Os erros de Bolsonaro nas relações bilaterais com Trump: seduzido e abandonado

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Esforços de Bolsonaro de se aproximar de Trump foram de benefício único aos EUA. Interesse estratégico por reeleição de Macri na Argentina faz Trump não cumprir promessa

Foto: Alan Santos/PR

Jornal GGN – A recusa dos Estados Unidos em apoiar a entrada do Brasil na OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico), contrariando a promessa de Donald Trump a Jair Bolsonaro, gerou ampla repercussão nesta quinta-feira (10). Por parte dos apoiadores do mandatário brasileiro, o gesto dos EUA está sendo justificado não como uma negativa, mas como um apoio que ocorrerá no futuro. O Brasil, por outro lado, está nesta “fila de espera” desde maio de 2017.

Os esforços de Jair Bolsonaro de se aproximar dos Estados Unidos, oferecendo ao país diversos benefícios, entre eles o acesso ao país à plataforma de Alcântara, viagens sem visto para turistas americanos, amplo apoio e cooperação contra a Venezuela de Nicolas Maduro, foram vistos como gestos unilaterais de benefício único aos EUA, após o secretário de governo norte-americano Michael Pompeo informar que o Brasil não será o escolhido pelos EUA para ingressar no seleto grupo de países da OCDE.

Isso porque a promessa de Donald Trump, que vem sendo feita publicamente há alguns meses, de apoiar o Brasil no grupo econômico foi desfeita. Conforme o GGN informou [leia aqui], o jornal norte-americano Bloomberg obteve acesso a uma carta de Pompeo ao secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, datada do último 28 de agosto, em que anuncia a escolha dos Estados Unidos pela Argentina. A Romênia também está na lista dos preferidos para a OCDE, mas por parte das indicações do bloco europeu.

A troca do Brasil pela Argentina na preferência do governo Trump se dá em momento de interesse estratégico. Isso porque o presidente estadunidense tem essa indicação como uma carta de estímulo para que o atual líder argentino, Maurício Macri, adquira confiança popular de seu país para as eleições que se aproximam. Macri tem esperanças de se reeleger, apesar da ampla desaprovação dos argentinos contra ele e de já ter perdido nas votações primárias que ocorreram há três meses.

Somente agora os apoiadores de Jair Bolsonaro interpretam o gesto não como necessariamente um revés contra o Brasil na aproximação com os EUA, e sim como uma promessa que poderá ser cumprida posteriormente. Apesar das faltas de garantias nesse sentido, de que o Brasil será o próximo defendido pela potência norte-americana, Bolsonaro e o próprio Trump estampavam publicamente desde o início do ano que a defesa pelo Brasil na OCDE já era uma certeza.

Mesmo entre os analistas econômicos pró-abertura comercial, a atuação de Jair Bolsonaro não tem sido a adequada nas relações comerciais com os Estados Unidos. Para o consultor econômico Carlo Barbieri, presidente da consultoria brasileira nos EUA Oxford, é hora de Bolsonaro atuar para obter proveitos nessa relação bilateral.

Lembrando que o mandatário já havia cedido em suas promessas, como a base aérea de Alcântara, no Maranhão, para a exploração dos norte-americanos, o Brasil precisaria exigir contrapartidas mais claras dos Estados Unidos, evitando correr o risco que obteve agora com a prioridade dada à Argentina.

“Numa relação comercial existem muitos fatores que precisam ser considerados. Politicamente o Brasil precisa urgentemente se preparar para tirar vantagem da guerra comercial da China com os EUA e não perder esse momento tão único para nosso país”, afirmou.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. #OCDE

    Do mineiro Trump para o vagabundo Jair Bolsonaro com amor antes de começar o troca-troca no bananal de Brasília:

    -Ocê Dê, depois a gente proseia quando eu vou dá.

  2. Momento único para o nosso país…..meu Deus….

    Será que usam com certos analistas o que fazem com cavalos de corrida? Colocam uma venda nos olhos para não olharem o que acontece ao redor???

    Quanta gente sem noção…..

  3. A declaração conjunta de 19 de março do presidente Trump e do presidente Bolsonaro afirmou claramente o apoio ao Brasil para iniciar o processo para se tornar um membro pleno da OCDE e saudou os esforços contínuos do Brasil em relação às reformas econômicas, melhores práticas e conformidade com as normas da OCDE. Continuamos mantendo essa declaração.

    Apoiamos a expansão da OCDE a um ritmo controlado que leve em conta a necessidade de pressionar as reformas de governança e o planejamento de sucessão. Continuaremos a trabalhar com outros membros da OCDE para encontrar um caminho para a expansão da instituição. Todos os 36 países membros da OCDE devem concordar, por consenso, com o calendário e a ordem dos convites para iniciar o processo de adesão à OCDE.

    https://br.usembassy.gov/pt/eua-mantem-apoio-a-ocde/?fbclid=IwAR2EbpktDf6osKkOUZyhy0d6u6MHU5qVNsVTjmyJp5nM5Xi0sgK-SWS4fQs

  4. O paspalhão Bozo disse:
    – Aí loviu!
    Era só isso que ele sabia dizer…( E devia pensar: ” deve ser eu te amo, deve, deve ser).
    E sorriu como palhaço que é.

    No fundo Trump e Bozo não ligam, pois tem muito pra se roubar aqui.
    Aqui, na república dos militares entreguistas, “tá tudo dominado”.
    Aqui, na república das bananas, pode meter a mão à vontade, ninguém fala nada. Tá liberada a roubalheira.
    Aqui, na república da cloaca…..

  5. Fosse um outro governo e uma outra situação, seria possível também dizer aos States: “resolvemos também projetar a cessão da base de Alcântara para – SINE DIE- “, AQA

  6. Fosse um outro governo e uma outra situação, seria possível também dizer aos States: “resolvemos também projetar a cessão da base de Alcântara para – SINE DIE- “, mas isso em outra circunstância e, obviamente,com outras pessoas no governo, e com outros coronéis nas forças armadas.

  7. Tá certo, ué… a ideia do golpe é tornar nosso país mais dependente (e não mais independente) do dólar, tornar o Brasil num quintal dos EUA. As pessoas à frente das instituições públicas brasileiras hoje, por mais que finjam, não querem nos colocar na OCDE e em nenhuma posição de destaque no mundo, querem é ser chefiadas por gente dos EUA. A submissão dessas pessoas às dos EUA me lembra dos versos do poeta: “Rompi com o mundo, queimei meus navios”…

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