O banditismo capitalista e o caso da Venezuela, por Roberto Bitencourt da Silva

Arte Pars Today

O banditismo capitalista e o caso da Venezuela

Por Roberto Bitencourt da Silva

As enormes pressões e sabotagens dirigidas à economia venezuelana, promovidas pelo imperialismo estadunidense em articulaçãao com as oligarquias domésticas do país vizinho, correspondem a experiências muito ilustrativas, na prática, sobre a natureza real do capitalismo. Sem floreios, nem retórica dogmática, semirreligiosa e abstrata. É caso exemplar de como as coisas funcionam, ou devem e tendem a funcionar, para a maior parte do planeta.

Alegar que o presidente Nicolás Maduro possui mandato ilegítimo e ditatorial ofende a inteligência de qualquer pessoa informada sobre o que se passa na Venezuela. Eleições sucessivas, com espaço aberto à participação da oposição, na mídia e no sistema partidário, com direito a recall em meio ao mandato exercido pelo presidente da República, eis alguns aspectos da tão questionada democracia da nação coirmã.

O posicionamento do Conselho de Segurança da ONU, da maioria dos países na OEA e, entre outros, informações oferecidas pela economista e cientista política Pasqualina Curcio parecem-me suficientes, por ora, para deixar de lado polêmicas que servem única e exclusivamente para criar ruídos estridentes e vazios em torno da realidade política do país sul-americano. De modo que vou abordar assunto distinto. 

Nesses últimos dias, o jornalismo tem sido pródigo em notícias acerca de pressões unilaterais e arbitrárias exercidas pelo governo dos Estados Unidos contra o governo Maduro e, por extensão, contra a economia venezuelana. O Banco da Inglaterra impediu que o governo movimentasse o seu ouro lá depositado. O governo Trump bloqueou os ativos da empresa estatal petrolífera da Venezuela, PDVSA, em território estadunidense. Iniciativas que têm como propósito declarado derrubar o governo eleito de Maduro, por meio de um brutal estrangulamento econômico.

Note bem. Trata-se aí, realmente, de um caso modelar sobre o que é o capitalismo. Ontem, como hoje. O capitalismo nega às nações da periferia do seu sistema mundial até mesmo a aplicação de um dos princípios considerados sagrados e intocáveis: o direito à propriedade.

Clássicos pensadores das origens do capitalismo, como Thomas Hobbes e John Locke, advogavam a defesa da propriedade como dimensão central da vida em sociedade. Mas, não raro, como a história demonstra, um preceito filosófico garantido – ou que se preconiza garantir – nas áreas centrais do sistema capitalista. Na ampla periferia mundial do sistema, nem isso a pulsão imperialista do capitalismo permite ser assegurado.

Ora, retornando ao caso concreto, bens do governo venezuelano e da sua principal empresa, PDVSA, depositados em bancos estadunidenses e ingleses são apropriados e bloqueados sem mais, negando aos proprietários o devido direito a uso e movimentação. Isso não é sequer retaliação internacional a alguma circunstancial encampação do Estado venezuelano de patrimônio e bens angloamericanos, com ou sem indenização. O governo da Venezuela não adotou medidas nesse sentido, ao menos por ora.

De sorte que as unilaterais decisões tomadas pelos EUA e por seu vassalo de luxo, a Inglaterra, conformam somente algo próximo a banditismo, pirataria e violação da soberania. Práticas que estão na origem do capitalismo, sobretudo britânico, contra o mundo extraeuropeu.

A história, em regra, muda com uma lentidão terrível. A maioria esmagadora dos povos possui um passado de dores, perdas e expropriações sob o capitalismo. E não possui futuro diferente na moldura da civilização do capital. Só escravidão. Somos tratados como o não ser: geografia e não história, natureza e não cultura, como diriam os antigos e grandes filósofos brasileiros, Roland Corbisier e Álvaro Vieira Pinto.

Somos concebidos como meras fontes de geração de riquezas para as potências capitalistas/colonialistas/imperialistas. Sem direito conferido à voz, identidade cultural, preservação e controle dos recursos naturais e à escolha de destino. É assim que nos veem e nos querem: subjugados. O caso venezuelano é exemplar e merece mui cuidadosa reflexão.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político. 

Redação

4 Comentários

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  1. Muito se tem discutido sobre

    Muito se tem discutido sobre as intenções dos falcões do norte em apropriar-se do petróleo venezuelano assim como fez com o petróleo brasileiro. Isto é verdade em parte,ou uma meia verdade.

    O que está em jogo,com questão de fundo,é a necessidade doentia dessa gente em tentar garantir para si a supremacia hegemônica do mundo. Essa gente,quando não tem guerra,como agora,inventa um inimigo.Se dominarem o mundo inteiro,ainda assim inventarão uma guerra contra alienígenas que sabe-se lá se exitem.É assim,contra alienígenas que essa gente vive.

    Não há mais espaço para discussões ideológicas mesquinhas.Se o capitalismo fosse a salvação do mundo não estaríamos discutindo as desigualdades onde maia dúzia de ricaços detém a mesma renda que metadde da população do mundo somada.

    Os falcões do norte não querem o petróleo. Querem a Venezuela!

  2. Jabuticaba 4

    E as ações da Vale e Petrobras, heim? Não está demorando nem uma semana para que o “mercado” faça esse exemplo de mineradora voltar a valer mais que a petroleira. Só dando boas gargalhadas com esse bananão.

  3. Tá bom. Deixem o Maduro lá.

    Ok. Maduro é um governante legítimo eleito por 67% dos votantes e pela omissão deliberada de mais de 50% dos eleitores inscritos. Mas não passa de um ignorantão incompetente. Venezuela tem mais petroleo que a Arábia Saudita e a esquerda burra usou mal as receitas do petroleo e descuidou da propria PDVSA que não produz nem a metade dos 3 milhoes de barris diários que produzia no inicio do governo Chaves. 95% da receita de exportação é petroleo e agora a farra acabou e a PDVSA é só um cabidão de empregos.

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