Miriam Belchior critica mudanças na Caixa para atender população com mais renda

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – A ex-ministra Miriam Belchior, que passou pela presidência da Caixa durante a gestão Dilma Rousseff (PT), criticou as mudanças feita pelo interino Michel Temer (PMDB) no banco público, que agora passa a fazer financiamento de imóveis de até R$ 3 milhões. Segundo Miriam, enquanto essa faixa com mais renda é privilegiada por Temer, cerca de 200 mil moradias para a população com até 3 salários mínimos por ano ficará congelada.

“Ao mesmo tempo em que puxa para R$ 3 milhões, congela este ano contratações para a Faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida – famílias com renda de até R$ 1,8 mil mensais. Acho que essa é a grande questão: o recurso sendo usado para imóveis de valor muito mais alto, enquanto que a população que mais precisa fica sem alternativa”, disse em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada.

Por Paulo Henrique Amorim

Miriam: a Caixa agora é dos ricos

Do Conversa Afiada

A propósito de uma decisão do governo interino de a Caixa Econômica Federal passar a financiar imóveis de até R$ 3 milhões – o valor máximo, hoje, é de R$ 1,5 milhão -, o Conversa Afiada entrevistou a ministra Miriam Belchior, que também foi presidenta da Caixa.

PHA: Ministra, como a senhora explica essa decisão?

Miriam Belchior: Acho que quem tem que explicar é o governo interino. Tenho só a lamentar que um banco público como a Caixa mude a sua orientação e passe a fazer financiamento de um montante tão alto. Imagine o que é um imóvel de R$ 3 milhões, que se localiza, por exemplo, numa cidade como São Paulo. Quantos quartos ou suítes, quantas vagas de garagem. E a gente sabe que 80% do déficit habitacional do país fica na faixa de até três salários mínimos. Ao mesmo tempo em que puxa para R$ 3 milhões, congela este ano contratações para a Faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida – famílias com renda de até R$ 1,8 mil mensais. Acho que essa é a grande questão: o recurso sendo usado para imóveis de valor muito mais alto, enquanto que a população que mais precisa fica sem alternativa.

PHA: A senhora, que conhece a contabilidade da Caixa Econômica Federal, como explicaria isso diante dos recursos disponíveis da Caixa hoje?

Miriam: Olha, eu não vi com detalhes a decisão, mas na verdade a Caixa, aparentemente, está contratando abaixo do que está orçado para o ano. Ela tem os recursos e não consegue contratar tudo o que está disponível. Por isso está ampliando o teto do valor do imóvel. Considero que isso não é o mais adequado para um banco público.

PHA: Seria essa – especulação minha – uma medida para atrair interesses da indústria da construção civil?

Miriam: É, pode ser que seja, não sei dizer o que é que está movendo essa decisão. Acho que o que é muito mais importante, e que mostra bem o que é o governo interino, é nenhuma preocupação com quem mais precisa. Então, aumenta para R$ 3 milhões, garante o financiamento para quem tem renda muito alta e congela todas as contratações para as famílias de baixa renda.

PHA: Qual seria a faixa do mercado que poderia atender o consumidor de um imóvel de R$ 3 milhões?

Miriam: Certamente insignificante, porque considerando a renda da população brasileira. Quem tem condição de comprar um imóvel de R$ 3 milhões, mesmo financiando, precisa de uma renda muito alta. Portanto, é uma minoria da população brasileira.

PHA: Última pergunta, ministra: quando eles deixam de financiar essa faixa de 0 a 3 salários mínimos, quantas moradias, aproximadamente, deixam de ser construídas?

Miriam: Olha, nós tínhamos programado, quando a Presidenta lançou o programa de dois milhões de moradias do Minha Casa, cerca de 40% eram até essa renda. Então, de 2 milhões, 800 mil, pelo menos, 200 mil por ano – quatro anos. É um número grande – 200 mil moradias, ano – e onde está concentrado o déficit. Como eu disse, 80% do déficit habitacional no país está em até três salários mínimos.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Contas antigas do Nassif:

    VP = 3.000.000,00; n = 300 meses; i = 0,5% (como na Poupança – Bolsa Tio Patinhas). 

    A HP 12C informa: PMT = – R$ 19.329,04 e VF = – R$ 13.394.909,44. 

    Para esclarecer: PMT – prestação mensal para pagar o financiamento e VF – valor total pago à Caixa. 

    Como a Caixa permite um comprometimento máximo de uns 35% da renda bruta, este cidadão deverá ter uma renda bruta de PMT / 0,35 = R$ 55.225,83 mensais. Se empregado, isso gera um FGTS (utilizável para abater no financiamento) de R$ 4.418,07.

    Daí, vem a questão: quem ganha formalmente este salário?

    Certamente alguém já bem Macaco Velho numa empresa, e, nesta situação, a questão da casa própria já teria sido resolvida por ele há décadas passadas. E mais, se para isto utilizou a Caixa naquelas épocas passadas, agora provavelmente não poderia utilizar novamente. A Caixa tem uma memória longa!

    Falando em décadas, provavelmente a soma da idade do tomador com o prazo certamente vai ultrapassar 85, o que poderia diminuir o prazo de financiamento (o “i” acima), aumentando a prestação e consequentemente a renda bruta mínima. 

    E ainda tem o problema que este Macaco Velho pode estar próximo de se aposentar, quando então a renda do próprio tende a cair. 

    Agora um Macaco Velho assim vai comparar o VP com o VF e se indignar: pego 3 e devolvo 13,5 ? 

    Aqui  foi considerado um juro mensal bem amigo; um pequeno aumento acarretará um grande aumento na prestação; também não foi considerada a variação monetária, que nunca vai acabar. 

    Ou então é um rapazola / rapariga concurseiro/a bem sucedido nesses concursos jurídicos.

     

  2. E me desculpando a pergunta
    Qual o impedimento real? Consta em algum lugar que a caixa só pode financiar “baixa renda” ou “classe média”? Salvo engano é um banco e portanto deveria emprestar a qualquer cidadão. Ou não?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador