Os dados não explorados do Sistema Cantareira

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Enviado por George Vidipo

Do Tijolaço

Ainda há jornais em São Paulo ou os tucanos engoliram os jornalistas?
 

Vou escrever algumas frases que certamente seriam manchetes se houvesse jornais em São Paulo:

Principal reservatório da Cantareira está quase 20 metros abaixo do nível normal.

Só restam 3,5 metros de água no maior reservatório da Cantareira.

Quatro das seis tomadas d’água do principal reservatório da Cantareira já estão secas há um mês.

Lamentavelmente, não se trata de sensacionalismo de um blog que se opõe aos tucanos.

São os dados que constam dos relatórios oficiais da Sabesp e daAgência Nacional de Águas, desde que alguém se interesse em ler com atenção.

Vou explicar, quase que como um be-a-bá, para o caso de ainda haver alguém achando que se pode fazer algo senão divulgar apenas press-releases e declarações de Geraldo Alckmin.

Cantareira é um sistema de cinco reservatórios.  Dois deles, o Jaguari-Jacareí são responsáveis por 82% da capacidade de acumulação total do sistema. Os demais só têm importância suplementar, porque suas capacidades são muito pequenas e seu nível não pode oscilar muito sem comprometer a pressão nos túneis alimentadores que levam ao último deles, o Paiva Castro, que opera praticamente no nível mínimo de sua tomada de água, de onde há o bombeamento para a  represa de Águas Claras e, daí, para a Estação de Tratamento do Gargaú.

Vamos ver os níveis do subsistema Jaguari-Jacareí, os essenciais, portanto, com capacidade para 808 bilhões de litros de água:

11 de dezembro/13: 27,7% ou 223,8 bilhões de litros;

11 de janeiro/14: 21,93% ou 177,2 bilhões de litros;

11 de fevereiro/14: 15,13% ou 112,3 bilhões de litros e

11 de março/14, hoje: 9,92% ou 80, 1 bilhões de litros.

São bilhões de litros, sim, mas só ontem eles tiveram de liberar (já descontado o que chegou de água), 1,5 bilhão de litros para a cidade.

A cota mínima de operação do subsistema é 820,8 metros acima do nível do mar. A registrada ontem, 824,3 metros. Portanto, 3,5 metros de lâmina d´água captável  a a descida do nível é mais rápida por conta do formato de cone invertido de um reservatório.

Das seis  tomadas d´água do Jaguari-Jacareí, quatro estão secas: os dois pares localizados nas cotas 836 e 827 metros estão acima do nível da água  há um mês. As duas mais baixas, cuja base está a 818 metros sobre o nível do mar, não podem operar até este nível porque, como é tecnicamente adequado: elas possuem uma “soleira”  para evitar os efeitos do assoreamento natural.

Com as outras represas, este volume chega a 150 bilhões de litros(contra 300 bilhões, há três meses), mas a margem de manobra deste excedente é baixa, como se disse. Tanto é assim que a Sabesp, por razões de segurança operacional, vem mantendo estes reservatórios nos mesmos níveis há muitos meses, preferindo drenar oo reservatório principal.

Esta é a gravidade da situação em São Paulo.

Não há um jornal que faça uma análise de algo que pode deixar quase 9 milhões de pessoas sem água dentro de um mês ou dois.

É  simplesmente ridículo que seja um blogueiro carioca – que está deixando um pouco de lado sua área, a política, tamanha a seriedade disso – quem esteja publicando estes dados, que estão acessíveis a qualquer um, na internet.

Mas, para uma imprensa que já tratou o vazamento da Chevron como “uma exsudação natural” de petróleo do fundo do mar, nada mais surpreende.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. Quanto dessa situação

    se deve à gestão da Sabesp e quanto ao clima?

    Dizem que é a pior estiagem em 84 anos…

    Eu já não sei porque mudei faz 3 anos para 50 km de SP. Aqui tem chovido e o poço está ok (no fim de 2011 foi pior.)

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