Sabesp vai vender terrenos para sair do vermelho

Jornal GGNPara sair do prejuízo causado pela crise hídrica em São Paulo, a Sabesp irá vender terrenos e imóveis, abrir um feirão para renegociação de dívidas e vai obrigar prefeituras a pagar as contas com atraso.

Com a crise hídrica, a empresa de água e saneamento do Estado de São Paulo tem vendido menos água e foi obrigado a fazer obras emergenciais para evitar o rodízio de abastecimento. O lucro da Sabesp caiu de R$ 1,9 bilhão, em 2013, para R$ 903 milhões em 2014. A empresa também foi prejudicado pela desvalorização do real, já que parte de sua dívida é em moeda estrangeira.

Da Folha

Em crise, Sabesp fará ‘feirão’ de dívidas e venderá terrenos

EDUARDO GERAQUE, GUSTAVO URIBE, EDUARDO SCOLESE

O prejuízo financeiro causado pela crise hídrica em São Paulo vai obrigar a Sabesp, empresa de água e saneamento do governo Geraldo Alckmin (PSDB), a “vender as joias da avó”. A expressão é do engenheiro Jerson Kelman, 67, presidente da companhia desde janeiro.

Para arrecadar dinheiro a curto prazo, a estatal irá promover três medidas: 1) colocará terrenos e imóveis à venda; 2) abrirá até setembro um “feirão” com condições atraentes para que devedores públicos e privados possam renegociar seus débitos; 3) e forçará as prefeituras com contas de água em atraso a quitar suas dívidas.

A terceira ação começou já na semana passada, quando a Sabesp enviou para o Cadin (cadastro estadual de inadimplentes) uma lista de 22 municípios que estão com faturas em aberto. “A tolerância acabou”, afirma Kelman.

BALANÇO

Esse conjunto de ações ocorre em um cenário em que a crise hídrica drena recursos da empresa paulista.

Com represas secas e milhares de moradores sob racionamento (entrega controlada de água), a Sabesp vende menos água aos consumidores (reduzindo a sua arrecadação) e, ao mesmo tempo, é obrigada a investir em obras emergenciais para evitar a adoção de um rodízio (corte do fornecimento de água) na Grande São Paulo.

Um resultado da soma desses ingredientes já apareceu no último balanço da empresa. O lucro da Sabesp despencou de R$ 1,9 bilhão, em 2013, para R$ 903 milhões, no ano passado –quando a receita bruta dela caiu 6,7%, as despesas aumentaram 13,6% e os investimentos, 18,5%.

A desvalorização do real agravou a situação porque perto de 40% da dívida da Sabesp é em moeda estrangeira.

Para estimular menor consumo de água, a empresa adotou uma política de bônus, com desconto de até 30% na conta de quem economiza. A medida significou perdas de R$ 442 milhões nos cofres da Sabesp no primeiro semestre.

Ela também decidiu cobrar uma sobretaxa que pode até dobrar a tarifa de quem eleva seu consumo. Mas essa receita extra só cobre perto de metade das perdas com os bônus.

RODÍZIO

Kelman, que recebeu a Folha em seu gabinete na manhã da última sexta-feira (17), diz que, apesar do aperto, a Sabesp é uma empresa “sadia”. Para ele, o problema econômico é pontual e será solucionado assim que a crise hídrica passar –o que não tem prazo para ocorrer.

“Como estamos enfrentando a crise financeira circunstancial? Com redução de custos e com uma série de medidas. Estamos vendendo as joias da avó”, disse o presidente da empresa, antes de citar o conjunto de ações.

Cauteloso, especialmente por causa dos acionistas da empresa (na qual o governo do Estado tem a maior fatia), Kelman não fala em números: nem quanto estima arrecadar com essas medidas nem qual será o tamanho da anistia nesse “feirão” de renegociação das dívidas.

“Sempre quando são criadas condições favoráveis [de renegociação], cria­se um problema. Há alguns que podem não pagar porque acham que pode haver uma anistia no futuro. Mas nesse caso não haverá, porque a situação é absolutamente circunstancial”, afirma Kelman.

Na entrevista à Folha, ele descartou um rodízio de água ao menos em 2015, assim como já fizera o governador, e disse que as obras emergenciais da Sabesp para evitar um rodízio, como a transferência de água entre mananciais, têm consequências ambientais “desprezíveis”.

Engenheiro civil e Ph.D em recursos hídricos, afirma que a conta de água em São Paulo “é baixa comparada a qualquer coisa” e que, nos próximos 12 meses, a Sabesp vai mandar para a Arsesp, agência reguladora paulista, um novo modelo de estrutura tarifária –que, entre outras mudanças, vai unir as contas de água e de esgoto, hoje calculadas separadamente.

Redação

6 Comentários

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  1. E uma parte das receitas

    E uma parte das receitas geradas com estas vendas também será distribuída na forma de dividendos? psdb, o partido que privatiza lucros e socializa prejuízos, como, aliás, convém a qualquer seguidor do neoliberalismo.

  2. Para onde foi o dinheiro dos

    Para onde foi o dinheiro dos investimentos que deixaram de fazer antes da crise hídrica? Obras a serem executadas desde o início da concessão, agora passaram a ser denominadas de emergenciais com a justificativa simplória da crise hídrica.

    Como sempre o descaso com a concessão de um bem público recai nas costas do consumidor. 

     

  3. A gente critica a seca, e

    [video:https://www.facebook.com/jorge.portugal.37/videos/993006134095691/?l=6051768710145702892%5DA gente critica a seca, e atrás dela vem a falta de agua. Mas a conclusão que chego é que esse problema também é culpa de má gestão. Aqui no Rio, tem uma casa jorrando agua há mais de 1 semana, pois roubaram o hidrômetro, várias ligações foram feitas para a Nova CEDAE, que de nova não tem nada e o velho habito de não trabalharem, até agora nada foi feito. Isso é em Laranjeiras area nobre, ao lado dos bombeiros não é no morro não.

  4. Pergunta

    “O lucro da Sabesp despencou de R$ 1,9 bilhão, em 2013, para R$ 903 milhões, no ano passado –quando a receita bruta dela caiu 6,7%, as despesas aumentaram 13,6% e os investimentos, 18,5%.”

    O LUCRO DE R$ 1,9 BILHÃO em 2013, um ano antes do início da Seca, quando já se havia previsões de como seria o clima no ano seguinte, foi aferido depois dos gastos com investimento?…

    Antigamente o fazendeiro de gado que não cuidava do gado MESMO VENDO O GADO MORRENDO NA SUA FRENTE saia do ramo.

    Aqui a gente mantém no negócio…

  5. A seca deixa as mentiras da Sabesp mal-lavadas.

    Só falta agora eles venderem áreas de manaciais, para continuarem a entregar lucro para seus acionistas. Vejamos, eles dizem:

    “Para estimular menor consumo de água, a empresa adotou uma política de bônus, com desconto de até 30% na conta de quem economiza. A medida significou perdas …”

    Mentira! O que diminuiu as receitas de fato é o racionamento posto em prática, que o eufemismo burocrático chama de “entrega controlada de água”. Com os consumidores submetidos à diminuição forçada do fluxo; mesmo que queiram, não podem consumir o que não é ofertado, não tem nada a ver com a eficácia da tal política de bônus. Em tucanês, São Paulo não vive racionamento d’água, tem “entrega controlada”, tucano gosta de levar as coisas no bico. Não se deve mandar um tucano tomar no cu, deve-se convidá-lo a introduzir o bico ramphastídeo no ânus.

    Enquanto isso, a crise é atirada para a periferia miserável, aquela que não faz parte do que chamam de “opinião pública”, que eles procuram confundir com certas opiniões publicadas. A matéria do El País, logo abaixo, dá conta do que se passa entre os que sofrem a “entrega controlada de água”.

    CRISE HÍDRICA »

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     São Paulo 16 JUL 2015 – 14:00 BRT

        

    Moradores de Itu procuram água em bicas, em 2014. / VICTOR MORIYAMA

    Os casos de diarreia aguda tiveram um aumento importante no Estado de São Paulo em 2014, associado à crise hídrica. A avaliação é do próprio Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), órgão da Secretaria Estadual de Saúde, ligado ao Governo Geraldo Alckmin (PSDB). O centro qualificou 2014 como um ano “hiper-epidêmico”, após uma análise detalhada, embora preliminar, das notificações de surtos da doença. O órgão associa o evidente aumento de casos comunicados – quase 35.000 em algumas semanas de fevereiro, março e setembro – aos problemas de abastecimento de água que ainda afetam toda a região metropolitana e várias cidades do interior. “A crise hídrica escancara problemas que não são novos em relação à água e ao saneamento em São Paulo e no Brasil”, considera o estudo.

    Na série histórica dos seis anos anteriores à crise, 2008 a 2013, a média do Estado mostra que o número de casos se situava entre 15.000 e 20.000, nunca superando os 25.000. Nessa série, setembro aparece sempre como um mês crítico e registra o maior número de notificações anuais, superando um pouco mais de 20.000.

    A diminuição de pressão, a intermitência do abastecimento, o racionamento, o consumo do volume morto das represas, e o uso da água de poços e caminhões-pipa, cuja qualidade não é sempre fiscalizada conforme a lei, são as principais causas que podem comprometer a qualidade da água e promover o surgimento de surtos (ocorrência de dois ou mais casos) de diarreia e outras doenças transmissíveis pela água, conforme aponta a pesquisa do CVE.

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     O estudo identifica cenários relevantes como o da capital e os de outros sete municípios do interior – Campinas (norte), Tambaú (noroeste), Mogi das Cruzes (região leste), Araraquara (centro), Piracicaba (noroeste), São José do Rio Preto (noroeste) e São João da Boa Vista (centro-leste) – observou-se o aumento de atendimentos com concentrações muito mais altas em determinados momentos do ano, que coincidem com os períodos mais críticos da crise, como o final da estação da seca.

    No caso de Tambaú, município de 23.000 habitantes, os casos de diarreia dispararam de menos de uma dezena até mais de 90 a partir de 16 de agosto de 2014, quatro dias antes de a cidade decretar estado de calamidade por falta de água. O número de casos não voltou à normalidade até novembro, embora até fevereiro deste ano a média de notificações continuou superior à verificada no mesmo período de 2014.

    Os períodos de janeiro a abril e de agosto a setembro do ano passado foram críticos no conjunto do Estado. A análise é feita com base nas chamadas semanas epidemiológicas, que começam no domingo e terminam no sábado seguinte. No período de 9 a 15 de fevereiro foram registrados quase 35.000 casos no Estado, assim como na semana entre 7 e 13 de setembro, onde o número foi similar. Durante o resto das semanas, o índice de notificações não caiu abaixo de 15.000. O número de casos, entretanto, pode ser ainda maior. Emoutro estudo do tipo de 2005, a médica e sanitarista Maria Bernardete de Paula Eduardo, que ocupava a diretoria da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do CVE desde 1999, demonstra que apenas 40% das pessoas que têm a doença procuram o serviços de saúde, que passaram a notificar os atendimentos por diarreia em 2000.

    Fonte: DDTHA/CVE/CCD/SES-SP (SIVEP_DDA) DC – anos de 2008 a 2013

    As primeiras conclusões deste levantamento foram apresentadas em maio pela atual diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do centro, Eliane Suzuki, com dados coletados e analisados pelo departamento público. Na intervenção, feita em um seminário sobre segurança da água para consumo humano, ocorrido na Faculdade de Saúde Pública da USP, Suzuki afirmou: “Se vê claramente que o número [de casos de 2104] é maior. Isto evidencia que com a falta de água e as consequências que isso traz, 2014 foi um ano hiper-epidêmico”. A apresentação está disponível, a partir do minuto 79, no site da USP.

    O EL PAÍS mostrou em reportagem de maio deste ano que a contaminação do encanamento de água potável, com terra ou esgoto, pode deixar uma rua inteira doente. Os moradores do Jardim Conceição, um bairro pobre de Osasco, relataram que em fevereiro deste ano, famílias inteiras apresentaram sintomas como vômitos e diarreia. “A água da rede de esgoto se misturou com a das tubulações”, afirmou Nazaré, de 46 anos, uma das afetadas. “A água que saía da torneira tinha cheiro de merda, e a rua inteira ficou doente”. A Sabesp afirmou na época que o que poluiu a água foi terra e que a avaria foi consertada em três dias. “Nós não confiamos mais nessa água, muito menos para dar às crianças”, dizia a jovem Janaína Dias. O estrago, disse, os deixou 15 dias sem água.

    No período de 9 a 15 de fevereiro foram registrados quase 35.000 casos no Estado, assim como na semana entre 7 e 13 de setembro, onde o número foi similar.

    Outros casos foram revelados pela imprensa, antes das autoridades agirem, durante o ano passado. Em agosto de 2014, o município de Brodowski, a 339 quilômetros de São Paulo, registrou 195 casos de pessoas com vômitos e diarreia em 15 dias,segundo informou a Folha de S. Paulo. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Brodowski (Saaeb) não descartou a possibilidade de as pessoas terem sido contaminadas pela água, após o abastecimento ser relegado aos caminhões-pipa. Também em agosto, moradores de Redenção da Serra, município atendido pela Sabesp a 163 quilômetros da capital, sofreram nos seus estômagos a seca da sua represa e um problema na estação de tratamento de água, segundo noticiou o portal G1.

    Já em março deste ano, Moradores do Jardim Turquesa, no M’Boi Mirim (zona sul de São Paulo) receberam água com cheiro de esgoto e, segundo o diário Agora, ao menos 57 pessoas passaram mal com diarreia, vômito, dor de cabeça ou febre, após contato com a água malcheirosa e de cor amarronzada. O jornal levou o líquido a um laboratório, que constatou a presença de coliformes fecais (presentes nas fezes), o que torna a água imprópria para consumo, mesmo após fervura. A Sabesp negou e afirmou que a água atendia os padrões sem apresentar risco sanitário.

    Os moradores do Jardim Conceição, um bairro pobre de Osasco, relataram que em fevereiro deste ano, famílias inteiras apresentaram sintomas como vômitos e diarreia.

    A Sabesp, que foi consultada pela incidência de doenças durante a crise hídrica nos municípios onde ela opera (São Paulo, Mogi das Cruzes e São João de Boa Vista), afirmou por meio da assessoria da imprensa que “a água distribuída à população está dentro dos parâmetros exigidos pela Portaria 2.914/2011, do Ministério da Saúde”. A empresa disse que os resultados dos mais de 62.000 análises mensais que realiza são encaminhados para as vigilâncias sanitárias locais, conforme a lei.

    A Secretaria de Saúde afirmou que os dados do estudo foram utilizados para debater a questão das doenças transmitidas por água e alimentos, “além de ajudarem na elaboração do plano de contingência em relação ao cenário de estiagem e crise hídrica”. Questionada sobre por que a população não foi alertada sobre os riscos de doenças transmitidas pela água em um cenário de crise hídrica, a pasta afirmou que “cabe a cada município desencadear suas ações, de forma descentralizada, e alertar a população”. A assessoria de imprensa negou entrevista com a responsável do departamento que fez o estudo e avaliou depois que a interpretação da reportagem sobre o mesmo, apesar de checada com diversas fontes, “é fruto de ansiedade porque o estudo ainda é meramente preliminar”.

    O rastro da Hepatite A

    Willkner Eduardo Gama, de 21 anos, e pelo menos mais quatro pessoas da mesma rua de Carapicuíba contraíram Hepatite A nos últimos 15 dias. / MARTHA LU

    Além das diarreias e vômitos, a água contaminada também pode causar outras doenças mais graves, como a Hepatite A, uma inflação do fígado causada por um vírus transmitido pela ingestão de água ou alimentos contaminados com matéria fecal.

    Em Carapicuíba, ao menos cinco pessoas tiveram Hepatite A nos últimos 15 dias em apenas duas ruas de um mesmo bairro. Eles começaram a sentir uma forte dor abdominal, fadiga, falta de apetite e perceberam que um tom amarelo tingiu seus olhos e pele. Luan, de sete anos, Rosângela, a mãe, e o jovem Willkner Eduardo Gama, de 21 anos, foram três das vítimas. “Fiz tratamento com soro e chá de picão [uma erva medicinal] e já estou bem, mas o médico me falou que foi por culpa da água que tinha bebido e não voltei a tomar da torneira. Aquele dia que eu fiquei doente, a água estava com uma cor amarela”, conta Willkner.

    A doença, no entanto, permaneceu estável nos últimos anos em São Paulo e tende a desaparecer graças a uma vacina específica aplicada nas crianças, conforme informações do CVE. No ano passado, foram registrados 16 surtos, com até 60 casos no mês de setembro. Um surto é considerado a partir de dois casos na mesma fonte, no mesmo lugar e no mesmo período de tempo.

    Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/10/politica/1436557827_946009.html

     

     

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