Trump e as eleições de 2018… em Cuba, por Nadejda Marques

Trump e as eleições de 2018… em Cuba

por Nadejda Marques

No início do mês de novembro, o Presidente Trump anunciou medidas que não só revertem as negociações para o fim do embargo à Cuba e a normalização das relações entre os dois países como criou novas medidas que acirram as sanções e restrições ao país. Entender as razões pelas quais tal decisão foi tomada pode ser importante para se ter uma noção das estratégias geopolíticas adotadas pelos Estados Unidos mesmo que atualmente sua política exterior pareça ser de natureza errática.  

Talvez um dos elementos mais óbvios do novo bloqueio à Cuba seja o esforço mesquinho do Presidente Trump de desfazer o legado da administração e do Presidente Barak Obama. Trump sequer faz questão de disfarçar suas intenções sejam na área de saúde, educação ou tributária. Esse esforço está fortemente ligado  a uma insegurança da administração Trump que atravessa desde seus primeiros dias uma crise constante e crescente de legitimidade. Embora tenha ganho as eleições no Colégio Eleitoral americano, o Presidente Trump perdeu por margem significativa o voto popular nas eleições de 2016. Além disso, o comitê da sua campanha eleitoral, seus assessores e até mesmo familiares estão sob investigação por obstrução à justiça em caso de interferência da Rússia nas eleições presidenciais. Essa instabilidade política interna e quase crise institucional generalizada fragiliza as alianças com os grupos que ajudaram na sua eleição, inclusive o grupo e lobby da elite cubana-americana na Florida.

Num sistema de eleições por Colégio Eleitoral, o estado da Florida sempre foi importante. Vejam as eleições de 2000 entre Bush e Al Gore, por exemplo. A Florida é um “swing state,” isto é, um estado que tradicionalmente não está associado a um ou outro partido e pode eleger tanto Republicanos quanto Democratas. O resultado eleitoral da Florida é um tanto imprevisível mas muito importante pois o estado é detentor de 29 votos no Colégio Eleitoral um número bastante considerável que na eleição de 2016 foi fundamental para a vitória do Trump. Vejam bem, a elite cubana-americana se concentra na Florida. Isso não quer dizer que essa elite tenha tido um papel definidor na eleição do Trump mas sim que sua força de barganha é superestimada com o resultado da eleição. Para agradar a essa elite, coisa que já se via ainda durante o processo de campanha eleitoral, Trump reforça a ideia de que é preciso manter e intensificar o embargo à Cuba.

Mas há um terceiro aspecto muito importante nessa decisão que é nada mais nada menos do que uma forma de aumentar a pressão sobre Cuba para a obtenção de termos e condicionalidades mais favoráveis aos Estados Unidos. Ora, as novas restrições impostas afetam financeiramente os Cubanos que supostamente teriam ligações com as forças armadas no país mas não afetam interesses ou iniciativas americanas em Cuba que se deram início durante a breve abertura comercial entre os dois países. Além disso as acusações de ataque sônico que resultaram na expulsão de diplomatas cubanos e o fechamento da embaixada americana em Cuba tem sido refutadas por cientistas e especialistas de todo o mundo sem mencionar o fato de que só temos conhecimento de um um país que produz armas sônicas, os Estados Unidos. Assim, a manipulação de informações que não é anormal na administração Trump tem em vista interferir ativamente no processo eleitoral cubano de 2018. Parece até que não aprendemos muito com a Guerra Fria. Como explicou o professor cubano, Ernesto Dominguez, da Universidade de Havana, trata-se simplesmente de uma intervenção direta e afronta a soberania de um país. Então, cabe perguntar: quem elegeu os Estados Unidos para determinar pelo mundo a fora qual sistema político é mais justo quando seus próprios cidadãos se sentem traídos pelo Colégio Eleitoral, um dos pilares do sistema político americano?     

Redação

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