Servidores públicos tentam reagir diante dos cortes de Geraldo Alckmin

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Na quarta-feira, dia 2, das 9h30 às 16h30, haverá o lançamento da publicação da pesquisa sobre os 20 anos de municipalização do ensino fundamental em São Paulo, feita pela Fundap (Fundação de Desenvolvimento Administrativo). A partir das 14 horas, haverá um debate com a presença dos autores,  Edu Fagnani da Unicamp e educadores.
 
A diretoria está muito empenhada na divulgação desse evento na vã esperança de reverter a maioria do governo na Assembleia. A pesquisa aponta a dependência de muitos municípios de recursos estaduais e federais e o diretor diz que a educação melhorou pouco apesar do aumento dos investimentos. No entanto, há uma contradição evidente: técnicos e diretores querem usar a pesquisa para demonstrar a utilidade da Fundap, mas estão com medo de falar mal do governo que a está destruindo…
 
É uma excelente oportunidade de verificar in loco o que está acontecendo. As portas estão abertas, eles querem receber a “grande” imprensa que, como sempre, não virá. Além de pagar anúncios e comprar assinaturas, o governo de SP fornece mão de obra gratuita para produzir os releases que a CDN centraliza, fiscaliza e coloca nos jornais. Quanto mais releases são publicados, mais vazias estão as redações e mais a CDN fatura… E quanto mais o estado gasta com propaganda e assessoria de imprensa, menos pode investir em planejamento e gestão, ciência e tecnologia, educação, saúde e segurança.
 
A extinção de Fundap e Cepam (Fundação Prefeito Faria Lima) é só o começo. A ex-toda poderosa FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) já entrou na linha de tiro também. Os institutos de pesquisa e as fundações estão ameaçados faz tempo, incluídos os centenários Butantan e Agronômico de Campinas, só para ficar nos mais famosos. O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) só escapou porque já é uma empresa mista. A frente parlamentar suprapartidária em defesa dos institutos e fundações públicas de pesquisa foi criada pelo deputado Carlos Neder (PT) para enfrentar esse quadro.
 
A Fundap publica o Perfil da Administração Pública paulista em perfil.sp.gov.br. Ele mostra a evolução da estrutura do Estado de SP desde o século XIX. É interessante comparar a estrutura dos principais ciclos de crescimento do estado com o desmonte que está sendo executado agora.
 
Cesp, Sabesp, Cetesb, Metrô e Prodesp surgiram todos na mesma época da Fundap, que deveria disseminar as técnicas do “management” americano na administração pública (GV, FEA, e todo o ensino de administração no Brasil foi financiado pelo acordo MEC-USAID durante a ditadura). 
 
Se o edifício está sendo demolido, não há razão para manter o zelador. É o que está acontecendo com a Fundap, que é um zelador aposentado…
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Lamentavel, porem nas eleições esses servidores votaram no Alckm

    Quando a agua bate nas n’adegas começa a reação, enquanto eram os outros servidores nem um pio, agora ficam todos revoltados e resolvem entregar as mal feitorias, oras já sabem disso a pelo menos 2 decadas porque não falaram antes? mesmo caso foi a TV Cultura um ninho de coxinhas que ficaram reprimidos e sentindo se enganados depois de fazer campanha para os bons gestores foram embrulhados e jogados no lixo.

    É bom que outros departamentos e institutos comecem a abrir os olhos porque o capitâo Alckmim não esta de brincadeira.

  2. Sangria do funcionalismo

    É evidente que o Tucanistão vive uma das épocas mais ingratas para o funcionalismo público.

    Submetidos a uma política constante de desvalorização e sucateamento desde o segundo governo Covas, o corpo funcional paulista definha.

    Em que pese a enorme qualificação técnica e engajamento em favor da população, o corpo funcional é massacrado diuturnamente pelo tucanato.

    Considerados como “sanguessugas” e “acomodados” pelo Executivo, a política funcional do Tucanistão sempre se resumiu a uma frase: a porta da rua é serventia da casa.

    Quem fica é taxado de “chupim” e “desqualificado” pelas chefias, indicados pela cúpula.

    Algumas contradições que se impõem destacar:

    1) o abismo entre os salários dos funcionários de carreira e os cargos de comissão é de espantar; os de carreira ganham em média 30% a menos que os indicados

    2) na mesma medida que arrocham os salários e benefícios dos funcionários de carreira, criam o tempo todo novos cabides de emprego para apaniguados e correligionários

    3) aprovam leis e regulamentos o tempo todo para aumentar as responsabilidades do corpo funcional do Estado, ao mesmo tempo que criam cada vez mais entraves para um simples aumento de vale refeição e alimentação; muitas vezes, um pedido como esse tem que passar por sete (!!!) instâncias diferentes para ser efetivado,mesmo com o órgão que pediu tendo receita própria para bancar

    4) perpetuam a convivência de pelo menos sete regimes jurídicos diferentes de contratação de funcionários, incluindo CLT, estatutário e leis complementares, tornando o estado de SP o único da federação que não tem regime jurídico único, conforme determina a Constituição Federal (artigo 39)

    5) o corpo funcional do estado de São Paulo ganha em média 25% a menos do que o funcionalismo público de qualquer outro membro da federação, com em média 30% mais qualificação e títulos acadêmicos.

     

  3. a próci

    “Primeiro levaram os negros, Mas não me importei com isso.
    Eu não era negro.

    Em seguida levaram alguns operários,Mas não me importei com isso
    Eu também não era operário.

    Depois prenderam os miseráveis, Mas não me importei com isso
    Porque eu não sou miserável.

    Depois agarraram uns desempregados, Mas como tenho meu emprego
    Também não me importei.

    Agora estão me levando, Mas já é tarde.
    Como eu não me importei com ninguém,
    Ninguém se importa comigo.”

    Bertold Brecht (1898-1956) Primeiro demitiram funcionários da Fundap e da CEPAM…mas como eu era fiscal, professor universitário, profissional da saúde concursado,etc. não me importei… Acabaram com os hospitais estaduais e demitiram médicos, enfermeiros, dentistas, psicólogos,etc.mas como eu era fiscal, professor universitário, etc. não me importei… Sucatearam as universidades estaduais e cortaram drásticamente o salário dos professores…mas como eu era fiscal, etc. não me importei… Cortaram meu salário de fiscal pela metade… e temos que aceitar passivamente o destino a nós impostos… 

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