O novo sem novidade, por Janio de Freitas

Da Folha

O novo sem novidade

Consultas à opinião pública são uma prática generalizada, frequente inclusive no Congresso

Janio de Freitas

A reação ao decreto presidencial que determina consultas públicas antes de decisões importantes, em vários setores da administração federal, é uma combinação de velho reacionarismo e oportunismo eleitoral.

Os dez partidos que compõem a reação no Congresso, encabeçados pelo PSDB e pelo DEM, argumentam com a mesma ideia: o lugar adequado para representar a sociedade, na definição de rumos e outras decisões, é o Congresso.

A ideia implica, logo de saída, a cassação do poder dos governos de definir políticas e de tomar decisões, em conformidade com a Constituição, que não delega, a respeito, exclusividade ao Congresso e às Assembleias.

Consultas à opinião pública são uma prática generalizada, frequente inclusive no Congresso, com suas “audiências públicas” sobre temas a exigirem a decisão de deputados e senadores (não quer dizer que as audiências sejam acompanhadas por bom número deles). O PSDB, o DEM e seus caudatários, assim como os partidos governistas, valem-se de consultas públicas até para orientar-se nas escolhas de candidatos aos postos mas altos.

O fato de que os conselhos sejam formais e duradouros, e não apenas eventuais, engrossa a reação. A proposta reproduz, porém, órgãos secular e fartamente incluídos nas administrações pública e privada, sob a vulgar denominação de “conselho consultivo”. E como serão ou seriam só isso –consultivos–, e não impositivos, nem de longe usurpariam ou contestariam o poder decisório e legislativo do Congresso, como reclamam peessedebistas e seus ecos.

A contribuição que o decreto traz ou não traz à eficácia administrativa, como compor e como fazer funcionar cada conselho, coisas assim é que deveriam movimentar deputados e senadores. Seriam um tanto trabalhosas, é verdade. E esse negócio de conselho social, como diz o deputado Ronaldo Caiado, no fundo é o mesmo que os conselhos chavistas. Mas o decreto pode ser explorado eleitoralmente. Então, pronto.

MAIS MÉDICOS

Dedicado a um belo trabalho fotográfico sobre a fauna e a flora, capaz de levar a medidas governamentais de proteção, Luiz Claudio Marigo sofreu com um infarto por perto de uma hora, deitado, até morrer, no corredor de um ônibus em frente à porta do Instituto Nacional de Cardiologia. O INL está em greve e ninguém do pessoal em serviço obrigatório foi ao ônibus. A direção do INL diz que não houve pedido claro no hospital. Várias testemunhas dizem o oposto, entre elas o próprio motorista que dirigiu o ônibus e foi em pessoa apelar pelo socorro médico.

Até o momento em que escrevo, já no terceiro dia do ocorrido, não encontrei o pronunciamento devido pela Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Federal de Medicina. Na Câmara, o sempre citável Ronaldo Caiado preferiu ocupar-se dos médicos cubanos desertores, para ouvir do ministro da Saúde que são o menor grupo de desistentes do Mais Médicos. E, com os dois mais recentes que também vieram apenas fazer trânsito esperto aqui, rumo aos Estados Unidos, esses trânsfugas são apenas 0,1% do total.

Ronaldo Caiado está no seu papel, médico que deu também as costas à medicina, para servir no Congresso aos seus agronegócios. Mas a AMB e o CFM não se limitam a sua campanha contra o Mais Médicos, nem só aos interesses da classe.

MAIS UM

Para quem acha –é o meu caso– que o impedimento à plena verdade histórica e a suas consequências judiciais, decorrente da Lei de Anistia, deve ter solução jurídica para ser democrática e ter total autoridade, é muito recomendável a leitura do artigo “Insuficiências da Lei de Anistia”. O autor, jurista Gilberto Saboia (Folha, pág. A3, 4.jun), é da Comissão de Direito Internacional da ONU e foi secretário de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique.

Redação

5 Comentários

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  1. se o poder  emana do povo

    se o poder  emana do povo para o  Povo , entao é o povo que  tem o direito de dizer isso esta certo isso esta errado, sem  de forma  alguma tirar  os  poderes  dos  parlamentares, A FORMA  COMO ELES   ESTAO SE COMPORTANDO DIANTE  da  consulta popular  mostra  claramente  que   eles  pensam dessa forma:  NÓS  PROMULGAMOS  AS LEIS  E O POVO  TEM QUE  ACEITAR  E PONTO FINAL.   Nao senhores  parlamentares  do  PSDB/DEM/PSOL  nao é assim  voces  tem que  fazer leis  que  o povo  tambem  aprovem. Issso se chama  democracia social. Isso  se dá  o nome  de  respeito  aos direitos do povo. Ao  contrario do que  muitos  dos   deputados  dizem  tais  consultas  vai  dar   a  democracia   brasileira  aquele  tom  de  DEMOCRACIA  SOCIAL. -pois  a  democracia  imposta pelos  EUA  tanto  ao  seu povo  como  a povos de  outras naçoes  principalmente o BRASIL, nao representa  uma democracia  ondce seus  cidadaos  tenham  plenos direitos,

    O decisao  de parlamentares  se colocar  contra  tais  direitos  do povo  é que  mostra  nitidamente  o  tanto que  esses parlamentares sao   ditadores. e  que acima  de tudo  estao  na indade da pedra.  

    Eu  ainda vou mais  longe    com relaçao  a  tais  consultas populares.  e  digo  que  a um póvo  deve-se dar  o  direito  dele  que  elegeu  representantes  para  as camaras e senado  destituir   tais parlamentares  a qualquer  tempo  durante o mandato  ao se constatar que  tal  parlamentar  nao   oferece  os requisitos  basicos  para   trabalhar em prol  da populaçao  do seu  estado.

    O  PSDB DEMOC   PSOL  E  MAIS  OS   7 partidos  que  se colocaram  contra   a consulta popular,  nunca  foram  e nao serao  partidos  de democracia  social,  sempre  foram  e serao   partidos   oportunistas,  e  que  seus  objetos  maiores  é atender  interesses externos  e  seus  proprios  interesses  nao visando  de forma  alguma  o bem coletivo. e fazem  do congresso  seus  currais  eleitoreiros e criminosos.

     

  2.  Sr. Edson Tadeu, pertinente

     Sr. Edson Tadeu, pertinente e oportuno o seu comentário, parabéns.

     Que o trio psdb, dem e pps (com minúsculas mesmo) sejam contrários às consultas populares nada a estranhar, pois demonstram claramente que não entendem e nem se preocupam com o povo, pelo contrário vivem a enganá-lo, a tripudiar com a nossa inteligência. O que chama à atenção é o PSOL acompanhar  aqueles  partidos, isso sim  é que nos causa repulsa e até tristeza.

  3. Eu vi esta noticia sobre a

    Eu vi esta noticia sobre a morte do fotógrafo na jornal da Band. Boechat se impregnou de indignação contra … o ministro da Saúde que tinha que vir a público responder pela morte do fotógrafo e esses ministros da saúde que só querem ser candidatos a cargos públicos.

    Sobre médicos que fogem a toda ética e principios de humanidade recusando-se a dar atendimento a um infartado não disse uma palavra. Também não disse nada sobre o porque de médicos como Alckmin e Caiado poderem ser políticos e médicos filiados ao PT não.

    Não é preciso dizer que eu desliguei a TV porque ao assistir um noticiário eu quero informação e não manifestações políticas pessoais de jornalistas que se preocupam mais em agradar o patrão do que dar informação. Eu gostaria de saber, por exemplo, o nome dos médicos que estavam no hospital neste momento e qual o salário que recebem. Gostaria de saber também qual a medida que associações médicas tomam contra ações de médicos que se recusam a sequer olhar um doente e o deixam morrer a míngua na frente de um hospital.

     

  4. Eu sou contra estes

    Eu sou contra estes conselhos.

    A classe política já é grande demais. Tem que diminuir.

     

    Alguém acha mesmo que estes conselhos não serão ocupados por políticos?

  5. Se os deputados  (incluindo

    Se os deputados  (incluindo todos os partidos), realmente fizessem a defesa do povo, não seriam necessários os ditos Conselhos. Porém, em grande parte os srs. deputados e senadores só pensam na próxima eleição e como conseguir dinheiro para as mesmas. Fora aqueles que, desavergonhosamente e escancaradamente, visam somente os desejos de seus PATROCINADORES. Me admira mt o PSOL estar trilhando este caminho. Depois querem exigir respeito. Respeito não se exige, se conquista. E o PSOL está perdendo dia após dia, o respeito que tinham amealhado.

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