Setor privado reconhece necessidade de investimentos em gestão de risco

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Samantha Maia

O setor privado se move contra a corrupção

Na CartaCapital

A percepção no Brasil de que a corrupção é um problema exclusivo do setor público foi abalada recentemente com os rumos da Operação Lava Jato e dos seus holofotes sobre crimes cometidos por construtoras privadas. A mudança de perspectiva ocorre no mesmo ano de entrada em vigor da Lei Anticorrupção, com previsão de punições severas às companhias envolvidas em atos ilícitos, como multa de 20% do faturamento, proibição de participação em licitações públicas por cinco anos e veto à contratação de empréstimos em bancos oficiais, além de prisão. Consultorias apontam um cenário de maior preocupação das empresas brasileiras quanto às consequências da corrupção para os negócios e a fragilidade da estrutura de combate aos desvios.

Segundo pesquisa da consultoria global de riscos empresariais Control Risks, realizada em junho e julho deste ano, 54% das companhias no País pretendem aumentar os investimentos no combate ao suborno e à corrupção e têm integrantes do conselho de administração ou de comitês de compliance, ou controle interno de leis e regulamentos, dedicados a esse trabalho. No mundo, em média, 38% das empresas planejam ampliar esses investimentos e 47,5% possuem executivos de alto nível empenhados na luta anticorrupção. O levantamento foi realizado com 638 executivos, 46 deles atuantes no Brasil.

Segundo a pesquisa, 48% dos entrevistados brasileiros realizaram análises de riscos ligados à reputação de novos sócios comerciais, número abaixo da média internacional, de 58%. O uso de cláusulas de “não suborno” em contratos com terceiros foi citado por 59% dos entrevistados no Brasil, enquanto no resto do mundo o porcentual foi de 64%.

O desenvolvimento insuficiente da gestão de risco é um problema apontado em um estudo recente da consultoria Deloitte. Das 124 companhias pesquisadas atuantes no Brasil, 35% não dispõem de uma política anticorrupção formalizada e 40% não têm um profissional dedicado à função. O investimento anual em compliance ficou abaixo de 1 milhão de reais por ano em 76% das empresas pesquisadas, valor considerado baixo em consequência do fato de 40% das companhias terem faturamento superior a 1 bilhão de reais. Com verbas insuficientes, 48% das empresas não têm programas de treinamento anticorrupção e 42% declararam não apurar informações sobre terceiros ou parceiros prestadores de serviços em nome da empresa, fornecedores e empregados.

As companhias parecem cientes do tamanho do desafio. Do total abrangido pelo levantamento, 55% enfrentaram casos de corrupção e 57% reconhecem o seu custo elevado nos negócios realizados no Brasil. Diante do problema, expressam a intenção de melhorar a gestão de risco. Para 94%, é desejável o maior envolvimento da área de compliance nos processos de entrada em novos mercados e de fusões e aquisições. Em 64%, isso não acontece.

A presença da corrupção no mundo corporativo é evidenciada por um levantamento da consultoria EY realizado neste ano. Para cerca de 70% dos executivos brasileiros entrevistados, práticas como o pagamento de propinas acontecem amplamente no ambiente de negócios. Na média global, a percepção é de 39%. Foram entrevistados 2,7 mil executivos de 59 países. Apesar da impressão disseminada da corrupção, apenas 12% admitiram ter sofrido tentativa de suborno.

Para a KPMG, a vigência da lei anticorrupção influencia o comportamento das empresas. Um dos seus reflexos é o aumento, desde o ano passado, do número de comitês de auditoria, de 95 para 103, de finanças, de 50 para 56, e de riscos, de 37 para 45, em apoio ao conselho de administração nas companhias de capital aberto. Segundo a pesquisa realizada com 235 empresas, também houve crescimento do valor anual médio pago aos auditores independentes.

Ainda é preciso avançar no investimento em auditoria, avalia o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, Eduardo Pocetti. “O mercado brasileiro ainda não tem a cultura de auditar. Apenas as empresas obrigadas a fazê-la, ou seja, aquelas de capital aberto ou de grande porte, contratam o serviço.” A Justiça fecha o cerco no combate à corrupção e o risco de responsabilização dos auditores preocupa a categoria. “Não se pode confundir o auditor com o administrador”, diz Pocetti.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. mesmo que leve porrada de

    mesmo que leve porrada de tudo quanto é lado,

    a saída para o governo

    é continuar mantendo a atual política de combate

    à corrupção.

    e que não fique pedra  sobre pedra,

    como disse a presidente dilma.

    aperfeiçoar as instituições para esse combate é

    o mérito maior deste governo, desde lula.

    lamentável é que esse assunto gere

    paixões desenfreadas da oposição,

    que  confunde a  ação de bandidos

    de vários partidos como se fosse culpa de um só, o pt.

    assim, alguns ficam impunes, como  os tucanos,etc.

     e usam de suas eternas falácias e criminalizações  que

    refletem a luta de classes no país.

    a paixão e o emocionlaismo são naturalizados –

    quem não é contra a corrupção?

    daí são levados or intreresses contra   o país,

    daí são manipulado por esses interesses.

    boa parte dos críticos aos corruptos, é levada,  por isso,

    somente pela paixão e o emocioalismo,nunca pela razão.

    ao mesmo tempo que     muitos  criticam a corrupção,

    não se apercebem que

    a solução poderia ser a aprovação do financiamento público de campanha.

    mas paradoxalmente acabam se iludindo por falsos moralistas

    que continuam defendendo o  financiamento privado,

    de onde vem praticamente todo o problema.

    mas não há outra possibilidade, além do combate a esse grave problema.

     

  2. Eh, AGORA eles fazem isso,

    Eh, AGORA eles fazem isso, ne?  Post-Dilma, nem um segundo antes.

    QUantos brasileiros pagaram o pato enquanto eles insistiam atravez de decadas em somente “investir” em gestao de fiascos?

  3. A Lei Anticorrução, se for

    A Lei Anticorrução, se for bem aplicada, será um marco. Ao incriminar gestores e administradores pelas práticas de suas empresas a lei acaba com a figura do testa-de-ferro e obriga estes, os gestores, que detém o poder de criar e fazer funcionar mecanismos que combatam a corrupção ativa de suas empresas a implantá-los sob pena de eles mesmos e também suas empresas, e não mais apenas os seus subordinados, serem punidos por esta prática.

    É mais um legado a ser creditado ao trabalho do ” come-quieto’ deste governo, o Ministro José Eduardo Cardozo, que sob as críticas de muitos que consideram o Ministro da Justiça um advogado de defesa do governo, conseguiu junto ao Congresso Nacional a aprovação das leis que foram o maior, senão único, legado que o primeiro mandato de Dilma deixa para o país: a lei da transparência, a lei anti-corrupção e o marco civil da Internet.

     

     

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