Uma nova corrida armamentista? Por Bernd Riegert

É claro que acordo de armas nucleares INF tinha lacunas. Mas, em vez de enterrá-lo completamente, as potências nucleares deveriam tê-lo modernizado. Só que falta vontade

Forte desconfiança entre líderes da Casa Branca e Kremlin dificultam caminho para novo acordo de desarmamento – Credito: DW Karikatur

Opinião: Uma nova corrida armamentista?

Por Bernd Riegert

Do DW Brasil

O tratado que proibia os EUA e a Rússia de desenvolver mísseis terrestres e de cruzeiro de médio alcance, equipá-los com armas nucleares e posicioná-los ficou para trás a partir desta sexta-feira (02/08).

Isso é um fardo para a arquitetura de segurança na Europa, porque foi para esse continente que o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) foi assinado há 32 anos.

Após a corrida armamentista que precedeu o acordo, os EUA e a antiga União Soviética concordaram em abolir uma completa categoria de armamentos. Uma ameaça supérflua e onerosa foi eliminada por americanos e soviéticos, também em benefício de seus respectivos aliados europeus.

Assim, um campo de batalha em solo europeu tornou-se ainda mais improvável. No entanto, a lógica de dissuasão atômica – quem atira primeiro é o segundo a morrer – permanece válida até hoje, porém num nível mais baixo. No final da década de 1980, os Estados Unidos e a União Soviética ainda possuíam 12 mil ogivas atômicas. Hoje existem por volta de 1,6 mil em cada lado.

O fim do tratado INF mostra a crescente desconfiança dos EUA e Otan, de um lado, e a Rússia, do outro. Desde 2008, Moscou se tornou cada vez mais agressiva. A guerra na Geórgia, a ocupação da Crimeia, o conflito no leste da Ucrânia, o apoio ao regime de Bashar al-Assad na Síria: as provocações na fronteira leste da Otan são ameaçadoras do posto de vista ocidental.

Em última análise, o aumento do poderio militar que se observa o mais tardar desde 2014 (ou seja, não apenas sob o caótico presidente dos EUA, Donald Trump, mas muito antes), com os novos mísseis de cruzeiro russos, justifica o fim do tratado INF por parte dos Estados Unidos.

De qualquer forma, o acordo não se encaixava mais no ambiente estratégico. Ele não incluía países como a China, que por sua vez posicionou armas terrestres de médio alcance. Ele também não oferecia nenhuma orientação para abordar os novos sistemas de defesa antimísseis, que embora estejam sendo instalados em território da Otan contra ameaças do Irã ou da Coreia do Norte, enfrentam dura resistência do Kremlin.

A Rússia, a Otan e os EUA, no entanto, não deveriam ter enterrado o acordo, mas deveriam modernizá-lo com a participação de outros parceiros, como a China. Poderiam ter sido considerados novos tipos de armas na internet ou robôs assassinos. A oportunidade foi perdida pela Rússia, e os EUA a perseguiram apenas de maneira pouco entusiasta.

Agora, naturalmente, a consequência será uma nova corrida armamentista. Os EUA já anunciaram o teste de novos mísseis de cruzeiro. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, observou nesta sexta-feira que, nos anos 1980, precisou-se apenas um “retrofit armamentista” do Ocidente para fazer com que o Leste economicamente inferior assinasse o tratado.

Tomara que as duas principais potências nucleares consigam pelo menos salvar o Novo Tratado Intercontinental de Armas de Fogo (New START), que visa reduzir o número de armas nucleares de aniquilamento mútuo. A renegociação desse acordo também deveria envolver, imperiosamente, outras potências nucleares, como Paquistão, Índia, Israel, Coreia do Norte ou Irã.

Tendo em vista o clima acirrado e a forte desconfiança entre os atuais líderes da Casa Branca e do Kremlin, é questionável se isso pode ter sucesso. O controle armamentista é urgentemente necessário, mas o caminho até lá é difícil de reconhecer.

O recém-enterrado tratado INF só foi assinado em 1987, depois que os cabeças-duras na União Soviética foram substituídos pelo secretário-geral do Partido Comunista, Mikhail Gorbachev.

Tomara que não tenhamos que esperar a próxima geração do Kremlin para poder negociar um acordo sensato de limitação de armamentos. Mas mesmo no lado americano, podem-se ter dúvidas legítimas se o atual governo é capaz de realizar conversas significativas sobre desarmamento.

Um presidente imprevisível que provoca muitos danos na área de política externa e se cerca de falcões não é exatamente o que se pode chamar de uma figura encorajadora.

 

Redação

5 Comentários

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  1. Não se assuste, caro Bernd Riegert, não haverá uma guerra nuclear. Uma guerra assim não aumentaria o lucro dos empresários privados mandam nas FFAA dos EUA, que mandam naquele estado nacional. Ou você acha que numa guerra assim haverá que saia sem danos, rico o bastante para vender aos que empobrecerão?

    O que aumenta aqueles lucros é a ameaça de guerra. O capitalismo precisa manter as pessoas amedrontadas, com raiva, medos, temores… enfim, precisam manter abertas as fissuras que as faz comprar. As ameaças, segundo os dogmas desse modo de produção, fazem a tal roda da economia girar. E, como sabemos, a cada giro dessa roda, o capital fica mais concentrado.

    Seja subversivo de uma forma bem gostosa: tranquilize-se.

  2. NASSIF(s), OS ANÚNCIOS ENTRE OS ARTIGOS E OS COMENTÁRIOS, PELO MENOS NO MEU COMPUTADOR, ESTÃO SE ESTICANDO INDEFINIDAMENTE, COMO NUMA LINHA DE TEMPO DE FACEBOOK, IMPEDINDO OU DIFICULTANDO QUE SE CHEGUE AO SETOR DE COMENTÁRIOS. FAVOR VERIFICAR, ACONTECE NO MEU PC E NO MEU SMARTPHONE. DESCULPEM “GRITAR”, MAS É PARA CHAMAR ATENÇÃO MESMO (não precisa publicar este)

    1. Eu já havia chamado atenção para este “bug”. Talvez seja intencional, algum grupo canalha com muita grana tentando interferir nos poucos veiculos democráticos restantes.

  3. No final diz-se que “a renegociação desse acordo deveria envolver, imperiosamente, Paquistão, Índia, Coreia do Norte ou Irã”, além, é claro, China e também combinar com os russos. São muitas frentes de batalha, 3 de uma forma mais ampla, para os EUA darem conta. Então nada mais natural que eles furem os acordos e saiam acusando os demais participantes. Pura chantagem!
    O caso com a Rússia é emblemático pois posiciona a Europa como campo de batalha, segundo a visão estadunidense. No meu modo de ver a Rússia considera os EUA uma ilha entre oceanos, navegados por submarinos nucleares, alguns com capacidade de transportar 200 mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares, que mirarão, preferencialmente, as cidades costeiras. O ataque a parte central vem do Ártico (por isso os EUA não querem que o Ártico seja militarizado, faltou combinar com os russo uma vez que mais da metade do Ártico é russo). Como se vê, não tem Europa na visão russa. Portanto, a retirada dos EUA dos acordos de arma é uma forma de chantagear a Europa para que financiem o programa de armas dos EUA devido a seus custos.
    O mesmo acontece com o Irã usado para chantagear as ditaduras petroleiras da região, para que façam o mesmo do que estão exigindo da Europa. E Kim Joung-un é usado para chantagear Coreia do Sul e Japão extorquindo-lhes dinheiro para garantir proteção. Aqui o caso é de estupidez elevada a enésima potência, pois a península coreana encontra-se no encrave entre Rússia e China.
    Impossível imaginar que uma guerra neste quintal seja mantida por parte da frota naval estadunidense. O que se tem é um jogo de chantagem e extorsão. Artigos de engenheiros navais estadunidenses, disponíveis na internet, falam do custo de bilhões de dólares gastos anualmente para manter sua frota naval, de idade média entre 45/50 anos, operacional e LIVRE DE FERRUGEM!
    É preciso criar um clima de insegurança para, então, vender segurança. Em outras palavras, enquanto houver otários existirão malandros. Some-se a isto a “guerra comercial” travada contra a China, para domesticar o “american idiot”, que é quem de fato paga esta guerra e se sente feliz por fazê-lo, a decadência tecnológica (não a vejamos assim, vejamos como superação tecnológica por outros países), o endividamento interno e a substituição do dólar como lastro por diversos países do mundo, como os aqui citados, e até alguns europeus. Fica evidente que é preciso diminuir custos e uma das formas de se fazer isto é transferindo-os para terceiros.
    Antigamente houveram várias batalhas sempre contra um, onde este um era simplesmente ninguém. Tipo assim, bater em bêbado. Estudado esse comportamento agressivo, imperialista e hegemônico transformou o um em muitos e o que se vê hoje é os EUA evitando novas guerras, saindo das que participa e arrastando “aliados” para sua novas batalhas. Existe um ditado popular que diz: “cachorro que late, não morde”.

  4. No final diz-se que “a renegociação desse acordo deveria envolver, imperiosamente, Paquistão, Índia, Coreia do Norte ou Irã”, além, é claro, China e também combinar com os russos. São muitas frentes de batalha, 3 de uma forma mais ampla, para os EUA darem conta. Então nada mais natural que eles furem os acordos e saiam acusando os demais participantes. Pura chantagem!
    O caso com a Rússia é emblemático pois posiciona a Europa como campo de batalha, segundo a visão estadunidense. No meu modo de ver a Rússia considera os EUA uma ilha entre oceanos, navegados por submarinos nucleares, alguns com capacidade de transportar 200 mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares, que mirarão, preferencialmente, as cidades costeiras. O ataque a parte central vem do Ártico (por isso os EUA não querem que o Ártico seja militarizado, faltou combinar com os russo uma vez que mais da metade do Ártico é russo). Como se vê, não tem Europa na visão russa. Portanto, a retirada dos EUA dos acordos de arma é uma forma de chantagear a Europa para que financiem o programa de armas dos EUA devido a seus custos.
    O mesmo acontece com o Irã usado para chantagear as ditaduras petroleiras da região, para que façam o mesmo do que estão exigindo da Europa. E Kim Joung-un é usado para chantagear Coreia do Sul e Japão extorquindo-lhes dinheiro para garantir proteção. Aqui o caso é de estupidez elevada a enésima potência, pois a península coreana encontra-se no encrave entre Rússia e China.
    Impossível imaginar que uma guerra neste quintal seja mantida por parte da frota naval estadunidense. O que se tem é um jogo de chantagem e extorsão. Artigos de engenheiros navais estadunidenses, disponíveis na internet, falam do custo de bilhões de dólares gastos anualmente para manter sua frota naval, de idade média entre 45/50 anos, operacional e LIVRE DE FERRUGEM!
    É preciso criar um clima de insegurança para, então, vender segurança. Em outras palavras, enquanto houver otários existirão malandros. Some-se a isto a “guerra comercial” travada contra a China, para domesticar o “american idiot”, que é quem de fato paga esta guerra e se sente feliz por fazê-lo, a decadência tecnológica (não a vejamos assim, vejamos como superação tecnológica por outros países), o endividamento interno e a substituição do dólar como lastro por diversos países do mundo, como os aqui citados, e até alguns europeus. Fica evidente que é preciso diminuir custos e uma das formas de se fazer isto é transferindo-os para terceiros.
    Antigamente houveram várias batalhas sempre contra um, onde este um era simplesmente ninguém. Tipo assim, bater em bêbado. Estudado esse comportamento agressivo, imperialista e hegemônico transformou o um em muitos e o que se vê hoje é os EUA evitando novas guerras, saindo das que participa e arrastando “aliados” para sua novas batalhas. Existe um ditado popular que diz: “cachorro que late, não morde”.

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