Putin cria RIC, formato trilateral com Índia e China, por M.K.Bhadrakumar

Sugestão de Alfeu

no Blog do Alok

Putin cria RIC, formato trilateral com Índia e China, por M.K.Bhadrakumar

Do Strategic Culture Foundation, pelo Blog do Alok

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

Entreouvido num boteco na Rua Abolição, Bixiga, SP: 

“Golpe no Brasil-2017-8 teve a ver com nos empurrar para o lado dos EUA:
amaldiçoado lado da guerra, desgraça do mundo. Só o PT ‘eleitoral’ não vê isso?!”

O encontro trilateral de Rússia, Índia e China à margem do G20 em Buenos Aires dia 1/12 revelou-se um evento histórico, um marco na história da segurança da Ásia e da política global. O já chamado formato RIC deu um salto adiante, com os líderes dos três países decidindo “manter outros desses encontros trilaterais nas reuniões multilaterais” – para citar declarações do Ministério de Relações Exteriores da Índia.

Especialmente interessante é que o presidente Vladimir Putin da Rússia tomou a iniciativa, e os dois outros, o primeiro-ministro da Índia Narendra Modi e da China, presidente Xi Jinping imediatamente abraçaram a ideia. Os três estavam intensamente conscientes do contexto real em que o encontro aconteceu.

Falaram do imperativo que é hoje a cooperação coordenada entre seus países, para que se enfrentem os desafios da segurança e do desenvolvimento. Repetidas vezes enfatizaram a importância de se promoverem o sistema multilateral, a democratização da ordem internacional e a paz e estabilidade do mundo.

Não por acaso, a fala do primeiro-ministro Modi foi a mais enfática e específica. Modi observou que a reunião gerava “uma oportunidade para que se discutissem livre e abertamente alguns temas cruciais, que hoje causam apreensão no plano global”. Modi continuou:

“Senhores, sem dúvida o mundo hoje passa por mudanças sérias, grave instabilidade e crescentes tensões geopolíticas. A liderança global enfrenta pressão grave. As relações multilaterais e a ordem mundial baseada em regras comuns para todos estão cada dia mais violentamente rejeitadas por vários grupos unilaterais, transnacionais e locais, e por diferentes nações em todo o mundo. É o que todos vemos acontecer, com sanções impostas sem autorização da ONU, enquanto medidas protecionistas vão ganhando fôlego.”
“A Agenda de Desenvolvimento de Doha nos marcos da Organização Mundial do Comércio fracassou. Desde o Acordo de Paris não vimos o necessário nível de atenção financeira, dos países desenvolvidos, para ajudar os países em desenvolvimento. Assim sendo, no que tenha a ver com atenção à preservação do meio ambiente, a justiça corre grave risco. Ainda estamos muito longe de alcançarmos os objetivos do desenvolvimento sustentável.”

A crítica quase explícita de Modi, às políticas dos EUA, não passará despercebida. Os três líderes destacaram que Rússia, Índia e China têm importante papel de liderança no atual quadro internacional e reconheceram a necessidade de reforçar o mecanismo de cooperação trilateral de Rússia, Índia e China, os RIC.

A cúpula dos RIC em Buenos Aires pode ser vista como a evolução lógica das mudanças que estão em curso na geopolítica da região do Pacífico Asiático em tempos recentes. Apesar de robustos esforços dos EUA, os países da região resistem a se identificar com os barulhentos movimentos do governo Trump contra a China. Dito em termos simples, ninguém quer se envolver nas políticas erráticas e imprevisíveis dos EUA

Por outro lado, a capacidade dos EUA para dominar militarmente a China está diminuindo rapidamente, com a China expandindo sua influência no sudeste da Ásia e no Pacífico ocidental, que, tradicionalmente, foi “esfera de influência” exclusiva dos EUA.

O projeto de “EUA em primeiro lugar” do governo Trump afastou países asiáticos como a Índia, ao qual só interessa relacionar-se com os EUA se for relacionamento baseado no respeito mútuo e para benefício dos dois lados.

Do ponto de vista da Índia, especialmente, Modi mostrou entusiasmo com a iniciativa de Putin, de formatar uma reunião trilateral, para os países RIC. É preciso contudo explicar melhor o cálculo de Modi.

O primeiro-ministro da Índia não apenas fez renascer as cálidas relações Índia-Rússia, que entraram em atrofia na última década; ele vê a parceria como uma âncora extra, âncora de segurança, a proteger a autonomia estratégica da Índia. Em retrospecto, o encontro informal de Modi com Putin em Sochi foi momento de definição das estratégias regionais e globais da Índia no ambiente internacional tão altamente volátil.

Em outubro, Modi já tomara a importante, corajosa decisão de fazer avançar o negócio da compra do sistema S-400 de mísseis russos, já diante de descomunal pressão dos EUA. Essa decisão é evidência muito clara de que o primeiro-ministro está decidido a construir e manter política exterior de independência. Na verdade, a reunião trilateral dos RIC aconteceu imediatamente depois de o presidente Trump ter cancelado, no último instante, a reunião agendada com Putin.

Em segundo lugar, Modi está trabalhando para fazer acontecer o consenso que estabeleceu com o presidente Xi, no encontro informal que tiveram em abril, em Wuhan. Índia e China intensificaram seus contatos bilaterais com vistas a ampliar a comunicação estratégica entre os dois países. Modi encontrou-se três vezes com Xi, só nos últimos meses, a partir de abril. (A reunião “bilateral” Modi-Trump aconteceu em novembro de 2017.)

O afastamento, em relação às políticas dos EUA para conter a China, que a Índia está calibrando cuidadosamente, foi articulado com perfeita clareza por Modi em importante discurso no Diálogo de Xangrilá, em Cingapura, dia 1º de junho, quando procurou abordagem inclusiva na questão da segurança do Pacífico Asiático.

O “espírito Wuhan” produziu resultados positivos. As tensões na fronteira Índia-China foram reduzidas e agora o foco é construir confiança, para que adiante se trate da disputa de fronteira. Recentemente, o embaixador chinês na Índia disse que as relações bilaterais conhecem hoje um dos melhores períodos de toda a história.

Pode-se conjecturar que Putin rapidamente colheu o momento para ligar os pontos em nível de reunião oficial de cúpula, e apresentar a proposta de um novo formato RIC [do qual o (B)rasil está sendo amputado pelo governo Bolsonaro & STF-com-tudo e jogado no abismo da dependência mais acanalhada (NTs)].

A ideia já havia sido exposta originalmente em 1998* pelo então ministro de Relações Exteriores da Rússia e importante pensador-estrategista Evgeniy Primakov, mas estava à frente de seu tempo. Vinte anos depois, é visível que o formato RIC absolutamente não precisa impor limitações às políticas independentes e sem modelagem ‘de bloco’, da China e/ou da Índia [e o Brasil, em 2016, já foi amputado, pelos EUA, do formato].

Enquanto isso, ao longo dessas duas décadas, o chamado “Triângulo Primakov” também engendrou um vetor oriental na política externa russa, com Moscou priorizando o fortalecimento de suas relações com países asiáticos. Muito importante, o ponto forte da doutrina Primakov – o foco na cooperação multilateral e em instituições multilaterais – provou ser visão ampla e de longo e efetivo alcance e ganhou relevância.

Tudo isso considerado, a Rússia vê o formato RIC e correspondente mecanismo de diálogo como elemento indispensável de diplomacia assumidamente multilateral que dá peso aos processos que levam na direção de se estabelecer uma ordem mundial justa. É preciso ainda esperar para ver como o formato RIC evoluirá no nível de cúpula como triangulação estratégica.

Há um grau de assimetria dentro do grupo RIC, dado que a Rússia mantêm relações militares e políticas próximas com os dois outros estados, China e Índia, o que não acontece entre China e Índia. Mais uma vez, Índia e China têm forte interesse na parceria econômica com o ocidente. Nem Índia ou China estão buscando qualquer aliança “antiocidental”. Mas o formato RIC é suficientemente flexível para dar espaço à discussão sobre o amplo alcance dos problemas internacionais.

Politicamente, a atitude de China e Índia vis-à-vis ao formato RIC continua a ser pragmática, dado que buscam e intensificam relações de cooperação com o ocidente e com a Rússia. Mas na fase pós-Wuhan, Índia e China provavelmente visualizarão o potencial do clube de discussão RIC para criar tração para a normalização sino-indiana. E a Rússia pode desempenhar papel único, histórico, ao estimular essa confiança estratégica.

Em que medida Modi e Putin discutiram ‘sinceramente’ essa faceta do processo RIC quando tiveram conversações “intensas” em Sochi, em maio, ainda não se sabe, mas estão trabalhando num modelo-matriz. Pode-se supor que Rússia e China também têm interesse comum em encorajar a autonomia estratégica da Índia.

Com o tempo, o formato trilateral RIC está destinado a se configurar como grande modelo para o desenvolvimento de negociações para segurança regional e internacional e desenvolvimento global. Alto grau de relação pessoal já está construído entre Putin, Modi e Xi. Chama a atenção, desde já, nessa cúpula RIC, a congruência estratégica entre as declarações oficiais de russos, indianos e chineses.*******

 

http://blogdoalok.blogspot.com/2018/12/putin-cria-ric-formato-trilateral-com.html#more

 
Redação

8 Comentários

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  1. Devia ser TRIC
    Incluindo a Turquia, ja que o Brasil de Bozonaro será um mero satélite estadunidense

    Se apenas Dilma tivesse escutado os alertas de Snowden…

  2. Contagem Regressiva 03

    FALTAM APENAS 24 (vinte e quatro) DIAS PARA SE INSTALAR A DESGRAÇA NACIONAL!

    Nassif: esses kummunistas podem formar o BRIC ou Trik ou os cambau de bico. Isso tudo é medo, agora que o País tá alinhadinho com os poderosos do mundo. Estão cagando de medo, pois sabem que basta uma ordem dos donos do quintal e um exército de 56 milhões de “soldados” estarão prontos para morrer pela Pátria e pela Família e pela Tradição.

    Já no dia 2, daBala (ou o daBalinha), que é macho pacas, corta o barato deles. O DiárioOficial há de estampar o rompimento de relações diplomáticas e comerciais com esses chinas. No rolo entram URSS e Índia. Que se danem. Os gringos do norte já prometeram fechar seus polós industriais na Ásia e instalarem em Minas Gerais um centro de produção. Aos poucos, com os nordestinos transportados como gado para os “campos de reeducação” de Goias (sob o olhar atento dos Caiados), algumas indústrias ocuparão as áreas desocupadas. Menos no litoral, que ficará para lazer dos paulistas e sulistas.

    Tenho plena confiança que retomaremos o crescimento nacional. Será maior que o de 1789, quando a coroa portuguesa reprimiu os kummunistas da época. O SapoBarbudo será enforcado e retalhado. Por ordem da Matriarca dos Addams. A cabeça será fincada em estaca em Caetés e o terreno da casa em que nasceu, salgado todinho, prá não bortar nem ervadaninha. Igualzinho a Tiradentes.

    Adeus BRIC ou RIC. Nem deixarão saudades. Agora temos Apóstolo, Templo (de Salomão) e, finalmente, Messias… Deus é brasileiro!

  3. A China está fazendo o que os brasileiros não fizeram…

    Investir na Africa para impulsionar o crescimento da China.

    Não precisa de cursar o Itamarati para saber que a passagem do Brasil para ser um país desenvolvido está ligado diretamente em promover o desenvolvimento dos países Africanos.

    Lamber o saco do Trump vai levar o Brasil para a idade média…

  4. E a África do Sul?

    O que só confirma que a presença da Àfrica do Sul foi exigência do Brasil. Sem Brasil, países pobres ou em desenvolvimento do eixo sul perdem no cenário mundial. 

    Uma pena.

     

    Sampa/SP, 06/12/2018 – 15:20 – alterado às 16:58 (em luto). 

  5. Pé no anus do BOZO, chega de

    Pé no anus do BOZO, chega de nulidades, agora os grandes vão cuidar das suas vidas na grande Eurásia, imagina o Brasil é este lixão aqui que sofrerá um retrocesso de 100 anos com o governo dos BOZOS e seus satélites, pastores enlouquecidos, diplomatas malucos, colombianos mo MEC, meu Deus, terrorismo às portas com esta loucura de se meter numa briga de 1000 anos no oriente médio.

  6.   Nada mais natural. Quem ao

      Nada mais natural. Quem ao menos tem noção do Grande Jogo sabe que está em curso há alguns anos uma Guerra Mundial subterrânea – iniciada não se sabe bem quando – e o Brasil foi mais um de uma longa lista de derrotados na ‘restrita’ área que vai de Honduras até a Tailândia.

      O Tio Sam que se dê por feliz por nos ter tirado do jogo. Os outros adversários são páreo duríssimo e, caso permaneçam unidos, vão ganhar essa disputa. Para quem gosta de chutes, eu diria que o golpe final virá lá por 2030, quando a China abandonar o dólar.

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