido em junho de 2017 para a equipe especial encabeçada por Robert Mueller para derrotar Donald Trump com a imputação absurda de que havia feito “conluio” com a Rússia nas eleições de 2016. Weismann, antigo associado de Mueller, tem tal história de conduta indevida e de abuso de autoridade que ficou conhecido como o “pitbull  judicial de Mueller”.

E a Argentina? Em 9 de dezembro de 2017, Blanco informou que em viagem que fez a Argentina na mesma semana, se havia “reunido com os mais altos níveis do governo Macri e com o presidente da Suprema Corte [Ricardo Lorenzetti]. Durante todo o ano passado, temos trabalhado de maneira muito próxima com os argentinos na áreas de corrupção (…). Estou impressionado com o firme compromisso deles, e as medidas que estão tomando para erradicar a corrupção em todas as suas formas. Compartilhamos o compromisso comum de seguir trabalhando juntos de maneira muito próxima”.

O caso de corrupção contra Fernández de Kirchner agora, se dá com o pano de fundo de uma economia em processo de desintegração e de uma revolta social contra a austeridade ditada pelo FMI e imposta pelo presidente Mauricio Macri. O caso segue exatamente o mesmo modelo do Brasil, com um circo midiático em torno a uma série de empresários “arrependidos” que marcharam para os tribunais para negociar sua confissão a fim de fugir da cadeia. Em 23 de agosto, o colunista do diário Clarín, Marcelo Bonelli, publicou um informe não confirmado de que “o governo Trump” disse “informalmente” ao governo Macri que estão dispostos a oferecer “informação confidencial” sobre os bancos e contas bancárias supostamente utilizadas pelo governo de Fernández para ocultar os subornos. Se isso é certo, surge a questão de se o coordenador da Lava-Jato, Kenneth Blanco, que agora dirige a unidade de “crimes financeiros” no Departamento de Tesouro dos EUA (conhecida como FINCEN, na sigla em inglês), está metido no caso. Segundo Bonelli, a única condição que se pôs a essa oferta é que toda a informação que seja subministrada deve aparecer ao público como se viesse da investigação do juiz Claudio Bonadio, e não como iniciativa dos Estados Unidos.

O juiz Bonadio, que tem seu próprio histórico sórdido de conduta fiscal dolosa, vêm dirigindo a caça às bruxas contra Fernández de Kirchner desde que ela deixou o cargo de presidente em dezembro de 2015. Em julho de 2017, o presidente da Suprema Corte, Lorenzetti, organizou uma reunião privada a portas fechadas com os juízes federais argentinos, entre eles Bonadio; o convidado de honra dessa reunião foi ninguém menos que a peça do Departamento de Estado e do DOJ, Sérgio Moro. Bonadio expressou efusivamente sua admiração por Moro, e há uma fotografia memorável de Moro, Lorenzetti e Bonadio juntos na mesma reunião. Recentemente Bonadio se reuniu em privado com Lorenzetti, sem dúvidas para lhe passar as últimas sobre o caso contra Fernández de Kirchner. Macri também já derramou elogios a operação Lava-Jato, como exemplo de como se deve operar um “aparato judicial independente” e disse que aspira que a Argentina tenha um sistema como esse.

 

Rogério Mattos: Professor e tradutor da revista Executive Intelligence Review. Formado em História (UERJ) e doutorando em Literatura Comparada (UFF). Mantém o site http://www.oabertinho.com.br, onde publica alguns de seus escritos.

Redação

4 Comentários

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  1. Essa patacoada só foi
    Essa patacoada só foi possível pela leniência do governo federal que permitiu essa orgia entre funcionários públicos brasileiros e estrangeiros, sem a supervisão do ministério da justiça como se o país fosse um bordel em que era só chegar e entrar sem cerimônia.
    Quando não houve interesse, como no caso da rede golpe, não houve colaboração.
    A providência já deveria ter sido tomada pelos congressistas, aqueles que servissem de colaboracionistas sem supervisão e permissão deveriam ser punidos com a perda do cargo, por ultrajar a soberania nacional.

  2. Houve uma vez um país que

    Houve uma vez um país que exportava expertise em construir grandes obras e por isso era admirado por esses países. Hoje, esse país exporta crises políticas e é vista pela elite desses países [ seja pela parte destruída pelas crises seja pela parte que agora é beneficiada por elas ] como um leproso. Incrível como em uma década se deu essa metamorfose macabra. Já que o STF e seus juízes fdps legalizaram a tercerização, quem sabe tercerizar nossa elite pela elite de outro país não seja o único caminho para o Brasil virar um país de verdade. 

  3. TERRA DA INOCÊNCIA HISTÓRIA DA MAIOR POTÊNCIA DO HEMISFÉRIO SUL

    A razão da Lava Jato existir da forma que está direcionada, só foi descoberto agora por nossa Intelectualidade Tupiniquim? Que Rapidez !!!!! Não tinham ainda percebido os interesses estrangeiros  em especial Norte-Americanos? Acorda ! Gigante do seu berço esplêndido !! Mas uma vez Aloprado, sempre Aloprado. Está errado até quando acha que está certo. É muito ‘Academicismo e Ilusão’. Bateram bumbo, quando a Justiça Estrangeira correu atrás de Maluf. Fazendo o serviço, que sua covardia não permitia, prendendo Marin. As figuras eram as ideais, não é mesmo? Mas esqueceram a Porta do Inferno aberta. Advinha quem o ‘Diabo’ veio pegar agora? Na Argentina está fazendo a mesma coisa. Macri e sua nova/velha versão de Privatarias e NeoLiberalismo ‘à la Menen’ (FHC Portenho) arrastou a Argentina ao FMI. Totalmente quebrada. Destruindo o pouco que restava da Economia e  Indústria Argentina. Perdendo Submarino e Tripulação no Oceano, sem ao menos saber o que fazer. E o que está na Mídia e em Evidências internacionais? RGT diariamente? Noticias e acusações requentadas sobre Cristina Kichner. A Justiça do próprio país, destruindo Biografias, fazendo Política e minando qualquer vestígio de resistência ao Colonialismo. A Maior Potência do Hemisfério, pensando que é uma pequena ilha. Ilha de Vera Cruz, continua sendo. Ou pensa ser Porto Rico, Costa Rica ou Belize. Pobre Gigante amedrontado. Pobre país rico. A mediocridade encontrou o seu Estado. E seus Estadistas.       

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